Programa - Comunicação Oral - CO2.9 - Alimentação, Nutrição e coletividades: temas contemporâneos
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
DESEMPENHO DOS BANCOS DE LEITE HUMANO EM PERNAMBUCO NO PERÍODO PRÉ E DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
Comunicação Oral
SOTÉRO, A. R. S.1, OLINDINA, J. F.2
1 Fiocruz - Brasília
2 UFPE
Apresentação/Introdução
O leite materno é essencial à saúde infantil, promovendo nutrição, proteção e vínculo. Os bancos de leite humano (BLH) surgem como estratégia fundamental para apoiar recém-nascidos impossibilitados de serem amamentados diretamente por suas mães. A pandemia da COVID-19, iniciada em 2020, afetou diversos serviços de saúde, incluindo os BLH, exigindo análise do impacto no seu funcionamento.
Objetivos
Este trabalho teve como objetivo avaliar os impactos da pandemia da COVID-19 sobre a coleta e distribuição de leite humano nos bancos de leite do estado de Pernambuco, comparando dados entre os períodos pré-pandêmico (2018-2019) e pandêmico (2020-2021).
Metodologia
O estudo adotou abordagem quantitativa, descritiva e observacional, com análise de dados secundários obtidos do site da Rede Global de Bancos de Leite Humano da Fiocruz. A amostra abrangeu 11 bancos de leite humano ativos em Pernambuco, com coleta de informações referentes aos volumes mensais de leite humano coletado e distribuído entre 2018 e 2021. Os dados foram organizados em planilhas por mês e ano e sintetizados em gráficos para melhor visualização das variações ao longo do tempo. A comparação entre os períodos anteriores à pandemia e durante a pandemia permitiu a análise do comportamento dos indicadores em resposta ao contexto de crise sanitária e às medidas de distanciamento social adotadas.
Resultados
Nos anos de 2018 e 2019, observou-se uma produção estável e consistente nos BLH de Pernambuco, com altos volumes mensais de coleta e distribuição. Com a chegada da pandemia em 2020, houve queda acentuada, especialmente em maio, tanto na coleta quanto na distribuição. As doações foram impactadas por restrições sanitárias, receios das doadoras e limitações logísticas. Em 2021, os dados mostraram sinais de recuperação gradual, embora ainda inferiores aos níveis pré-pandêmicos. Em todos os anos analisados, o volume de leite coletado superou o volume distribuído, demonstrando certa capacidade de estocagem e controle, mesmo em tempos adversos.
Conclusões/Considerações
A pandemia causou um impacto negativo significativo na operação dos bancos de leite humano de Pernambuco, principalmente em 2020, evidenciando vulnerabilidades diante de crises sanitárias. O estudo reforça a importância da criação de estratégias que garantam a continuidade das coletas em períodos de emergência, com fortalecimento das políticas públicas de incentivo ao aleitamento materno e da estrutura dos BLH, assegurando o cuidado neonatal.
ELABORAÇÃO E TESTE DE CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE REFEIÇÕES PRINCIPAIS (ALMOÇO E JANTAR) UTILIZANDO FERRAMENTA DE RECONHECIMENTO DE IMAGEM POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Comunicação Oral
PEREIRA, C. S. C.1, RUIZ, A. C.1, SANTANA, R. M. A.1, GABE, K. T.1, LOUZADA, M. L. C.1
1 USP
Apresentação/Introdução
O Guia Alimentar para a População Brasileira apresenta diretrizes oficiais alimentares. Porém, com a redução do consumo de arroz e feijão e o concomitante aumento de ultraprocessados pela população, faz-se importante ampliar métodos para sua disseminação. Tendo em vista a popularização do uso da inteligência artificial, utilizá-la com finalidade educativa representa uma alternativa promissora.
Objetivos
Elaborar e testar critérios para avaliação de imagens de refeições principais (almoço e jantar), segundo as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, utilizando ferramenta de reconhecimento de imagem por inteligência artificial.
Metodologia
Os critérios foram elaborados segundo os capítulos dois e três do Guia, visando a priorização de alimentos in natura ou minimamente processados (Regra de Ouro) e a combinação de alimentos na forma de refeições. Adotou-se o Chat GPT- 4.0, para o qual foi estruturado um prompt solicitando feedback educativo, a partir dos critérios, com linguagem simples, evidenciando possibilidade de falhas na identificação de alimentos, e utilizando o Guia como principal referência. Houve pré-testagem da ferramenta em dois grupos de imagens: padrão ouro (n=16) de refeições saudáveis apresentadas no Guia e imagens obtidas na internet (n=16) de refeições com a presença ou baseadas em alimentos ultraprocessados.
Resultados
Os critérios foram elaborados em: Eixo 1, adesão à Regra de Ouro, ao valorizar a presença de alimentos in natura e minimamente processados, desestimulando ultraprocessados, e Eixo 2, combinação de grupos alimentares, considerando o estímulo à presença de arroz, feijão e hortaliças, além de orientações a outros grupos alimentares, como carnes e tubérculos. Em 12 de 32 testes, foram observadas inconsistências quanto à linguagem, incentivo ao consumo eventual de ultraprocessados e erros para a classificação de grupos alimentares. Ajustou-se o prompt visando tais fragilidades e foram obtidas respostas satisfatórias, porém persistência de erros (5 de 32 testes) quanto a linguagem e classificação.
Conclusões/Considerações
A ferramenta gerou feedbacks satisfatórios segundo as diretrizes oficiais do Guia, apesar de algumas inconsistências. O próximo passo será realizar a validação detalhada dos critérios por meio da avaliação de uma amostra de refeições reais a partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares. Os critérios aqui desenvolvidos serão incorporados a um aplicativo móvel para promoção de educação alimentar, que contará com avaliação de imagens por IA.
GUIA ALIMENTAR - DA TEORIA À PRÁTICA: FORTALECIMENTO DA QUALIDADE NUTRICIONAL DAS REFEIÇÕES SERVIDAS NO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO
Comunicação Oral
Garcez, Marília Unello1, Figueiredo, Liziane dos Santos1, Santos, Alex Borba dos1
1 Grupo Hospitalar Conceição (GHC)
Período de Realização
A experiência teve início em 2023 e segue em execução no município de Porto Alegre/RS.
Objeto da experiência
Promoção da alimentação saudável por meio da aquisição de alimentos da agricultura familiar no Grupo Hospitalar Conceição (GHC).
Objetivos
Fortalecer a qualidade nutricional das refeições ofertadas no GHC, substituindo alimentos ultraprocessados por alimentos frescos e minimamente processados, adquiridos da agricultura familiar via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), integrando ações de saúde e desenvolvimento rural sustentável.
Descrição da experiência
Foram mapeadas cooperativas aptas a fornecer alimentos e elaborados cronogramas de fornecimento conforme produção local. Os cardápios foram adaptados conforme sazonalidade e desenvolvidas novas receitas para substituir os AUP. A instituição publicou editais para aquisição e promoveu encontros com cooperativas para alinhamento. Além disso, realizaram-se visitas técnicas às cooperativas e iniciou-se visitas pedagógicas abertas a todos os trabalhadores como metodologias de implementação.
Resultados
A oferta de AUP como presunto, maionese e sucos artificiais foi reduzida e substituída por frutas, hortaliças, leguminosas, cereais e proteínas animais. Com o aumento da variedade de alimentos frescos e inclusão de alimentos da agroindústria familiar com menos aditivos químicos ocorreu melhora na qualidade nutricional das refeições oferecidas. Houve mudança no perfil das refeições em conformidade com o Guia Alimentar da População Brasileira, promovendo saúde e valorizando a produção local.
Aprendizado e análise crítica
Entre os principais desafios, destacam-se as exigências legais da compra direta da agricultura familiar, necessidade de readequar cardápios à sazonalidade, gestão de maior número de fornecedores e mudança de cultura institucional. A sensibilização das equipes e usuários sobre os benefícios das mudanças exigiu esforço diante da influência do marketing da indústria de ultraprocessados. Ainda assim, a ação se consolidou como exemplo de política pública intersetorial bem-sucedida.
Conclusões e/ou Recomendações
O êxito está na melhoria do perfil alimentar das refeições, baseadas no Guia Alimentar, promovendo saúde aos usuários e trabalhadores, fortalecimento da economia local e valorização da produção agrícola sustentável. Como próximos passos, pretende-se expandir os contratos com novas cooperativas, diversificar ainda mais os alimentos, priorizar preparações culinárias e promover ações de educação alimentar e nutricional na instituição.
NOTAS SOBRE A CACOFONIA ALIMENTAR: A ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL EM PERIGO SIMBÓLICO NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS
Comunicação Oral
Pinto, A. G.1, Montagner, M. Â.1
1 UnB
Apresentação/Introdução
As redes sociais digitais, enquanto espaços de relevância social, têm têm sido cada vez mais incluídos na história de determinação social de quem, do que, de como e do porquê se come, no escopo da Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva. Evocada a sua politização, pode-se pensar nas estratégias utilizadas nesses espaços em torno das disputas simbólicas pela definição da alimentação saudável.
Objetivos
Comparar simbolicamente as informações sobre alimentação saudável contidas em redes sociais digitais de vídeo curto (RSVC) e as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira.
Metodologia
Realizou-se uma pesquisa qualitativa com base na sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu. Transcreveu-se 20 vídeos de cada uma das plataformas: Instagram, TikTok e Youtube, identificados por busca anônima pelo termo “alimentação” a partir da ferramenta de pesquisa das plataformas. A transcrição passou por análise temática de Braun e Clarke — familiarização, codificação, tematização e revisão —, que propôs um retrato dos vídeos sobre informações sobre a escolha de alimentos, da transformação de alimentos em refeições, o ato de comer e a comensalidade, a compreensão e superação de obstáculos sobre alimentação e princípios, em interface crítica com as recomendações do GAPB.
Resultados
Sobre escolhas de alimentos, nas RSVC, preconizou-se o caráter nutricional e funcional dos alimentos, ligados a referidos ganhos fisiológicos e estéticos, sobretudo o emagrecimento. Reforçou-se o preparo de alimentos como um ato de combinação de nutrientes e a disciplinarização dietética do cotidiano. Incentivou-se o controle da frequência do ato de comer e a individualização das refeições. Tratou-se de obstáculos para aderir a dietas e perder peso, com soluções como a restrição calórica e condutas dietético-prescritivas. Sobre os princípios, destacou-se o nutricionismo, a tecno-racionalidade, a individualização e o impasse entre hedonia e performance. Não houve nenhuma menção ao GAPB.
Conclusões/Considerações
Observa-se como as orientações sobre alimentação saudável destoam do GAPB em conteúdo e princípio. Dessa forma, a alimentação saudável, como conceito em disputa simbólica, conta com uma importante posição, nos ambientes digitais, de defesa de valores medicalizantes e biomédicos da alimentação, que associam-se, ainda, a retóricas individualizantes sobre uma dita boa nutrição concretizada por virtudes pessoais de tecno-organização do cotidiano.
CONSUMO REGULAR DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR SEGUNDO A INTERSECÇÃO RAÇA/COR DA PELE E GÊNERO
Comunicação Oral
Rosa, T. M. S.1, Cunha, R. O.1, Pereira, M. E. C.1, Ramos, I. E. C.1, Santos, F. S.2, Bandoni, D. H.3, Canella, D. S.4
1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Alimentação, Nutrição e Saúde. Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2 Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Departamento de Nutrição. Porto Alegre, RS, Brasil
3 Universidade Federal de São Paulo. Instituto de Saúde e Sociedade. Santos, SP, Brasil
4 Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Apresentação/Introdução
A oferta de alimentação escolar é uma estratégia de promoção da alimentação adequada e saudável em escolas públicas. Considerando o papel de fatores sociodemográficos e econômicos, bem como sua intersecção, na produção de desigualdades na saúde e na alimentação, é pertinente a investigação da intersecção raça/cor da pele e gênero no consumo de alimentos no ambiente escolar.
Objetivos
Investigar a associação entre categorias analíticas criadas a partir da intersecção entre raça/cor da pele e gênero e consumo de alimentação escolar entre adolescentes brasileiros, a partir de dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE).
Metodologia
Com dados de 73.640 escolares de escolas públicas avaliados na PeNSE 2019, realizou-se a descrição do consumo regular (3 ou mais dias por semana) de alimentação escolar segundo 6 categorias analíticas criadas a partir da intersecção entre raça/cor da pele e gênero (homem branco, mulher branca, homem pardo, mulher parda, homem preto, mulher preta). Proporções foram comparadas a partir da ausência de sobreposição dos intervalos de confiança (IC 95%). Analisou-se a associação entre as categorias analíticas e consumo de alimentação escolar, com estimativa das Razões de Prevalência (RP), a partir da Regressão de Poisson ajustada por fatores sociodemográficos.
Resultados
As 6 categorias analíticas apresentaram proporções de consumo regular de alimentação escolar inferiores a 50%. Contudo, independente de idade, escore de bens e serviços, região, tipo de município e situação da escola, estudantes de escolas públicas que eram homem preto (RP 1,23, IC95% 1,15-1,31), mulher preta (RP 1,16, IC95% 1,07-1,26), homem pardo (RP 1,13, IC95% 1,07-1,20) e mulher parda (RP 1,13, IC95% 1,07-1,20) apresentaram maior RP para consumo regular de alimentação escolar que a categoria de referência (homem branco), a qual representa um grupo socialmente privilegiado quanto às questões de gênero e raciais.
Conclusões/Considerações
O consumo regular de alimentação escolar foi observado em menos da metade dos indivíduos de todas as categorias. Contudo, as maiores prevalências para as categorias homem preto, mulher preta, homem pardo e mulher parda podem indicar fator de proteção, ao considerar a oferta de alimentos in natura ou minimamente processados, bem como, a garantia ao direito à alimentação adequada e saudável no ambiente escolar a grupos socialmente vulnerabilizados.
IMPACTO AMBIENTAL DAS COMPRAS PÚBLICAS DE CARNES DO PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR (PNAE): O CASO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
Comunicação Oral
Roberto, D. M. T.1, Camargo, G.L.Z1, Pereira, J.L.1, Rigote, G.1, Guimarães, B. P.1, Marchioni, D.M.L.1, Ermgassen, E.Z2, Domene, S.M.A3, Carvalho, A. M.1
1 Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo
2 UCLouvain
3 Universidade Federal de São Paulo
Apresentação/Introdução
O PNAE atende diariamente mais de 1 milhão de estudantes da rede pública da cidade de São Paulo, que consomem cerca de 2,5 milhões de refeições. Os cardápios seguem as diretrizes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação; no entanto, essas diretrizes não contemplam o impacto ambiental dos alimentos ofertados, e não há informações disponíveis sobre os efeitos ambientais desses cardápios.
Objetivos
Estimar o impacto ambiental das compras públicas de carnes realizadas pelo PNAE no município de São Paulo em 2022.
Metodologia
A identificação do quantitativo total de carnes adquirida foi feita considerando os cardápios servidos na rede municipal em 2022, o número de refeições servidas/consumidas e o per capita para cada faixa etária. A estimativa do impacto ambiental foi realizada com base nas emissões de gases de efeito estufa (kgCO₂eq) por meio de indicadores propostos por Poore & Nemecek (2018).
Resultados
Foram analisadas 2908 escolas e foram servidas 229.338.143 refeições contendo carnes e ovos, totalizando o consumo de 8.980 toneladas desses alimentos. A carne bovina foi a mais ofertada, com 3131t (35%), seguida por frango (1.941t-22%), ovos (1369t-15%), carne suína (1333t-14%) e peixe (1170t-13%). A pegada de carbono associada ao consumo de todos os tipos de carnes e ovos foi de 405.082t CO2eq, sendo que a pegada da carne bovina foi de 363.822t e representou 90% do total estimado. O frango contribuiu com 18148t CO2eq (5%), os ovos 9829t(2%), os peixes 8190t (2%) e a carne suína 5092t (1%). A pegada de carbono equivale ao combustível necessário para 50 mil voltas de carro ao redor da Terra.
Conclusões/Considerações
Observa-se que a carne bovina foi a mais servida nas escolas municipais de São Paulo e a que mais contribuiu para as emissões de gases de efeito estufa associadas ao consumo de carnes. Espera-se que esses achados contribuam para que o FNDE incorpore aspectos ambientais e climáticos em suas recomendações nacionais e que gestores municipais considerem a sustentabilidade nas compras públicas, promovendo uma alimentação escolar mais sustentável.