
Programa - Comunicação Oral - CO16.6 - Violência, discriminação e interseccionalidade
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
ANÁLISE INTERSECCIONAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES NO BRASIL: ATUAÇÃO E ABRANGÊNCIA
Comunicação Oral
1 UFAL
2 Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas/UNCISAL
Apresentação/Introdução
As políticas públicas voltadas para mulheres, quando analisadas sob a perspectiva da interseccionalidade, revelam a complexidade das experiências femininas no Brasil. Este estudo investiga como essas políticas consideram marcadores sociais múltiplos, destacando avanços e lacunas na incorporação dessa abordagem.
Objetivos
Identificar os temas centrais das políticas públicas para mulheres disponíveis no site do Ministério das Mulheres, com foco na análise interseccional que considera marcadores como raça, etnia, classe e sexualidade.
Metodologia
Trata-se de recorte de projeto financiado pelo CNPq, envolvendo o Ministério da Saúde, das Mulheres e da Cidadania e dos Direitos Humanos. Foram coletadas informações do menu do site do Ministério das Mulheres, categorizadas por variáveis como título, objetivos, metas, problemas e público-alvo. Os dados foram organizados e analisados por meio do software IRAMUTEQ. A análise priorizou os elementos textuais que evidenciam interseccionalidade nas ações ministeriais.
Resultados
Das 39 políticas mapeadas, 78,3% são voltadas diretamente às mulheres, com foco genérico. Apenas 5,6% explicitam interseccionalidade ou são destinadas a mulheres indígenas. Políticas preventivas contra violência são minoritárias (16,7%), prevalecendo medidas reativas. Organismos de Políticas para Mulheres recebem 17,4% das ações e Organizações da Sociedade Civil, apenas 4,3%. A análise de similitude revelou pouca centralidade da interseccionalidade, embora termos como “gênero”, “econômico” e “salarial” indiquem atenção à autonomia econômica. Populações vulnerabilizadas, como a população LGBTQIAPN+ seguem invisibilizadas.
Conclusões/Considerações
Apesar do avanço institucional em 2023, as políticas públicas para mulheres no Brasil ainda operam sob um ideal de universalidade que ignora marcadores sociais essenciais. A interseccionalidade, embora presente, ainda é tímida e exige maior incorporação para efetiva equidade. É urgente ampliar políticas que reconheçam e enfrentem desigualdades estruturais de forma transversal e inclusiva.
COLABORATÓRIO COM ELAS – PELO FIM DO FEMINICÍDIO NO DF. UMA INICIATIVA INTERSETORIAL, COM FOCO NA PROTEÇÃO DE MULHERES E FORTALECIMENTO DE REDE DE CUIDADO NOS TERRITÓRIOS
Comunicação Oral
1 Escola de Governo Fiocruz Brasília
Período de Realização
Janeiro de 2024 a julho de 2026.
Objeto da experiência
O Colaboratório Com Elas é uma estratégia de enfrentamento ao feminicídio no DF, unindo Fiocruz, movimentos sociais e instituições públicas.
Objetivos
Contribuir para estratégias intersetoriais de enfrentamento ao feminicídio, com base na educação popular, mobilização comunitária e monitoramento de políticas públicas. Promover formação, apoiar redes locais, sistematizar metodologias e incidir com os movimentos sociais.
Metodologia
A experiência teve três frentes: Processos Formativos, Pesquisa Participativa e Ação Territorial. Em 2024, foram realizadas oficinas de planejamento. Em 2025, iniciaram-se ações nos territórios com capacitações para mulheres, profissionais da saúde e da assistência social, em parceria com movimentos sociais e instituições públicas. A pesquisa gerou dados sobre feminicídio no DF. As ações ocorreram na Estrutural com escutas, rodas e mapeamento. E em 2026, haverá a formação de agentes populares.
Resultados
Implantação de um núcleo territorial com ações integradas; envolvimento direto de cerca de 300 pessoas; produção de materiais educativos; sistematização de uma metodologia participativa; consolidação de um coletivo intersetorial e fortalecimento de lideranças femininas nos territórios.
Análise Crítica
A experiência evidenciou o papel central da escuta e da territorialização das ações no enfrentamento ao feminicídio. Mostrou-se a eficácia da articulação entre formação, comunicação e pesquisa participativa. Os principais desafios incluíram resistências institucionais e a necessidade de continuidade das ações por meio de políticas públicas sustentáveis.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se a ampliação da experiência para outras regiões, a incorporação da educação popular nas políticas públicas e o fortalecimento das redes intersetoriais. O Colaboratório Com Elas é uma aposta na defesa da vida das mulheres, na radicalização da democracia e na construção de um SUS popular e feminista.
GÊNERO E TRABALHO EMOCIONAL NO CUIDADO EM SAÚDE
Comunicação Oral
1 UFPE
Apresentação/Introdução
Fundamental para a prática do cuidado, o trabalho emocional exige escuta, acolhimento e mobilização das emoções para a capacidade de empatia. Contudo, ele é invisibilizado enquanto habilidade adquirida e esperado como qualidade inata ao profissional de saúde. Se mulheres compõem a maioria desta força de trabalho, existe relação entre o gênero e o trabalho emocional no cuidado em saúde?
Objetivos
Apoiada na epistemologia feminista materialista sobre trabalho reprodutivo, esta pesquisa objetiva analisar a relação entre saúde mental, gênero e o trabalho emocional realizado por mulheres no âmbito do cuidado em saúde.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com trabalhadoras da saúde com história de afastamento por motivo de saúde mental entre 2014-2024. Foram selecionadas 10 mulheres pelo método Bola de Neve, que recorreu a informantes-chave, como gestores, e indicações pessoais das participantes. Cada entrevista semiestruturada individual durou em média 60 min nos formatos presencial e remoto. A análise utilizada foi a condensação de significados, que agrupou trechos de falas essenciais em 4 núcleos relacionados ao tema “trabalho emocional". Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE e aprovado sob o parecer n. 7.484.051 de 03/04/2025.
Resultados
A análise das entrevistas revelou os seguintes núcleos de significado: disponibilidade para escuta; identificação com problemas do outro; regulação emocional diante de momentos críticos; e esgotamento físico e psicológico ao lidar com sofrimento. Todas as trabalhadoras atribuíram à escuta o sucesso do vínculo terapêutico. Contudo, sua prática exigiu um exercício constante de supressão das emoções, como tristeza, raiva e angústia, para satisfazer as necessidades de bem-estar do outro. Algumas apresentaram dissociação como mecanismo psicológico de enfrentamento. A exposição permanente à dor alheia, produzindo exaustão, afetou cronicamente a saúde mental das profissionais entrevistadas.
Conclusões/Considerações
O trabalho emocional é o aspecto subjetivo do cuidado em saúde. A divisão do trabalho baseada no gênero explica que o papel de cuidadora, visto como algo natural e não qualificado, está associado às mulheres. Com isso, espera-se que essas profissionais sacrifiquem suas próprias necessidades para atender ao outro sem a contrapartida de serem, também, cuidadas, o que impacta diretamente sua saúde mental.
A CISHETERONORMATIVIDADE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: EXPERIÊNCIAS E BARREIRAS NO ACESSO DE PESSOAS LGBTQIA+
Comunicação Oral
1 UFC
Apresentação/Introdução
Apesar de avanços em políticas públicas para a população LGBTQIA+ no Brasil, persistem barreiras de acesso e desigualdades no campo da saúde. A cisheteronormatividade, sistema de normas que impõe como padrão a cisgeneridade e a heterossexualidade, ainda regula práticas institucionais e subjetividades que leva a exclusões, apagamentos e violências nos serviços de saúde.
Objetivos
Este estudo objetiva compreender como a cisheteronormatividade se manifesta nos serviços de saúde e suas implicações para o acesso e a qualidade do cuidado oferecido à população LGBTQIA+, especialmente no contexto da atenção primária à saúde (APS).
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo desenvolvido em Fortaleza (CE). Foram realizadas 21 entrevistas em profundidade, em julho e agosto de 2024, no formato online, com pessoas autodeclaradas LGBTQIA+ usuárias da APS. A amostragem foi orientada pelo conceito de “poder de informação”, priorizando a diversidade e a profundidade das experiências. As falas foram codificadas com apoio do software MAXQDA e analisadas seguindo a análise temática de conteúdo de Minayo. A análise teórico-interpretativa utilizou os conceitos de campo, habitus e violência simbólica de Pierre Bourdieu, além dos conceitos de performatividade de gênero e de inteligibilidade de Judith Butler.
Resultados
O estudo traz a categoria Sistema de Saúde Cisheteronormativo, desdobrada nas subcategorias seguintes. Apagamento da identidade de gênero e orientação sexual, passabilidade, burocracias do (cis)tema, impotência frente à cisheteronorma, Estado negligente, suposição da cisheteronormatividade, interferência religiosa, patologização da sexualidade, poder dos profissionais e alta demanda para poucos serviços. Essas subcategorias revelam como a cisheteronormatividade estrutura práticas, discursos e relações de poder que naturalizam exclusões e precarizam o cuidado. A análise, à luz de Bourdieu e Butler, mostra que romper com esse modelo exige transformações culturais, políticas e formativas.
Conclusões/Considerações
A superação dessas desigualdades passa pela capacitação permanente dos profissionais, com abordagem crítica e inclusiva; pela reestruturação dos sistemas e protocolos de atendimento, com reconhecimento da diversidade de gênero e sexualidade; ampliação da oferta de serviços especializados e de acolhimento qualificado e fortalecimento de políticas públicas eficazes, com mecanismos de fiscalização e responsabilização.
MAPEAMENTO DAS CONDIÇÕES DE MULHERES E PESSOAS LGBTQIA+ NA UEA:ANÁLISE DE VIOLÊNCIAS, DESIGUALDADES E IMPACTOS DA DIVERSIDADE NO AMBIENTE ACADÊMICO
Comunicação Oral
1 UEA
Apresentação/Introdução
A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) abriga uma comunidade diversa, cuja vivência acadêmica é marcada por múltiplas desigualdades de gênero e sexualidade. A criação do Observatório de Violência de Gênero visa diagnosticar e monitorar situações de violência e discriminação sofridas por mulheres e pessoas LGBTQIA+, promovendo visibilidade e enfrentamento institucional
Objetivos
Monitorar indicadores de gênero e diversidade na comunidade acadêmica da UEA, identificando violências de gênero e LGBTQIA+fobia, com base em dados coletados pelo Observatório de Violência de Gênero, visando subsidiar políticas inclusivas na UEA
Metodologia
Trata-se de um estudo epidemiológico transversal descritivo, realizado no ano de 2023. Foram analisadas 331 respostas de um formulário eletrônico aplicado no âmbito do projeto “Observatório de Violência de Gênero” da UEA. A amostragem foi por autosseleção, com ampla diversidade de respondentes. Foram coletadas informações sobre identidade de gênero, orientação sexual, etnia, faixa etária, renda, vínculo institucional, experiência com violências, maternidade e trabalho doméstico. Os dados foram organizados em frequências absolutas e relativas, permitindo identificar padrões de vulnerabilidade e exclusão vividos dentro da universidade
Resultados
A maioria das participantes eram mulheres cisgênero (64,2%), pardas (50,7%), com idade entre 18-21 anos (41%) e renda familiar inferior a dois salários-mínimos (39,6%). Entre as mulheres, (85,7%) relataram não ter sofrido violência, mas entre os casos registrados destacaram-se a violência simbólica (26,9%), assédio sexual (22%) e importunação (18,9%). Na população LGBTQIA+ a maioria eram bissexual (28,3%), pardas (48%), com idade de 18-21 anos (51,5%) e renda inferior a dois salários-mínimos (43,1%). Neles (42,3%) foram frequentes a violência simbólica, dificuldades de expressão pública (34%) e situações de preconceito e insegurança no trajeto casa-universidade (32%)
Conclusões/Considerações
O estudo confirma que desigualdades de gênero e LGBTQIA+fobia ainda estruturam a experiência universitária na UEA. A presença de violências simbólicas, insegurança, sobrecarga doméstica e medo de retaliação revelam um cenário que exige ações institucionais urgentes. O Observatório de Violência de Gênero se mostra essencial como mecanismo de escuta, visibilidade e enfrentamento das opressões estruturais no meio acadêmico
MUDAR PARA MANTER: RACISMO, MISOGINIA E LGBTI+FOBIA EM CONTEÚDOS DE SEXOLOGIA FORENSE NAS EDIÇÕES DE UM LIVRO TEXTO DE MEDICINA LEGAL BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO (1977-2017)
Comunicação Oral
1 UFOP
Apresentação/Introdução
A antropologia e a medicina legal no Brasil apresentam um ponto de convergência histórico: a “escola Nina Rodrigues”. A dita “escola”, mito fundador da medicina legal brasileira, no início do século XX, contribuiu na forja de uma das primeiras interpretações socioantropológicas do país, marcada pelo racismo científico, misoginia e patologização de sexualidades ditas desviantes.
Objetivos
Este estudo objetiva analisar persistências e transformações do discurso médico-legal brasileiro originados no início do século XX acerca das chamadas “sexualidades de interesse médico-legal” nos discursos da sexologia forense brasileira atual.
Metodologia
Realizou-se uma etnografia de documentos, analisando as onze edições do capítulo “sexualidades de interesse médico-legal” de um renomado livro de medicina legal brasileiro. Este relato, parte do doutorado do autor, apresenta a análise de 4 categorias de “sexualidades de interesse médico-legal” do livrem questão (homossexualidade, cromoinversão, transexualidade e exibicionismo), comparando-as às categorias encontradas em livros congêneres atuais, do início do século XX, nacionais e estrangeiros. O referencial teórico metodológico utilizado foram os conceitos de discurso, genealogia e dispositivo da sexualidade de Michel Foucault, ponderando limitações de tal referencial para o contexto brasileiro.
Resultados
Constata-se que apesar das transformações discursivas, ao longo das edições, as lógicas racista, misógina e patologizantes de diversas sexualidades são mantidas. O texto, de grande fragilidade acadêmica, apresenta repetições de “casos” de livros de sexologia forense europeus novecentistas e da “escola Nina Rodrigues” sem contextos. Visões distorcidas da sexualidade feminina e homossexualidade mantém-se com eufemismos. Uma categoria patologizante relativa à mulher negra é mantida desde a primeira edição. O descompasso com resoluções médico-jurídicas, acerca da transexualidade chama a atenção. O estudo não encontrou livros estrangeiros atuais de conteúdo semelhante, mas muitos nacionais.
Conclusões/Considerações
A tecitura discursiva do capítulo revela persistência de discursos, práticas, instituições e atores sociais que compõem um dispositivo da sexualidade racializado, feminizado e classista. O livro é publicado pela maior editora de livros científicos do país e referenciado em editais públicos para operadores da justiça (delegados, escrivães, investigadores de polícia e legistas) que materializam registros de feminicídio, racismo e LGBTI+fobia.

Realização: