
Programa - Comunicação Oral - CO3.5 - Saúde Ambiental, Exposições e Impactos: Da Ecoansiedade à Construção de Políticas e Redes de Cuidado
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
AUSÊNCIA DE PLANOS E PROTOCOLOS FRENTE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE EM BELO HORIZONTE
Comunicação Oral
1 Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte/UFMG
Apresentação/Introdução
As mudanças climáticas requerem um movimento de revisão de planos de políticas de enfrentamento de doenças, preparo dos sistemas de saúde pública e medidas de contingência aos eventos climáticos extremos.
Objetivos
Analisar, com base em documentos oficiais, normativas e publicações institucionais, como a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) estrutura sua política de enfrentamento às mudanças climáticas.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, de caráter bibliográfico e documental. Foram analisados documentos oficiais, normativas, planos, relatórios e publicações técnicas produzidos pela Prefeitura de Belo Horizonte, com ênfase nos materiais elaborados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) e por órgãos intersetoriais vinculados à agenda climática municipal. A análise buscou identificar diretrizes, protocolos e estratégias relacionados ao enfrentamento das mudanças climáticas no âmbito das políticas públicas de saúde.
Resultados
Embora ainda não disponha de protocolos consolidados, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA), por meio da Diretoria de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica (DPSVE), reconhece os riscos climáticos e vem buscando integrá-los ao sistema de saúde. A DPSVE participou do Grupo Gestor de Riscos e contribuiu para a elaboração do Plano de Contingência 2024/2025, coordenado pela Subsecretaria de Defesa e Proteção Civil, com foco em eventos extremos. Estão em andamento iniciativas voltadas à capacitação de equipes, formulação de protocolos e implementação de ações adaptativas.
Conclusões/Considerações
Apesar do reconhecimento institucional dos riscos climáticos, a SMS carece de protocolos e diretrizes consolidadas para enfrentá-los. A participação em instâncias intersetoriais e o planejamento de ações adaptativas são avanços importantes, mas ainda insuficientes diante da complexidade dos impactos. É urgente transversalizar a agenda climática nas políticas públicas de saúde municipal.
MAPEAMENTO DE ATORES INTERESSADOS NA BI FRONTEIRA ENTRE BRASIL-GUIANA FRANCESA NA PERSPECTIVA DE UMA SÓ SAÚDE
Comunicação Oral
1 FIOCRUZ
2 UFSC
3 PICTIS
4 IRD
5 CHC
6 Université D‘Artois
Apresentação/Introdução
A degradação ambiental e mudanças climáticas impactam na saúde e o bem-estar de populações humanas e animais. A vigilância em saúde precisa inovar para enfrentar os desafios da Saúde Única. O MOSAIC propõe ecossistemas de informação abertos e replicáveis, para apoiar às comunidades locais e fronteiriças na compreensão desses impactos e na construção de ambientes promotores da saúde e bem-estar.
Objetivos
Mapear atores da vigilância em saúde humana, animal, ambiental e das comunidades locais na fronteira Brasil–Guiana Francesa, integrados ao sistema socioecológico e epidemiológico (SEES), para abordar os impactos das degradações ambientais na saúde.
Metodologia
No ano de 2024 e 2025 foram realizados levantamentos em plataformas de mídias sociais e análise documental de sites governamentais e não governamentais, além de visitas às áreas de estudo para mapear potenciais atores relacionados à temática de degradações e alterações ambientais na região fronteira bi-nacional Amazônica. Um trabalho de campo foi realizado para validar e completar as informações obtidas e convidar às partes interessadas a participar do projeto. Os atores foram categorizados conforme suas características e papel desempenhado e usada a matriz de Mendelow.
Resultados
Até o momento foram identificados 58 atores incluindo indivíduos e instituições. Entre eles, 13 (22,4%) são tomadores de decisões, 19 (32,8%) implementadores, 15 (25,9%) parceiros e 11 (18,9%) são beneficiários diretos, sendo estas últimas associações comunitárias ou indígenas. O grau de poder e interesse dos atores é diferente entre os países.
Conclusões/Considerações
Apesar da necessidade de adaptação e mitigação à degradação ambiental e mudanças climáticas ser visto como prioritária ainda há necessidade de uma maior articulação do nível local entre os três países. O intercambio em tempo real de informações assim como a construção de bases de dados transfronteiriços para a tomada adequada de decisões é imperativa.
EFEITOS DE UM DESASTRE AMBIENTAL SOBRE A SAÚDE DA POPULAÇÃO E SEUS REFLEXOS NOS PROCESSOS DE TRABALHO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Comunicação Oral
1 UNISINOS
Apresentação/Introdução
No mês de maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul foi atingido por um desastre hidrológico quando os cursos de água ultrapassaram as suas cotas de inundação, invadindo cidades, causando enxurradas, alagamentos, inundações e deslizamentos. Diversos serviços de saúde foram inundados e a manutenção da prestação de serviços assistenciais foi um dos maiores desafios enfrentados.
Objetivos
Analisar a compreensão dos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) sobre os efeitos dos desastres ambientais sobre a saúde da população de abrangência e seus reflexos sobre os processos de trabalho.
Metodologia
Os dados foram coletados em cinco reuniões de grupos focais guiados por perguntas norteadoras sobre as suas percepções acerca das modificações causadas pela enchente no seu trabalho e na saúde da população atendida, tendo como participantes profissionais de saúde de Unidades Básicas de Saúde (UBS) de um município da região metropolitana de Porto Alegre que foi atingido pela enchente de maio de 2024. O tratamento dos dados utilizou como matriz teórica a hermenêutica crítica.
Resultados
A análise dos dados evidenciou que as comunidades passaram por um processo de desterritorialização considerado pelas equipes de saúde como sendo um desafio, com impacto direto nos processos de trabalho, que foram sendo remodelados a cada necessidade. A saúde mental foi apontada como a maior demanda de trabalho, com grande impacto nos profissionais devido ao esgotamento físico e emocional. Os trabalhadores atuantes em bairros periféricos manifestaram relação de maior proximidade com os seus pacientes e maior preocupação com futuros eventos. A resiliência ambiental emergiu nas histórias de enfrentamento das dificuldades, avaliação das ações e reflexões sobre como agir em novos eventos.
Conclusões/Considerações
Diferenças territoriais impactaram diretamente no discurso manifestado pelos profissionais. Apesar da quebra dos fluxos rotineiros ocasionados pela enchente, as unidades de saúde mantiveram suas ações próximas ao seu funcionamento habitual. O aumento da frequência e intensidade dos desastres evidenciam a importância de fortalecer a APS para que contribua na redução dos seus efeitos sobre as comunidades.
VALIDAÇÃO DA ESCALA DE ECOANSIEDADE DE HOGG EM ADOLESCENTES DE UMA COORTE DO SUL DO BRASIL
Comunicação Oral
1 Departamento de Medicina Preventiva, FMUSP
2 Departamento de Nutrição, UFPel
3 Programa de Pós-graduação em Epidemiologia, UFPel
4 Instituto de Saúde Pública, Universidade do Porto, Portugal
5 Departamento de Saúde Pública, Universidade Miguel Hernández, Espanha
Apresentação/Introdução
A ecoansiedade é assunto de crescente importância em escala mundial, abrangendo o medo da catástrofe ambiental e a ansiedade sobre crises ecológicas. A Escala de Ecoansiedade de Hogg (Hogg Eco-Anxiety Scale – HEAS) foi originalmente desenvolvida e validada com uma amostra de jovens adultos na Austrália e na Nova Zelândia, e versões traduzidas da escala já foram validadas em diversos países.
Objetivos
Avaliar as propriedades psicométricas da versão em português do Brasil da HEAS, examinar a invariância entre os sexos e investigar características socioeconômicas e de saúde associadas à ecoansiedade entre adolescentes pertencentes à uma coorte.
Metodologia
A HEAS foi aplicada no acompanhamento dos 18 anos da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004, sendo composta por 13 itens para avaliar sintomas afetivos, ruminação, sintomas comportamentais e ansiedade sobre impacto pessoal nas duas semanas anteriores à entrevista. Os adolescentes foram classificados em quartis com base em suas pontuações na escala (menos sintomas no 1º ao 3º quartil; mais sintomas, 4º quartil). As propriedades psicométricas foram avaliadas por análise fatorial confirmatória. Associações entre estar no quartil mais alto de ecoansiedade e características socioeconômicas e de saúde foram avaliadas pelos testes do qui-quadrado, teste t e regressão logística multivariada.
Resultados
Um total de 3.432 indivíduos completou a HEAS. As quatro dimensões da HEAS demonstraram consistência interna (sintomas afetivos: α = 0,81; ruminação: α = 0,79; sintomas comportamentais: α = 0,71; e ansiedade sobre impacto pessoal: α = 0,77). As cargas fatoriais e as médias dos itens foram consistentes entre os sexos. Maiores níveis de ecoansiedade foram observados no sexo feminino, em adolescentes cujas mães tinham menor escolaridade, naqueles que relataram saúde regular ou ruim e qualidade de sono muito ruim. Adolescentes no quartil mais alto de sintomas de ecoansiedade apresentaram menor autoestima e um lócus de controle mais externo, comparados àqueles do 1º ao 3º quartil.
Conclusões/Considerações
Os resultados apoiam o modelo de quatro fatores da HEAS e indicam que a escala é válida e confiável para avaliar ecoansiedade em adolescentes brasileiros. Este estudo reforça as evidências sobre as propriedades psicométricas da HEAS e apoia iniciativas para investigar e compreender a ecoansiedade, introduzindo uma versão em português brasileiro do instrumento que pode facilitar futuras pesquisas e intervenções para mitigar a ecoansiedade no país.
EPISTEMOLOGIAS DE CONEXÃO NA RELAÇÃO SAÚDE, SOCIEDADE E NATUREZZA: DIÁLOGOS INTERCULTURAIS E INTERDISCIPLINARES PARA RESGATAR A SABEDORIA NA ACADEMIA
Comunicação Oral
1 Neepes/Fiocruz
Apresentação/Introdução
O trabalho reflete sobre a ideia de epistemologias de conexão para resgatar a sabedoria na produção de conhecimentos e reinventar a relação saúde, sociedade e natureza. Apresentamos as bases epistemológicas, conceituais e metodológicas que o autor e seu Núcleo de pesquisa vêm realizando sobre promoção emancipatória da saúde e uma ciência sensível, interdisciplinar e intercultural.
Objetivos
Refletir sobre questões epistemológicas, conceituais e metodológicas em torno das condições, limites e alternativas para a construção de diálogos interdisciplinares e interculturais junto com populações e territórios vulnerabilizados.
Metodologia
O ensaio resulta da realização de projetos de um núcleo de pesquisa que, nos últimos seis anos, tem atuado junto a populações e territórios vulnerabilizados dos campos e cidades envolvidos em processos emancipatórios de saúde, dignidade, bem viver e direitos territoriais. Para isso articulamos três campos (saúde coletiva, ecologia política e escolas pós-coloniais) para analisar os limites das utopias modernas pela lente de quatro dimensões de (in)justiça: social, sanitária, ambiental/territorial e cognitiva/histórica. Pensar alternativas de transição paradigmática significa superar a soberania epistêmica restrita ao mundo científico e dialogar com outras formas de sentir-pensar os mundos.
Resultados
Uma produção de conhecimentos intercultural e interdisciplinar possui uma natureza simultaneamente epistemológica e metodológica para fazer junto com movimentos e territórios. Encontros ou ecologias de saberes nos remetem a uma questão estratégica: como criar condições para diálogos respeitosos entre diferentes sistemas de conhecimento que não comprometam a qualidade da ciência nem provoquem epistemicídios? Estes refletem processos de distanciamento de cosmologias, saberes e práticas tradicionais que conectam tais sistemas de conhecimento à noção de sabedoria relacionada a visões e decisões holísticas que respeitem e levem em consideração a natureza, territórios e comunidades.
Conclusões/Considerações
Epistemologias de conexão buscam restabelecer pontes entre vida, ciência e outras esferas do conhecimento humano, como cosmologias, filosofias, arte e senso comum. Metodologias sensíveis co-labor-ativas vão nessa direção ao coracionar a produção de conhecimentos no diálogo com povos indígenas ou mulheres negras de periferias urbanas. Para isso são usadas linguagens poético-musicais, imagéticas, audiovisuais e contação de histórias tradicionais.
PADRÕES SAZONAIS E INFLUÊNCIA CLIMÁTICA NAS HOSPITALIZAÇÕES POR ESQUIZOFRENIA: ESTUDO DE SÉRIES TEMPORAIS
Comunicação Oral
1 UNISINOS
2 UFRGS
3 University of Bern
4 UNB
Apresentação/Introdução
A esquizofrenia é um transtorno mental crônico e complexo, frequentemente marcado por episódios de descompensação que levam à hospitalização. Evidências crescentes sugerem que variáveis climáticas, como temperatura e luminosidade, podem influenciar a manifestação desses episódios. No entanto, são escassas as investigações em contextos do Sul Global.
Objetivos
Analisar o padrão temporal das taxas de hospitalização por esquizofrenia em Porto Alegre (RS), entre 2013 e 2023, e explorar possíveis associações com variáveis climáticas.
Metodologia
Trata-se de um estudo ecológico de séries temporais, com dados de hospitalizações por esquizofrenia extraídos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), por meio do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). As taxas de internação por esquizofrenia foram calculadas com base na população residente de Porto Alegre para os anos em estudo. As variáveis climáticas foram obtidas a partir do banco de dados do Instituto Nacional de Meteorologia. Foram utilizadas análises estatísticas e modelos de aprendizado de máquina (Gradient Boosting Machines e Modelos Aditivos Generalizados) para avaliar associações entre variáveis meteorológicas e as taxas de hospitalização.
Resultados
Entre 2013 e 2023, Porto Alegre registrou 9.200 hospitalizações por esquizofrenia (média de 57,5 internações/100 mil hab./ano). Houve tendência de queda nas taxas entre 2013–2021 (APC: –5,74), seguida de aumento entre 2021–2023 (APC: 18,54). As taxas foram significativamente menores no verão e mais altas no outono e inverno (p=0,002). Modelos de machine learning identificaram influência da radiação solar, temperatura máxima e evaporação nas taxas de internação por esquizofrenia. A maior exposição ao sol e temperaturas elevadas se associaram a menores taxas de hospitalização, enquanto a umidade mostrou associação positiva com as internações (p<0,05).
Conclusões/Considerações
Os resultados sugerem que existe uma tendencia sazonal na ocorrência de internações psiquiátricas por esquizofrenia no município de Porto Alegre e que variáveis climáticas podem estar associadas à exacerbação dos quadros psiquiátricos entre pessoas com esquizofrenia. Esses achados reforçam a importância de considerar o contexto ambiental e climático na vigilância e no planejamento em saúde mental,
ANSIEDADE CLIMÁTICA E NEGACIONISMO NO TIKTOK: PERCEPÇÕES SOBRE A CRISE AMBIENTAL COMO DESAFIO PARA A SAÚDE COLETIVA
Comunicação Oral
1 Icict / Fiocruz
2 UERJ
Apresentação/Introdução
A emergência climática impacta desigualmente os grupos sociais, afetando especialmente populações vulneráveis. No TikTok, a ansiedade climática é amplificadas por conteúdos alarmistas, enquanto discursos negacionistas desinformam sobre o tema. Evidencia-se um desafio para a comunicação e a saúde coletiva, agravado pela invisibilidade dos mais afetados pelas iniquidades socioambientais.
Objetivos
Mapear as narrativas sobre mudanças climáticas em vídeos populares no TikTok Brasil, com foco em conteúdos negacionistas, em discursos que estimulam a ansiedade climática e na presença de vozes periférias nesses espaços digitais
Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório baseado em metodologia adaptada de Basch et al. (2022), com análise de 100 vídeos classificados como mais relevantes pelas hashtags #mudancaclimatica e #aquecimentoglobal no TikTok Brasil. Foram observados aspectos como linguagem, fontes citadas e impactos socioambientais e eventos climáticos explorados. Também foram analisadas categorias como presença de desinformação, crítica política, recomendações de ação, estratégias de enfrentamento propostas e sentimentos gerados, especialmente ansiedade/frustração climática. A análise foi conduzida por dois revisores e sistematizada com base em categorias definidas previamente e adaptadas ao contexto brasileiro.
Resultados
Mais da metade dos vídeos apresentou elementos que fomentam ansiedade climática, pelo tom desesperançoso e ausência de proposições de ação. A crise ambiental aparece como irreversível e incortornável. Há poucas fontes e informações científicas confiáveis identificadas e a maioria dos conteúdos carece de embasamento técnico. A presença de jovens produtores é marcante, mas sem vínculos explícitos com instituições científicas. Há pouco foco nas consequências sociais da crise climática, uma sub-representação das populações mais vulneráveis e uma responsabilização individual pouco politizada pela crise. A presença de narrativas negacionstas também foi marcante entre os conteúdos analisados.
Conclusões/Considerações
A ansiedade/frustação climática é expressão da desigualdade da crise ambiental e um problema de saúde coletiva. Sua intensificação em plataformas digitais, somada à desinformação, compromete o engajamento crítico. A incapacidade de mobilizar audiências impacta na capacidade de resposta à crise, acentuando inequidades em saúde já existente. É urgente integrar justiça climática e análise situacional de saúde em ações e políticas públicas ambientais.

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