
Programa - Comunicação Oral - CO5.15 - ESTRATÉGIAS DE CUIDADO EM TERRITÓRIOS ESPECÍFICOS NA APS
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
FORMAÇÃO DE MULHERES YANOMAMI AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE: SABERES, EXPERIÊNCIAS E RE(CONSTRUÇÕES) NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Comunicação Oral
1 UFMG
2 Unifesp
3 UFRJ
Apresentação/Introdução
A Atenção Primária à Saúde enfrenta desafios para garantir a efetividade na Terra Indígena Yanomami, onde mulheres foram afetadas pela presença do garimpo e pelo vazio assistencial. Este trabalho analisa como o fortalecimento da formação de mulheres Yanomami em Agentes Indígenas de Saúde se faz uma experiência potente para a atenção primária, capaz de aprimorar o cuidado intercultural e sensível.
Objetivos
Discutir uma experiência de extensão sobre a formação de AIS Yanomami para o fortalecimento da APS na TIY, destacando os saberes mobilizados, as práticas de cuidado culturalmente sensíveis e a articulação entre cosmovisões e saberes científicos.
Metodologia
Etnografia colaborativa, iniciada em 2023 no Projeto de Extensão "Redes de Cuidado em Terra Indígena Yanomami", da UFMG. Foram construídas narrativas a partir de observação participante e co-criação durante uma oficina que envolveu rodas de conversa com 10 mulheres AIS. Os dados foram registrados e organizados em eixos temáticos no campo semântico do cuidado. A investigação respeita princípios da ética intercultural e da pesquisa colaborativa em saúde indígena, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CoEP).
Resultados
As experiências mostram que as AIS mulheres ampliam o escopo da APS ao integrar saberes tradicionais Yanomami às práticas de saúde, especialmente no cuidado às mulheres. Houve avanços na escuta ativa, no pré-natal e na atenção à saúde reprodutiva. As AIS atuam como mediadoras cosmopolíticas entre conhecimentos tradicionais e científicos, contribuindo para a humanização e resolutividade do cuidado. A confiança, a língua, o gênero e o pertencimento territorial fortalecem o vínculo com a comunidade, principalmente com outras mulheres. A formação potencializou saberes locais articulados à saúde coletiva.
Conclusões/Considerações
A formação de mulheres Yanomami como AIS tem promovido mudanças na APS indígena, ao enfrentar questões de desigualdade de gênero e a histórica negligência governamental. Práticas de cuidado sensíveis e interculturais são valorizadas, trazendo inovações e ampliando a capacidade de promover o cuidado baseado na escuta, na territorialização e no reconhecimento das mulheres como protagonistas na produção de saberes e práticas de saúde.
ATUAÇÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NO DIAGNÓSTICO DA HANSENÍASE EM MINAS GERAIS: ANÁLISE DO GRAU DE INCAPACIDADE FÍSICA
Comunicação Oral
1 UFMG
2 SES/MG
Apresentação/Introdução
A hanseníase persiste como um relevante problema de saúde pública no Brasil. Embora as diretrizes nacionais orientem a descentralização da assistência, a Atenção Primária à Saúde (APS) ainda desempenha um papel limitado no diagnóstico precoce da doença, o que compromete o controle efetivo e a prevenção de incapacidades físicas.
Objetivos
Analisar a distribuição dos casos de hanseníase e o grau de incapacidade física (GIF) segundo o ponto de atenção à saúde de diagnóstico.
Metodologia
Trata-se de estudo ecológico, do tipo observacional, com dados de casos de hanseníase diagnosticados e notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), entre 2014 e 2023, em Minas Gerais. Foram incluídos apenas os “casos novos” no “modo de entrada”, e excluiu-se “erro diagnóstico” do “tipo de saída”. As unidades notificadoras foram identificadas e classificadas conforme o ponto de atenção à saúde (Primário, Secundário ou Terciário), com base nos registros do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). A análise considerou o GIF avaliado no momento do diagnóstico.
Resultados
Dos 10.402 casos de hanseníase diagnosticados no período, 58% foram notificados por unidades da Atenção Secundária e Terciária, enquanto 42% foram notificados pela APS, ponto que deveria ser a principal porta de entrada no Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria dos casos foi diagnosticada com GIF 0; no entanto, observou-se que 41,6% dos casos da Atenção Terciária e 41,4% da Secundária apresentaram GIF 1 ou 2 no momento do diagnóstico, indicando detecção com presença de sequelas. Na APS, que se espera diagnósticos sem sequelas, 40,3% dos casos também apresentaram algum grau de incapacidade física (1 ou 2).
Conclusões/Considerações
Os resultados indicam desempenho insatisfatório da APS no diagnóstico precoce da hanseníase, com alta proporção de casos com incapacidade física. A presença de GIF 1 e 2 é significativa na Atenção Terciária, reforçando falhas na organização da rede. É urgente o fortalecimento da APS por meio de capacitação, estrutura e ações de vigilância para prevenção de incapacidades.
IMPLANTAÇÃO DE TECNOLOGIA SOLAR PARA CONSERVAÇÃO DE VACINAS EM TERRITÓRIOS INDÍGENAS DO DSEI RIO TAPAJÓS
Comunicação Oral
1 DSEI RIO TAPAJÓS
Período de Realização
Agosto de 2017 a Junho de 2025
Objeto da experiência
Uso de refrigeradores solares para conservação de vacinas em áreas indígenas de difícil acesso na Amazônia..
Objetivos
Relatar a implantação de refrigeradores solares TCW2000 SDD no DSEI Rio Tapajós, destacando os impactos logísticos, assistenciais e humanos da experiência na imunização indígena.
Descrição da experiência
O DSEI Rio Tapajós atua com polos base e visitas a aldeias adjacentes. Devido às limitações logísticas da região, como transporte fluvial e ausência de energia elétrica, a conservação das vacinas era feita com gelo, limitada a sete dias. Em 2017, iniciou-se a aquisição de 27 refrigeradores solares TCW2000 SDD, instalados em 2019, garantindo autonomia e segurança na conservação, conforme diretrizes do PNI.
Resultados
A implantação da tecnologia reduziu a sobrecarga das equipes, aumentou a previsibilidade das ações e melhorou o acesso aos imunobiológicos. Apesar disso, as coberturas vacinais permanecem abaixo do ideal, influenciadas por fatores culturais, deslocamentos sazonais das famílias e dificuldades geográficas. A presença dos refrigeradores possibilitou maior permanência dos imunobiológicos nos territórios, favorecendo o cumprimento do calendário vacinal e qualificando o cuidado ofertado.
Aprendizado e análise crítica
A tecnologia foi essencial para enfrentar desafios logísticos, mas sua efetividade depende do vínculo estabelecido entre profissionais e comunidades. A experiência demonstrou que soluções técnicas devem ser integradas a estratégias humanizadas, que respeitem os tempos, deslocamentos e práticas culturais indígenas. O protagonismo das equipes locais, aliado à escuta e à adaptação, foi determinante para o fortalecimento da imunização.
Conclusões e/ou Recomendações
O uso de tecnologia solar mostrou-se eficaz e adequado à realidade amazônica. Recomenda-se sua ampliação, aliada à valorização do trabalho em campo, escuta qualificada e planejamento territorial sensível. A experiência reforça a importância de políticas públicas sustentáveis e culturalmente adaptadas para garantir o direito à saúde dos povos indígenas.
ENTRE ALÍVIO E CONTROLE, MUROS E ESCUTAS: REFLEXÕES SOBRE O USO DE PSICOFÁRMACOS, PRÁTICA INTERPROFISSIONAL, LONGITUDINALIDADE, ESCUTA E CUIDADO NA SAÚDE PRISIONAL
Comunicação Oral
1 UFRJ
2 IFF
Período de Realização
Experiência vivenciada entre agosto de 2023 a maio de 2025
Objeto da experiência
Vivência interprofissional (médica e enfermeira) de cuidado na atenção primária prisional, com foco em escuta, vínculo e cuidado longitudinal.
Objetivos
Refletir sobre uma prática interprofissional no cuidado de mulheres em uso de psicofármacos no contexto prisional, explorando as tensões entre alívio e controle, normal e patológico, o papel da escuta, vínculo e as estratégias construídas para garantir um cuidado ético, contínuo e humanizado.
Metodologia
A experiência ocorreu na equipe de atenção primária prisional de unidade feminina no Rio de Janeiro. Médica e enfermeira atuaram de forma articulada no cuidado pessoas com demandas frequentes por psicofármacos, em sua maioria oriundas de sofrimentos psíquicos vividos no contexto de encarceramento. Diante de prescrições automáticas e ausência de acompanhamento sistemático, a equipe propôs estratégias de escuta clínica ampliada, pactuação de planos de cuidado e prática autorreflexiva.
Resultados
Houve redução na prescrição medicalizante automática, melhora no vínculo com as pacientes e maior reflexão sobre o normal e o patológico naquele contexto. A prática interprofissional favoreceu a construção de fluxos compartilhados de cuidado, com revisão crítica de prescrições e ampliação da escuta nas consultas. Foram identificadas fragilidades institucionais e operacionais, mas também espaços possíveis de autonomia clínica e ético-política da equipe.
Análise Crítica
A experiência evidenciou o papel estratégico da reflexão sobre normal e patológico no contexto da saúde prisional. As tensões entre aliviar o sofrimento e exercer controle institucional através da medicalização desafiam a ética do cuidado. A escuta qualificada e o trabalho em dupla de especialistas em medicina e enfermagem de família e comunidade se mostraram caminhos para enfrentar a lógica medicalizante e promover práticas mais centradas na singularidade e no vínculo.
Conclusões e/ou Recomendações
É fundamental fortalecer a atuação da atenção primária prisional com equipes sensíveis as especifidades locais e tempo clínico para escuta e acompanhamento. Recomenda-se a implementação de protocolos flexíveis de cuidado em saúde mental, espaços regulares de reflexão e articulação com a rede de atenção psicossocial, reconhecendo os muros não apenas como barreiras físicas, mas também simbólicas e institucionais ao cuidado ético.
ENTRE VOZES E VIVÊNCIAS: A NARRATIVA COMO DISPOSITIVO DE CUIDADO NA ATENÇÃO À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
Comunicação Oral
1 UFOB
2 Univasf
3 IF Sertão
Período de Realização
Janeiro de 2023 a junho de 2025
Objeto da experiência
Práticas narrativas e escuta qualificada como ferramentas de cuidado e produção de saúde com pessoas em situação de rua
Objetivos
Promover o acolhimento e o cuidado em saúde por meio de práticas narrativas com pessoas em situação de rua, reconhecendo suas histórias de vida como dispositivo terapêutico, de cidadania e construção de vínculos com a Atenção Primária em Saúde (APS).
Descrição da experiência
O projeto de extensão Além da Rua atua no Centro Pop de Barreiras-BA com rodas de conversa, oficinas e escutas narrativas voltadas à população em situação de rua. Baseado na escuta sensível e na valorização da palavra como tecnologia de cuidado, o projeto articula saúde coletiva e educação popular, promovendo vínculo, cidadania e acesso a políticas públicas.
Resultados
Observou-se o fortalecimento de vínculos entre usuários e profissionais da saúde e assistência. A escuta das narrativas revelou demandas invisibilizadas, como sofrimento psíquico e exclusão. O reconhecimento das histórias gerou efeitos terapêuticos, ampliou a adesão aos encaminhamentos e fortaleceu o acesso aos serviços, estimulando a confiança nas equipes e promovendo expressão e reconstrução subjetiva.
Aprendizado e análise crítica
A experiência mostrou que a escuta narrativa é uma tecnologia leve de cuidado, resgatando autonomia e dignidade. Diferente de abordagens assistencialistas, a narrativa implicou eticamente estudantes e profissionais, fortalecendo práticas humanizadas e intersetoriais. A atuação interprofissional foi essencial ao cuidado integral, destacando a extensão como espaço de formação crítica e inserção no território.
Conclusões e/ou Recomendações
É urgente reconhecer a população em situação de rua como sujeito de direitos. O projeto Além da Rua mostra que práticas narrativas fortalecem o cuidado em saúde na APS, promovem intersetorialidade e políticas públicas sensíveis. Recomenda-se sua institucionalização no SUS e a formação continuada dos profissionais em escuta, vínculo e humanização.
QUANDO O CUIDADO SE FAZ VISÍVEL: GUIA DE ORIENTAÇÃO PARA O ATENDIMENTO À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NAS UBS DE MANAUS
Comunicação Oral
1 UEA/SEMSA
2 FIOCRUZ-AM/SEMSA
3 SEMSA-Manaus
4 UEA
Período de Realização
Outubro de 2024 a dezembro de 2025
Objeto da produção
Criação de um cartaz educativo com orientações práticas sobre o cuidado às principais demandas da população em situação de rua (PSR) em Manaus.
Objetivos
Sensibilizar profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) quanto às principais demandas da PSR, por meio de informações para qualificar o cuidado, reduzir barreiras, fortalecer a coordenação e promover ações alinhadas aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos direitos humanos.
Descrição da produção
Realizou-se um diagnóstico situacional (DS) por meio de entrevistas com profissionais das UBS, do Consultório na Rua (ECR) e usuários para identificar as principais demandas da PSR. A partir do DS foi promovida uma roda de conversa com a ECR, resultando na produção de um cartaz informativo direcionado a profissionais da UBS. O material está em fase de teste em 1 UBS, com conteúdo revisado pela ECR, aguardando validação estética pela instituição e implementação em outras unidades ainda em 2025.
Resultados
O cartaz reúne orientações sobre como lidar com as demandas recorrentes da PSR nas UBS, estruturadas em quatro seções, segundo as demandas verificadas no DS: (1) ausência de documentação, (2) solicitação de exames, (3) necessidade de internação para reabilitação da dependência de álcool e outras drogas e (4) demandas sociais como alimentação, abrigo e roupas. Cada seção oferece informações sobre leis, fluxos, orientações práticas, endereços e contatos das redes de apoio e quando acionar a ECR.
Análise crítica e impactos da produção
O cartaz é uma tecnologia leve, acessível, de baixo custo e alto impacto, que fortalece a Atenção Primária à Saúde na resposta às necessidades da PSR. A construção coletiva do cartaz ampliou os olhares sobre o problema e a sua resolução, promovendo o enfrentamento das iniquidades e os direitos humanos. Ao traduzir conhecimentos práticos em orientações objetivas, o produto contribui para o aprimoramento técnico e a mudança de cultura na assistência à saúde.
Considerações finais
O cartaz é uma ferramenta com potencial para qualificar o atendimento, reduzir iniquidades e assegurar os direitos da PSR. A expectativa é que sua implementação oficial em múltiplas unidades promova impacto direto na melhoria do acesso, na ampliação do cuidado e na efetivação dos princípios da universalidade e equidade do SUS para essa população, historicamente invisível.

Realização: