
Programa - Comunicação Oral - CO35.3 - Juventudes em risco: violências, territórios e redes de proteção
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
NOTIFICAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA MENINAS ADOLESCENTES E MULHERES JOVENS NO CONTEXTO DO NAMORO NO BRASIL
Comunicação Oral
1 UEFS
2 ISC/UFBA
3 EBSERH
4 UFRB
5 UEFS e UFRB
6 MPSC/UEFS e PPGM/UEFS
Apresentação/Introdução
A violência no namoro emerge como expressão precoce de desigualdades estruturais. Nesse sentido, as jovens não apenas figuram como vítimas, mas como sujeitos atravessados por múltiplas vulnerabilidades. O namoro, por sua aparente leveza simbólica, pode ocultar dinâmicas de controle, coerção e violência, frequentemente deslegitimadas ou invisibilizadas tanto pelas vítimas quanto pelas instituições.
Objetivos
Analisar o perfil sociodemográfico das adolescentes e jovens vítimas de violência no namoro no Brasil; identificar fatores associados à ocorrência das agressões e descrever a tendência temporal das taxas de notificação entre os anos de 2010 e 2023.
Metodologia
Estudo de série temporal com base em notificações de violência contra mulheres (15 a 29 anos), obtidas no SINAN/DATASUS. Os dados foram analisados pelo programa SPSS versão 15.0 licenciado para o Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdades em Saúde (NUDES) da UEFS. As taxas foram calculadas por 100 mil mulheres e sua análise temporal foi processada através do modelo regressão de JoinPoint, adotando-se p<0,05 para significância estatística. Por se tratar de um estudo com dados secundários obtidos livremente em plataformas públicas, não foi necessária apreciação de comitê de ética. Esse estudo faz parte de um projeto financiado pela FAPESB (edital 016/2023).
Resultados
Foram notificados 68.295 casos cometidos por (ex)namorado(a) com maior frequência entre adolescentes (38,6%), negras (53,8%), com baixa escolaridade e solteiras. A residência foi o principal local (71,1%) com destaque para a violência física (59,2%), sendo que a violência sexual foi mais presente entre as adolescentes negras. A reincidência atingiu 56,5%. Observou-se aumento de 903,7% nas notificações entre 2010 e 2023. A tendência temporal das taxas é crescente entre 2010 e 2013 (VPA = 57,7%; IC: 23,6% a 137,2%), seguida de uma tendência estacionária entre 2013 e 2021 (VPA = 1,8%; IC: -22,0% a 7,2%), e retorno do crescimento a partir de 2021 (VPA = 56,8%; IC: 10,0% a 109,8%).
Conclusões/Considerações
A violência no namoro contra adolescentes e mulheres jovens no Brasil expressa-se como fenômeno/herança complexa, multifatorial e intimamente ligada às desigualdades de gênero, raça e classe. São necessárias políticas públicas intersetoriais que contemplem a especificidade etária e interseccional das vítimas, bem como estratégias assistenciais, educativas e preventivas na tentativa de mitigar a problemática.
VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOTIFICADOS NO SUS EM MARATAÍZES, ESPÍRITO SANTO, NO PERÍODO DE 2020-2024
Comunicação Oral
1 Secretaria Municipal de Saúde de Marataízes
Apresentação/Introdução
A violência contra crianças e adolescentes é um grave problema de saúde pública que requer ação intersetorial para se obter cuidado integral e proteção social. Em Marataízes (ES), diversos fatores influenciam sua ocorrência e subnotificação. Este estudo analisa notificações de 2020 a 2024 registradas no e-SUS/VS, visando subsidiar políticas públicas locais com base em evidências epidemiológicas.
Objetivos
Descrever o perfil da violência contra crianças e adolescentes (0 a 19 anos) no período de 2020 a 2024, notificadas no Sistema Único de Saúde (SUS) em Marataízes, Espírito Santo.
Metodologia
Trata-se de uma análise descritiva das notificações de violência contra crianças (0–9 anos) e adolescentes (10–19 anos) em Marataízes-ES, registradas no e-SUS/VS entre 2020 e 2024. Foram incluídos os casos classificados como violência física, psicológica/moral, sexual, negligência, trabalho infantil e autoprovocada identificadas no campo 53 da ficha de notificação. Os dados foram estratificados por variáveis demográficas (faixa etária, raça/cor, deficiência/transtorno, zona de moradia) e de ocorrência (tipo de violência, se ocorreu outras vezes, local da ocorrência, sexo do agressor e vínculo com o agressor). As frequências foram calculadas no Excel 2021 e analisadas no Stata 14.0.
Resultados
Entre 2020 e 2024 foram notificados 398 casos de violência contra crianças (22,86%) e adolescentes (77,14%). A maior parte das notificações ocorreu em meninas de 5 a 9 anos (60,34%) e adolescentes de 15 a 19 anos (80%). A maioria era preta ou parda, sem deficiência e residente na zona urbana. Nas crianças a violência sexual representou 40% dos casos em meninas, enquanto a negligência predominou entre meninos. Entre adolescentes, destacou-se a violência autoprovocada em meninas (48,57%) e a física e psicológica em meninos (27,42%). A maioria dos casos ocorreu na residência, com agressores homens e vínculo familiar. Houve reincidência dos casos em 36,26% das crianças e 60,59% dos adolescentes.
Conclusões/Considerações
O aumento das notificações em 2024 reflete a integração da VIVA e do NUPREVI. Predominaram casos em meninas negras da zona urbana, com destaque para violência sexual em crianças e autoprovocada em adolescentes. O período da pandemia COVID-19 e áreas rurais representaram maior subnotificação. Reforça-se a importância da análise epidemiológica e da articulação intersetorial para políticas públicas de proteção, cuidado integral e promoção da paz.
HOMICÍDIOS DE ADOLESCENTES E JOVENS NO ESTADO DA BAHIA: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E FATORES ASSOCIADOS EM UM DECÊNIO
Comunicação Oral
1 Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
2 Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Apresentação/Introdução
A mortalidade por homicídios permanece elevada, muito embora tenha apresentado redução na taxa global, sua ocorrência revela disparidades em diferentes regiões e países do mundo. Considerado como importante
marcador da violência, os homicídios revelam desigualdades sociais que impactam principalmente a população jovem, alcançando taxas que ultrapassam a média nacional de toda a população brasileira.
Objetivos
Investigar a distribuição espacial e fatores associados às taxas de homicídios, entre adolescentes e adultos jovens, segundo registros dos Núcleos Regionais de Saúde do estado da Bahia (NRS), no decênio (2012-2021).
Metodologia
Estudo ecológico dos homicídios de adolescentes e adultos jovens, registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), entre 2012 a 2021, segundo Núcleos Regionais de Saúde (NRS) do estado da Bahia. Realizou-se análise descritiva, cálculo das taxas de homicídios e distribuição espacial. Devido ao excesso de zeros (952), foi utilizada a regressão Binomial Negativo Inflacionada de Zeros (ZINB), que combina duas análises distintas: uma para tratar o excesso de zeros (parte inflacionada), e a outra que trata das contagens dos zeros (parte não-inflacionada). As medidas de associação foram a Razão de Prevalência (RP) e Odds Ratio (OR), com intervalo de confiança (IC) de 95%.
Resultados
No período foram registrados 25.854 homicídios de adolescentes e jovens. As maiores taxas foram nas regiões Extremo-Sul e Leste (adultos jovens: 165,4 e 161,3/100.000 hab. e adolescentes 87,2 e 67,2/100.000 hab.). As principais vítimas foram: homens, jovens, pardos com escolaridade <8 anos de estudo. Houve associação positiva e significante de homicídios com adultos jovens (IC95% 2,77-3,50); pretos (IC95% 2,00-2,69) e pardos (IC95% 12,58-16,46). Houve associação negativa e significante com sexo feminino (IC95% 0,05-0,07) e escolaridade ≥8 anos (IC95% 0,25-0,31). Os adultos jovens apresentaram probabilidade nula para a não ocorrência desse evento (0) (OR=0,07; IC 0,02-0,23).
Conclusões/Considerações
Foram verificadas altas taxas de homicídios em homens jovens com baixa escolaridade, em especial, no Núcleo de Saúde Extremo-Sul. Os achados apontam a necessidade de incrementar investimentos direcionados à prevenção e controle desses eventos, subsidiando a ampliação de políticas mais eficazes e equitativas para essa população, nas regiões mais vulneráveis do estado da Bahia.
FATORES ASSOCIADOS À IDEAÇÃO SUICIDA EM ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS DA LINHA DE BASE DE UM ESTUDO DE COORTE EM SALVADOR – BA
Comunicação Oral
1 ISC/UFBA
2 CCM/UFPE
Apresentação/Introdução
Os comportamentos suicidas, incluindo a ideação suicida, são um grave problema de saúde pública, tendo elevada carga de doença e impacto social. Sua ocorrência vem aumentando significativamente entre adolescentes. Conhecer os fatores de risco para ideação suicida é fundamental para subsidiar estratégias de vigilância e prevenção deste agravo e de desfechos fatais como o suicídio.
Objetivos
Analisar a prevalência e fatores associados à ideação suicida em adolescentes/adultos jovens da linha de base de uma coorte de Salvador(BA), enfocando aspectos sociodemográficos, familiares, escolares, comunitários, psicossociais e contextuais.
Metodologia
Estudo transversal, com indivíduos de 10-21 anos, avaliados no baseline da coorte “Acidentes de trabalho no setor informal”, Salvador-BA(2000). A amostragem foi por conglomerados de áreas urbanas. O desfecho ideação suicida e outros aspectos de saúde mental, como depressão e ansiedade, foram avaliados pelo SBQ-R e PHQ. Características sociodemográficas (variáveis distais), vivência/percepção de violência(racial, comunitária, escolar) (intermediárias) e características comportamentais (autoestima, resiliência) ansiedade e depressão(proximais) foram mensuradas por questionário estruturado. Na análise múltipla, utilizou-se regressão logística com modelagem hierarquizada.
Resultados
Dentre os 973 indivíduos avaliados, a prevalência de ideação suicida foi 10,5%, sendo maior no sexo feminino (13,3%), nos com 15-18 anos (13,2%), que foram vítimas de preconceito racial (20,3%) e violência na escola (13,9%), nos sem autoatitude positiva (19,7%) e em indivíduos com ansiedade (15,4%) e sintomas depressivos (25,0%). Ideação suicida foi associada ao sexo feminino (OR=2,70; IC95%1,34-5,45), 1º grau incompleto (OR=9,72; IC95%1,19-79,64), falta de autoatitude positiva (OR=2,32; IC95%1,20-4,48), ansiedade (OR=2,62; IC95%1,45-4,75) e sentimentos depressivos (OR=3,19; IC95%1,81-5,61). Preconceito racial e idade não foram associados ao desfecho no modelo múltiplo.
Conclusões/Considerações
O estudo revelou alta vulnerabilidade social e psicoemocional de adolescentes/adultos jovens de Salvador, com alta magnitude do desfecho. As associações observadas sugerem que vulnerabilidade socioeconômica pode afetar grave e negativamente a capacidade de resiliência e sobrevivência. Análises longitudinais e comparação com dados atuais, incluindo fatores como bullying e efeitos da pandemia, são fundamentais para a melhor compreensão do fenômeno.
A PRISÃO É NA CASA AO LADO: A INTERSETORIALIDADE COMO RECURSO NECESSÁRIO NO CUIDADO A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Comunicação Oral
1 Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
Período de Realização
O caso é acompanhado desde 2019 pela UBS (equipe de saúde da família e equipe multidisciplinar)
Objeto da experiência
Acompanhamento e repercussões de uma situação de cárcere privado vivida por uma jovem por mais de 10 anos e a articulação intersetorial no cuidado em saúde.
Objetivos
Demonstrar a ordenação da Atenção Primária à Saúde no cuidado a situações de violência doméstica com o propósito de impulsionar ações em casos semelhantes.
Destacar articulação intersetorial como estratégica na rede de cuidados a violência doméstica e a importância do vínculo neste ponto de atenção
Descrição da experiência
No atendimento de pré-natal e puerpério a equipe identifica uma situação de violência a doméstica, com sinais de cárcere privado vivida por uma jovem desde os 15 anos de idade. A equipe investiu no vínculo para acionar a rede de proteção e, após três anos de trabalho conjunto, veio o rompimento da violência. A continuidade do cuidado da mãe e filha é presente até hoje, agora com cuidados em saúde mental, crescimento e desenvolvimento, socialização e resgate da escolarização e profissionalização.
Resultados
Inicialmente esperava-se apenas que a jovem conseguisse sair de casa, mas a interrupção do ciclo de violência, propiciou que o núcleo familiar pudesse resgatar laços sociais e projetos de vida. A criança que apresentava baixo peso e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor voltou ao crescimento e desenvolvimento esperados. A jovem cada dia evolui mais em autonomia e autoestima, além de ter dado continuidade aos estudos, possibilitando a inserção no mercado de trabalho.
Aprendizado e análise crítica
A partir do caso e dos relatos da usuária, é possível ressaltar o vínculo, um dos atributos da APS, reforçado pela proximidade do território. A identificação do trabalho interdisciplinar e intersetorial como propulsores do cuidado em saúde, sendo identificados como rede de apoio no Ecomapa da usuária. Para além disso, a realização do plano terapêutico singular compartilhado, incluindo e próximo da realidade apresentada, tecendo suas dificuldades e recursos dentro de uma rede integrada.
Conclusões e/ou Recomendações
O trabalho colaborativo num caso de violência doméstica é crucial para que seja efetivo e perdure em constância. A ruptura de ciclos de violência tão enraizados social e culturalmente apresenta desafios estes que a própria rede de cuidado precisa revisitar e flexibilizar sua atuação para adequá-la a realidade do usuário. É preciso visibilizar essas situações para impulsionar outros olhares e conduções a casos semelhantes.

Realização: