Programa - Comunicação Oral - CO25.3 - Gestão do trabalho: implementação e avaliação de políticas sobre o Trabalho em Saúde
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
COMPETÊNCIAS DE AGENTES DE COMBATE ÀS ENDEMIAS NO PROCESSO DE TRABALHO: RESULTADOS DE UMA AVALIAÇÃO NACIONAL NO ÂMBITO DO PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE
Comunicação Oral
Lazzeri, B.1, CASSAL, P . M.1, UMPIERRE, D.1, PIRES, Fabiana Schneider1, KNAUTH, D. R.1, TEIXEIRA, Luciana Barcellos1
1 UFRGS
Apresentação/Introdução
O fortalecimento das competências dos agentes de combate às endemias (ACE) é estratégico para a qualificação das ações de vigilância em saúde. Este estudo foi realizado no contexto do Programa Saúde com Agente (PSA), visando diagnosticar aspectos do processo de trabalho dos ACE durante a formação técnica ofertada pelo curso.
Objetivos
Avaliar a autopercepção de competências dos ACE relacionadas ao processo de trabalho, com foco nas dimensões de planejamento e execução de ações no território.
Metodologia
Foi aplicado um questionário online, enviado por e-mail aos ACE matriculados no curso técnico em vigilância em saúde com ênfase no combate às endemias, promovido pelo PSA. O instrumento abordou seis domínios de conhecimentos e habilidades, com respostas em escala Likert de autoconfiança, organizadas nas dimensões “Reconhecimento de Necessidades e Planejamento de Ações” e “Execução”. Neste trabalho, analisou-se o domínio “Processo de Trabalho”. A metodologia dialoga com o ciclo PFEA (Planejar, Fazer, Estudar, Agir), da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Os dados foram organizados no Excel® e analisados no R (v.4.4.1), em frequências absolutas e relativas.
Resultados
A amostra final foi de 3.730 respondentes. Houve elevada autoconfiança em ações práticas e coletivas, como planejar ações de reconhecimento do território (80,9%), planejar com a equipe ações no território (81,7%) e realizar campanhas de conscientização sobre endemias (87,2%). Competências como trabalhar com ACS na melhoria da saúde (72,5%), analisar dados com a equipe (74,9%) e elaborar mapas de risco (67,6%) apresentaram níveis moderados de segurança. Em contrapartida, reconhecer problemas por fases da vida (56,4%) e identificar prioridades segundo critérios técnicos e comunitários (61,3%) foram as que mostraram menor autoconfiança, indicando necessidade de fortalecimento técnico-analítico.
Conclusões/Considerações
A análise evidenciou que os ACE reconhecem competências na execução e articulação com a equipe, mas enfrentam desafios em tarefas que demandam análise crítica do território e uso estratégico de dados. O curso técnico se mostra como espaço potente de educação permanente, contribuindo para reorganizar processos de trabalho e valorizar o papel dos ACE na vigilância em saúde.
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DOS PEGTES NOS ESTADOS BRASILEIROS: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA MATRIZ DE INDICADORES
Comunicação Oral
Esperidião, M.A.1, Souza, L.E.P.F.2, Sila, A.C.B.2, Souza, M.F.C.2
1 Instituto de Saúde Coletiva da UFBA
2 Instiuto de Saúde Coletiva da UFBA
Período de Realização
Maio de 2024 a Maio e 2025
Objeto da experiência
Monitoramento e avaliação dos Planos Estaduais de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde nos estados brasilerios.
Objetivos
Definir um quadro de Indicadores para avaliação periódica de processo e resultados da execução dos Planos Estaduais de GTES, levando em conta diversos níveis de agregação das informações, bem como a diversidade de situações observadas nos estados do país.
Descrição da experiência
A avaliação participativa e com foco na utilização, como abordagem que envolve ativamente as partes interessadas, desencadeando um processo colaborativo e inclusivo, desde a definição do foco à construção da matriz de julgamento. A experiência envolveu um conjunto de etapas como: análise dos PEGTES e das matrizes; levantamento dos indicadores presentes nos instrumentos de gestão (PNS e PPA); revisão de literatura e documental; elaboração e validação do quadro de indicadores com a SGTES/MS.
Resultados
A matriz contempla três dimensões: governança, gestão do trabalho e gestão da educação, e subdimensões. A governança trata da articulação da GTES, planejamento integrado e cooperação técnica entre estados. A gestão do trabalho aborda relações, condições, processos, vínculos e regulação do trabalho. A gestão da educação envolve o planejamento e reorientação da formação, educação permanente e a integração educação, trabalho e comunidade. Foram definidos indicadores de execução e de resultado.
Aprendizado e análise crítica
A experiencia produziu um conjunto de aprendizados para a equipe responsável pela condução do projeto, bem como para técnicos e apoiadores institucionais da SGTES/Ministério da Saúde. Foi realizado encontro de Educação Permanente com apoiadores institucionais e coordenadores de áreas para discutir elementos conceituais e metodológicos. Está previsto a elaboração do guia de avaliação e monitoramento das ações de gestão do trabalho e da educação na saúde no âmbito estadual e municipal do SUS.
Conclusões e/ou Recomendações
O monitoramento é um processo sistemático, contínuo e oportuno de acompanhamento de dados/informações, e da geração de informação “estratégica” que tenha significado para os envolvidos, permitindo a crítica do processo de implementação do PEGTES e subsidiando eventuais processos de reprogramação de ações e objetivos. Este processo é relevante considerando o ValorizaGTES-SUS, que visa garantir o financiamento federal para a execução dos PEGTES.
PLATAFORMIZAÇÃO DO TRABALHO NA SAÚDE: IMPLICAÇÕES DAS EMPRESAS-APLICATIVOS DE CONSULTA MÉDICA NO BRASIL
Comunicação Oral
Rodrigues, C.S.1, Teixeira, M.1, Medeiros, K.R.2, Barbosa, R.B.C.1, Fonseca, J.M.1, Guimarães, T.C.F.1, Rocha, P.H.1, Barbosa, R.1, Nunes, R.M.1, Martins, M.I.C1
1 ENSP/FIOCRUZ
2 IAM/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
O avanço das tecnologias digitais tem redefinido as relações de trabalho na saúde. A plataformização, intensificada durante a pandemia de COVID-19, reflete a expansão da gig economy no setor, alterando modelos de gestão, organização do cuidado e relações laborais. Este cenário gera desafios para a regulação do trabalho médico, para a proteção dos profissionais e para a garantia da integralidade no SUS, exigindo análise crítica sobre os impactos sociais, éticos e econômicos desse modelo.
Objetivos
O estudo objetiva descrever o modelo de atuação das plataformas digitais de consulta médica no Brasil, compreender sua expansão e analisar as implicações para o trabalho médico: relações contratuais, autonomia profissional e impactos na organização do cuidado em saúde.
Metodologia
Trata-se de pesquisa qualitativa, com análise documental de 58 termos de uso de 54 plataformas digitais de consulta médica ativas no Brasil entre 2020 e 2022. As plataformas foram selecionadas pela técnica bola de neve na loja Apple Store, considerando critérios como oferta de consultas médicas, mais de 500 downloads e agendamento viabilizado pelo aplicativo. A análise utilizou o software Atlas.ti, com categorização em quatro eixos: autonomia, relação de trabalho, monopólio dos dados e organização e gestão do trabalho. Os termos foram examinados quanto às responsabilidades atribuídas às partes, regras contratuais, mecanismos de controle, formas de remuneração e estratégias de gerenciamento por algoritmos. Para este trabalho, foram consideradas 5 empresas com foco em como esses dispositivos contratuais moldam as relações de trabalho, a autonomia médica e a configuração dos serviços de saúde no país.
Resultados
Observou-se forte expansão das plataformas de consultas médicas desde 2019, com intensificação na pandemia. As empresas se autodeclaram de tecnologia, não assumindo responsabilidade sobre atos médicos, transferindo riscos e custos aos profissionais. Os termos de uso revelam ausência de vínculo empregatício, mas impõem regras rígidas, controle de agenda, penalidades, algoritmos que direcionam agendamentos e padrões de cobrança, afetando a autonomia médica. As plataformas detêm monopólio dos dados e das regras operacionais, restringindo acesso às informações e alterando contratos unilateralmente. Esse modelo tem implicações na autonomia profissional, compromete a longitudinalidade do cuidado, impacta a demanda por saúde no SUS e acentua a precarização das relações de trabalho. Identifica-se, ainda, os riscos referentes à datificação, com aprofundamento de desigualdades, relativos ao poder exercido sobre trabalhadores e usuários via controle de dados e algoritmos.
Conclusões/Considerações
A plataformização do trabalho médico representa um modelo que acentua a precarização laboral, a mercantilização da assistência e a fragilização da autonomia profissional. As empresas atuam em meio à frágil regulação, exploram a retórica da autonomia, mas operam sob lógica de controle algorítmico e transferência de riscos ao trabalhador. Este modelo desafia os princípios do SUS, especialmente a integralidade, a continuidade do cuidado e a organização em redes. Assim, destaca-se a necessidade da construção de marcos regulatórios que assegurem proteção social, regulação dos dados e controle social das tecnologias, visando garantir trabalho decente, autonomia profissional e atenção aos princípios e diretrizes do SUS.
PUBLICAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES OPERACIONAIS DAS EQUIPES DE CONSULTÓRIO NA RUA DA CIDADE DO RECIFE
Comunicação Oral
Aguiar, A. P. D.1, Melo, M. C.2, Silva, B. L. C.1, Jesus, M. M. S.3, Valerio, A. C. O.1, Brandão, M. C. G.1, Lira, H. A. N.4
1 Prefeitura do Recife
2 Universidade de Pernambuco
3 Secretaria de Saúde do Recife
4 Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP)
Período de Realização
De janeiro de 2024 a outubro de 2024
Objeto da produção
Diretrizes operacionais das equipes de Consultório na Rua da cidade do Recife
Objetivos
O objetivo do documento é orientar a organização e funcionamento das equipes de Consultório na Rua, com vistas a subsidiar a estruturação do processo de trabalho e de gestão para a garantia da atenção integral à saúde das pessoas em situação de rua no município do Recife.
Descrição da produção
O documento traz o histórico das portarias e leis nacionais e locais relacionados à população em situação de rua, além de organização das equipes do Consultório na Rua do Recife, quanto à composição, carga horária, território de referência, agenda padrão, atribuições dos profissionais que compõem as equipes e gestão. As diretrizes operacionais também apresentam dados sobre a população em situação de rua da cidade, obtidos através de censo realizado em 2022.
Resultados
Construção de material norteador para o cuidado em saúde da população em situação de rua e indutor de práticas para equipes de Consultório na Rua e gestão, seja a nível distrital ou central, a partir da realidade dos territórios, das necessidades de saúde e da possibilidade de atuação dos profissionais. A publicação foi produzida em conjunto pelas coordenadoras da Política de Atenção Integral à Saúde da População em Situação de Rua do Recife e do Consultório na Rua, trabalhadores e residentes.
Análise crítica e impactos da produção
A produção fortalece a Política Municipal de Atenção Integral à Saúde da População em Situação de Rua do Recife ao propor orientações baseadas nas especificidades dos territórios e nas necessidades da população. Promove maior alinhamento entre equipes e gestão, qualifica o cuidado e potencializa ações intersetoriais, se tornando estratégico para a efetivação do SUS e a garantia do acesso à saúde a uma população bastante vulnerável.
Considerações finais
As Diretrizes Operacionais representam um avanço na estruturação do cuidado em saúde às pessoas em situação de rua no Recife. A construção coletiva do material reforça o compromisso com a equidade, o respeito às especificidades desta população e a valorização dos trabalhadores.
TRABALHADORES DA ATENÇÃO PRIMÁRIA PRISIONAL DE PERNAMBUCO: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DAS FORMAS DE CONTRATAÇÃO
Comunicação Oral
Araújo, M. M. B.1, Medeiros, K. R.1
1 IAM-Fiocruz
Apresentação/Introdução
O Sistema Único de Saúde (SUS) sofre os efeitos do paradigma neoliberal, refletindo na adoção de formas flexíveis de contratação e tornando desafiadora a questão da precarização do trabalho. No ambiente da Atenção Primária à Saúde é relevante a análise da situação vinculação dos trabalhadores que atuem em contextos diversos, como aqueles cujo cenário é o Sistema Prisional.
Objetivos
Caracterizar as formas de contratação dos trabalhadores de saúde atuantes nas equipes de Atenção Primária Prisional (eAPP) no estado de Pernambuco.
Metodologia
Fez-se uma análise descritiva, recorrendo aos dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), domínio público, referentes a Pernambuco, tendo como período de competência abril de 2025. Os dados foram categorizados por: tipo de vínculo a partir da modalidade de contração, categoria profissional e ente gestor da equipe. Adotou-se a tipologia proposta Coelho (2022), classificando-os em três formas de contratação: Protegida com Estabilidade (PCE) – possuem direitos trabalhistas garantidos e estabilidade; Protegida Sem Estabilidade (PSE) - direitos trabalhistas garantidos, mas não têm estabilidade; e Desprotegida (DES) - não possuem direitos trabalhistas e estabilidade.
Resultados
Identificam-se quatro modalidades de contratação na APP de Pernambuco. Os contratos por tempo determinado prevalecem como forma de contratação (51%), incluídos para Coelho como PSE. Contudo, quando ente gestor é o estado as modalidades consideradas DES são a principal forma de inserção (49,6%). De modo geral, nessa tipologia encontram-se 47,4% dos trabalhadores, sendo 42,2% autônomos e 5,2% bolsistas, estes últimos, todos médicos. Na tipologia PCE, perspectiva de vinculação alinhada a defesa do trabalho decente no SUS, encontram-se apenas 1,6% dos trabalhadores, sendo mais adotada quando ente gestor é município (6,9%) e representa apenas 1,1% dos trabalhadores vinculados a gestão estadual.
Conclusões/Considerações
Na APP de Pernambuco, a precarização do vínculo é notória e a perspectiva de estabilidade é algo de difícil alcance. Soma-se a exposição e clima de tensão no sistema prisional denotando um contexto favorável a maiores riscos de adoecimento e sofrimento mental. É essencial adotar medidas de cuidado aos trabalhadores e valorização do trabalho com vistas, ainda, ao atendimento da prerrogativa de acesso à saúde para população privada de liberdade