Programa - Comunicação Oral - CO3.3 - Enfrentando os Impactos de Agrotóxicos e Desastres Hidrológicos no Brasil
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
OS IMPACTOS DO USO DE 2,4-D NA SAÚDE DA POPULAÇÃO
Comunicação Oral
ALMEIDA, M. E.1, PULGA, V. L.1, ANDRIOLI, A. I.1
1 UFFS
Período de Realização
Dia 26/05/25 no campus Erechim da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
Objeto da experiência
Debate da Assembleia Legislativa sobre o uso de herbicidas com 2,4-D nas lavouras do Rio Grande do Sul
Objetivos
Retomar o Parecer Técnico apresentado à ANVISA sobre os riscos para a saúde associados ao uso de 2,4-D. Documento elaborado pelo Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário, com apoio do CEBES e da ABRASCO.
Descrição da experiência
A Saúde Coletiva da UFFS se posicionou na defesa da saúde, da vida e da democracia. Os perigos à saúde da população estão associados à alta toxicidade do 2,4-D, cujos efeitos diretos ocorrem na dimensão individual e coletiva (social/ambiental/laboral). Essa manifestação elucidou os riscos à Saúde em um fórum que estava tratando exclusivamente da questão agrícola e mercadológica, desconsiderando os efeitos no organismo humano, nos trabalhadores (as) do campo e na contaminação do solo, ar e águas.
Resultados
A apresentação de dados científicos do uso de 2,4-D que impactam diretamente na saúde da população foi relevante para sensibilizar os legisladores diante da realidade social que a questão carrega, como os efeitos carcinogênicos, neurotóxicos, hepatotóxicos, teratogênicos, genotóxicos, mutagênicos, além dos riscos coletivos gerados pela inalação de partículas aéreas pelos trabalhadores e exposição à pulverização através do aumento de doenças crônicas causadas por intoxicações e transtornos mentais.
Aprendizado e análise crítica
A ciência mundial comprova largamente os riscos deste produto químico para a população, bem como para o meio ambiente, e é uma questão de direitos humanos e justiça climática. O debate realizado nesta Audiência Pública evidenciou a necessidade de proibir esse agrotóxico por ser altamente tóxico, causar danos à saúde humana e à natureza, sendo que existem outras tecnologias não tóxicas para o manejo da produção agrícola de alimentos na perspectiva agroecológica e sustentável.
Conclusões e/ou Recomendações
As dimensões individual e coletiva são dois aspectos do mesmo fenômeno que precisam ser analisados em conjunto das questões agrícolas e mercadológicas referentes aos produtos provenientes das lavouras do Rio Grande do Sul. As pesquisas científicas nacionais e internacionais sugerem a proibição do 2,4-D. É preciso atender o Princípio da Precaução da ciência e considerar os riscos à saúde e à vida.
POLUIÇÃO POR AGROTÓXICOS EM ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO EM MUNICÍPIO DE MATO GROSSO
Comunicação Oral
Oliveira, L.K.1, Beserra, L.2, Correa, M. M.1
1 UFMT
2 Ministério da Saúde
Apresentação/Introdução
A atividade produtiva do agronegócio no território mato-grossense gera, entre outros impactos, a contaminação ambiental, alimentar e humana por resíduos químicos de agrotóxicos. A presença de resíduos de agrotóxicos em água para consumo representa um processo crítico à saúde humana devido a exposição e intoxicação crônica silenciosa, necessitando pesquisas e monitoramento participativo.
Objetivos
Identificar resíduos de agrotóxicos presentes na água para consumo humano em territórios com atividades produtivas do agronegócio no estado de Mato Grosso
Metodologia
O estudo faz parte no projeto “Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis em Mato Grosso”. Foram eleitos como territórios para coleta de água municípios de quatro regiões econômicas mato-grossenses: Campo Novo do Parecis, Rondonópolis, Querência, e Chapada dos Guimarães. Definiu-se pontos amostrais em regiões urbanas, rurais e industriais. As coletas foram realizadas entre de julho e agosto de 2024, nas saídas mais próximas da bomba de cada poço ou tanque de armazenamento, em vidro âmbar de 1l e tubos Falcon de 50 ml, sendo enviadas ao Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas da Universidade Federal de Santa Maria para a análise multirresíduo de agrotóxicos e de glifosato/AMPA.
Resultados
Das 10 amostras coletadas, 9 apresentaram resíduos de agrotóxicos, sendo 12 ingredientes ativos (IA) detectados, entre eles 8 foram quantificados. Considerando a Portaria GM/MS Nº 888/2021, a quantidade e a concentração de 2,4-D e Tiametoxam detectados estão dentro do volume máximo permitido (VMP), sendo que os demais IAs não são regulados. Ao utilizar a legislação da União Europeia (UE) como referência todas as amostras estão em desacordo com a legislação, pois os IAs imazapique, imidacloprido, fipronil, mefosfolan, saflufenacil e tiametoxam estão proibidos na região.
Conclusões/Considerações
A coleta e análise de resíduos de agrotóxicos em água realizadas apontam para um processo de contaminação sistêmica do ambiente, vulnerabilizando a população e os(as) trabalhadores(as) aos danos provocados pelos agrotóxicos utilizados nos processos produtivos nos territórios estudados. Recomenda-se políticas públicas que eliminem e reduzam a exposição aos agrotóxicos e alterem os processos produtivos do agronegócio.
A REDE DE HORTOS AGROFLORESTAIS MEDICINAIS BIODINÂMICOS NA SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL (DF) COMO INOVAÇÃO NO ÂMBITO DOS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DE SAÚDE.
Comunicação Oral
Trajano, M. A.1, Moreno, X. S.2
1 Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
2 Fundação Oswaldo Cruz
Período de Realização
A experiência teve início no primeiro semestre de 2018 e segue em desenvolvimento até hoje.
Objeto da experiência
O objeto é a institucionalização da Rede de Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos (RHAMB) da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES/DF).
Objetivos
Objetivo Geral: Relatar o processo de criação/institucionalização dos Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos (HAMB). Específicos: 1) Relatar os ciclos de implementação dos HAMB; 2) Analisar o HAMB como equipamento público de saúde que atua como dispositivo técnico assistencial para o cuidado.
Metodologia
A RHAMB promove cultivos comunitários sob os princípios da agroecologia, dos sistemas agroflorestais sucessionais e da biodinâmica. São voltados à pesquisa, inovação, educação em saúde, nutricional e ambiental, em prol do fortalecimento do vínculo comunidade com os serviços e entre as pessoas. Há prestação de vários serviços ambientais, e cultivo de plantas medicinais, alimentícias convencionais e não convencionais, adubadeiras, paisagísticas madeireiras e nativas no Sistema Único de Saúde.
Resultados
O ciclo da RHAMB envolve gestores e trabalhadores dos níveis central, regional e local, nas 7 regiões de saúde do DF. Desde 2021 foram implantados mais 30 HAMB com o apoio da Fiocruz, por meio de educação permanente, para qualificar profissionais, principalmente da SESDF. Atualmente há 28 HAMB em serviços públicos, 3 em iniciativas comunitárias e 12.000m2 foram recuperados. Por ano, em média, 12 novos HAMB são implantados e cerca de 40 profissionais são capacitados na tecnologia para o cuidado.
Análise Crítica
Os HAMB promovem cultivos comunitários sob os princípios da agroecologia, dos sistemas agroflorestais sucessionais e da biodinâmica. São voltado à pesquisa, inovação, educação em saúde, nutricional e ambiental, em prol do fortalecimento do vínculo comunidade com os serviços e entre as pessoas. Há prestação de vários serviços ambientais, e cultivo de plantas medicinais, alimentícias convencionais e não convencionais, adubadeiras, paisagísticas madeireiras e nativas no Sistema Único de Saúde.
Conclusões e/ou Recomendações
O HAMB é um equipamento de saúde que atua enquanto tecnologia social eficiente para promover educação em saúde e ambiental nas comunidades. Promove autonomia a partir de uma perspectiva de cuidado emancipador em prol de que as pesoas possam desenvolver a capacidade de cultivar alimentos frescos e saudáveis em integração com o ambiente. Porém, fortalecer a realização de atividades coletivas pelos servidores da SES/DF ainda é um grande desafio.
PROMOÇÃO EMANCIPATÓRIA EM SAÚDE E JUSTIÇA AMBIENTAL: MAPEAMENTO DE FAMÍLIAS ATINGIDAS POR UMA GRANDE OBRA HÍDRICA EM UM TERRITÓRIO RURAL NO CEARÁ
Comunicação Oral
Castro, K. F.1, Pessoa, V. M.2, Carneiro, F. F.2, Gomides, L. B. S.3, Silva, L. F. S.3, Fernandes, R. D.3, Nicolau, F. A.4, Soares, A. D. P.3, Lins, A. S. S.3, Lima, R. S. S.1
1 FIOCRUZ - CE
2 Fiocruz-CE
3 URCA
4 Casa de Farinha Mestre José Gomes
Período de Realização
Outubro de 2024 a maio de 2025, com ações contínuas no território do Baixio das Palmeiras, Crato -CE
Objeto da experiência
Mapeamento participativo e georreferenciado de famílias atingidas pela obra do Cinturão das Águas, em comunidade rural vulnerabilizada no Ceará.
Objetivos
mapear e acompanhar famílias afetadas por injustiça ambiental provocada por grande obra hídrica no interior do Ceará, articulando ações de promoção da saúde emancipatória e mobilização comunitária entre a Estratégia de Saúde da Família (ESF), universidades, movimentos sociais e lideranças locais.
Metodologia
A experiência consistiu no mapeamento participativo de famílias atingidas pela obra do Cinturão das Águas do Cariri (CAC) no território do Baixio das Palmeiras. Realizado por profissionais da ESF e residentes do Programa Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri, (PRMSC URCA),utilizou ferramentas de georreferenciamento construídas a partir do diálogo com lideranças, fortalecendo estratégias de cuidado e resistência comunitária frente às injustiças socioambientais.
Resultados
Foram mapeadas 25 famílias diretamente impactadas, com relatos de adoecimento mental, alcoolismo, deslocamentos forçados, desterritorialização e ruptura de contato com serviços de saúde da ESF. A experiência fortaleceu vínculos e vigilância popular em saúde, entre comunidade, equipe de saúde e universidade, incentivando práticas integradas de escuta, planejamento coletivo, cuidado territorial e mobilização social frente aos danos ambientais e às omissões estatais.
Análise Crítica
Evidenciou-se que a ESF, fortalecida com a educação popular, integração ensino-serviço-comunidade e processos participativos em diálogo com as necessidades emergentes das comunidades, pode promover cuidado emancipatório em territórios de injustiça ambiental. Ainda há fragilidades no entendimento e envolvimento de alguns profissionais da ESF, na valorização dos saberes do território e na superação do modelo biomédico centrado na prescrição, fragmentação da atenção e processos enrijecidos.
Conclusões e/ou Recomendações
É urgente articular políticas públicas intersetoriais que reconheçam conflitos e injustiças socioambientais na determinação social da saúde, orientadas pela promoção emancipatória em saúde. Reivindica-se a sensibilização do Estado aos modos de vida comunitários, a defesa de direitos territoriais e o fortalecimento da vigilância popular. À ESF, cabe a análise crítica que resulte em práticas sensíveis e resolutivas às demandas locais.
PLANO DE CONTINGÊNCIA E MAPEAMENTO DE RISCO DE DESASTRE HIDROLÓGICO EM UNIDADES DE SAÚDE PRIORITÁRIAS DO RIO ACARI – ÁREA PROGRAMÁTICA (AP) 3.3, RIO DE JANEIRO.
Comunicação Oral
Fernandes, D1, Almeida, JC1, Ayres, ARG1, Tuffi, AM1, Mattos, AL1, Bueno, RB1
1 Secretaria Municipal de Saúde - RJ
Período de Realização
Janeiro de 2024 a Maio de 2025, com etapas de planejamento, execução e sistematização de dados.
Objeto da experiência
Mapeamento de risco hidrológico e elaboração de plano de contingência na CF Marcos Valadão e CMS Fazenda Botafogo.
Objetivos
Identificar áreas de risco de desastre hidrológico em unidades prioritárias ao longo do Rio Acari e elaborar um plano de contingência participativo, visando a redução de danos, a proteção da população vulnerável e a integração das equipes técnicas de vigilância e gestão territorial.
Metodologia
A experiência consistiu em ações da Unidade de Resposta Rápida (URR) e da equipe de Risco Não Biológico da AP 3.3 para o mapeamento técnico e comunitário das áreas sob risco hidrológico nas unidades prioritárias do Rio Acari. Foram feitas visitas técnicas, levantamento geográfico e social, reuniões com lideranças e construção de plano de contingência, incluindo alertas, pontos de apoio e definição de responsabilidades institucionais.
Resultados
Houve mapeamento dos pontos com alto risco hidrológico, caracterização da população vulnerável e definição de pontos de apoio. O plano de contingência foi construído com participação do conselho distrital. Criou-se um grupo de WhatsApp com líderes comunitários, agentes de saúde e Defesa Civil para alertas em dias de chuva. A experiência fortaleceu o vínculo entre vigilância e território e ampliou a percepção de risco nas comunidades.
Análise Crítica
A experiência demonstrou que a construção coletiva é essencial à efetividade dos planos de contingência. A escuta ativa da comunidade e o reconhecimento do saber local foram fundamentais. Houve desafios em áreas com histórico de negligência institucional. Identificou-se a necessidade de trocar pontos de apoio devido ao risco de alagamento. A integração intersetorial mostrou-se necessária, mas demanda institucionalização. A atuação técnica das equipes da atenção primária foi um ponto forte.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se a ampliação da estratégia para outras áreas de risco da AP 3.3, com priorização da metodologia participativa. É essencial garantir formação contínua das equipes e articulação entre saúde, defesa civil e assistência social. A valorização do conhecimento territorial da população e a presença constante do poder público são fundamentais para consolidar uma resposta efetiva a desastres.
DESIGUALDADES EM SAÚDE FRENTE A DESASTRES HIDROLÓGICOS: EVIDÊNCIAS PARA A JUSTIÇA AMBIENTAL NO BRASIL
Comunicação Oral
Velasco, S. R. M.1, Pereira, G. P.1, Sousa Filho, J. F.2, Santos, G.2, Costa, P. V.1, Ferreira, A. J. F.1, Guimarães, J.1, Pescarini, J. M.3, Barreto, M. L.1
1 CIDACS
2 UFBA
3 LSHTM
Apresentação/Introdução
As mudanças climáticas intensificam desastres hidrológicos, afetando a saúde e a infraestrutura urbana. No Brasil, eventos como enchentes e inundações têm causado mortes e grandes perdas. Este estudo propõe um índice ex-post para quantificar perdas humanas e em saúde com base em registros oficiais.
Objetivos
Quantificar e classificar perdas humanas e em infraestrutura de saúde causadas por desastres hidrológicos no Brasil, por meio de índices e análise espaço-temporal das tendências e severidade municipal.
Metodologia
Os dados foram obtidos no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), que reúne decretos de emergência e calamidade em municípios brasileiros entre 1991 e 2023. Para análise, aplicamos a normalização Min-Max e um método de ponderação híbrido, combinando o Processo de Hierarquia Analítica (AHP) e o método de entropia. Desenvolvemos três índices compostos: Índice de Perda Humana, de Perda em Infraestrutura de Saúde e um Índice Geral de Severidade. A classificação dos municípios foi feita por níveis de severidade, permitindo análises espaço-temporais e subsidiando políticas públicas de resposta, reconstrução e adaptação aos desastres hidrológicos.
Resultados
O estudo revela que as perdas imediatas causadas por desastres hidrológicos no Brasil estão profundamente associadas às desigualdades sociais e à fragilidade institucional, com maior impacto em municípios pequenos e vulneráveis. As regiões com maior perda humana concentram populações historicamente excluídas, como povos indígenas e comunidades em situação de extrema pobreza. Assim, é essencial que políticas públicas integradas considerem a adaptação climática, o planejamento territorial e o fortalecimento do SUS, a fim de reduzir impactos futuros, ampliar a resiliência e promover a justiça socioambiental no país.
Conclusões/Considerações
A análise revela que as perdas imediatas dos desastres hidrológicos no Brasil estão profundamente ligadas às desigualdades sociais e à fragilidade institucional, especialmente em municípios vulneráveis. Políticas públicas integradas, que considerem adaptação climática e fortalecimento do sistema de saúde, são essenciais para reduzir impactos futuros e promover justiça socioambiental.