Comunicação Coordenada

23/11/2022 - 08:30 - 10:00
CC12.4 - COMUNICACÃO COMO FERRAMENTA PARA A POLÍTICA DE PROMOÇÃO À SAÚDE

38308 - POLITIZAÇÃO DO ÚTERO: ENTRE TECNOLOGIAS E REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NAS CAMPANHAS DE HPV E CÂNCER NO COLO DO ÚTERO DESENVOLVIDAS PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE DE 2014 A 2020
JULIANA RODRIGUES VIEIRA - UERJ, ROGERIO LOPES AZIZE - UERJ, MARINA FISHER NUCCI - UERJ


Apresentação/Introdução
Analisamos aqui as campanhas preventivas de papilomavírus humano (HPV) e câncer no colo do útero (CCU) desenvolvidas pelo Ministério da Saúde entre 2014 e 2020, além de algumas campanhas produzidas por organizações não governamentais e instituições privadas no mesmo intervalo de tempo, à luz de um olhar socioantropológico.

Objetivos
Buscamos compreender como as campanhas acionam e produzem representações de gênero, como são construídas e performadas em imagens e texto, analisando e comparando documentos públicos, privados e não governamentais.

Metodologia
Para tanto, realizamos uma pesquisa documental na qual foram selecionados 27 cartazes de HPV e câncer no colo do útero produzidas de 2014 a 2020 – sendo 11 peças de campanhas públicas, 10 de campanhas não governamentais e 6 de campanhas privadas. Desenvolvemos sete categorias de análise (“Geracionalidade do cuidado”, “Escolarização”, “Infância e Juventude”, “Gamificação”, “Risco à saúde”, “Saúde do Homem” e “Neutralidade”) para realizarmos agrupamentos temáticos entre as peças.

Resultados
Apesar do Brasil ser considerado um país que possui uma cultura robusta de imunização, a adesão à vacina do HPV ainda é considerada baixa. Por isso, tanto a vacinação contra HPV quanto o CCU são apresentados enquanto “alarmantes problemas de saúde” pelo discurso público. Todavia, notamos que as próprias especificidades do contexto brasileiro, de certo modo, embaralham noções de risco e cuidado, proteção e submissão, autonomia e negacionismo. Questões como o alargamento do faixa etária, a ampliação da vacina para homens, a baixa adesão na segunda dose, a desconfiança familiar, as influências anti-vacinistas, moralidades sobre gênero e sexualidades, surgem como impasses à adesão da vacina.

Conclusões/Considerações
Simultaneamente, por meio da medicalização e monitoramento da saúde sexual e reprodutiva das mulheres, as campanhas evidenciam o que chamamos aqui de uma politização do útero, que mantém excessivo escrutínio do corpo feminino. As campanhas apontam para uma materialidade que não apenas faz, mas também deixa de fazer – promovendo silenciamentos de discussões e ausências de alguns corpos, modos de vida e práticas sexuais.