
Programa - Comunicação Oral - CO30.3 - Territórios de saberes - antirracismo
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
RECONHECIMENTO DOS TERREIROS COMO EQUIPAMENTOS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE: PRÁTICAS DE CUIDADO E SEGURANÇA ALIMENTAR
Comunicação Oral
1 Fiocruz
2 Fiocruz/Jinsaba Ervaria
Período de Realização
O projeto teve início em janeiro de 2025, e a atividade descrita se refere ao mês de abril de 2025.
Objeto da experiência
Implementar hortas tradicionais em terreiros de matriz africana em prol da promoção da segurança alimentar, pela valorização dos saberes ancestrais.
Objetivos
Apresentar a experiência do projeto hortas tradicionais em terreiros como estratégia de promoção da saúde, ao destacá-los como equipamentos de saúde ao promover a implementação de hortas, valorizando a cultura e os saberes pela agricultura tradicional, em prol da segurança alimentar e nutricional.
Metodologia
O projeto Implementação de Hortas Tradicionais para a Promoção da Alimentação Adequada e Saudável em Terreiros Religiosos de Matriz Africana, visa discutir a valorização dos terreiros como espaços de promoção da saúde e segurança alimentar. O projeto foi apresentado como estratégia política de promoção a segurança alimentar e nutricional, com destaque para a importância da ancestralidade e a construção coletiva de ações de saúde, com base no respeito à diversidade e à autonomia.
Resultados
Com lideranças religiosas, representantes institucionais e parlamentares, discutiu-se o papel dos terreiros como equipamentos comunitários que articulam saberes ancestrais, práticas agrícolas e de cuidado. Fortaleceu o reconhecimento dos terreiros como espaços de saúde, valorizando saberes ancestrais na produção de alimentos. Promoveu articulações e compromissos para as ações do projeto, com foco na promoção da segurança alimentar, em ações formativas direcionadas a estes territórios.
Análise Crítica
Foi evidenciada a potência dos terreiros como territórios de produção de saúde, saber e resistência. O ponto chave está na escuta ativa e no reconhecimento das práticas ancestrais como tecnologias sociais legítimas, invisibilizadas pelas estruturas institucionais. A experiência revelou a urgência de romper com paradigmas que desqualificam os saberes tradicionais e limitam a efetivação de políticas públicas, especialmente diante das barreiras impostas pelo racismo religioso e ambiental.
Conclusões e/ou Recomendações
A valorização das práticas de cuidado dos terreiros é estratégica para a promoção da equidade em saúde e segurança alimentar. É fundamental consolidar políticas públicas que reconheçam esses espaços como equipamentos de saúde, bem como a ampliação do diálogo entre academia, gestão pública e comunidades tradicionais, garantindo participação na implementação de políticas e por mecanismos de proteção às comunidades de terreiros de matriz africana.
SABERES ANCESTRAIS E CUIDADO EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SALVADOR: FEIRA DE SAÚDE DE MÃE BINA
Comunicação Oral
1 UNEB
Período de Realização
A feira de saúde Mãe Bina foi construída com o povo quilombola e aconteceu em 22 de março de 2025.
Objeto da experiência
A feira de saúde Mãe Bina foi construída a muitas mãos, mentes e corações com o povo quilombola de Praia Grande em Ilha de Maré em Salvador.
Objetivos
Levantar as necessidades de saúde da comunidade quilombola.
Conhecer os saberes ancestrais relacionados às práticas de cuidado, por meio do referencial da educação popular em saúde, dialogando sobre as necessidades de saúde relacionadas ao seu cotidiano de trabalho de pesca e mariscagem e de vida.
Descrição da experiência
A Feira de Saúde Mãe Bina ofertou ações de promoção e cuidado: avaliação nutricional, aferição de pressão arterial e glicemia capilar, saúde bucal, auriculoterapia, ventosaterapia, preventivos, testagem rápida para ISTs, orientações em fisioterapia, teste da linguinha, atividades lúdicas com crianças, oficinas que integraram saberes tradicionais e científicos como cuidados com a pele sob exposição solar e ervarias, que resgatou e valorizou conhecimentos ancestrais do uso medicinal das plantas.
Resultados
As ações da Feira promoveram o protagonismo quilombola na produção de práticas de autocuidado e cuidado coletivo, reafirmando a potência do diálogo entre os saberes ancestrais e científicos na construção de estratégias de cuidado em saúde culturalmente comprometidas com o território, bem como proporcionou novos saberes sobre as singularidades do povo negro e sua cultura, rompendo com a supremacia branca e suas teorias universalistas e racistas na formação de profissionais de saúde.
Aprendizado e análise crítica
A Feira de Saúde Mãe Bina é uma potente tecnologia educacional para a saúde e a educação, que foi construída de forma participativa com as mulheres quilombolas, o que permitiu evidenciar e acolher as necessidades de saúde, as problemáticas ambientais que atravessam o território, as demandas relacionadas às prevenções de problemas de saúde no trabalho com a pesca e a mariscagem, e, sobretudo, as práticas de cuidado sustentadas nos saberes ancestrais e culturais que moldam o cotidiano das pessoas.
Conclusões e/ou Recomendações
O fomento da UNEB para a realização da Feira de Saúde Mãe Bina fortalece o papel social da universidade pública, enquanto fomentadora de tecnologias na interface saúde e educação, que contribua com a melhoria da saúde do povo negro e dos processos educativos de futuras/os profissionais de saúde, comprometidas/os com o enfrentamento das iniquidades sociais, da luta pela garantia da saúde como direito à vida digna e de uma sociedade mais equânime.
SAÚDE COLETIVA E ETNOBOTÂNICA NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DOS JERÔNIMOS, PASSOS, MINAS GERAIS: SABERES TRADICIONAIS E RESILIÊNCIA
Comunicação Oral
1 Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais (N‘GOLO), Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
2 Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
Período de Realização
Iniciado em 22 de agosto e Concluído em 30 de novembro de 2024
Objeto da experiência
Estudo da relação entre saúde coletiva e etnobotânica na Comunidade Quilombola dos Jerônimos, Passos, MG.
Objetivos
Analisar como práticas etnobotânicas contribuem para a saúde e bem-estar, identificar desafios e oportunidades para a promoção da saúde coletiva, e discutir a importância do reconhecimento e valorização dos saberes tradicionais para autonomia e resiliência quilombola.
Descrição da experiência
Pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva na Comunidade Quilombola dos Jerônimos, em Passos, MG. Utilizou pesquisa documental, observação participante, entrevistas semiestruturadas e grupos focais com raizeiros, benzedeiras, líderes e outros membros. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo temática para compreender saberes, práticas e percepções sobre o uso de plantas medicinais e práticas de cura tradicionais.
Resultados
Revelou intrínseca relação entre etnobotânica e saúde coletiva. Identificou vasto repertório de plantas medicinais e conhecimento aprofundado sobre suas propriedades e usos. Práticas de cuidado incluem rituais e benzimentos, com curadores tradicionais como pilares da saúde. A percepção de saúde é holística, ligada à natureza e ancestrais. Uso de plantas é a primeira opção para enfermidades, valorizando autonomia e autocuidado.
Aprendizado e análise crítica
O estudo revela a intersecção entre saúde coletiva e etnobotânica na comunidade dos Jerônimos ressalta a necessidade de abordagens de saúde que considerem especificidades culturais e saberes locais, valorizando curadores tradicionais e a transmissão do conhecimento. Desafios incluem perda de espécies vegetais e acesso limitado a serviços de saúde convencionais. Mas a recente certificação da comunidade pela Fundação Palmares , abre oportunidades para fortalecimento das práticas e parcerias.
Conclusões e/ou Recomendações
os saberes etnobotânicos constituem um sistema de saúde , fundamental para a comunidade quilombola. Recomenda-se a implementação de políticas públicas que considerem as especificidades culturais e promovam a saúde de forma integral e contextualizada, fortalecendo a autonomia dessas populações. A valorização e documentação dos conhecimentos tradicionais, para a preservação da herança cultural e a promoção de uma saúde mais justa e equitativa.
SAÚDE DE TERREIRO E ANCESTRALIDADE: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA FEIRA DE SAÚDE NO AXÉ
Comunicação Oral
1 UFRB
Período de Realização
08|2023
Objeto da experiência
O objetivo da ação foi estabelecer uma confluência de saberes e assistência em saúde entre o terreiro e a comunidade de axé e circunvizinha.
Objetivos
Historicamente, os saberes e as práticas de saúde de matriz africana têm enfrentado um processo contínuo de resistência e apagamento, sendo muitas vezes estigmatizados. Diante desse cenário, torna-se crucial não apenas reconhecer, mas ativamente rever e valorizar essas práticas tradicionais de saúde.
Descrição da experiência
Trata-se de um estudo qualitativo do tipo relato de experiência, modalidade narrativa científica que permite a análise e produção de novos saberes a partir de vivências singulares. Para a organização da "Feira de Saúde", realizou-se um estudo prévio aprofundado sobre a história da saúde no Brasil, com foco nos conhecimentos ancestrais cultuados nos terreiros de Candomblé e sua contribuição para a saúde.
Resultados
Foram disponibilizados: orientações odontológicas com distribuição de kits de higiene bucal, atendimento psicoterapêutico, oficinas de Yoga e massoterapia, serviços de podologia, orientações sobre saúde sexual, realização de testes rápidos para ISTs, e uma roda de conversa para confluência de saberes. A iniciativa demonstrou a potência da articulação entre a comunidade do terreiro, a sociedade em geral e o conhecimento universitário.
Aprendizado e análise crítica
O projeto da "Feira de Saúde" no terreiro Ilê Axé Ijifaromim é um exemplo clássico de como o aprendizado não se limitou à teoria, mas foi profundamente construído através da experiência prática e da reflexão sobre essa prática.
Conclusões e/ou Recomendações
A ação reforça a grande valia da confluência de conhecimentos entre o terreiro, a comunidade e a universidade. Tal colaboração não apenas contribui significativamente para a desconstrução de preconceitos e a promoção da tolerância, mas também se mostrou uma estratégia eficaz na viabilização do acesso a serviços de saúde.
SAÚDE PROMOVIDA NOS TERREIROS: INTEGRAÇÃO ENTRE A APS E OS SABERES ANCESTRAIS EM COMUNIDADES DE MATRIZ AFRICANA NO SUBÚRBIO DE SALVADOR, BAHIA.
Comunicação Oral
1 Profsaude/UFRB
2 Secretaria Municipal de Saúde de Salvador
3 Agsus
Período de Realização
Projeto "Saúde nos Terreiros" iniciado em 2024, segue ativo com ações e reflexões contínuas.
Objeto da experiência
Integra práticas de cuidado do Candomblé à APS/ESF, valorizando saberes tradicionais e promovendo saúde da população negra.
Objetivos
Promover a aproximação entre a APS e comunidades de terreiro, superando o racismo institucional e fortalecendo vínculos com lideranças religiosas. Implementar ações colaborativas, culturalmente sensíveis e alinhadas às políticas de saúde da população negra e de terreiros.
Descrição da experiência
A iniciativa surgiu da atuação de uma odontóloga preta na USF Bate Coração, em Salvador, frente à ausência de ações voltadas à diversidade religiosa no território. Em 2024, propôs-se o projeto "Saúde nos Terreiros", com mutirões em dois terreiros, ofertando atendimento médico, odontológico e vacinal, além de ações educativas apoiadas pelo NASF. Buscou-se promover cuidado intercultural e fortalecer vínculo com as lideranças religiosas, em uma abordagem interprofissional e territorializada.
Resultados
A proposta foi acolhida com entusiasmo pela comunidade de terreiro. Usuários se aproximaram desses espaços, antes vistos com preconceito, e relataram acolhimento. A gestão local apoiou com materiais, formações e suporte técnico. Houve valorização dos saberes tradicionais, fortalecimento de vínculos e reconhecimento dos terreiros como espaços legítimos de cuidado, vida e resistência, evidenciando a importância de modelos de saúde territorializados e interculturais.
Aprendizado e análise crítica
Houve resistência inicial por parte de profissionais da equipe, expressando racismo religioso e receio. A sobrecarga assistencial dificultou o planejamento coletivo e a troca horizontal com os saberes dos terreiros. Apesar da proposta de romper com o modelo biomédico, práticas hegemônicas ainda persistem. A experiência exigiu reflexões constantes e revelou a necessidade de formação crítica e contínua para um cuidado verdadeiramente integrador e sensível à diversidade cultural.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência reafirma a necessidade de políticas públicas para a saúde da população negra e comunidades tradicionais. Recomenda-se ampliar ações semelhantes, com formação específica para acolher a diversidade cultural e religiosa. É essencial reconhecer os terreiros como espaços legítimos de cuidado e promover o diálogo entre saberes biomédicos e ancestrais. Um SUS equitativo exige enfrentar o racismo estrutural com ações concretas e sustentáveis.

Realização: