
Programa - Comunicação Oral - CO8.4 - Aquilombamento e decoloniadades: resistências e caminhos para uma saúde antiracista
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
AQUILOMBAMENTO E EXPRESSÃO ARTÍSTICA: ESTRATÉGIAS DE CUIDADO E RESISTÊNCIA DE ESTUDANTES NEGROS NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO
Comunicação Oral
1 Faculdade Luciano Feijão (FLF)
Período de Realização
Março de 2025
Objeto da experiência
Vivências e estratégias de resistência de estudantes negros frente ao racismo acadêmico e institucional
Objetivos
Descrever um relato de experiência sobre a realização de um encontro formativo com estudantes negros em uma instituição pública do Sertão Norte do Ceará, destacando estratégias coletivas de enfrentamento ao racismo acadêmico e promoção de cuidado e resistência por meio da arte.
Metodologia
O encontro foi realizado em uma instituição pública de ensino superior localizada no Sertão Norte do Ceará e contou com a participação do Movimento Universitário Dialogando Assuntos Raciais (MUDAR) e Laboratório de Estudos em Psicologia Hospitalar. Foram discutidas as experiências de estudantes negros frente ao racismo institucional, com base na proposta de quilombos universitários. Ao final, realizou-se uma oficina artística com colagens, desenhos e pinturas sobre as vivências relatadas.
Resultados
A atividade resultou na criação de 34 cartazes, expostos em uma parede branca transformada em galeria simbólica de resistência. A produção artística possibilitou a expressão de subjetividades marcadas pelo racismo estrutural, promovendo visibilidade, fortalecimento identitário e senso de pertencimento. O encontro reafirmou o valor dos espaços de aquilombamento como práticas potentes de cuidado coletivo e enfrentamento psicossocial.
Análise Crítica
A experiência evidenciou o impacto positivo das práticas artísticas e espaços de escuta racialmente sensíveis. Os estudantes puderam ressignificar vivências dolorosas em um ambiente de afeto e solidariedade. Destacou-se a urgência de ações institucionais que enfrentem o silenciamento do racismo acadêmico e valorizem a diversidade étnico-racial, sobretudo em contextos periféricos e interiorizados, como o Sertão Norte do Ceará.
Conclusões e/ou Recomendações
Constata-se que o aquilombamento e a arte são ferramentas eficazes na promoção da saúde mental e fortalecimento identitário de estudantes negros. Recomenda-se a criação de espaços permanentes de acolhimento e expressão, além da valorização dos saberes plurais como formas legítimas de resistência e pertencimento no ensino superior, especialmente em instituições públicas do interior.
CIDADE, COLONIALIDADE E RUA: RACISMO E PRODUÇÃO DE VIDA EM CORPOS RUALIZADOS NO RECIFE
Comunicação Oral
1 UNIFESP
Apresentação/Introdução
Recife carrega marcas coloniais que operam até hoje nos corpos das pessoas em situação de rua. Esta pesquisa se propõe a tensionar a cidade como dispositivo de exclusão racializada, escutando narrativas que desvelam como políticas públicas, racismo estrutural, branquitude e aporofobia atravessam os modos de existir nas ruas da cidade do Recife.
Objetivos
Compreender de que formas o racismo estrutural e a colonialidade atravessam as produções de vida das pessoas em situação de rua no Recife, a partir de suas próprias narrativas e inscrições na cidade.
Metodologia
Trata-se de pesquisa cartográfica-sentimental, portanto composta por um caderno de campo, aqui referido como cesta-caderno, que coleta observações em campo, encontros com o Movimento Estadual de População de Rua do Recife, encontros com coletividades e indivíduos pelas ruas e instituições do Recife. A escuta e a escrita-escrevivente constituem modos de produzir dados e de narrar as forças que atravessam as ruas como território de disputa e resistência. A análise se apoia em referenciais como a cartografia sentimental de Suely Rolnik, literatura menor e de cartografia de Deleuze e Guattari, assim como necropolítica de Mbembe e racismo estrutural de Almeida.
Resultados
As narrativas vivenciadas e contadas revelam que a rua pode ser vivida simultaneamente como campo de violência e de invenção. Algumas práticas assistencialistas reforçam a estrutura colonial, enquanto outros gestos cotidianos de cuidado entre pares, redes autônomas e inscrições simbólicas constroem resistências e existências. A branquitude, mesmo quando silenciosa, estrutura relações marcadas por privilégios sociais e históricos, colocando barreiras, por vezes intransponíveis, na aproximação ao campo, o que atravessa o lugar da pesquisadora no campo, desafiando muitas vezes sua presença e modo de escuta.
Conclusões/Considerações
Ao escutar as narrativas das pessoas em situação de rua, desestabilizam-se saberes cristalizados sobre o que é saúde, cuidado e clínica. Essas escutas exigem que o cuidado em sua radicalidade seja repensado a partir de uma ética da implicação, que reconheça os atravessamentos de raça, classe e território, e acolha os saberes situados como parte fundamental da construção de outras possibilidades de cuidado e de cidade
DECOLONIZAR A SAÚDE COLETIVA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA FORMATIVA NO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FCM/UNICAMP.
Comunicação Oral
1 Unicamp
Período de Realização
De março a junho de 2025, durante a disciplina Teoria Decolonial e Pesquisa Qualitativa na FCM/Unicamp.
Objeto da experiência
Processo formativo sobre epistemologias decoloniais e gestão, utilizando portfólio e grupo operativo como metodologias.
Objetivos
Promover uma travessia epistemológica a partir do giro decolonial, tensionando práticas de gestão na saúde. Estimular a construção de projetos de pesquisa situados, críticos, éticos e politicamente comprometidos com a descolonização do saber, do cuidado e da gestão no SUS.
Descrição da experiência
A experiência ocorreu na disciplina Teoria Decolonial e Pesquisa Qualitativa da FCM/Unicamp, utilizando portfólio reflexivo e grupo operativo como dispositivos pedagógicos. As aulas ocorreram em sala e em território, como na Praça da Paz. Foram trabalhados textos de autores decoloniais, práticas de roda, autobiografia como método e exercícios de escuta, fala, escrita e sonho, produzindo deslocamentos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, ressignificando a gestão, o cuidado e a pesquisa.
Resultados
Os participantes reformularam seus projetos de pesquisa, incorporando epistemologias do Sul e crítica à colonialidade do saber, do poder e do ser. Houve deslocamento da visão técnica sobre gestão para uma perspectiva ontopolítica, que valoriza saberes situados, coletivos e insurgentes. A Teoria Paideia foi tensionada e ampliada a partir do giro decolonial, propondo uma gestão que não apenas democratiza, mas também descoloniza práticas no SUS e na produção do cuidado.
Aprendizado e análise crítica
A experiência revelou que processos formativos pautados na roda, na escuta, na escrita autobiográfica e no sonho operam como contra-dispositivos à colonialidade. O uso do portfólio e do grupo operativo potencializou a construção de sujeitos reflexivos e críticos. Evidenciou-se a necessidade de tensionar marcos eurocêntricos da gestão e incorporar cosmologias, saberes e epistemes periféricas, quilombolas, indígenas e populares no campo da saúde coletiva e da gestão pública.
Conclusões e/ou Recomendações
Concluímos que práticas formativas decoloniais transformam não só os sujeitos, mas também as concepções de gestão, cuidado e pesquisa. Recomenda-se que os cursos de pós-graduação incorporem metodologias que desestabilizam a colonialidade, promovendo rodas, territórios, saberes insurgentes e processos coletivos. A gestão no SUS precisa ser espaço de construção de autonomia, subjetividade, bem viver e de insurgência epistêmica.
REFLEXÕES DE UM ESTÁGIO: DIÁLOGOS SOBRE SAÚDE MENTAL COMUNITÁRIA ENTRE O QUILOMBO SÃO PEDRO E TERRITÓRIOS AFROCOLOMBIANOS PARA PRÁTICAS SITUADAS.
Comunicação Oral
1 Universidad de Antioquia
2 FIOCRUZ
3 UNESP
Período de Realização
1º de maio a 29 de junho de 2025.
Objeto da experiência
Conhecer práticas e metodologias da educação popular aplicadas à saúde mental no Brasil no âmbito do estágio.
Objetivos
Dialogar sobre práticas coletivas de cuidado em saúde mental com a comunidade quilombola de São Pedro. Comparar experiências educativas em saúde mental entre comunidades quilombolas e territórios afrocolombianos. Articular saberes ancestrais com referenciais acadêmicos sobre saúde mental comunitária.
Descrição da experiência
A partir de uma vivência no Quilombo de São Pedro, experimentei como a saúde mental se constrói a partir de práticas coletivas vinculadas ao cultivo e à identidade afrodescendente. Essa experiência dialogou com territórios afrocolombianos, onde a identidade camponesa, a educação e a arte sustentam o cuidado. Em ambos, saúde mental é soberania alimentar, acesso à água e identidade. Isso se relacionou com aportes teóricos e diálogos com outras vivências acadêmicas do estágio.
Resultados
As experiências em São Pedro (Brasil) e nas comunidades afrodescendentes colombianas revelam ressonâncias que transcendem fronteiras: resistência cultural, construção de uma saúde coletiva enraizada no território e na memória. Emerge uma ética compartilhada do cuidado e da autonomia. A espiritualidade, a arte e os saberes ancestrais constituem núcleos vitais de bem-estar. O cuidado se manifesta como prática político-educativo-territorial que protege os vínculos sociais e confronta ameaças à vida.
Aprendizado e análise crítica
Essas vivências, que entrelaçam afetos, saberes e lutas, nos lembram que a saúde mental não pode ser pensada sem território, sem cultura e sem comunidade. E nos convidam a imaginar outras formas de intervenção, em que o cuidado não seja uma estratégia de contenção, mas uma forma de justiça. Os territórios ensinam que curar é um ato coletivo enraizado na identidade, nas práticas ancestrais e na resistência cultural que confronta as violências estruturais e constrói alternativas de vida digna.
Conclusões e/ou Recomendações
Não é possível falar de saúde mental desconsiderando a identidade, arrancando o cuidado de seu enraizamento territorial ou invisibilizando o conhecimento comunitário. É urgente avançar para práticas situadas que partam do diálogo, reconhecendo os saberes locais como fundamentos epistemológicos válidos para imaginar outras formas de cura. Somente enraizando a saúde mental nos territórios e identidades construiremos caminhos de justiça e bem viveres.
QUANDO O CORPO É TERRITÓRIO DE RESISTÊNCIA: ATRAVESSAMENTOS ÉTNICO-RACIAIS NA FORMAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
Comunicação Oral
1 INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES (IAM) FIOCRUZ PERNAMBUCO
Período de Realização
2022 a 2025, entre a Residência Multiprofissional e o Mestrado em Saúde Coletiva na Fiocruz/PE.
Objeto da experiência
Vivência como uma pesquisadora negra no campo da saúde coletiva e os impactos das invisibilização das epistemologias negras nos processos formativos.
Objetivos
Refletir sobre os atravessamentos étnico-raciais na formação em saúde coletiva, denunciando o silenciamento epistêmico e a ausência de autores e autoras negras como referência nos espaços acadêmicos e de gestão, buscando propor rupturas estruturais, epistemológicas e metodológicas.
Metodologia
Durante minha formação na residência e no mestrado, enfrentei o silenciamento sistemático das epistemologias negras no campo da saúde coletiva. A ausência de autores e autoras negras nos referenciais teóricos, somada ao desconhecimento do corpo docente sobre o racismo como determinação social da saúde, impôs barreiras à produção crítica. Como mulher negra, precisei transformar vivência na acadêmia e nos serviços em saúde em denúncia a partir da escrevivência como metodologia (EVARISTO, 2023).
Resultados
A experiência revelou a predominância de referenciais eurocentrados na formação, ausência de bibliografia de intelectuais negros e resistência institucional ao reconhecimento do racismo como determinação social da saúde. Observou-se ainda a dificuldade de validação das pesquisas com enfoque étnico-racial e o despreparo do corpo docente para dialogar com epistemologias negras, o que compromete a formação crítica e a efetivação da equidade no campo da saúde coletiva.
Análise Crítica
Aprendi que é preciso radicalizar o compromisso ético-político com o povo negro. A escrita, inspirada na escrevivência de Evaristo, tornou-se um lugar de denúncia e afirmação. A ausência de autores negros não é apenas um vazio, mas uma estratégia de apagamento. Como aponta Werneck, o racismo institucional no SUS compromete vidas e também apaga trajetórias. A formação crítica exige romper com silêncios e reordenar prioridades na produção de saber.
Conclusões e/ou Recomendações
A trajetória reforça que a saúde coletiva precisa ser refundada com base em epistemologias plurais e antirracistas. É imprescindível inserir autores e autoras negras como protagonistas nos currículos e práticas acadêmicas. A experiência reafirma que o enfrentamento ao racismo é tarefa coletiva e cotidiana, e que a resistência também se escreve. Produzir saúde com justiça racial é um ato político, científico e profundamente ancestral.

Realização: