
Programa - Comunicação Oral Curta - COC2.7 - Insegurança alimentar em populações vulnerabilizadas
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
A INVISIBILIDADE DO IMBRICAMENTO ENTRE INSEGURANÇA ALIMENTAR, ACESSO À TERRA E TERRITÓRIO NO CAMPO DA SAÚDE.
Comunicação Oral Curta
1 ENSP/Fiocruz
2 UFBA
3 ENP/Fiocruz
Apresentação/Introdução
Embora a fome e a insegurança alimentar e nutricional (IAN) sejam fenômenos complexos, com dimensões econômica, alimentar e biológica, ligadas à produção, distribuição, aquisição e consumo de alimentos, o campo da saúde tende a abordá-los apenas sob a ótica do consumo, com base no paradigma biológico, negligenciando aspectos simbólicos, sociais e estruturais, como o acesso à terra e ao território.
Objetivos
Realizar um levantamento e análise da produção científica na área da saúde que aborde a relação entre fome e insegurança alimentar e nutricional com o acesso à terra e ao território no Brasil
Metodologia
Trata-se de um levantamento bibliográfico para fundamentar a pesquisa de doutorado, na qual investiga-se o imbricamento entre a fome e a insegurança alimentar e nutricional com a desigualdade no acesso à terra e ao território. Para o levantamento foram acessadas cinco bases de dados (Web of Science, Pubmed, Scopus, Portal BVS, OASIS), utilizando os seguintes descritores: Saúde; Saúde Coletiva; Insegurança Alimentar; Segurança Alimentar (SAN); Território; Fome.
Resultados
Foram identificados 485 estudos, com 120 duplicatas, totalizando 365 trabalhos. Excluíram-se textos estrangeiros, dissertações, teses e trabalhos que não abordavam a relação entre as temáticas, resultando quatro artigos em português. Um dos artigos critica a abordagem hegemônica da nutrição sobre a SAN e aponta três falhas do sistema produtivo, incluindo o mau uso da terra. O segundo, um ensaio, analisa as interseções entre racismo, capitalismo e a crise da fome no contexto pós-pandemia. O terceiro discute a articulação entre SAN, produção quilombola e Alimentação Escolar. O último propõe a integração entre saúde coletiva e agroecologia como base para sistemas alimentares sustentáveis.
Conclusões/Considerações
Embora o acesso à terra e território não sejam foco central dos artigos encontrados, ele é reconhecido como um elemento relevante no contexto da SAN e da IAN. Os resultados indicam baixa literatura, no campo da Saúde, que relacione essas dimensões, revelando o predomínio de enfoques voltados a outros fatores e a negligência de determinantes estruturais. Dimensionar esse entrelaçamento é fundamental para transformar o cenário alimentar brasileiro
AVALIAÇÃO DA INSEGURANÇA ALIMENTAR E SOBREPOSIÇÃO DE VULNERABILIDADES SOCIAIS: DADOS DO INQSAN-SEMIÁRIDO
Comunicação Oral Curta
1 UFPB
2 UFCG
Apresentação/Introdução
A insegurança alimentar (IA) reflete a falta de acesso regular e suficiente a alimentos e, apesar do acesso à alimentação ser um direito constitucional desde 2010, a IA representa um problema mais presente entre mulheres, pessoas com renda baixa, baixa escolaridade e moradia rural. A interseccionalidade entre estas características provoca diferentes dinâmicas que agravam a IA.
Objetivos
Analisar a prevalência de IA diante de cenários de sobreposição de vulnerabilidades sociais relacionadas com área de moradia, renda, escolaridade e gênero e acesso a programas governamentais no semiárido nordestino do Brasil, em 2022.
Metodologia
Estudo transversal, de base populacional, em dois municípios do semiárido nordestino (Cuité/PB e Santa Cruz/RN), com amostragem estratificada e ponderação por expansão. A amostra foi estratificada por área urbana e rural. Foram entrevistadas 741 famílias em Cuité e 259 em Santa Cruz. Utilizou-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar para a mensuração da IA em quatro níveis. Avaliou-se o acesso a cerca de 25 programas governamentais relacionados à SAN. Probabilidades preditas da IA foram estimadas a partir da regressão logística segundo a sobreposição de até quatro vulnerabilidades (gênero feminino, moradia rural, baixa renda e baixa escolaridade).
Resultados
A IA grave foi observada entre domicílios com renda per capita ≤½ salário mínimo (75,9%), da zona rural (39,7%), pessoas com baixa escolaridade (81,4%), mulheres (88,2%) e pessoas não brancas (72,9%). Verificou-se média de acesso a programas governamentais ±6.3. A probabilidade predita de IA aumenta à medida que as vulnerabilidades estudadas se sobrepõem, em domicílios cujo a responsável é mulher que reside na região rural, com baixa renda e escolaridade a probabilidade de IA moderada e grave aumenta +24% e +19,6%, respectivamente. O mesmo ocorre com o acesso aos programas, com média de 6,7 entre domicílios com 4 vulnerabilidades.
Conclusões/Considerações
Os resultados mostram que, no semiárido, a IA é atravessada por iniquidades sociais e desigualdades estruturais e interseccionais. A sobreposição destas vulnerabilidades aumenta expressivamente a probabilidade de ter IA grave, reforçando a necessidade do fortalecimento urgente do SISAN e de ações e políticas estruturais que considerem essas iniquidades e fatores interseccionais no planejamento para a garantia do Direito à Alimentação Adequada.
DUPLA CARGA DE MÁ NUTRIÇÃO ENTRE CRIANÇAS RURAIS RIBEIRINHAS DA AMAZÔNIA
Comunicação Oral Curta
1 Instituto Leônidas e Maria Deane (Fundação Oswaldo Cruz)
2 Universidade Federal de Santa Maria
3 Aarhus University
Apresentação/Introdução
A dupla carga de má nutrição em crianças que residem em localidades rurais ribeirinhas na Amazônia reflete desigualdades sociais e mudanças nos hábitos alimentares. Investigar a magnitude dessa condição em áreas rurais remotas é essencial para compreender os impactos da transição nutricional em populações vulneráveis e negligenciadas, bem como orientar políticas públicas eficazes.
Objetivos
Caracterizar o perfil sociodemográfico, de hábitos de vida e o estado nutricional de crianças residentes em localidades rurais ribeirinhas da Amazônia.
Metodologia
Estudo transversal de base escolar conduzido com crianças (5 a 10 anos de idade) de 6 escolas situadas em localidades rurais ribeirinhas de Coari/AM. Variáveis sociodemográficas (idade, sexo, renda, escolaridade do responsável, bolsa família, insegurança alimentar) e comportamentais (contexto alimentar, marcadores de dieta saudável/não saudável, tempo de tela) foram coletadas por meio de entrevista com crianças/responsáveis. Peso corporal e estatura foram aferidos para classificação dos indicadores IMC/idade (excesso de peso: não/sim) e estatura/idade (desnutrição crônica: não/sim) de acordo com as curvas da OMS. A coleta foi realizada em 2024 (março a julho). Realizou-se análise descritiva.
Resultados
128 escolares (7,8±1,7 anos; 53,0% sexo masculino; 87,5% pardos), cuja renda média foi R$1.624±794, 42,3% dos responsáveis tinham menos de 9 anos de estudo e 88,3% estavam cadastrados no Bolsa Família. Cerca de 42%, 46%, 48% dos escolares relataram não consumir regularmente (<5 vezes/sem), fruta, leite e peixe, respectivamente. Cerca de 53% consumiram ≥5 ultraprocessados no dia anterior à entrevista, 58% não atenderam à recomendação de tempo de tela (≥2h/dia) e 18% se alimentavam diante de telas. A desnutrição, o excesso de peso e a insegurança alimentar foram evidenciados em cerca de 8%, 22% e 91% respectivamente. Entre as crianças em insegurança alimentar, 22% apresentaram excesso de peso.
Conclusões/Considerações
A baixa renda, falta de infraestrutura básica e a carga de má nutrição, verificada pela elevada prevalência de excesso de peso, desnutrição crônica e insegurança alimentar, evidenciam uma realidade sociossanitária preocupante. Este estudo visa ampliar o conhecimento sobre a situação socioeconômica, os hábitos de vida e o estado nutricional de crianças ribeirinhas, contribuindo para o aprimoramento de políticas públicas sociais, de saúde e nutrição.
INSEGURANÇA ALIMENTAR E PADRÕES DE CONSUMO EM UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA DA AMAZÔNIA: UM ESTUDO NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TUPÉ
Comunicação Oral Curta
1 UEA
2 UFAM
Apresentação/Introdução
A garantia da segurança alimentar como direito humano exige esforços coordenados entre governos, organizações internacionais e sociedade civil, com vistas à a criação de sistemas alimentares equitativos, sustentáveis e resilientes, capazes de fornecer alimentos saudáveis e acessíveis a todos, independentemente de seus contextos socioeconômicos.
Objetivos
Este estudo teve como objetivo avaliar a insegurança alimentar e os padrões de consumo alimentar na comunidade ribeirinha de Nossa Senhora do Livramento, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, em Manaus, Amazonas.
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional, descritivo e quantitativo, realizado na comunidade ribeirinha Nossa Senhora do Livramento, em Manaus, Amazonas. Utilizou-se a técnica de amostragem em bola de neve, com coleta de dados domiciliar, sendo entrevistado um representante de cada família residente permanente na comunidade. Aplicaram-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar e o Questionário de Frequência Alimentar para avaliação das condições alimentares das famílias. Os dados foram analisados descritivamente utilizando os softwares R e RStudio. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas parecer n.º 6.097.815.
Resultados
Participaram do estudo 28 famílias, com um representante por domicílio. Observou-se que 78,6% das famílias apresentaram algum nível de insegurança alimentar, sendo 28,6% de insegurança grave. O grupo alimentar mais frequentemente consumido pelos participantes foi Farinhas/Pães, com 100% dos entrevistados relatando o consumo diário, seguido por Arroz/Macarrão com 88,5%. Entre os alimentos proteicos, os ovos se destacaram com 87,0% dos entrevistados indicando consumo diário. Entre os alimentos amazônicos o tucumã teve destaque, sendo consumido diariamente por 65,4% das famílias.
Conclusões/Considerações
Este estudo revelou uma dieta predominantemente à base de carboidratos e alimentos amazônicos, com menor ingestão de proteínas e industrializados, refletindo as restrições econômicas e logísticas da comunidade. Os achados ressaltam a urgência de políticas públicas específicas voltadas à segurança alimentar das populações ribeirinhas da Amazônia.
INSEGURANÇA ALIMENTAR EM COMUNIDADE RIBEIRINHA A JUSANTE DE PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA NO OESTE BAIANO
Comunicação Oral Curta
1 UFOB
Apresentação/Introdução
A expansão do agronegócio sobre o Cerrado brasileiro, provocou diversas alterações nos modos de vida dos povos tradicionais ribeirinhos, seja pelas consequências do desmatamento e perda da biodiversidade ou pela intensificação dos conflitos relacionados às terras e às águas. A insegurança alimentar (IA), desde a preocupação com a falta de alimentos até a fome, é um indicador de iniquidade social.
Objetivos
Estimar a prevalência de insegurança alimentar em uma comunidade ribeirinha a jusante de pequena central hidrelétrica no Oeste Baiano.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal de base populacional, com abordagem domiciliar, realizado em uma comunidade ribeirinha de São Desidério - Bahia. Foram entrevistadas 48 famílias ribeirinhas em maio de 2025. A insegurança alimentar foi obtida pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA, uma escala psicométrica que une agrupamentos de conceitos, possibilitando estimar as prevalências de insegurança alimentar, e classificá-la de acordo com os níveis de gravidade (leve, moderada e grave). Bem como foram questionadas as principais atitudes das famílias quando faltou alimentos. Foi realizada análise descritiva dos dados, com distribuição de frequências absolutas e relativas.
Resultados
A situação de insegurança alimentar foi encontrada em 72,9% da população ribeirinha estudada, sendo 43,7% leve, 15,7% moderada e 12,5% grave. As principais atitudes relatadas pelo responsável familiar quando há falta de alimento foram: pedir dinheiro emprestado a familiares e amigos (45,4%), comprar fiado (27,3%), fazer pequenos serviços em troca de alimentos (6,0%). Foram também relatados como atitudes secundárias: deixar de comer alimentos considerados supérfluos ou alimentos como carnes ou frutas e legumes; receber alimentos da comunidade e cadastrar em programas sociais governamentais. Observamos uma prevalência de IA maior do que a observada em todo estado da Bahia em 2022.
Conclusões/Considerações
Evidenciamos a violação do Direito Humano à Alimentação Adequada na população ribeirinha do Oeste Baiano. É essencial a continuidade dos estudos para compreender as particularidades dessa população e a influência das alterações nos seus territórios com a situação de insegurança alimentar observada. De modo que possam contribuir para a implementação de políticas públicas para preservação dos modos de vida e combate à insegurança alimentar.
INSEGURANÇA ALIMENTAR EM FAMÍLIAS QUILOMBOLAS MARAJOARAS: ESTUDO TRANSVERSAL
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal do Pará
Apresentação/Introdução
A insegurança alimentar (IA) é considerada pela Organização das Nações Unidas como um dos desafios a serem combatidos até 2030 para o desenvolvimento sustentável. A IA é especialmente relevante para as comunidades quilombolas do Marajó, no Pará, que, historicamente, enfrentam ameaças territoriais, dificuldades no acesso a políticas públicas e racismo, que impactam diretamente sua saúde.
Objetivos
Descrever o perfil socioeconômico e de IA em comunidades quilombolas marajoaras.
Metodologia
A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) foi aplicada, de junho a julho de 2021, por inquérito domiciliar juntamente com um questionário padronizado com dados sociodemográficos em 14 comunidades remanescentes de quilombos localizadas no município de Salvaterra-Marajó. A amostra estratificada proporcional considerou o número de famílias por comunidade, totalizando o mínimo de 284 famílias. O respondente foi o familiar indicado durante visita em cada domicílio. Para a aplicação do questionário foi utilizado o programa DataScope que permite a coleta de dados offline. A IA foi agrupada em 3 categorias: Segurança alimentar, IA leve e IA moderada/grave.
Resultados
Participaram do estudo 434 famílias, dos quais 79,3% dos respondentes foram mulheres, com mediana de idade de 42 anos (Q25=32,0; Q75=56,0) e 6 anos de estudo regular (Q25=4,0; Q75=11,0). A condição de IA foi identificada em 88,9% das famílias, sendo que mais de metade da população estudada (54,6%) estava em insegurança moderada/grave, 34,3% em insegurança leve e apenas 11,1% das famílias em segurança alimentar. As famílias com IA leve e IA moderada/grave tiveram, respectivamente, maior frequência de moradores menores de 18 anos (75,8%, 70%), classificação econômica dos estratos D/E (91,0%, 96,2%), renda per capita entre R$0,00-R$194,46 (42,3%, 62%) e recebiam Bolsa família (69,1%, 75,1%).
Conclusões/Considerações
A IA entre as comunidades quilombolas no Marajó é elevada comparada a frequência nacional (55,6% em 2011) refletindo a manutenção da vulnerabilidade das comunidades quilombolas no Brasil. A realidade das famílias neste estudo parece ser impactada por condições socioeconômicas que intensificam o risco à falta de acesso à alimentação adequada, mesmo naquelas famílias com acesso a programas de transferência de renda do governo brasileiro.
INSEGURANÇA ALIMENTAR, CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E AUTOPERCEPÇÃO DA QUALIDADE DA ALIMENTAÇÃO EM ENTREGADORES DE COMIDA POR APLICATIVO: ENTREGAS DA FOME
Comunicação Oral Curta
1 UFRJ
2 Fiocruz Brasília e Djanira Instituto de Pesquisa e Ensino
3 UFF
4 PUCPR
Apresentação/Introdução
No Brasil, a pandemia da Covid-19 e a reforma trabalhista foram marcos decisivos para a expansão do uso das plataformas digitais de delivery para obtenção de renda. Nesse contexto, trabalhadores de aplicativos representam um grupo laboral vulnerável, convivendo com a Insegurança Alimentar (InSAn) e, portanto, acessando com maior frequência alimentos ultraprocessados (AUP).
Objetivos
Avaliar a associação entre grau de insegurança alimentar, a frequência de consumo de AUP e a autopercepção da qualidade da alimentação.
Metodologia
Estudo transversal com amostra probabilística e sistemática, realizado em 2024, por meio de entrevista pessoal, com entregadores de comida por aplicativo das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro (>18 anos de idade). A InSAn foi avaliada por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), sendo classificada em: segurança alimentar (SA), insegurança alimentar leve (IAL) e insegurança alimentar moderada/grave (IAMG). A frequência de consumo de AUP na semana anterior à entrevista foi categorizada em nunca/quase nunca, 1-4 dias e 5-7 dias/semana. A autopercepção da qualidade da alimentação foi classificada em “muito boa/boa”; “regular” e “ruim/muito ruim”.
Resultados
A maioria dos entregadores tinha até 29 anos de idade (60%), 89% eram homem cis, 43% pardos, 66% chefes de família e 43% tinham renda familiar per capita entre 1 e 2 salários mínimos. A IAL foi observada em 19% e a IAMG em 13% dos trabalhadores. O consumo em 5-7 dias/semana de macarrão instantâneo (23% vs. 8%) e refresco em pó (44% vs. 27%) foi mais frequente para aqueles em IAMG em relação aos que estavam em SA. O consumo de refrigerante/bebidas à base de guaraná foi relatado em maior proporção em indivíduos em SA em relação aos que estavam em IAL (53% vs. 40%). A autopercepção da alimentação como ruim/muito ruim foi mais frequente em indivíduos em IAMG do que em SA (14% vs. 2%).
Conclusões/Considerações
A autopercepção negativa da qualidade da alimentação foi mais evidente entre os entregadores que relataram IAMG. Contudo, observa-se que o consumo de alimentos ultraprocessados é elevado independentemente do grau de insegurança alimentar nos domicílios, refletindo o impacto da rotina de trabalho intensa dos entregadores e os ambientes alimentares pouco saudáveis nos quais estão inseridos.
O OLHAR INTERSECCIONAL PARA A FOME NO LIVRO QUARTO DE DESPEJO: O DIÁRIO DE UMA FAVELA, DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Comunicação Oral Curta
1 IF Goiano
Período de Realização
A experiência teve início em fevereiro de 2025 e ocorre nos dias atuais.
Objeto da experiência
Grupo de estudos antirracista realizado entre diferentes modalidades de ensino do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí.
Objetivos
O objetivo do trabalho é apresentar e discutir a Insegurança Alimentar e Nutricional, na perspectiva do livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Busca-se assim relacionar as determinações de raça, gênero e classe e a condição da fome
Metodologia
A experiência ocorreu no contexto do grupo Mulungu Formação Antirracista, projeto de ensino do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, o qual envolve docentes e discentes. Durante a experiência, são realizados encontros quinzenais para discutir a temática racial a partir da escrevivência negra, e impactos do racismo na saúde. As discussões são apoiadas na leitura de obras de autores e autoras negros. Este relato traz reflexões sobre a obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus.
Resultados
Em um dos encontros discutiu-se as relações entre Insegurança Alimentar e Nutricional e determinações sociais de raça, gênero e classe na obra de Carolina. As discussões partiram de trechos como: “Lutava contra a escravatura atual: a fome.”, “O meu estômago está roncando, e eu tenho que fingir que não ouço.”, “De manhã estou sempre nervosa, com medo de não arranjar dinheiro para comprar o que comer.” e “Hoje não temos nada para comer.”, “O mundo é como o branco quer.”, “O pobre não repousa.”
Análise Crítica
A Insegurança Alimentar e Nutricional é caracterizada pela falta de acesso regular e permanente a alimentos de qualidade. Em Quarto de Despejo, Carolina expõe mazelas sociais vivenciadas sobretudo por pessoas pretas, em extrema pobreza e do sexo feminino. A obra possibilitou um olhar interseccional para a fome, como consequência direta de estruturas sociais racistas, patriarcais e classistas, especialmente no que se refere à população negra do sexo feminino, grupo mais exposto a fome.
Conclusões e/ou Recomendações
Determinantes sociais como raça, gênero e classe social não atuam isoladamente, mas se combinam e se influenciam mutuamente nas experiências das pessoas. A experiência contribuiu com reflexões sobre como os sistemas de opressão implicam no acesso a alimentos adequados. A reflexão evidencia que o enfrentamento da Insegurança Alimentar e Nutricional nas políticas públicas, exige um olhar interseccional sobre as condições de vida da população.
ANÁLISE DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS DE ACORDO COM NÍVEIS DE (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR ENTRE 2019 E 2022 NO SEMIÁRIDO PARAIBANO
Comunicação Oral Curta
1 FSP - USP
2 CES - UFCG
Apresentação/Introdução
A insegurança alimentar (IA) é definida como a preocupação e/ou privação ao acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. Diante disso, a IA é considerada um fenômeno complexo e multifatorial, relacionado ao consumo alimentar inadequado. Com o advento da pandemia da COVID-19, o número de famílias em algum nível de IA aumentou, corroborando para a dificuldade no acesso à alimentos.
Objetivos
Analisar a frequência do consumo alimentar de indivíduos adultos de acordo com os níveis de (in)segurança alimentar nos anos de 2019 e 2022 no semiárido paraibano.
Metodologia
Este estudo é parte da coorte SANCUITÉ (2011-2022), com utilização de dados das etapas de 2019 e 2022, coletados por entrevistas presenciais nas residências. A IA foi mensurada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. O consumo alimentar foi avaliado por um questionário de frequência alimentar correspondente aos três meses que antecederam a pesquisa, com 57 alimentos agrupados em 13 grupos, classificados por frequência (nunca ou pouco frequente e semanal/diário). Para a análise estatística, utilizou-se o modelo de equações de estimativas generalizadas (GEE) com link logit, adotando-se como significativo valores de p<0,05.
Resultados
A amostra foi composta por 190 indivíduos, majoritariamente mulheres (88,4%) e pessoas autodeclaradas pretas e pardas (64,7%). Famílias com renda per capita menor que ¼ do salário mínimo aumentaram de 82,6% (2019) para 87,8% (2022). A IA em algum grau aumentou de 35,8% (2019) para 46,8% (2022), com a IA leve passando de 20,5% (2019) para 30,0% (2022). IA moderada ou grave reduz em 75% a chance de consumo semanal/diário de raízes e tubérculos (IC95%: 0,07–0,91; p=0,035) e em 80% a de frutas (IC95%: 0,04–0,89; p=0,035), comparado a pessoas em SA. IA leve associa-se a 54% menos chance de consumo semanal/diário de leguminosas (IC95%: 0,25–0,84; p=0,012), comparado a indivíduos em SA.
Conclusões/Considerações
Os resultados encontrados neste estudo são influenciados, principalmente, pela pandemia da COVID-19, que corroborou para a piora do estado de saúde e social da população, afetando o acesso à alimentos das famílias. Diante disso, programas de transferência de renda e políticas públicas de combate à fome e a pobreza são imprescindíveis para a melhoria e superação desse problema, garantindo e assegurando os direitos básicos desses cidadãos.

Realização: