
Programa - Comunicação Oral - CO16.3 - Saúde da população LGBTI+ nas Redes de Atenção à Saúde
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
CUIDAR ENTRE MUROS: PRÁTICAS EM SAÚDE COM POPULAÇÃO LGBTQIAPN+ EM ATENÇÃO PRIMÁRIA PRISIONAL NO COMPLEXO DA PAPUDA
Comunicação Oral
1 UNB
2 SES DF
Período de Realização
Maio de 2022 a março de 2024
Objeto da experiência
Promoção do cuidado em saúde com população LGBTQIAPN+ encarcerada, via grupos realizados na Atenção Primária Prisional.
Objetivos
Relatar uma experiência de grupos quinzenais ou mensais com população LGBTQIAPN+ privada de liberdade, articulando práticas de cuidado integral, desmedicalizante e coletivizada, a partir dos registros realizados por profissionais da Atenção Primária Prisional da Papuda/DF.
Descrição da experiência
A experiência ocorreu numa Unidade Básica de Saúde Prisional, entre 2022 e 2024, com grupos realizados com população LGBTQIAPN+ em privação de liberdade. A proposta
emergiu do desejo de oferecer espaços de cuidado coletivo, apoiado nos princípios da PNAISP e nos dispositivos da Atenção Primária Prisional. A metodologia centrou-se na escuta, na construção de vínculos e na análise dos registros de memória produzidos pela equipe multiprofissional após cada encontro.
Resultados
Os grupos evidenciaram a potência do cuidado como espaço de resistência, com temas como identidade, afetos, espiritualidade, saúde mental e ISTs. Também revelaram conflitos internos e externos, como automutilações, transfobia institucional e disputas por reconhecimento de gênero. A atuação da equipe foi essencial para construir acolhimento, promover práticas emancipatórias e desmedicalizantes e estimular o vínculo e a responsabilização coletiva.
Aprendizado e análise crítica
A experiência explicita as sobreposições de vulnerabilidade enfrentadas por pessoas LGBTQIAPN+ privadas de liberdade, que acumulam estigmas sociais, institucionais e
subjetivos. O cuidado, quando construído com escuta ativa e reconhecimento de trajetórias, afirma-se como prática política e contra-hegemônica. A Atenção Primária Prisional se mostrou espaço estratégico de afirmação de direitos, exigindo sensibilidade às tensões entre controle, cuidado e liberdade.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência reafirma a centralidade da Atenção Primária Prisional como lugar de cuidado integral, mesmo sob constrangimentos institucionais. Recomenda-se a continuidade de práticas coletivas, com apoio institucional, formação permanente e integração com redes e movimentos sociais. É urgente fortalecer políticas públicas que reconheçam a pluralidade de existências e garantam o cuidado digno, especialmente em contextos de aprisionamento.
DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO ACESSO DE MULHERES LÉSBICAS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA DE ARTICULAÇÃO EM REDE PARA UM ATENDIMENTO COM EQUIDADE
Comunicação Oral
1 IMS/UERJ
Período de Realização
Janeiro de 2024
Objeto da experiência
Recebimento de denúncia sobre a recusa da realização de um exame ginecológico devido à orientação sexual da usuária e seus desdobramentos
Objetivos
Compartilhar um dos desafios enfrentados por mulheres lésbicas no acesso a serviços de saúde;
Apontar alternativas para o problema identificado a partir da experiência relatada.
Metodologia
Minha atividade profissional como assistente social em um equipamento público direcionado ao atendimento de pessoas LGBTQIAPN+ tem como parte dos objetivos atender vítimas de LGBTIfobia e orientá-las sobre seus direitos no município de Petrópolis, RJ. O serviço recebeu uma denúncia anônima através do Disque 100 de que as 2 profissionais de uma unidade de saúde negaram a realização do exame Papanicolau a uma mulher lésbica alegando não ser necessário devido à sua orientação sexual.
Resultados
Foi articulado junto à rede intersetorial a possibilidade de encaminhamento para o ambulatório especializado em atendimento à população LGBT do município, a fim de evitar a revitimização da usuária. No serviço, além de realizado o exame, ela foi atendida por equipe interdisciplinar que realizou acolhimento e identificou outras demandas, as quais passaram a ser acompanhadas pela própria equipe e referenciadas na rede.
Análise Crítica
Esta experiência sinaliza a relevância do canal de denúncia e possibilidades de atuação da equipe que a recebe; o olhar heteronormativo da saúde da mulher, voltando-se para o aspecto reprodutivo; aponta para práticas profissionais estigmatizantes e LGBTIfóbicas que impedem o acesso à saúde; desconhecimento e/ou desconsideração dos protocolos da Política Nacional de saúde integral LGBT; a necessidade de serviços especializados para garantir equidade no atendimento em saúde.
Conclusões e/ou Recomendações
É imprescindível que os serviços de saúde se qualifiquem para o atendimento à população LGBT, incorporando a Política Nacional de Saúde Integral LGBT na Educação Permanente. Recomenda-se a capacitação de profissionais da atenção primária para um cuidado equitativo e respeitoso, o fortalecimento e a divulgação dos canais de denúncia contra todo tipo de LGBTIfobia, bem como a ampliação dos serviços especializados no município
DESAFIOS NA COLETA DE DADOS SOBRE SAÚDE LGBT+ NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE EM MINAS GERAIS, BRASIL
Comunicação Oral
1 Cidacs/Fiocruz-BA
2 UFMG
Apresentação/Introdução
Apesar do avanço de políticas de saúde voltadas à população LGBT+ no Brasil, persistem desafios na coleta de dados sobre orientação sexual e identidade de gênero nos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS). Este estudo analisa as barreiras e estratégias adotadas por profissionais e gestores na APS em duas cidades de Minas Gerais na coleta destes dados.
Objetivos
Compreender os desafios enfrentados por profissionais e gestores na coleta de dados sobre saúde de pessoas LGBT+ na Atenção Primária à Saúde em Minas Gerais, com foco nos registros oficiais e nas práticas institucionais.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório, realizada entre 2023 e 2024, com base em entrevistas semiestruturadas com 25 profissionais e gestores/as de saúde de cinco municípios de Minas Gerais. Os participantes foram selecionados por amostragem intencional e incluíam profissionais da atenção básica e da gestão local. A análise de conteúdo foi conduzida com base na técnica de categorização temática, apoiada pelo software NVivo. A triangulação foi realizada com análise documental de normativas locais e federais. A pesquisa foi aprovada por comitê de ética e seguiu todos os protocolos de confidencialidade.
Resultados
Os resultados apontaram obstáculos relacionados a três eixos temáticos: Limitações dos Profissionais, Falta de Integração Institucional, e Tensões entre o Modelo Familiar-Comunitário e a Identificação LGBT+. Esses eixos se desdobram em aspectos como a carência de capacitação e o não reconhecimento da importância da coleta desses dados. Tais elementos evidenciam que a dificuldade na coleta dessas informações não é apenas um problema técnico, mas um reflexo da forma como a população LGBT+ ainda é marginalizada dentro das instituições de saúde, mesmo com o avanço de políticas públicas voltadas à equidade.
Conclusões/Considerações
A coleta de dados sobre saúde LGBT+ na APS ainda enfrenta barreiras estruturais, institucionais e simbólicas. É necessário promover capacitação contínua, adequação dos sistemas de informação e fortalecimento das políticas públicas locais. A escuta ativa de profissionais revela caminhos para ampliar o registro e o cuidado integral à população LGBT+ nos territórios.
DESAFIOS NO ATENDIMENTO À POPULAÇÃO TRANS NA ZONA RURAL DE CARUARU-PE: BARREIRAS DE ACESSO, QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E PROPOSTAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Comunicação Oral
1 Núcleo de Ciências da Vida, Universidade Federal de Pernambuco (NCV-UFPE)
Período de Realização
Iniciado em março de 2025, segue em andamento nas unidades de saúde da zona rural de Caruaru-PE.
Objeto da experiência
Atenção à população trans na zona rural, com foco nas barreiras de acesso, acolhimento e qualificação profissional.
Objetivos
Ampliar o acesso da população trans aos serviços de saúde na zona rural, promover acolhimento qualificado, combater a discriminação institucional e fortalecer a formação dos profissionais, especialmente sobre temas como hormonização, cuidado integral e respeito às identidades de gênero.
Descrição da experiência
A experiência iniciou em março de 2025, com ações desenvolvidas na Atenção Primária de Caruaru-PE. Diante da dificuldade de acesso da população trans, agravada por barreiras institucionais, realizamos uma qualificação sobre hormonização para médicos da rede. Recomendamos a criação de um ambulatório LGBT e de um Telessaúde especializado, visando estruturar o cuidado e sensibilizar profissionais para acolher de forma ética e humanizada.
Resultados
Observou-se grande resistência dos profissionais, principalmente pela falta de conhecimento sobre hormonização e manejo das demandas específicas da população trans. A formação gerou impactos positivos, promovendo reflexões e abertura para mudanças. Contudo, barreiras institucionais e entraves na gestão dificultam a consolidação de espaços de cuidado específicos e efetivos na APS rural.
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidencia que o desconhecimento dos profissionais perpetua o não acolhimento e afasta a população trans das unidades. Ao mesmo tempo, espaços de formação são potentes, mas insuficientes sem o compromisso institucional. Refletimos sobre a urgência de políticas efetivas, pactuações intersetoriais e construção de redes de cuidado que respeitem os direitos dessa população no território rural.
Conclusões e/ou Recomendações
É fundamental institucionalizar práticas de cuidado à população trans na Atenção Primária, especialmente nos territórios rurais, onde as barreiras são ainda mais acentuadas. Recomenda-se fortalecer processos de educação permanente, estruturar ambulatórios ou telessaúde especializados e incluir essa pauta nas prioridades de gestão.
GESTÃO DA SAÚDE DA POPULAÇÃO TRANS NO SUS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO TUTORIAL NO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PELO TRABALHO PARA A SAÚDE
Comunicação Oral
1 FCMSCSP
Período de Realização
2022 e 2023, durante a 10ª edição do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde).
Objeto da experiência
Atenção à saúde da população trans por meio da integração ensino-serviço-comunidade, com foco na equidade no SUS.
Objetivos
Relatar a experiência de um grupo tutorial do PET-Saúde na construção de ações voltadas à população trans, evidenciando estratégias de enfrentamento das iniquidades em saúde, formação crítica de estudantes e fortalecimento da equidade de gênero no SUS.
Descrição da experiência
Relato qualitativo de experiência formativa no PET-Saúde (2022–2023), com estudantes e profissionais da SMS-SP. As ações incluíram rodas de conversa, diários de campo, visitas técnicas, participação em pré-conferências e co-construção de um jogo educativo com mulheres trans da Casa Florescer, promovendo formação crítica e atuação sobre os determinantes sociais da saúde.
Resultados
Foram identificadas barreiras institucionais como a invisibilidade nos sistemas de informação, ausência de formação profissional específica e desarticulação das redes de atenção. A participação nas pré-conferências regionais possibilitou a formulação de propostas, incluindo a inclusão da identidade de gênero no SUS.
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidenciou a potência da articulação ensino-serviço-comunidade na formação para o SUS. A escuta das usuárias, a imersão nos territórios e a análise crítica das políticas públicas permitiram a compreensão ampliada dos determinantes sociais e das barreiras institucionais que perpetuam desigualdades.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se o fortalecimento de práticas pedagógicas críticas e interseccionais, com valorização da escuta qualificada e da participação popular. A inclusão da identidade de gênero nos sistemas do SUS e a educação permanente em saúde trans são essenciais para a construção de um SUS mais justo e inclusivo.
O QUE NÃO SE PERGUNTA, O QUE NÃO SE DIZ: ESCREVIVÊNCIAS DE MULHERES LÉSBICAS E BISSEXUAIS NO CUIDADO EM SAÚDE SEXUAL E DA MULHER.
Comunicação Oral
1 UFC
2 SME Fortaleza
Período de Realização
Trajetórias de cuidado vividas ao longo da vida, resgatadas criticamente em 2025.
Objeto da experiência
Vivências de mulheres lésbicas e bissexuais em contextos de cuidado em saúde sexual e da mulher no Sistema Único de Saúde e suplementar.
Objetivos
Analisar, a partir da escrevivência, as experiências de mulheres lésbicas e bissexuais nos serviços de saúde, com ênfase na saúde sexual e da mulher, buscando evidenciar silenciamentos, exclusões e possibilidades de cuidado integral e interseccional.
Descrição da experiência
Inspiradas por Conceição Evaristo, queremos articular relatos com reflexões críticas sobre invisibilidade, discriminação institucional e (r)existência nos serviços de saúde. Não lembramos de nenhum atendimento em que nos fosse perguntado qual nossa orientação sexual. Mesmo quando iriam inserir um corpo estranho em nossos corpos, ou quando nos ofereciam contraceptivos para prevenir gravidez. Não houve a pergunta, mas houve o medo da discriminação e um silêncio incômodo. Mas, incômodo para quem?
Resultados
O que não foi perguntado revela: suposições heteronormativas nos atendimentos, constrangimentos durante exames ginecológicos, ausência de protocolos específicos, além da escuta negligente por parte de profissionais. Em contraponto, às experiências também mostraram resistência, uma vez que persistimos em usufruir do nosso direito enquanto usuárias e que mesmo através de violências nos cuidamos para continuarmos vivas diante de um sistema invisibilizador.
Aprendizado e análise crítica
As escrevivências evidenciaram que o modelo biomédico ainda ignora marcadores de sexualidade e gênero, reforçando desigualdades. A análise reforça a urgência da interseccionalidade na formação e no cuidado. Com relação aos princípios do SUS, mulheres lésbicas e bissexuais até acessam os serviços de saúde, contudo não são vistas de forma integral ou recebem um cuidado equitativo, uma vez que sua identidades não fazem parte da rotina dos profissionais que prestam serviço no campo da saúde.
Conclusões e/ou Recomendações
A falta de uma formação adequada dos profissionais de saúde que, em nossas experiências, não acolhem de forma plural e humanizada mulheres lésbicas e bissexuais, revela falhas formativas e nos protocolos. Isso nos coloca no lugar de levar informação e questionar condutas, sendo essencial incluir a diversidade sexual com perspectiva interseccional nos protocolos e na formação permanente para assim mudar essa realidade violenta e de invisibilidade.

Realização: