Programa - Comunicação Oral - CO4.2 - Metodologias como crítica, tecnologia social e meio de comunicação
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
15:00 - 16:30
GRUPO FOCAL COMO ESTRATÉGIA PARA REFLETIR CAMINHOS DE PESQUISA COM MULHERES MÃES DE CRIANÇAS COM SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA VÍRUS AO LONGO DE UMA DÉCADA
Comunicação Oral
Melo, A.P.L.1, Albuquerque, M.S.V.2, Silveira, P.1, Lyra, T.3, Araújo, T.V.B.1, Santos, J.4, Pereira-Abagaro, C.5, Teixeira, C.1, Fontes, J.6, Rocha, J.F.S.1
1 Universidade Federal de Pernambuco
2 Universidade Federal de Pernambuco; Instituto Aggeu Magalhães
3 Instituto Aggeu Magalhães
4 London School of Hygiene and Tropical Medicine
5 Secretaría de Ciencia, Humanidades Tecnología e Innovación
6 Universidade de Pernambuco
Apresentação/Introdução
Desde a identificação dos primeiros casos de microcefalia na epidemia de 2015, as famílias atingidas têm sido constantemente abordadas por equipes de pesquisa nacionais e internacionais. Poucas dessas abordagens, no entanto, tem conseguido mediar as expectativas de pesquisadores e familiares quanto aos objetivos e retornos esperados.
Objetivos
O objetivo foi refletir sobre o grupo focal como estratégia metodológica qualitativa para analisar o papel das pesquisas na vida de mães e cuidadoras de crianças com SCZ Vírus residentes na Região Metropolitana do Recife entre 2015 e 2024.
Metodologia
Como parte da estratégia de imersão no campo do eixo social do projeto “Long-term consequences of Zika virus infections during pregnancy for school-aged children and their families in Brazil”, foi realizado um grupo focal com oito mães de crianças acompanhadas por pesquisas sobre a SZC há alguns anos. A coleta de dados ocorreu em março de 2024 nas dependências de um hospital-escola onde são realizados atendimentos clínicos das crianças e durou aproximadamente duas horas. Utilizou-se como elemento disparador das falas imagens com símbolos identificáveis como crianças, praça, saúde, família, mulher, homem etc. Projeto aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa CAAE 66580323.1.0000.5208.
Resultados
Os resultados foram estruturados em quatro grandes categorias: saúde, trabalho, rupturas/reconstruções e redes de apoio, analisados em oficina com as mães. Houve o reconhecimento das pesquisas como possibilidade de compreender melhor o quadro clínico dos seus filhos, ao mesmo tempo em que persiste uma confusão entre pesquisa e assistência à saúde. Por outro lado, as mães sinalizaram para a ausência de estudos sobre suas próprias demandas num cotidiano de exaustão e sobrecarga no trabalho de cuidados que conta com redes de apoio restritas.
Conclusões/Considerações
O grupo focal permitiu revisitar caminhos metodológicos, incorporando perguntas e temáticas de pesquisa nas etapas seguintes do projeto. Após uma década, crianças e famílias atingidas seguem sob o olhar da ciência e da sociedade. Pesquisas com estratégias de participação mais ativa das famílias podem permitir melhor compreensão sobre as respostas possíveis e os impactos na vida cotidiana das pessoas envolvidas nesse processo de adoecimento.
PALAVRAS QUE ATRAVESSAM FRONTEIRAS: ELABORAÇÃO DE DICIONÁRIO BILÍNGUE PARA FORTALECER OS PERIÓDICOS BRASILEIROS DA SAÚDE COLETIVA
Comunicação Oral
Pimenta, I. T.1, Souto, E. P.2, Rosário, C. A.3, Petra, P.C3, Fonseca, A. F.4
1 Hospital Israelita Albert Einstein
2 CEE- Fiocruz
3 Fiocruz
4 EPJSJV- Fiocruz
Período de Realização
A elaboração do produto técnico iniciou em março de 2025 e está em processo de finalização.
Objeto da produção
Padronizar a tradução de termos técnicos da saúde coletiva para apoiar autores, editores e tradutores dos periódicos nacionais.
Objetivos
Elaborar um dicionário bilíngue (português-inglês) de termos técnicos referentes às áreas da saúde coletiva: Epidemiologia, Ciências Humanas e Sociais em Saúde e Políticas, Planejamento e Gestão.
Descrição da produção
Foram selecionados 600 artigos alinhados às áreas de conhecimento atribuídas, publicados nos últimos oito anos, na base SciELO. Após a leitura dos títulos e resumos, 300 foram escolhidos. Termos técnicos foram extraídos dos títulos, resumos, introduções e métodos, quando organizado dessa forma. Cada termo foi traduzido para o inglês com base nas versões bilíngues dos artigos, periódicos de referência, ferramentas de tradução e dicionários especializados.
Resultados
Foram extraídos 1.312 vocábulos, dos quais 12,3% foram da área da Epidemiologia, 61,7% das Ciências Humanas e Sociais e 25,7% da área de Políticas, Planejamento e Gestão. Para padronizar a tradução de vocábulos com múltiplas possibilidades em inglês, foi elaborada uma lista que está sendo validada pelas comissões temáticas de Epidemiologia, Planejamento e Ciências Sociais e pelos Grupos de Trabalho da Abrasco.
Análise crítica e impactos da produção
Espera-se que o produto técnico auxilie na padronização de vocábulos da saúde coletiva e qualificação das traduções para o inglês. A iniciativa também busca otimizar os recursos editoriais por meio da redução de custos com tradução especializada. Isso poderá contribuir para aumentar as publicações bilíngues e dar visibilidade internacional à produção científica brasileira, fortalecendo assim os periódicos nacionais da saúde coletiva.
Considerações finais
Este produto oferece uma contribuição estratégica para o fortalecimento dos periódicos nacionais de saúde coletiva. O dicionário resultante poderá ser atualizado continuamente e servir de base para ações editoriais coordenadas e treinamentos, assim como incorporado a ferramentas de tradução que utilizam inteligência artificial.
REVISÃO DE ESCOPO ORIENTADA PELOS ESTUDOS CULTURAIS: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA CRÍTICA E IMPLICADA
Comunicação Oral
Negrete, T.C.R1, Ferreira Júnior, A.R2
1 UNICAMP
2 UECE/UNICAMP
Apresentação/Introdução
A revisão de escopo tem sido utilizada como estratégia para mapear evidências em distintas áreas. Este trabalho propõe um modelo de revisão de escopo orientado pelos Estudos Culturais (EC), integrando rigor técnico à análise simbólica e política da produção científica, ampliando suas possibilidades analíticas e favorecendo leituras situadas da ciência como prática culturalmente implicada.
Objetivos
Articular o protocolo de revisão de escopo do Joanna Briggs Institute (JBI) aos EC, ampliando sua potência analítica para leituras críticas dos sentidos, representações e regimes de verdade presentes na produção científica.
Metodologia
Propõe-se uma metodologia de revisão de escopo conforme o JBI, tensionada pelos Estudos Culturais (EC). A abordagem desloca a revisão de uma prática descritiva para um exercício crítico e politicamente implicado, atento à linguagem, representação e poder. Cada etapa, da pergunta à análise, é atravessada por escolhas epistêmicas. A extração de dados foca categorias discursivas e ausências narrativas. A análise adota o Circuito de Cultura expandido, abrangendo representação, produção/contraprodução, consumo, identidade, regulação e sensorialidade. A proposta inspira-se em aplicação prévia na saúde da mulher e nas Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas.
Resultados
A proposta amplia a potência interpretativa da revisão de escopo ao permitir a leitura crítica dos modos como certos saberes científicos são legitimados, silenciados ou contestados na literatura. Evidenciam-se contribuições como a valorização de epistemologias plurais, a escuta de vozes historicamente marginalizadas e o deslocamento da neutralidade metodológica. O modelo propõe que cada etapa do processo — da pergunta à análise — seja atravessada por decisões ético-políticas, o que demanda implicação ativa do/a pesquisador/a e favorece investigações mais situadas, críticas e sensíveis às disputas simbólicas e epistêmicas que conformam a ciência como prática cultural.
Conclusões/Considerações
A revisão de escopo orientada pelos Estudos Culturais reconfigura o exercício investigativo, ao conjugar rigor técnico com densidade crítica. Ao reconhecer a produção científica como fenômeno simbólico e disputado, a abordagem fortalece a reflexividade metodológica, amplia as possibilidades analíticas no campo da Saúde Coletiva e contribui para práticas comprometidas com justiça cognitiva e epistemologias plurais.
TECNOLOGIA SOCIAL: CARTOGRAFAR A ESCUTA E NARRAR A METAMORFOSE NA FORMAÇÃO MÉDICA
Comunicação Oral
Pacheco, RA1, Andreazza, R.1
1 UNIFESP
Período de Realização
Novembro de 2024 a Agosto de 2025
Objeto da produção
Sistematização de um desenho metodológico qualitativo inovador, baseado em cartografia e narrativa, para investigar formação em saúde.
Objetivos
Apresentar e sistematizar uma tecnologia social metodológica que permite compreender as complexas dinâmicas da formação médica.
Qualificar a investigação sobre como práticas pedagógicas e clínicas contribuem para o desenvolvimento de competências emocionais e sociais em profissionais de saúde para o SUS.
Descrição da produção
A produção consistiu na elaboração detalhada de um desenho metodológico qualitativo e exploratório, fundamentado em revisão teórica aprofundada. O processo articulou epistemologias relacionais e afetivas, estruturando-se em três planos interdependentes: narrativo (roteiros para entrevistas e oficinas de evocação sensível), cartográfico (mapas afetivos e diário de campo) e metamórfico (pesquisa como transformação mútua). A transversalidade foi priorizada como operador ético-metodológico.
Resultados
O produto técnico resultou na formalização de um arcabouço metodológico coerente e robusto. Este desenho permite uma escuta ampliada e sensível das experiências formativas, capaz de captar elementos explícitos e implícitos que moldam a prática médica. Ao integrar cartografia e narrativas, a metodologia oferece uma abordagem inovadora para investigar a interface entre o saber instrumental e o saber sensível, e seus impactos na formação de profissionais humanizados para o SUS.
Análise crítica e impactos da produção
O produto inova ao propor pesquisa que transcende a representação da realidade, coexistindo e sendo afetada por ela. Sua aplicabilidade é ampla, podendo ser replicado em diversos contextos de formação em saúde, enriquecendo a pesquisa qualitativa. O impacto social fomenta o debate sobre competências emocionais e sociais, contribuindo para profissionais humanizados no SUS.
Considerações finais
A sistematização desta tecnologia social metodológica é um avanço para a pesquisa em Saúde Coletiva, sendo um guia prático e conceitual. Reafirma o compromisso com uma pesquisa que intervém e transforma. Abre caminho para investigar como inovações curriculares e pedagógicas podem moldar médicos mais empáticos e socialmente engajados, fortalecendo a qualidade do atendimento no SUS.
METODOLOGIAS SENSÍVEIS CO-LABOR-ATIVAS EM DIREÇÃO À JUSTIÇA COGNITIVA NA SAÚDE COLETIVA
Comunicação Oral
Fasanello, M.T.1, Porto, M.F.1, Campos, M.2, Ordonio, I.N.3, Silva, K.H.4, Costa, A.M.5, Fernandes, S.L.6, Gomes, W.S.7, Campos, R.S.8, Simplício, M.9
1 Núcleo Ecologias e Encontros de Saberes para a Promoção Emancipatória da Saúde/ENSP/Fiocruz
2 PPGP/Instituto de Psicologia/UFAL
3 Instituto Agronômico de Pernambuco/IPA e Coletivo da agricultura Xukuru do Ororubá/Jupago Kreká
4 Associação da Comunidade Indígena Xukuru ( ACIX)
5 IAM/Fiocruz-PE
6 Instituto de Psicologia/UFAL
7 Universidade de Pernambuco, Campus Garanhuns
8 Serviço Social/UFAL
9 Coletivo Sudiovisual Indígena Ororubá Filmes
Apresentação/Introdução
Este ensaio propõe questões teórico-metodológicas, cuja base empírica e experiencial provém de pesquisas junto a territórios indígenas do Nordeste nos últimos seis anos. Os autores defendem uma transição paradigmática que crie encontros de saberes envolvendo sistemas de conhecimentos científicos e tradicionais em torno de lutas sociais por saúde e visibilidade na direção de uma justiça cognitiva.
Objetivos
Discutir a construção de metodologias sensíveis co-labor-ativas com intelectuais orgânicos dos territórios indígenas para fortalecer novas epistemologias e diálogos entre sistemas científicos e tradicionais de conhecimento sobre saúde intercultural.
Metodologia
Este ensaio, cuja base empírica resulta da realização de pesquisas junto aos territórios indígenas Tingui Boto (AL) e Xukuru do Ororubá (PE), tem aprovação no CONEP. Sua proposta reside na construção de metodologias sensíveis co-labor-ativas (Fasanello, Porto, 2022) que buscam estabelecer confluência (Bispo dos Santos, 2015) entre metodologias e formulações desenvolvidas no âmbito acadêmico e nos territórios. Inspiradas em epistemologias de conexão (Jairo Munduruku, 2024), essas práticas também envolvem guyanças (Iran Xukuru) pelos territórios, fortalecendo o “ser indígena” que, como sementes dormentes (Marcelo de Campo/Tingui, 2022), florescem por meio das lutas e resistências na atualidade.
Resultados
Os resultados retratam as experiências de pesquisas nesses territórios, como aperfeiçoamento com audiovisual, criação de plataforma de narrativas indígenas, mostra de cinema, mapeamento de conhecimentos e práticas tradicionais de cuidado, cultivo do alimento e preservação ambiental e formação de conselheiros indígenas. Evidencia-se assim, a importância desses processos na consolidação de diálogos interculturais em torno da saúde, contribuindo para o fortalecimento e aprimoramento do SasiSUS. Tais resultados têm sido divulgados por meio de audiovisuais, assim como cadernos interculturais, relatórios e artigos científicos, produzidos junto com cineastas e intelectuais orgânicos indígenas.
Conclusões/Considerações
A justiça cognitiva busca validar diferentes concepções e visões de mundo do Sul Global com um esforço epistemológico que descolonize e coracione a academia. Neste contexto, a reflexão metodológica é importante pois implica em um realinhamento que possa superar a indolência da razão moderna expressa em sua ciência. Incorporar conhecimentos tradicionais junto com a arte sensível na produção de conhecimentos é um dos caminhos possíveis.