
Programa - Comunicação Oral - CO1.7 - Doenças Negligenciadas, Agravos e Ambiente
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
DESAFIOS ECONÔMICOS E ESTRUTURAIS NO ACESSO AO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE CHAGAS CRÔNICA: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO CUIDA CHAGAS NO BRASIL E NO PARAGUAI
Comunicação Oral
1 CUIDA Chagas, INI, Fiocruz
2 CUIDA Chagas, Programa Nacional de Control de la Enfermedad de Chagas Paraguay
3 CUIDA Chagas, Fiocruz
Apresentação/Introdução
A doença de Chagas crônica afeta cerca de 6 milhões de pessoas no mundo, embora apenas 8% são diagnosticadas. Os testes rápidos (TR), ampliam o acesso, mas persistem desafios após resultados positivos ou inconclusivos, que exigem testes sorológicos confirmatórios em laboratórios especializados, tornando o diagnóstico mais complexo e custoso para os pacientes.
Objetivos
Identificar potenciais desafios econômicos e estruturais no acesso ao diagnóstico da doença de Chagas crônica (DCC) no Brasil e no Paraguai.
Metodologia
Estudo de custo-efetividade aninhado ao protocolo de implementação do projeto CUIDA Chagas conduzido de julho/23 a janeiro/25, utilizando instrumentos padronizados de análise sociodemográfica e análise de custos indiretos para realização de triagem e diagnóstico sorológico. Os dados foram coletados entre os participantes com resultados positivos ou inconclusivos na triagem com TR em 5 municípios do Brasil e 6 do Paraguai. O questionário incluiu 27 perguntas sobre distância até a Unidade Básica de Saúde (UBS), gastos durante o diagnóstico, tipos de transporte usado, renda familiar e dependentes. Foram analisadas relações entre variáveis socioeconômicas e a taxa de testagem sorológica (TTS).
Resultados
Foram respondidos 612 questionários, 401 no Brasil e 211 no Paraguai. A TTS entre TR positivos foi maior no Paraguai (81,7%) que no Brasil (69,1%), com variações entre os municípios (16,7%-100%), sem relação direta com a distância dos usuários até a UBS. A TTS foi menor entre usuários de transporte gratuito (a pé e bicicleta) e a diferença na TTS entre usuários com transporte pago e gratuito é de apenas 6,7% no Brasil e 7,4% no Paraguai. Entre pacientes com TR positivo/inconclusivo, 86% no Brasil tinham renda per capita (RPC) inferior a USD 179,3 e 50,9% inferior a USD 62,7 no Paraguai; ainda assim, a TTS média foi alta em grupos de baixa renda, especialmente no Paraguai (95,5% vs 74,1%).
Conclusões/Considerações
A partir dos dados avaliados, não foi encontrada relação direta entre variáveis socioeconômicas e testagem sorológica. TR permitem ampliar o acesso à detecção, mas não garantem a confirmação diagnóstica. Fatores como acesso a laboratórios com capacidade diagnóstica, oferta regular de testes sorológicos e existência de programas governamentais voltados ao cuidado integral da DCC tendem a ser fatores mais determinantes para garantir o diagnóstico.
EDUCAÇÃO PERMANENTE SOBRE HANSENÍASE: ESTRATÉGIAS PARA QUALIFICAR A AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA NA ATENÇÃO BÁSICA
Comunicação Oral
1 PROFSAUDE
2 ITPAC - PORTO
Período de Realização
Janeiro de 2024 a maio de 2025
Objeto da experiência
Capacitação da equipe sobre avaliação neurológica simplificada na hanseníase, com base em achados de revisão crítica da literatura.
Objetivos
Analisar as principais fragilidades no conhecimento dos profissionais de saúde sobre a hanseníase e sua avaliação neurológica simplificada, promovendo uma ação educativa baseada nos resultados da literatura para qualificar o cuidado e reduzir agravos à saúde.
Descrição da experiência
Com base em uma revisão de literatura com 15 artigos entre 2020 e 2025, foram identificadas lacunas significativas na formação de profissionais da Atenção Básica sobre hanseníase, especialmente na aplicação da Avaliação Neurológica Simplificada (ANS). A partir disso, foi construída uma proposta de educação permanente em saúde, com oficinas teórico-práticas na UBS Isadora Chaves Moura, abordando os aspectos técnicos da ANS, sua aplicação, registro e importância no acompanhamento da doença.
Resultados
Os encontros geraram maior segurança da equipe para realização da ANS e ampliaram o entendimento sobre sua finalidade e etapas. Profissionais que anteriormente não realizavam a avaliação passaram a incorporá-la nas consultas. A qualidade do registro nos formulários melhorou, e os usuários demonstraram maior confiança nos cuidados ofertados, favorecendo o diagnóstico precoce e a prevenção de incapacidades.
Aprendizado e análise crítica
A experiência revelou que a lacuna de conhecimento sobre a hanseníase não decorre apenas da formação inicial, mas também da falta de práticas regulares de atualização. A revisão bibliográfica serviu como base concreta para sustentar a proposta formativa. A articulação entre evidência científica e ação educativa prática mostrou-se efetiva, reafirmando a importância da educação permanente e da escuta das dificuldades reais enfrentadas pela equipe.
Conclusões e/ou Recomendações
É essencial incorporar ações de educação permanente nos serviços de saúde, especialmente sobre doenças negligenciadas como a hanseníase. Recomenda-se que gestores incentivem a atualização contínua das equipes e que o protocolo de avaliação neurológica seja inserido nos fluxos assistenciais. A experiência pode ser replicada em outras UBS com contextos semelhantes.
GRAVIDADE E LETALIDADE DOS ACIDENTES OFÍDICOS NO BRASIL POR GÊNERO DE SERPENTE
Comunicação Oral
1 Faculdade São Leopoldo Mandic Araras
Apresentação/Introdução
Os acidentes ofídicos são agravos de notificação compulsória ao SINAN, sendo ponto essencial o preenchimento do gênero de serpente responsável ao notificar, bem como a classificação final do caso (leve, moderado ou grave) e a sua evolução (cura ou óbito). A determinação da letalidade e da gravidade do ofidismo no Brasil constitui importante lacuna na literatura científica nacional.
Objetivos
Determinar o coeficiente de letalidade de cada gênero de serpente e as gravidades de seus acidentes.
Metodologia
Estudo epidemiológico ecológico, realizado por meio de extração de dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). As variáveis extraídas foram classificação final do caso (leve, moderado ou grave) e evolução (cura, óbito pelo acidente ofídico ou outra causa), no período de 2007 a 2024, desconsiderando os “branco” e “ignorado”, com valores expressos em termos absolutos (n) e relativos (%). O cálculo da letalidade foi realizado dividindo-se o número de óbitos pelo acidente ofídico pelo número de acidentes registrados por aquele gênero de serpente. Foi aplicado o teste de correlação de Pearson (r) para analisar possível correlação entre gravidades e letalidade.
Resultados
A maioria dos acidentes cujo gênero de serpente foi especificado na notificação foram botrópicos (80,78%) e a minoria micrúricos (1,00%). Quanto à classificação, a evolução leve foi a maioria dos casos (85,22%) provocada principalmente por acidentes com não peçonhentas (95,12%); os casos moderados (12,94%) foram causados na maioria por laquéticos (56,47%); e graves 1,84%, por micrúricos (26,87%). A letalidade geral foi de 0,42% e específica por gênero: crotálicos (1,07%), laquéticos (0,95%), botrópicos (0,44%), micrúricos (0,22%) e não peçonhentos (0,04%). Não foram observadas correlações estatisticamente significantes entre as gravidades e as letalidades.
Conclusões/Considerações
Conclui-se, portanto, que as produções científicas e as políticas públicas relacionadas aos acidentes ofídicos devem orientar-se levando em consideração a grande heterogeneidade de prognósticos e letalidades entre os diferentes gêneros de serpente. Além disso, evidencia-se o caráter fundamental da identificação correta do gênero de serpente responsável pela picadura para uma análise clínica mais precisa.
TENDÊNCIA TEMPORAL DOS CUSTOS DE INTERNAÇÕES POR ACIDENTES DE TRANSPORTE NO BRASIL, 2014-2023.
Comunicação Oral
1 UFMA
Apresentação/Introdução
Os acidentes de transporte consistem em um grave problema de saúde pública no Brasil, com maior incidência em adultos jovens do sexo masculino. Tais ocorrências são um dos principais motivos de internações por causas externas no SUS, com custos que produzem grande impacto econômico e social para o sistema público de saúde e para a sociedade de forma geral.
Objetivos
Analisar a tendência temporal de custos de internações por acidentes de transporte ocorridas no SUS entre 2014 e 2023.
Metodologia
Estudo ecológico de série temporal no qual foram utilizados dados de internações por acidentes de transporte registradas no Sistema de informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS). Os custos foram mensurados por macrocusteio. Para a análise temporal, foram utilizados modelos de regressão por pontos de inflexão utilizando o software Joinpoint Regression Program versão 5.2.2.0® Foi estimada a variação percentual anual (VPA), a variação média no período (VMP) e intervalos de confiança de 95% das internações por acidentes de transporte.
Resultados
Entre 2014 e 2023, foram registradas 2.257.999 internações por acidentes de transporte, predominando em homens (50,3%) e mulheres (37,9%) de 20 a 39 anos. O custo total dessas internações foi de R$3.369.123.664,53, sendo R$ 2.269.039.867,47 entre homens e R$ 677.083.797,06 entre mulheres. Observou-se tendência crescente nos custos para homens (10-19 anos: VPA 2,48, IC95% -7,39; 0,21; 20-39 anos: VPA 3,53, IC95% 2,21; 4,82; 40-59 anos: VPA 5,88, IC95% 4,94; 6,77; ≥60 anos: VPA 7,29, IC95% 5,63; 8,93) e mulheres (20-39 anos: VPA 4,05, IC95% 3,17; 4,95; 40-59 anos: VPA 5,76, IC95% 4,37; 7,15; ≥60 anos: VPA 18,88, IC95% 5,71; 28,68).
Conclusões/Considerações
Acidentes de transporte permanecem representando uma demanda importante para o SUS, com tendência crescente nos custos de internações por estas causas, principalmente entre adultos jovens e idosos de ambos os sexos. A identificação de padrões etários e de gênero pode contribuir para a elaboração de estratégias específicas de intervenção e otimização de recursos do sistema de saúde.
AGROTÓXICOS E OS EFEITOS DA EXPOSIÇÃO MÚLTIPLA EM AGENTES DE COMBATE AS ENDEMIAS: USO DE REDE DE INTERAÇÃO BIOLÓGICA E AS ALTERAÇÕES DO SONO.
Comunicação Oral
1 Cesteh/Fiocruz
2 UFF
3 INCA
Apresentação/Introdução
O combate de vetores é caracterizado pelo uso intensivo de agrotóxicos, alguns banidos ou restritos em outros países, associados a efeitos neurotóxicos e carcinogênicos. Entre os efeitos à saúde dessa exposição, estão os distúrbios do sono. Caracterizada como uma “doença complexa” de múltiplas exposições, os Agentes de Combate às Endemias (ACE), morrem e adoecem pela exposição aos agrotóxicos.
Objetivos
Analisar os efeitos a saúde dos ACE do estado do Rio de Janeiro, em especial os distúrbios do sono. Assim como avaliar a exposição múltipla utilizando ferramentas da Medicina em Rede para explorar a complexidade molecular afetada pelas exposições.
Metodologia
Estudo transversal com 66 ACE. A qualidade do sono foi avaliada pelo Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) e pela actimetria ActTrust. Para avaliação da exposição múltipla, foi utilizado o banco de dados “CTD database” e utilizado os dados de agrotóxicos utilizados ao longo do histórico profissional. A construção das redes de interação foi realizada exportando os dados para o Cytoscape. Para cálculo das propriedades topológicas utilizou-se MCODE, BiNGO e CentiScaPe.
Resultados
Foi gerada uma rede de exposição múltipla químico-gene-doença e observada exposição a múltiplos agrotóxicos; 51% apresentaram pelo menos dois sintomas de intoxicação após contato e/ou manuseio; associados ao tempo de trabalho (RP: 2,09; 1,23 a 3,55); exposição a piretróides (RP: 1,16; 1,01 a 1,34) e organofosforados (RP: 1,25; 1,07 a 1,47). A qualidade do sono foi de 7,8 pontos no escore PSQI e 60% da população foi classificada como sono ruim (PSQI > 5). Além disso, o tempo total de sono foi de 5 a 6 horas e correlação positiva entre o hormônio T4 e o tempo total de sono (p < 0,05) e com as escalas de transtornos mentais comuns ( rho=0,66; p< 0,05).
Conclusões/Considerações
A exposição aos agrotóxicos influenciou os padrões de sono e os diferentes cronótipos; além de potencialmente afetar a qualidade do sono ao ativar o sistema circadiano neural. A análise em rede, combinada com dados de alto rendimento, permitiu verificar os processos biológicos abrangentes e cumulativo para ações de monitorização e prevenção de doenças relacionados a exposição aos produtos químicos.
DOENÇA RENAL CRÔNICA E A AUSÊNCIA DO MARCADOR RACIAL NOS DADOS OFICIAIS DO CENSO BRASILEIRO DE NEFROLOGIA: UM DEBATE SILENCIADO
Comunicação Oral
1 PUC-Rio
Apresentação/Introdução
Pessoas negras têm maior risco de desenvolver Doença Renal Crônica, mas os dados oficiais frequentemente ignoram a variável racial. Este estudo analisa dados nacionais e revela como o racismo estrutural contribui para essas desigualdades. Tornar visível esse marcador é essencial para construir políticas públicas mais justas, que garantam o direito à saúde com equidade.
Objetivos
Analisar os dados do Censo Brasileiro de Diálise e do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) identificando o marcador social raça na Doença Renal Crônica tendo em vista a visibilidade da saúde da população negra.
Metodologia
Pesquisa bibliográfica qualitativa realizada em Maio de 2025, analisando os resultados do Censo Brasileiro de Diálise 2023 e da série histórica 2009-2018, no Brazilian Journal Nephrology, que apoia e contribui ao desenvolvimento de políticas nacionais de saúde e do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil - estudo de coorte iniciado em 2008) por meio do Boletim da Consciência Negra 2023, que considera o racismo uma das causas das desigualdades em saúde. Foi realizada uma análise descritiva identificando o marcador racial na Doença Renal Crônica e a prevalência das doenças de base hipertensão e diabetes mellitus como fatores de risco significativos para a saúde da população negra.
Resultados
O Censo Brasileiro de Diálise em 2023 revelou que o número absoluto e a taxa de prevalência de pacientes em diálise crônica continuam a aumentar. A hipertensão foi a principal doença subjacente para a doença renal crônica (37%), seguida por diabetes mellitus (31%). Tanto na série histórica 2009-2018 quanto nos dados epidemiológicos de 2023, o referido censo não considerou o marcador racial. Já o estudo Elsa-Brasil revelou que há pior função renal e frequência da Doença Renal Crônica maior em pessoas negras que brancas, bem como da hipertensão (85,4%), não controlada e com aumento após 4 anos, e da diabetes mellitus (47,3%). A autopercepção de saúde ruim foi maior para as pessoas negras.
Conclusões/Considerações
A Doença Renal Crônica e as comorbidades hipertensão e diabetes mellitus afetam desproporcionalmente a população negra no Brasil. A ausência do marcador racial em registros oficiais contribui para a invisibilidade dessas desigualdades históricas e silenciamento do debate. Reconhecer o racismo estrutural como determinante social da saúde é essencial para promover políticas públicas antirracistas, pautadas na equidade e na justiça social em saúde.

Realização: