
Programa - Comunicação Oral - CO34.3 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
DESAFIOS NA INVESTIGAÇÃO DE TRANSMISSÃO DE DENGUE POR TRANSFUSÃO OU TRANSPLANTE. EXPERIÊNCIA DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO.
Comunicação Oral
1 Secretaria de Saúde do Município de São Paulo
Período de Realização
O estudo contemplou as investigações realizadas entre agosto de 2023 e maio de 2025.
Objeto da experiência
Processo investigativo de casos de dengue com suspeita de possível transmissão por transfusão ou transplante no município de São Paulo.
Objetivos
Apresentar a experiência do Núcleo de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses (NDTVZ/DVE/COVISA) na construção de um fluxo de trabalho para qualificar a investigação de casos de dengue com possível transmissão por transfusão de hemocomponentes ou transplante de órgãos no município de São Paulo.
Descrição da experiência
Um processo minucioso de investigação foi desenvolvido. A Vigilância Epidemiológica Central do município estruturou e disseminou um fluxo operacional para as 28 Unidades de Vigilância em Saúde locais. O protocolo recomendou a notificação imediata, a coleta de dados clínico-epidemiológicos de doadores e receptores, o rastreamento das bolsas transfundidas e o envio de amostras ao LACEN, com o objetivo de reunir evidências que subsidiassem a confirmação ou exclusão da via de transmissão.
Resultados
A adoção do novo protocolo investigativo resultou em maior agilidade na identificação de casos suspeitos, na solicitação de documentos clínicos e laboratoriais, e na realização de visitas hospitalares. Essas medidas facilitaram substancialmente a análise especializada dos casos. No período de agosto de 2023 a maio de 2025, foram investigados 37 casos suspeitos de transmissão de dengue, no universo de 682.000 notificações confirmadas nesse período.
Aprendizado e análise crítica
A epidemia de dengue evidenciou a necessidade de atenção às formas não vetoriais de transmissão do vírus. A ausência de protocolos específicos para esses modos de transmissão representava uma fragilidade no sistema de vigilância. O aprimoramento das ações investigativas contribuiu para qualificar o debate técnico, apoiar a revisão de protocolos existentes e subsidiar a formulação de diretrizes voltadas à triagem de doadores de sangue e órgãos, especialmente em períodos de alta circulação viral.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência reforça a necessidade de diretrizes normativas claras que orientem a triagem de doadores de sangue e órgãos durante períodos epidêmicos de dengue. O fortalecimento desses instrumentos é fundamental para garantir a qualidade das investigações epidemiológicas e a segurança das práticas transfusionais e de transplante, especialmente em contextos de elevada circulação viral.
DESIGUALDADES E PADRÕES DE USO DA PREP NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UMA ABORDAGEM EPIDEMIOLÓGICA COM MODELAGEM PREDITIVA
Comunicação Oral
1 Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ)
Apresentação/Introdução
A profilaxia pré-exposição (PrEP) representa um avanço importante na prevenção do HIV, mas seu acesso ainda é fragmentado, revelando desigualdades sociais e raciais. Embora a oferta tenha se expandido desde o seu início, no cotidiano dos serviços persistem barreiras. Observar padrões de adesão, descontinuidade e perfil populacional pode embasar ações mais eficazes no enfrentamento dessas desigualdades.
Objetivos
Analisar os padrões de acesso, uso e descontinuidade da PrEP no contexto da atenção primária. A partir da análise de dados temporais e geográficos, desenvolver uma modelagem preditiva capaz de identificar padrões e potenciais riscos.
Metodologia
Estudo quantitativo, observacional e retrospectivo, com dados do sistema SICLOM e Painel PrEP no município do Rio de Janeiro. Serão analisadas variáveis como idade, raça/cor, identidade de gênero, escolaridade, dispensas e status sorológico. A análise incluirá estatística descritiva, clusterização de perfis de uso e visualização geográfica. Aplicar-se-á modelagem preditiva supervisionada (regressão logística, árvore de decisão, Random Forest) para estimar risco de descontinuidade. A avaliação de performance considerará métricas como acurácia, AUC-ROC e sensibilidade, com suporte interpretativo via SHAP.
Resultados
Observa-se uma maior concentração de usuários entre homens adultos entre 20 e 29 anos, com predominância de pessoas brancas e com alto nível de escolaridade. Entre pessoas negras e com menor escolaridade observa-se menor número de dispensações. Análise preliminar demonstra que apesar da maioria dos usuários da PrEP ser branca e com escolaridade de 12 ou mais anos, em termos proporcionalidade as taxas de soroconversão são maiores entre pessoas pretas ou pardas (1,62%) do que entre pessoas brancas (0,86%), em termos de escolaridade, usuários com escolaridade intermediária apresentaram 1,46% de soroconversão contra 1,12% no usuários com pelo menos 12 anos de estudo.
Conclusões/Considerações
O menor número de dispensações entre pessoas negras e com menor escolaridade sugere barreiras de acesso e na continuidade do cuidado, sendo uma limitação para os grupos mais vulneráveis. O maior número de conversões entre esse grupos indicam que as desigualdades não apenas se refletem no cuidado preventivo, mas também podem comprometer a efetividade da PrEP, reforçando a importância do seguimento e acompanhamento clínico.
EVOLUÇÃO DA MORTALIDADE MATERNA EM RORAIMA: UMA SÉRIE HISTÓRICA DE 2011 A 2022
Comunicação Oral
1 UFRR
2 UFSB
Apresentação/Introdução
A morte materna é um importante indicador de saúde pública, refletindo diretamente as condições de acesso, qualidade e integralidade dos serviços de saúde voltados à gestação, parto e puerpério. Considerado como todo óbito ocorrido durante a gestação ou até 42 dias após o parto, a morte materna é um evento grave que viola os direitos humanos femininos e pode ser evitável em até 92,0% dos casos.
Objetivos
Descrever o perfil e as causas básicas da mortalidade materna, além de analisar a tendência temporal das mortes materna no período de 2010 a 2022 no estado de Roraima.
Metodologia
Estudo ecológico de série temporal, baseado em dados secundários de óbitos maternos ocorridos no período de 2010 a 2022 em Roraima. Inicialmente, foram realizadas análises descritivas, seguido dos cálculos das razões de mortalidade materna (RMM) por ano, levando em consideração o tipo de causa obstétrica, idade e escolaridade. Sequencialmente, foram estimadas as tendências temporais das RMM pelo método de autorregressão Prais-Winsten para classificar as tendências temporais em crescente, decrescente ou estacionária.
Resultados
Do total de 144 mortes maternas, 56,0% ocorreram na faixa etária de 20 a 34 anos, 54,6% em mulheres de raça/cor parda e 44% em mulheres com 8 a 11 anos de estudo. A razão de mortalidade materna foi 98,69 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, concentrando em mulheres sem escolaridade (156,9/100.000 nascidos vivos) e de raça/cor preta (147,4/100 mil NV). Observou-se tendência crescente da RMM para Roraima, com taxa de crescimento anual de 18,2% (IC95% = 11,9-24,8; p-valor <0,001), sobrepondo a região Norte e o Brasil. A maior parcela dos óbitos ocorreu “durante o puerpério até 42 dias” (37,6%; RMM = 36,3/100 mil NV) e devido a causas diretas (62,4%; RMM = 60,3/100 mil NV).
Conclusões/Considerações
A elevada RMM em Roraima evidencia desigualdades que afetam principalmente mulheres pretas e sem escolaridade. Reconhecer esses fatores é essencial para subsidiar ações que qualifiquem a assistência e ampliem a efetividade das políticas públicas, visando à redução das iniquidades e à melhoria dos desfechos maternos nas populações mais vulneráveis.
TENDÊNCIA DA MORTALIDADE MATERNA NO BRASIL SEGUNDO FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS E CLÍNICOS (2014–2023)
Comunicação Oral
1 UFSB
Apresentação/Introdução
A mortalidade materna constitui um importante indicador da qualidade do sistema de saúde e da equidade no acesso aos serviços. No Brasil, desigualdades sociais e regionais mantêm altos índices, agravados pela COVID-19, expondo fragilidades e ampliando iniquidades históricas. A análise da Razão de Mortalidade Materna (RMM) apoia políticas públicas mais eficazes para enfrentar esses desafios.
Objetivos
Analisar a tendência da razão de mortalidade materna no Brasil, entre 2014 e 2023, segundo causas de morte, características sociodemográficas e clínicas, identificando padrões de desigualdade e possíveis implicações para a política de saúde coletiva.
Metodologia
Trata-se de um estudo de série temporal, com análise de dados secundários extraídos do Sistema de Informações(SIM e SINASC), via DATASUS. Foram analisados os óbitos maternos no Brasil entre 2014 e 2023. A Razão de Mortalidade Materna (RMM) foi calculada por 100.000 nascidos vivos, considerando variáveis sociodemográficas (região, faixa etária, raça/cor e escolaridade) e clínicas (causa básica, tipo de causa, local do óbito e investigação). As análises estatísticas foram realizadas no software Stata 14.1. O estudo foi dispensado de avaliação ética por utilizar dados públicos, conforme Resoluções CNS 466/2012, 510/2016 e 580/2018.
Resultados
Foram registrados 17.789 óbitos maternos no período. A RMM cresceu em quase todas as regiões, com pico em 2021 (113,18/100 mil nascidos vivos), especialmente no Norte (β0=89,68; β1=4,78). Apesar das mulheres com idade ≥ 35 anos apresentarem a maior RMM, apenas as de 15–24 anos apresentaram tendência crescente (β0=45,1; β1=1,32). Pretas e indígenas apresentaram as maiores taxas (110/100 mil), com tendência estacionária. A RMM foi seis vezes maior entre mulheres com até sete anos de estudo. Houve aumento no percentual de afecções não classificadas em outra parte (β0=36,2; β1=2,71), e dos casos não investigados (β0=5,17; β1=0,30), enquanto óbito por causa direta diminuiu (β0=62,3; β1=-1,09).
Conclusões/Considerações
A mortalidade materna no Brasil permanece elevada e associada a desigualdades regionais, étnico-raciais e educacionais. O pico em 2021 evidencia os impactos da pandemia COVID-19. Apesar de avanços em algumas áreas, persistem desafios estruturais que dificultam a redução da RMM. São urgentes políticas públicas intersetoriais que garantam o cuidado integral às gestantes, justiça social, enfrentamento do racismo estrutural e fortalecimento do SUS.
VACINAR É MONITORAR: A EFETIVAÇÃO DA BUSCA ATIVA COMO ESTRATÉGIA PARA AMPLIAÇÃO DA COBERTURA VACINAL INFANTIL NO MUNICÍPIO DE SANTANA DO MUNDAÚ, ALAGOAS.
Comunicação Oral
1 Secretaria de Saúde de Santana do Mundaú
Período de Realização
Janeiro de 2023 a maio de 2025, no município de Santana do Mundaú, estado de Alagoas.
Objeto da experiência
Implementação de estratégias de busca ativa para ampliar a cobertura vacinal em crianças menores de um ano.
Objetivos
Ampliar e garantir a cobertura vacinal em crianças menores de um ano no município de Santana do Mundaú, assegurando a qualidade da assistência, prevenindo doenças imunopreveníveis e contribuindo para a erradicação e o controle de agravos transmissíveis.
Descrição da experiência
A experiência consistiu na implantação de estratégias sistematizadas de busca ativa para identificar crianças com vacinas em atraso, utilizando dados do Ministério da Saúde. As ações incluíram sensibilização de profissionais, monitoramento semanal, vacinação extramuros, uso de mídias digitais e relatórios técnicos por equipe. A integração entre as equipes da Atenção Primária foi fundamental para alcançar os objetivos propostos.
Resultados
A experiência demonstrou êxito, alcançando cobertura vacinal superior a 100% em todos os imunizantes prioritários: BCG (101,70%), Hepatite B (101,16%), Rotavírus (103,50%), Meningocócica C (104,10%), Pentavalente (101,20%), Pneumocócica 10 (107,00%) e Poliomielite (101,70%). Os dados refletem a efetividade da busca ativa e do monitoramento contínuo como estratégia de gestão em saúde pública.
Aprendizado e análise crítica
A experiência demonstrou que a busca ativa qualificada, aliada à organização do processo de trabalho, uso da tecnologia e articulação entre profissionais da Atenção Básica, é determinante para ampliar a cobertura vacinal. Identificou-se que a capacitação contínua e o monitoramento sistemático são fundamentais para a sustentabilidade das metas vacinais, exigindo atuação proativa e integrada entre gestão e equipes locais.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência reforça que a vacinação eficaz depende da integração das equipes, planejamento estratégico, uso de tecnologias e busca ativa constante. Recomenda-se a institucionalização da prática, o fortalecimento das ações intersetoriais e o investimento em educação permanente. A vigilância contínua deve ser mantida como eixo estruturante para consolidar os avanços e prevenir o retorno de doenças imunopreveníveis.
MENINGITE BACTERIANA NO ESTADO DO PARÁ NO CONTEXTO PÓS-COVID-19: ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA E DESAFIOS PARA A SAÚDE PÚBLICA NA AMAZÔNIA (2019–2024)
Comunicação Oral
1 ICS/UFPA
2 CANAN/UFPA
Apresentação/Introdução
A meningite bacteriana é uma infecção grave que pode causar sequelas ou óbito. Na Amazônia, sua relevância é ampliada por desigualdades sociais, ambientais e territoriais. O cenário piorou após a COVID-19, com a desestruturação da vigilância epidemiológica, queda da cobertura vacinal e atrasos nas demandas em saúde, favorecendo a reemergência de doenças evitáveis, como a meningite.
Objetivos
Analisar a ocorrência da meningite bacteriana no estado do Pará entre 2019 e 2024, identificando seu perfil epidemiológico, os principais agentes etiológicos e os desafios enfrentados para a prevenção e o controle da doença no contexto pós-pandêmico.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, descritivo e quantitativo, com base em dados secundários do SINAN e da Secretaria Estadual de Saúde do Pará. Foram analisadas variáveis como idade, sexo, raça/cor, evolução clínica, agente etiológico e situação vacinal. A análise estatística foi conduzida com o auxílio dos softwares SPSS e R, utilizando medidas de tendência central, frequências relativas e testes de associação (p < 0,05). Esta análise foi desenvolvida como parte de uma experiência de levantamento e sistematização de dados epidemiológicos conduzida em articulação com o serviço público de saúde do estado, evidenciando lacunas e potencialidades da vigilância pós-pandemia.
Resultados
Entre 2019 e 2023, o Pará registrou 681 casos de meningite bacteriana, sendo 40,82% em 2022 e 2023. Até outubro de 2024, 331 casos já haviam sido registrados, cerca de 93% dos casos de 2023 no mesmo período. A faixa etária mais afetada foi de 20 a 39 anos (34,21%), o sexo masculino (59,32%) e a população parda (89,43%). Belém concentrou 44,64% das notificações. Os principais agentes etiológicos foram Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae. Apesar da melhora pós-2022, a cobertura vacinal ainda está abaixo da meta. O aumento expressivo de casos sugere um “efeito rebote” pós-pandemia, expondo uma população parcialmente desprotegida a agentes infecciosos comuns.
Conclusões/Considerações
A meningite bacteriana segue como um desafio significativo à saúde coletiva na Amazônia, intensificado pelas consequências do período pós-COVID-19. A experiência evidenciou o valor de análises territoriais com dados secundários, além de demonstrar a importância da reconstrução dos fluxos de vigilância, comunicação e cobertura vacinal como aprendizados fundamentais para o fortalecimento do SUS no enfrentamento de agravos infecciosos.

Realização: