
Programa - Comunicação Oral - CO30.4 - Ações Antirracistas e Territorios de Saúde
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
A TRANSVERSALIDADE DO DEBATE ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: UMA ESTRATÉGIA PARA A PROMOÇÃO DA EQUIDADE
Comunicação Oral
1 Fiocruz
Período de Realização
Contínuo, a partir de 2024.
Objeto da experiência
Inserção de um módulo sobre expressões de racismo na saúde em todos os cursos e capacitações promovidos pela Coordenação de Ensino do CSEGSF/ENSP/Fiocruz.
Objetivos
Evidenciar as interseccionalidades e o impacto do racismo nos processos de saúde-doença, qualificando profissionais para uma prática antirracista e para a promoção da equidade no Sistema Único de Saúde (SUS), em consonância com os objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
Descrição da experiência
A Coordenação de Ensino do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP/Fiocruz) estabeleceu a obrigatoriedade de um módulo sobre as expressões do racismo na saúde em todas as suas atividades formativas. Cursos como "Manejo de Tuberculose e ILTB para Enfermeiros da APS", "Metodologias Lúdicas na Promoção de Saúde Mental", "Auriculoterapia" e "Reflexologia Palmar" passaram a incluir discussões sobre como as desigualdades étnico-raciais se manifestam em cada tema específico.
Resultados
A iniciativa tem promovido a conscientização de profissionais de saúde sobre a relevância do recorte racial na saúde pública. As avaliações dos cursos indicam que a abordagem tem sido bem recebida, com relatos de mudanças na prática clínica e na percepção sobre os determinantes sociais da saúde. A discussão sobre o racismo tem se tornado um componente valorizado e esperado nas capacitações, fomentando um ambiente de aprendizado mais crítico e reflexivo.
Aprendizado e análise crítica
A experiência mostra ser viável e essencial integrar a pauta antirracista em toda a formação em saúde, superando a visão de que é um tema restrito a especialistas. A abordagem transversal evidencia o racismo como um determinante estrutural da saúde, a ser enfrentado em todas as áreas do cuidado e da gestão. A principal dificuldade é a resistência inicial de alguns profissionais em reconhecer o racismo como um problema de saúde.
Conclusões e/ou Recomendações
A inclusão do debate sobre as expressões do racismo em todos os cursos de capacitação é uma estratégia potente para a formação de profissionais de saúde mais conscientes e preparados para lidar com as iniquidades em saúde. Recomenda-se que outras instituições de ensino e pesquisa adotem práticas semelhantes, a fim de que a pauta antirracista seja um componente curricular transversal e permanente na formação em saúde no Brasil.
INIQUIDADES RACIAIS EM SAÚDE EM MANAUS: DADOS EPIDEMIOLÓGICOS COMO EVIDÊNCIA DE RACISMO ESTRUTURAL
Comunicação Oral
1 ILDM/Fiocruz Amazônia
2 ENSP/Fiocruz
Apresentação/Introdução
Em Manaus, em 2022, 75,1% da população se autodeclarou negra (pretos e pardos), mas enfrenta desigualdades sistemáticas em saúde. Este estudo, parte de tese de doutorado em Saúde Pública na Amazônia e traz dados oficiais para demonstrar como o racismo estrutural e o apagamento histórico da população negra na região, desde a escravidão, produzem desigualdades evitáveis na capital amazonense.
Objetivos
Analisar indicadores de saúde e socioeconômicos da população negra em Manaus, como evidência empírica e expressões do racismo estrutural.
Metodologia
Estudo descritivo com abordagem crítica, baseado em dados secundários recentes (IBGE, PNAD, SIM, SINAN) referentes ao município de Manaus. Foram calculadas taxas de incidência de doenças e agravos de notificação e razões de mortalidade por raça/cor (por causas evitáveis em menores de 5 anos). Os indicadores foram analisados à luz da Determinação Social da Saúde e do racismo estrutural, articulando desigualdades em renda e emprego, acesso à saúde, adoecimento e mortalidade.
Resultados
Pretos e pardos concentram 70,8% dos desocupados (1ºT/2025) em Manaus, o rendimento médio mensal foi menor para pretos (R$ 2.899) e pardos (R$ 2.655) que para brancos (R$ 3.954). O acesso a plano de saúde entre pretos (19,8%) e pardos (23,2%) e brancos (39,1%). Taxas de incidência de doenças como tuberculose por 100 mil (375 entre negros vs. 45,5 entre brancos), dengue, sífilis gestacional, toxoplasmose gestacional, hanseníase e acidentes de trabalho foram maiores na população negra em 2024. Em 2023, a mortalidade materna foi superior em negras (178,8/100 mil NV) comparado a brancas (153,6/100 mil NV). Razões de mortalidade por causas evitáveis em menores de 5 anos foram maiores entre negros.
Conclusões/Considerações
Os dados epidemiológicos e socioeconômicos de Manaus revelam iniquidades que afetam sistematicamente a população negra e indicam racismo estrutural que incide sobre essa população. A produção, análise e ampla divulgação desses dados são essenciais para se combater o racismo e orientar a formulação e implementação de políticas públicas locais efetivas para diminuir as desigualdades raciais em saúde
PROGRAMA VIVA MAIS CIDADANIA: FORMAÇÃO POLÍTICA EM DIREITOS HUMANOS PARA PESSOAS IDOSAS DE COMUNIDADES TRADICIONAIS DE TERREIROS
Comunicação Oral
1 UFRB
Período de Realização
de outubro/2024 a junho /2025.
Objeto da experiência
Formação política em Direitos Humanos e Cidadania com pessoas idosas de Comunidades Tradicionais de Terreiros em Cachoeira e São Félix, Bahia.
Objetivos
Promover formação política em Direitos Humanos e Cidadania, na perspectiva da Educação Popular, com pessoas idosas de Comunidades Tradicionais de Terreiro em Cachoeira e São Félix, Bahia, visando a construção coletiva de estratégias de enfrentamento das violências e a garantia de direitos.
Metodologia
Projeto vinculado ao Programa Viva Mais Cidadania do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, com as seguintes etapas: qualificação da equipe executora; aproximação e fortalecimento das relações entre atores e atrizes sociais envolvidas(os) no processo; mapeamento das pessoas idosas vinculadas a Comunidades Tradicionais de Terreiros; e realização de curso de formação política em Direitos Humanos e Cidadania.
Resultados
Fez-se o lançamento do projeto com atrizes e atores estratégicos - Universidade, Comunidades Tradicionais de Terreiros, Conselho Municipal da Pessoa Idosa, gestores locais, estaduais e federais; realização de curso sobre direitos da Pessoa Idosa nos Terreiros Ilê Axé Oyá Egbalé; Guarani de Caboclo Oxóssi e Ylê Axé Odé Nilé. Os encontros foram orientados por metodologia educativo-problematizadora, fundamentados, principalmente, na Política Nacional da Pessoa Idosa e no Estatuto da Pessoa Idosa.
Análise Crítica
Orientadas pela Educação Popular, as oficinas partiram dos conhecimentos prévios, sentidos e vivências sobre o envelhecer. Por meio de metodologias ativas (discussões de caso, sociodrama, dinâmicas de grupo e recursos lúdicos), as experiências individuais alcançaram a significação coletiva. Foram problematizados os limites e os distanciamentos entre os dispositivos legais, as medidas de proteção, as instituições garantidoras de direitos e a realidade objetiva compartilhada pelas participantes.
Conclusões e/ou Recomendações
Os cursos contribuíram para o debate intergeracional, co-construção do conhecimento entre saberes técnico-científicos e epistemológicos ancestrais, fortalecimento dos vínculos comunitários e da rede de apoio social às pessoas idosas. Enseja-se maior articulação institucional e intersetorial entre as Comunidades Tradicionais de Terreiros e a gestão municipal, estadual, universidade e Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
UM OLHAR DOS POVOS TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA E DE TERREIROS SOBRE A CARTOGRAFIA SOCIAL: A EXPERIÊNCIA NO PROJETO ECO ILÊ
Comunicação Oral
1 Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ-PALIN
Período de Realização
Outubro de 2024 a Junho de 2025
Objeto da experiência
Experiências de povos de matriz africana com cartografia social, ODS e escuta ativa como territórios sustentáveis e em transição energética.
Objetivos
A experiência buscou mapear vivências de povos tradicionais de matriz africana por meio da cartografia social, alinhada aos ODS, valorizando a escuta ativa, o reconhecimento de saberes ancestrais e o fortalecimento dos rumos à sustentabilidade.
Descrição da experiência
O Projeto Ecoilê integra saúde, agroecologia e saberes tradicionais para povos de terreiros. A equipe do PALIN e do Colaboratório aplicou cartografia social em 8 terreiros, promovendo protagonismo e valorizando saberes ancestrais. Com base nos 17 ODS e mais 3 novos da metodologia IFuturo, a escuta ativa estimulou o autorreconhecimento e mapeou desafios, classificando os riscos em resiliência, vulnerabilidades, ameaças e o sagrado.
Resultados
A experiência possibilitou o reconhecimento de que os territórios já praticam ações alinhadas aos ODS, fortalecendo sua identidade e impacto local. Houve mobilização por políticas públicas integrativas, com levantamento de desafios e soluções a partir de suas vozes. Isso impulsionou os povos de terreiro a se afirmarem como espaços estratégicos para a saúde, combate à pobreza e enfrentamento da devastação ambiental, exigindo maior atenção e valorização pelo poder público.
Aprendizado e análise crítica
A experiência revelou a complexidade e a riqueza dos saberes ancestrais presentes nas comunidades tradicionais, alinhados de forma transversal aos ODS. Um dos maiores desafios foi conquistar a confiança e a autorização para compartilhar esses conhecimentos com o mundo. Aprendemos que o futuro depende desses saberes, historicamente invisibilizados, que oferecem respostas reais aos desafios atuais. Tornar essas comunidades protagonistas foi um passo essencial para seu reconhecimento e valorização.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência destacou a cartografia social como ferramenta para orientar políticas públicas sensíveis e eficazes. Reforça a importância da inclusão das comunidades de matriz africana nos espaços de decisão, valorizando seus saberes sobre os territórios. Recomenda-se a criação de leis e programas nacionais baseados em dados, com ações integradas em saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
“A NOITE NÃO ADORMECE NOS OLHOS DAS MULHERES”: EFEITOS DA DISCRIMINAÇÃO PERCEBIDA SOBRE O SONO DE MULHERES NEGRAS DA COORTE ELSA-BRASIL
Comunicação Oral
1 UFBA
2 Universidade do Porto, Portugal.
3 Instituto Gonçalo Moniz - FIOCRUZ-BA
4 CIDACS/Fiocruz/Bahia
5 ISC/UFBA
6 IOC-Fiocruz-RJ
7 UFMG
Apresentação/Introdução
As experiências de discriminação vividas por mulheres negras geram impactos acumulativos sobre a saúde, ao produzirem uma exposição contínua. Em contextos de discriminação crônica, essas experiências atuam como importantes marcadores de vulnerabilidade para desfechos adversos, como os problemas relacionados ao sono. O sono é um comportamento de saúde modificável e fundamental para o bem-estar.
Objetivos
Esse estudo tem como objetivo investigar a associação entre a exposição crônica a discriminação percebida e problemas de sono em mulheres negras participantes da coorte Elsa-Brasil.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, que utilizou os dados da Onda 3 do ELSA-Brasil. Foram incluídas mulheres pretas e pardas (n=2.891) com objetivo destacar o efeito da discriminação percebida, evitando vieses de comparação com grupos que não a vivenciam ou a experienciam de forma distinta. A exposição foi medida pela Everyday Discrimination Scale (EDS) utilizando uma categorização baseada em cronicidade que reflete a intensidade e a recorrência das experiências de discriminação percebida. Os problemas de sono (duração, privação ,curta duração do sono e ≥ 2 problemas associados. Utilizou-se regressão logística para estimar Odds Ratios (OR) e IC95%. As análises foram realizadas no Stata14.
Resultados
Foi evidenciada associação significativa entre discriminação percebida e todos os desfechos analisados. No modelo final ajustado por idade, escolaridade, renda familiar per capita e se cuida de outras pessoas, observou-se que mulheres com percepção alta de discriminação apresentaram maiores chances de relatar queixas de insônia (OR = 2,70), privação de sono (OR = 2,66), curta duração do sono (OR = 2,14) e dois ou mais problemas associados ao sono (OR = 2,78), em comparação àquelas que não relataram discriminação. Mesmo nos níveis mais baixos de discriminação percebida, observou-se aumento no risco para todos os desfechos, com Odds Ratios variando entre 1,35 e 1,73.
Conclusões/Considerações
A discriminação percebida está associada a problemas de sono entre mulheres negras, evidenciando o racismo como estressor crônico com impactos fisiológicos. O estado constante de hipervigilância reflete vivências históricas de violência e discriminação.Os achados apontam para a necessidade de políticas que enfrentem a discriminação como expressão do racismo estrutural, visando reduzir as iniquidades em saúde

Realização: