Programa - Comunicação Oral - CO12.6 - Enfrentamento das Doenças Emergentes e Negligenciadas
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
ALAVANCAS E OBSTÁCULOS À IMPLEMENTAÇÃO DE UMA INTERVENÇÃO COMPLEXA DESTINADA A ELIMINAR A MALÁRIA EM UMA POPULAÇÃO MÓVEL E DE DIFÍCIL ACESSO NA AMAZÔNIA (PROJETO CUREMA)
Comunicação Oral
Sanna, A1, Lambert, Y2, Plessis, L2, Bardon, T2, Petit-Sinturel, M2, Vreden, S3, Douine, M2, Suárez-Mutis, MC4
1 FIOCRUZ-IOC; Centre Hospitalier de Cayenne
2 Centre Hospitalier de Cayenne
3 SWOS
4 FIOCRUZ-IOC
Apresentação/Introdução
O CUREMA é um projeto de pesquisa que visa avaliar uma intervenção complexa voltada para a transmissão da malária, em particular do Plasmodium vivax, entre garimpeiros no Escudo Guianense. A intervenção foi realizada entre março de 2023 e dezembro de 2024 por agentes comunitários de saúde em localidades transfronteiriças no Suriname e no Amapá.
Objetivos
Descrever o alcance da intervenção e identificar as principais alavancas e obstáculos que influenciaram sua implementação.
Metodologia
A intervenção era composta: (i) da distribuição de kits de autoteste e autotratamento da malária (“malakits”), acompanhados de treinamento dos usuários ; (ii) do tratamento direcionado contra P. vivax (PvTDA) para indivíduos identificados como prováveis portadores assintomáticos; de atividades de informação e educação em saúde. A administração da PvTDA foi condicionada pela análise de critérios epidemiológicos de elegibilidade e pela exclusão de contraindicações ao tratamento. As fontes de dados para avalição com metodos mistos incluem os questionários da inclusão na intervenção, uma pesquisa transversal pós-intervenção e um estudo qualitativo pós-intervenção.
Resultados
Entre 2023 e 2024, um total de 2.002 garimpeiros participaram da intervenção, dos quais 1.315 no Brasil e 687 no Suriname. Entre os participantes, 1.659 receberam um malakit, 95 receberam um PvTDA e receberam ambos os serviços. A proposta do malakit mostrou aceitabilidade sustentada. Para o PvTDA, as razões mais importantes relatadas para a não aceitação foram a falta de tempo ou um processo de inclusão considerado muito longo (337/1025) e medo dos efeitos adversos do tratamento (161/1025). Apesar da complexidade técnica, a intervenção demonstrou ser viável em áreas remotas por equipes de profissionais de campo sem formação superior em saúde.
Conclusões/Considerações
Os resultados do CUREMA fornecerão informações críticas para estratégias de eliminação da malária voltadas para populações móveis e de difícil acesso, particularmente para o combate à transmissão do P. vivax nas Américas.
MALÁRIA INCUBADA: CONHECIMENTO E REPRESENTAÇÕES RELATIVAS ÀS INFECÇÕES ASSINTOMÁTICAS E ÀS ESPECIFICIDADES DO PLASMODIUM VIVAX ENTRE OS GARIMPEIROS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Comunicação Oral
Sanna, A1, Plessis, L2, Jimeno-Maroto, I2, Lambert, Y2, Bardon, T2, Figueira, A3, Vreden, S4, Bordalo, JM5, Douine, M2, Suárez-Mutis, MC3
1 FIOCRUZ-IOC; Centre Hospitalier de Cayenne
2 Centre Hospitalier de Cayenne
3 FIOCRUZ-IOC
4 SWOS
5 DPAC-Fronteira
Apresentação/Introdução
À medida que as Américas avançam na eliminação da malária, sua circulação concentra-se cada vez mais em comunidades isoladas com acesso precário aos serviços de saúde, e o reservatório humano silencioso (especialmente para o Plasmodium vivax) representa um desafio. O uso da tafenoquina para o tratamento radical do P. vivax é uma inovação importante em processo de implantação no Brasil.
Objetivos
Explorar os conhecimentos, experiências e as representações sobre a infeção assintomática do plasmódio, as recorrências e sobre as especificidades das infecções por P. vivax.
Metodologia
O projeto CUREMA avalia uma intervenção complexa que visa a eliminação da malária em comunidades de garimpeiros do Escudo Guianês. A população-alvo é a comunidade de garimpeiros que trabalham entre Suriname, Guiana Francesa e Amapá (Brasil). Os dados da análise atual foram coletados em 2022, nas fronteiras franco-surinamesa e franco-brasileira (Amapá), durante a pesquisa transversal pre-intervenção (539 participantes) e o estudo qualitativo preparatorio (25 entrevistas semiestruturadas individuais, 14 entrevistas em grupo e 38 conversas informais) realizados como parte do projeto CUREMA.
Resultados
Quase todos os participantes reconheceram os mosquitos como vetores da malária (487, 90,3%), e uma parte indicou um microrganismo como o agente causador da doença (252, 46,7%). O conhecimento sobre as formas assintomáticas da doença (“malária incubada”) e sobre o risco de recorrências era comum (507, 94,1%), geralmente consideradas resultado de tratamento inadequado, e da exposição a alimentos (“comidas reimosas”) e comportamentos considerados inflamatórios. A maioria dos participantes mencionou a existência de diferentes tipos de malária (423, 78,5%), mas o conhecimento sobre as características do P. vivax e sobre seu tratamento radical era limitado.
Conclusões/Considerações
Os conteúdos e as estratégias de comunicação e educação em saúde devem ser reforçados e basear-se nos conhecimentos e nas representações culturais próprias das populações mais afetadas pela malária. Compreender a interpretação da doença pelas comunidades afetadas é essencial para desenvolver abordagens relevantes e para aumentar a aceitabilidade e a efetividade dos tratamentos farmacológicos e, de forma geral, das ações de combate à malária.
RESSURGIMENTO DA MALÁRIA APÓS CONTROLE EM MUNICÍPIO AMAZÔNICO: IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIAIS EM ALTAMIRA, PARÁ
Comunicação Oral
De Angeli Dutra, D.1, Skinner, E2, Pellegrino, E. F. C.3, Damasceno, O4, Burza, S5, Mordecai, E6
1 School of Environmental & Natural Sciences/Bangor University, UK Bangor,
2 Centre for Clinical Research (UQCCR), Faculty of Health, Medicine and Behavioural Sciences, University of Queensland, Brisbane City, Australia,
3 Universidade Federal do Pará, SAMA Health in Harmony
4 Universidade Federal do Pará
5 Department of Clinical Research, London School of Hygiene and Tropical Medicine, London, United Kingdom
6 Department of Biology, Stanford University, Stanford, California, United States, Palo Alto, United States
Apresentação/Introdução
Eliminar a malária exige reduzir e sustentar baixas taxas de transmissão. Em Altamira (PA), os casos caíram com um programa local durante a construção da UHE Belo Monte. Após o fim das obras, houve ressurgimento, sobretudo em áreas rurais. O estudo analisa fatores ambientais e sociais associados à volta da transmissão em contexto amazônico.
Objetivos
Investigar fatores associados à reemergência da malária em Altamira (PA), comparando os períodos antes (2006–2012) e após (2017–2020) a construção da UHE Belo Monte e seu programa local de controle da doença.
Metodologia
Foram obtidos dados anuais de casos notificados de malária por unidade de saúde em Altamira (2006–2020), a partir do SIVEP-Malária. Devido à baixa incidência em algumas localidades, os dados foram agrupados por proximidade geográfica. As incidências foram integradas a dados geoespaciais sobre cobertura do solo, população e mobilidade humana de cada grupo. Para avaliar o papel de fatores ambientais e demográficos na transmissão, utilizaram-se modelos aditivos generalizados, considerando bordas florestais, tamanho populacional e padrões de mobilidade.
Resultados
Entre 2006 e 2020, foram registrados 17.578 casos de malária em Altamira. Antes da construção de Belo Monte, a incidência anual ultrapassava 1.200 casos, concentrados na área urbana. Durante as obras e o controle intensivo, os casos caíram para menos de 100 por ano. Após a conclusão, houve novo aumento, com mais de 700 casos em 2020, agora em áreas rurais. Os modelos indicaram que a incidência cresceu com a expansão das bordas florestais e o aumento populacional. A associação com bordas, e não com desmatamento total, sugere que a criação de habitats vetoriais pode ser o principal fator na transmissão.
Conclusões/Considerações
A redução da malária exige vigilância e controle contínuos, sobretudo em áreas de alta vulnerabilidade. Intervenções intensivas foram eficazes durante a construção de Belo Monte, mas sua descontinuidade levou ao ressurgimento da doença. As bordas florestais, mais do que o desmatamento total, parecem ter papel central na ecologia vetorial e devem orientar estratégias futuras.
CARACTERIZAÇÃO DO SURTO DE FEBRE DE OROPOUCHE EM MINAS GERAIS, 2024: EXPANSÃO DE UM ARBOVÍRUS AMAZÔNICO
Comunicação Oral
Flores, E. R. M1, Cruzeiro, F. R. S1, Rocha, I. F. B1, Gonçalves, C. M1, Freitas, T. C. N1, Medeiros, E. L. A1, Teixeira, D. C1
1 SES/MG
Apresentação/Introdução
Oropouche, causada pelo Oropouche vírus (OROV), é uma doença historicamente endêmica na região amazônica. No entanto, casos vêm sendo registrados em outras regiões do Brasil. Em 2024, um surto inédito ocorreu em Minas Gerais, levantando a necessidade de compreender o comportamento do vírus em áreas não amazônicas.
Objetivos
Investigar as características sociodemográficas, clínicas e epidemiológicas dos casos autóctones de Oropouche notificados em Minas Gerais, em 2024, e contribuir para o entendimento da dinâmica de transmissão do vírus fora da Amazônia.
Metodologia
Trata-se de um estudo epidemiológico baseado em dados secundários de vigilância. Foram analisadas informações demográficas, clínicas e geográficas dos casos notificados de Oropouche em Minas Gerais, no ano de 2024. As análises estatísticas descritivas buscaram identificar padrões na distribuição de casos, sintomas predominantes e populações mais afetadas, além de possíveis fatores ambientais relacionados à transmissão.
Resultados
Foram notificados 278 casos autóctones, com maior ocorrência em áreas rurais e periurbanas. A maioria dos casos ocorreu em mulheres, com predominância na faixa etária de 20 a 59 anos. Dois picos de incidência foram registrados nas semanas epidemiológicas 15 e 49. Os sintomas mais comuns foram febre, cefaleia, mialgia e dor retroorbital. Em mais da metade dos casos houve recorrência de sintomas. Não foram identificados quadros graves em gestantes. Registros de óbitos em animais domésticos e silvestres sugerem influência de fatores ambientais na disseminação do vírus.
Conclusões/Considerações
Os achados reforçam a expansão do OROV para além da Amazônia, com implicações importantes para a vigilância e o controle vetorial em regiões anteriormente não endêmicas. Destaca-se a necessidade de novos estudos sobre potenciais reservatórios ambientais e o papel de fatores socioeconômicos na transmissão da doença.
TRANSMISSÃO VERTICAL DA DOENÇA DE CHAGAS: CONDIÇÃO AINDA NEGLIGENCIADA NO SÉCULO XXI
Comunicação Oral
Souza, E.A1, Ferreira, D.P2, Santos, L.M2, Sardinha, F. S.N2, Vermeij, D2, Santos, C.M2, Castilhano, A.A2, Pantoja, M, J, S.2, Heniques, S.O2, Silva, W.G2
1 UFBA e CUIDA Chagas, INI, FIOCRUZ.
2 (CUIDA Chagas, INI, Fiocruz)
Apresentação/Introdução
A doença de Chagas (DC) persiste como desafio no século XXI, em especial, quando resultado da transmissão vertical, demandando a adoção de medidas que garantam o diagnóstico e tratamento de Mulheres em Idade Fértil – MIF (mulheres entre 10 à 49 anos de idade), única medida capaz de prevenir sua ocorrência. No entanto, são inúmeras as barreiras de acesso para testar, tratar e cuidar.
Objetivos
Analisar a estimativa de prevalência para doença de Chagas entre Mulheres em Idade Fértil e aspectos de vulnerabilização socioeconômica, em municípios localizados nas cinco regiões do país, entre os anos de 2023 e 2025.
Metodologia
Estudo transversal analítico, envolvendo MIFs residentes nos municípios de Janaúba (MG), Paraúna (GO), Igarapé Miri (PA), Rosário do Sul (RS) e Riachão das Neves (BA),municípios participantes do projeto CUIDA Chagas. As MIFs tiveram acesso a aconselhamento e Teste Rápido de Triagem (TRT) na APS ou maternidades, entre julho/2023 a maio/2025. Mediante resultado positivo ou inconclusivo do TRT, todas foram encaminhadas para confirmação do diagnóstico da DC crônica. Foi calculada a estimativa de prevalência geral (casos confirmados com sorologia entres os triados) e por município, com seus respectivos intervalos de confiança (IC) de 95% e analisado aspectos de vulnerabilização socioeconômica.
Resultados
Foram aconselhadas e testadas 19.015 MIF, a maioria residentes nos municípios de Janaúba (n=7.591;39,9%) e de Igarapé Miri (4.961; 26,0%). Entre as encaminhadas para sorologia e que realizaram os exames (n=862), 197 MIF confirmaram ter a DC, estimativa de prevalência entre as triadas de 1,0 (IC95% 0,9-1,2). Riachão das Neves se destaca com 5,4 (IC95% 4,4-6,5), seguido de Janaúba com 1,0 (IC95% 0,8-1,2). Prevaleceram MIF entre 30 a 49 anos (1,98; IC95% 1,5-2,0), sem escolaridade (1,6; IC95% 3,9-12,4), com renda familiar de até R$ 1.500,00 (1,5; IC95% 1,3-1,8), que já tiveram filhos (3,2; IC95% 2,7-3,8) e que tem outros casos de DC na família (2,7; IC95% 2,2-3,2).
Conclusões/Considerações
Com estimativas de prevalência distintas, a DC em MIF é uma realidade nos municípios do projeto CUIDA Chagas, condição de risco para transmissão vertical da doença. Aspectos de vulnerabilização socioeconômica apontam para a importância da garantia de direitos básicos como medida necessária para enfrentamento das doenças de determinação social. Cenário que fortalece a importância do Programa Brasil Saudável: unir para cuidar.
PERFIL DE MORTALIDADE POR DOENÇA DE CHAGAS NO DISTRITO FEDERAL: SÉRIE HISTÓRICA DE 2013 A 2023
Comunicação Oral
Oliveira, K. M. M.1, Costa, V. M.1, Lopes, J. N. S.1, Gonçalves, G. L. P.2
1 Escola de Governo Fiocruz Brasília
2 Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
Apresentação/Introdução
A doença de Chagas (DC) segue como condição negligenciada. O Distrito Federal é área de vulnerabilidade devido ao intenso fluxo migratório de regiões endêmicas e aos indicadores desfavoráveis relacionados à mortalidade e ao acesso à saúde. A análise da mortalidade por DC pode subsidiar estratégias de vigilância e cuidado a pacientes que possuem a doença para uma assistência mais direcionada.
Objetivos
Analisar os óbitos por DC no Distrito Federal, entre os anos de 2013 e 2023, considerando o perfil clínico-epidemiológico as pessoas acometidas.
Metodologia
Estudo descritivo, retrospectivo, com base nos dados secundários do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS), disponíveis para livre acesso, referente aos óbitos com causa básica classificada como doença de Chagas (CID-10: B57), nas formas aguda e crônica, em residentes do Distrito Federal, de 2013 a 2023. Os dados foram organizados em planilha Excel e analisados por meio da frequência absoluta e relativa utilizando as variáveis sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade, local de ocorrência do óbito, forma clínica da doença e presença de comorbidade.
Resultados
Foram identificados 1.848 óbitos por DC, 51,5% (952) do sexo feminino e 91% (1.682) de pessoas com 50 anos ou mais. Para raça/cor, 51,4% (950) foi parda e 35,7% (659) branca; quanto a escolaridade 39,6% (732) foi de Ensino Fundamental I e 22,9% (424) sem escolaridade. O local de ocorrência do óbito foi maior em hospitais (73,2%, n=1.352). Em relação ao tipo da doença, a forma crônica com comprometimento cardíaco se destacou, representando 82,8% (1.530), seguido pela forma crônica com comprometimento do aparelho digestivo, com 15% (28). Em 54,9% (1.015) dos óbitos, o paciente possuía comorbidade, sendo hipertensão (21,9%, n=346) e insuficiência renal crônica (8,6%, n=136) as mais frequentes.
Conclusões/Considerações
A maioria dos óbitos por doença de Chagas ocorreu em pessoas idosas, de baixa escolaridade e com formas crônicas cardíacas, evidenciando vulnerabilidades sociais. Reforça-se a necessidade de fortalecer a vigilância epidemiológica ativa, a partir de pessoas acometidas pela doença, para ampliar o acesso ao cuidado especializado, a fim de melhorar o prognóstico e identificar familiares sob a mesma condição.