Programa - Comunicação Oral Curta - COC2.7 - Insegurança alimentar em populações vulnerabilizadas
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
08:30 - 10:00
A INVISIBILIDADE DO IMBRICAMENTO ENTRE INSEGURANÇA ALIMENTAR, ACESSO À TERRA E TERRITÓRIO NO CAMPO DA SAÚDE.
Comunicação Oral Curta
Valverde, L. S.1, Rodrigues, C. S.2, Oliveira, R. O.1, Souza, K. R.3
1 ENSP/Fiocruz
2 UFBA
3 ENP/Fiocruz
Apresentação/Introdução
Embora a fome e a insegurança alimentar e nutricional (IAN) sejam fenômenos complexos, com dimensões econômica, alimentar e biológica, ligadas à produção, distribuição, aquisição e consumo de alimentos, o campo da saúde tende a abordá-los apenas sob a ótica do consumo, com base no paradigma biológico, negligenciando aspectos simbólicos, sociais e estruturais, como o acesso à terra e ao território.
Objetivos
Realizar um levantamento e análise da produção científica na área da saúde que aborde a relação entre fome e insegurança alimentar e nutricional com o acesso à terra e ao território no Brasil
Metodologia
Trata-se de um levantamento bibliográfico para fundamentar a pesquisa de doutorado, na qual investiga-se o imbricamento entre a fome e a insegurança alimentar e nutricional com a desigualdade no acesso à terra e ao território. Para o levantamento foram acessadas cinco bases de dados (Web of Science, Pubmed, Scopus, Portal BVS, OASIS), utilizando os seguintes descritores: Saúde; Saúde Coletiva; Insegurança Alimentar; Segurança Alimentar (SAN); Território; Fome.
Resultados
Foram identificados 485 estudos, com 120 duplicatas, totalizando 365 trabalhos. Excluíram-se textos estrangeiros, dissertações, teses e trabalhos que não abordavam a relação entre as temáticas, resultando quatro artigos em português. Um dos artigos critica a abordagem hegemônica da nutrição sobre a SAN e aponta três falhas do sistema produtivo, incluindo o mau uso da terra. O segundo, um ensaio, analisa as interseções entre racismo, capitalismo e a crise da fome no contexto pós-pandemia. O terceiro discute a articulação entre SAN, produção quilombola e Alimentação Escolar. O último propõe a integração entre saúde coletiva e agroecologia como base para sistemas alimentares sustentáveis.
Conclusões/Considerações
Embora o acesso à terra e território não sejam foco central dos artigos encontrados, ele é reconhecido como um elemento relevante no contexto da SAN e da IAN. Os resultados indicam baixa literatura, no campo da Saúde, que relacione essas dimensões, revelando o predomínio de enfoques voltados a outros fatores e a negligência de determinantes estruturais. Dimensionar esse entrelaçamento é fundamental para transformar o cenário alimentar brasileiro
AVALIAÇÃO DA INSEGURANÇA ALIMENTAR E SOBREPOSIÇÃO DE VULNERABILIDADES SOCIAIS: DADOS DO INQSAN-SEMIÁRIDO
Comunicação Oral Curta
Gomes, S. M. B.1, Santos, A. B. M. V.2, Brito, R. C. S.2, Palmeira, P. A.2
1 UFPB
2 UFCG
Apresentação/Introdução
A insegurança alimentar (IA) reflete a falta de acesso regular e suficiente a alimentos e, apesar do acesso à alimentação ser um direito constitucional desde 2010, a IA representa um problema mais presente entre mulheres, pessoas com renda baixa, baixa escolaridade e moradia rural. A interseccionalidade entre estas características provoca diferentes dinâmicas que agravam a IA.
Objetivos
Analisar a prevalência de IA diante de cenários de sobreposição de vulnerabilidades sociais relacionadas com área de moradia, renda, escolaridade e gênero e acesso a programas governamentais no semiárido nordestino do Brasil, em 2022.
Metodologia
Estudo transversal, de base populacional, em dois municípios do semiárido nordestino (Cuité/PB e Santa Cruz/RN), com amostragem estratificada e ponderação por expansão. A amostra foi estratificada por área urbana e rural. Foram entrevistadas 741 famílias em Cuité e 259 em Santa Cruz. Utilizou-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar para a mensuração da IA em quatro níveis. Avaliou-se o acesso a cerca de 25 programas governamentais relacionados à SAN. Probabilidades preditas da IA foram estimadas a partir da regressão logística segundo a sobreposição de até quatro vulnerabilidades (gênero feminino, moradia rural, baixa renda e baixa escolaridade).
Resultados
A IA grave foi observada entre domicílios com renda per capita ≤½ salário mínimo (75,9%), da zona rural (39,7%), pessoas com baixa escolaridade (81,4%), mulheres (88,2%) e pessoas não brancas (72,9%). Verificou-se média de acesso a programas governamentais ±6.3. A probabilidade predita de IA aumenta à medida que as vulnerabilidades estudadas se sobrepõem, em domicílios cujo a responsável é mulher que reside na região rural, com baixa renda e escolaridade a probabilidade de IA moderada e grave aumenta +24% e +19,6%, respectivamente. O mesmo ocorre com o acesso aos programas, com média de 6,7 entre domicílios com 4 vulnerabilidades.
Conclusões/Considerações
Os resultados mostram que, no semiárido, a IA é atravessada por iniquidades sociais e desigualdades estruturais e interseccionais. A sobreposição destas vulnerabilidades aumenta expressivamente a probabilidade de ter IA grave, reforçando a necessidade do fortalecimento urgente do SISAN e de ações e políticas estruturais que considerem essas iniquidades e fatores interseccionais no planejamento para a garantia do Direito à Alimentação Adequada.
DUPLA CARGA DE MÁ NUTRIÇÃO ENTRE CRIANÇAS RURAIS RIBEIRINHAS DA AMAZÔNIA
Comunicação Oral Curta
Bernardino, L. M. F. S.1, Abreu, F. M.1, Pereira, L. L.1, Lopes, A. F.2, Vettore, M. V.3, Herkrath, F. J.1, Siqueira, J. H.1
1 Instituto Leônidas e Maria Deane (Fundação Oswaldo Cruz)
2 Universidade Federal de Santa Maria
3 Aarhus University
Apresentação/Introdução
A dupla carga de má nutrição em crianças que residem em localidades rurais ribeirinhas na Amazônia reflete desigualdades sociais e mudanças nos hábitos alimentares. Investigar a magnitude dessa condição em áreas rurais remotas é essencial para compreender os impactos da transição nutricional em populações vulneráveis e negligenciadas, bem como orientar políticas públicas eficazes.
Objetivos
Caracterizar o perfil sociodemográfico, de hábitos de vida e o estado nutricional de crianças residentes em localidades rurais ribeirinhas da Amazônia.
Metodologia
Estudo transversal de base escolar conduzido com crianças (5 a 10 anos de idade) de 6 escolas situadas em localidades rurais ribeirinhas de Coari/AM. Variáveis sociodemográficas (idade, sexo, renda, escolaridade do responsável, bolsa família, insegurança alimentar) e comportamentais (contexto alimentar, marcadores de dieta saudável/não saudável, tempo de tela) foram coletadas por meio de entrevista com crianças/responsáveis. Peso corporal e estatura foram aferidos para classificação dos indicadores IMC/idade (excesso de peso: não/sim) e estatura/idade (desnutrição crônica: não/sim) de acordo com as curvas da OMS. A coleta foi realizada em 2024 (março a julho). Realizou-se análise descritiva.
Resultados
128 escolares (7,8±1,7 anos; 53,0% sexo masculino; 87,5% pardos), cuja renda média foi R$1.624±794, 42,3% dos responsáveis tinham menos de 9 anos de estudo e 88,3% estavam cadastrados no Bolsa Família. Cerca de 42%, 46%, 48% dos escolares relataram não consumir regularmente (<5 vezes/sem), fruta, leite e peixe, respectivamente. Cerca de 53% consumiram ≥5 ultraprocessados no dia anterior à entrevista, 58% não atenderam à recomendação de tempo de tela (≥2h/dia) e 18% se alimentavam diante de telas. A desnutrição, o excesso de peso e a insegurança alimentar foram evidenciados em cerca de 8%, 22% e 91% respectivamente. Entre as crianças em insegurança alimentar, 22% apresentaram excesso de peso.
Conclusões/Considerações
A baixa renda, falta de infraestrutura básica e a carga de má nutrição, verificada pela elevada prevalência de excesso de peso, desnutrição crônica e insegurança alimentar, evidenciam uma realidade sociossanitária preocupante. Este estudo visa ampliar o conhecimento sobre a situação socioeconômica, os hábitos de vida e o estado nutricional de crianças ribeirinhas, contribuindo para o aprimoramento de políticas públicas sociais, de saúde e nutrição.
INSEGURANÇA ALIMENTAR E PADRÕES DE CONSUMO EM UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA DA AMAZÔNIA: UM ESTUDO NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TUPÉ
Comunicação Oral Curta
Monteiro, A.X.1, Guimarães, A.C.1, Moreira,H.F.2, Nina, S.F.M.1
1 UEA
2 UFAM
Apresentação/Introdução
A garantia da segurança alimentar como direito humano exige esforços coordenados entre governos, organizações internacionais e sociedade civil, com vistas à a criação de sistemas alimentares equitativos, sustentáveis e resilientes, capazes de fornecer alimentos saudáveis e acessíveis a todos, independentemente de seus contextos socioeconômicos.
Objetivos
Este estudo teve como objetivo avaliar a insegurança alimentar e os padrões de consumo alimentar na comunidade ribeirinha de Nossa Senhora do Livramento, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, em Manaus, Amazonas.
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional, descritivo e quantitativo, realizado na comunidade ribeirinha Nossa Senhora do Livramento, em Manaus, Amazonas. Utilizou-se a técnica de amostragem em bola de neve, com coleta de dados domiciliar, sendo entrevistado um representante de cada família residente permanente na comunidade. Aplicaram-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar e o Questionário de Frequência Alimentar para avaliação das condições alimentares das famílias. Os dados foram analisados descritivamente utilizando os softwares R e RStudio. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas parecer n.º 6.097.815.
Resultados
Participaram do estudo 28 famílias, com um representante por domicílio. Observou-se que 78,6% das famílias apresentaram algum nível de insegurança alimentar, sendo 28,6% de insegurança grave. O grupo alimentar mais frequentemente consumido pelos participantes foi Farinhas/Pães, com 100% dos entrevistados relatando o consumo diário, seguido por Arroz/Macarrão com 88,5%. Entre os alimentos proteicos, os ovos se destacaram com 87,0% dos entrevistados indicando consumo diário. Entre os alimentos amazônicos o tucumã teve destaque, sendo consumido diariamente por 65,4% das famílias.
Conclusões/Considerações
Este estudo revelou uma dieta predominantemente à base de carboidratos e alimentos amazônicos, com menor ingestão de proteínas e industrializados, refletindo as restrições econômicas e logísticas da comunidade. Os achados ressaltam a urgência de políticas públicas específicas voltadas à segurança alimentar das populações ribeirinhas da Amazônia.
INSEGURANÇA ALIMENTAR EM COMUNIDADE RIBEIRINHA A JUSANTE DE PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA NO OESTE BAIANO
Comunicação Oral Curta
SILVA, E. K. P.1, SOUZA, A. C. P.1, SOUZA, J. S.1, BARROSO, L. B. S.1, SANTOS, T. S.1, CASTRO, L. V.1, MACHADO, B. D. C.1, BRANDÃO, M. E. P.1, ROCHA, E. L. S.1, CALDEIRA, C. S.1
1 UFOB
Apresentação/Introdução
A expansão do agronegócio sobre o Cerrado brasileiro, provocou diversas alterações nos modos de vida dos povos tradicionais ribeirinhos, seja pelas consequências do desmatamento e perda da biodiversidade ou pela intensificação dos conflitos relacionados às terras e às águas. A insegurança alimentar (IA), desde a preocupação com a falta de alimentos até a fome, é um indicador de iniquidade social.
Objetivos
Estimar a prevalência de insegurança alimentar em uma comunidade ribeirinha a jusante de pequena central hidrelétrica no Oeste Baiano.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal de base populacional, com abordagem domiciliar, realizado em uma comunidade ribeirinha de São Desidério - Bahia. Foram entrevistadas 48 famílias ribeirinhas em maio de 2025. A insegurança alimentar foi obtida pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA, uma escala psicométrica que une agrupamentos de conceitos, possibilitando estimar as prevalências de insegurança alimentar, e classificá-la de acordo com os níveis de gravidade (leve, moderada e grave). Bem como foram questionadas as principais atitudes das famílias quando faltou alimentos. Foi realizada análise descritiva dos dados, com distribuição de frequências absolutas e relativas.
Resultados
A situação de insegurança alimentar foi encontrada em 72,9% da população ribeirinha estudada, sendo 43,7% leve, 15,7% moderada e 12,5% grave. As principais atitudes relatadas pelo responsável familiar quando há falta de alimento foram: pedir dinheiro emprestado a familiares e amigos (45,4%), comprar fiado (27,3%), fazer pequenos serviços em troca de alimentos (6,0%). Foram também relatados como atitudes secundárias: deixar de comer alimentos considerados supérfluos ou alimentos como carnes ou frutas e legumes; receber alimentos da comunidade e cadastrar em programas sociais governamentais. Observamos uma prevalência de IA maior do que a observada em todo estado da Bahia em 2022.
Conclusões/Considerações
Evidenciamos a violação do Direito Humano à Alimentação Adequada na população ribeirinha do Oeste Baiano. É essencial a continuidade dos estudos para compreender as particularidades dessa população e a influência das alterações nos seus territórios com a situação de insegurança alimentar observada. De modo que possam contribuir para a implementação de políticas públicas para preservação dos modos de vida e combate à insegurança alimentar.
INSEGURANÇA ALIMENTAR EM FAMÍLIAS QUILOMBOLAS MARAJOARAS: ESTUDO TRANSVERSAL
Comunicação Oral Curta
Santos, R.P.1, Tavares, V.B.1, Castelo-Branco, S.1
1 Universidade Federal do Pará
Apresentação/Introdução
A insegurança alimentar (IA) é considerada pela Organização das Nações Unidas como um dos desafios a serem combatidos até 2030 para o desenvolvimento sustentável. A IA é especialmente relevante para as comunidades quilombolas do Marajó, no Pará, que, historicamente, enfrentam ameaças territoriais, dificuldades no acesso a políticas públicas e racismo, que impactam diretamente sua saúde.
Objetivos
Descrever o perfil socioeconômico e de IA em comunidades quilombolas marajoaras.
Metodologia
A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) foi aplicada, de junho a julho de 2021, por inquérito domiciliar juntamente com um questionário padronizado com dados sociodemográficos em 14 comunidades remanescentes de quilombos localizadas no município de Salvaterra-Marajó. A amostra estratificada proporcional considerou o número de famílias por comunidade, totalizando o mínimo de 284 famílias. O respondente foi o familiar indicado durante visita em cada domicílio. Para a aplicação do questionário foi utilizado o programa DataScope que permite a coleta de dados offline. A IA foi agrupada em 3 categorias: Segurança alimentar, IA leve e IA moderada/grave.
Resultados
Participaram do estudo 434 famílias, dos quais 79,3% dos respondentes foram mulheres, com mediana de idade de 42 anos (Q25=32,0; Q75=56,0) e 6 anos de estudo regular (Q25=4,0; Q75=11,0). A condição de IA foi identificada em 88,9% das famílias, sendo que mais de metade da população estudada (54,6%) estava em insegurança moderada/grave, 34,3% em insegurança leve e apenas 11,1% das famílias em segurança alimentar. As famílias com IA leve e IA moderada/grave tiveram, respectivamente, maior frequência de moradores menores de 18 anos (75,8%, 70%), classificação econômica dos estratos D/E (91,0%, 96,2%), renda per capita entre R$0,00-R$194,46 (42,3%, 62%) e recebiam Bolsa família (69,1%, 75,1%).
Conclusões/Considerações
A IA entre as comunidades quilombolas no Marajó é elevada comparada a frequência nacional (55,6% em 2011) refletindo a manutenção da vulnerabilidade das comunidades quilombolas no Brasil. A realidade das famílias neste estudo parece ser impactada por condições socioeconômicas que intensificam o risco à falta de acesso à alimentação adequada, mesmo naquelas famílias com acesso a programas de transferência de renda do governo brasileiro.
INSEGURANÇA ALIMENTAR, CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E AUTOPERCEPÇÃO DA QUALIDADE DA ALIMENTAÇÃO EM ENTREGADORES DE COMIDA POR APLICATIVO: ENTREGAS DA FOME
Comunicação Oral Curta
Sousa, A. L. B.1, Rodrigues, G. G. B.1, Alves, I. A.1, Pereira, R. A.1, Lopes, T. S.1, Cravo, G. L. S. B. C.1, Frozi, D. S.2, Bessa, A. C.3, Daefenback, V.4
1 UFRJ
2 Fiocruz Brasília e Djanira Instituto de Pesquisa e Ensino
3 UFF
4 PUCPR
Apresentação/Introdução
No Brasil, a pandemia da Covid-19 e a reforma trabalhista foram marcos decisivos para a expansão do uso das plataformas digitais de delivery para obtenção de renda. Nesse contexto, trabalhadores de aplicativos representam um grupo laboral vulnerável, convivendo com a Insegurança Alimentar (InSAn) e, portanto, acessando com maior frequência alimentos ultraprocessados (AUP).
Objetivos
Avaliar a associação entre grau de insegurança alimentar, a frequência de consumo de AUP e a autopercepção da qualidade da alimentação.
Metodologia
Estudo transversal com amostra probabilística e sistemática, realizado em 2024, por meio de entrevista pessoal, com entregadores de comida por aplicativo das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro (>18 anos de idade). A InSAn foi avaliada por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), sendo classificada em: segurança alimentar (SA), insegurança alimentar leve (IAL) e insegurança alimentar moderada/grave (IAMG). A frequência de consumo de AUP na semana anterior à entrevista foi categorizada em nunca/quase nunca, 1-4 dias e 5-7 dias/semana. A autopercepção da qualidade da alimentação foi classificada em “muito boa/boa”; “regular” e “ruim/muito ruim”.
Resultados
A maioria dos entregadores tinha até 29 anos de idade (60%), 89% eram homem cis, 43% pardos, 66% chefes de família e 43% tinham renda familiar per capita entre 1 e 2 salários mínimos. A IAL foi observada em 19% e a IAMG em 13% dos trabalhadores. O consumo em 5-7 dias/semana de macarrão instantâneo (23% vs. 8%) e refresco em pó (44% vs. 27%) foi mais frequente para aqueles em IAMG em relação aos que estavam em SA. O consumo de refrigerante/bebidas à base de guaraná foi relatado em maior proporção em indivíduos em SA em relação aos que estavam em IAL (53% vs. 40%). A autopercepção da alimentação como ruim/muito ruim foi mais frequente em indivíduos em IAMG do que em SA (14% vs. 2%).
Conclusões/Considerações
A autopercepção negativa da qualidade da alimentação foi mais evidente entre os entregadores que relataram IAMG. Contudo, observa-se que o consumo de alimentos ultraprocessados é elevado independentemente do grau de insegurança alimentar nos domicílios, refletindo o impacto da rotina de trabalho intensa dos entregadores e os ambientes alimentares pouco saudáveis nos quais estão inseridos.
O OLHAR INTERSECCIONAL PARA A FOME NO LIVRO QUARTO DE DESPEJO: O DIÁRIO DE UMA FAVELA, DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Comunicação Oral Curta
Santana, L.S.O.1, Silva, G.F.1, Silva, K.C.C.1, Silva L.M.1, Silva, K.C.B.1, Santos, J.K.D.1, Nunes, G.M.V.1, Leigue, K.P.A.C.1, Oliveira, I.G.1
1 IF Goiano
Período de Realização
A experiência teve início em fevereiro de 2025 e ocorre nos dias atuais.
Objeto da experiência
Grupo de estudos antirracista realizado entre diferentes modalidades de ensino do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí.
Objetivos
O objetivo do trabalho é apresentar e discutir a Insegurança Alimentar e Nutricional, na perspectiva do livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Busca-se assim relacionar as determinações de raça, gênero e classe e a condição da fome
Metodologia
A experiência ocorreu no contexto do grupo Mulungu Formação Antirracista, projeto de ensino do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, o qual envolve docentes e discentes. Durante a experiência, são realizados encontros quinzenais para discutir a temática racial a partir da escrevivência negra, e impactos do racismo na saúde. As discussões são apoiadas na leitura de obras de autores e autoras negros. Este relato traz reflexões sobre a obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus.
Resultados
Em um dos encontros discutiu-se as relações entre Insegurança Alimentar e Nutricional e determinações sociais de raça, gênero e classe na obra de Carolina. As discussões partiram de trechos como: “Lutava contra a escravatura atual: a fome.”, “O meu estômago está roncando, e eu tenho que fingir que não ouço.”, “De manhã estou sempre nervosa, com medo de não arranjar dinheiro para comprar o que comer.” e “Hoje não temos nada para comer.”, “O mundo é como o branco quer.”, “O pobre não repousa.”
Análise Crítica
A Insegurança Alimentar e Nutricional é caracterizada pela falta de acesso regular e permanente a alimentos de qualidade. Em Quarto de Despejo, Carolina expõe mazelas sociais vivenciadas sobretudo por pessoas pretas, em extrema pobreza e do sexo feminino. A obra possibilitou um olhar interseccional para a fome, como consequência direta de estruturas sociais racistas, patriarcais e classistas, especialmente no que se refere à população negra do sexo feminino, grupo mais exposto a fome.
Conclusões e/ou Recomendações
Determinantes sociais como raça, gênero e classe social não atuam isoladamente, mas se combinam e se influenciam mutuamente nas experiências das pessoas. A experiência contribuiu com reflexões sobre como os sistemas de opressão implicam no acesso a alimentos adequados. A reflexão evidencia que o enfrentamento da Insegurança Alimentar e Nutricional nas políticas públicas, exige um olhar interseccional sobre as condições de vida da população.
ANÁLISE DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS DE ACORDO COM NÍVEIS DE (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR ENTRE 2019 E 2022 NO SEMIÁRIDO PARAIBANO
Comunicação Oral Curta
MARTINS-COSTA, I. M. O.1, PALMEIRA, P. A.2, MACHADO, A. D.1
1 FSP - USP
2 CES - UFCG
Apresentação/Introdução
A insegurança alimentar (IA) é definida como a preocupação e/ou privação ao acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. Diante disso, a IA é considerada um fenômeno complexo e multifatorial, relacionado ao consumo alimentar inadequado. Com o advento da pandemia da COVID-19, o número de famílias em algum nível de IA aumentou, corroborando para a dificuldade no acesso à alimentos.
Objetivos
Analisar a frequência do consumo alimentar de indivíduos adultos de acordo com os níveis de (in)segurança alimentar nos anos de 2019 e 2022 no semiárido paraibano.
Metodologia
Este estudo é parte da coorte SANCUITÉ (2011-2022), com utilização de dados das etapas de 2019 e 2022, coletados por entrevistas presenciais nas residências. A IA foi mensurada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. O consumo alimentar foi avaliado por um questionário de frequência alimentar correspondente aos três meses que antecederam a pesquisa, com 57 alimentos agrupados em 13 grupos, classificados por frequência (nunca ou pouco frequente e semanal/diário). Para a análise estatística, utilizou-se o modelo de equações de estimativas generalizadas (GEE) com link logit, adotando-se como significativo valores de p<0,05.
Resultados
A amostra foi composta por 190 indivíduos, majoritariamente mulheres (88,4%) e pessoas autodeclaradas pretas e pardas (64,7%). Famílias com renda per capita menor que ¼ do salário mínimo aumentaram de 82,6% (2019) para 87,8% (2022). A IA em algum grau aumentou de 35,8% (2019) para 46,8% (2022), com a IA leve passando de 20,5% (2019) para 30,0% (2022). IA moderada ou grave reduz em 75% a chance de consumo semanal/diário de raízes e tubérculos (IC95%: 0,07–0,91; p=0,035) e em 80% a de frutas (IC95%: 0,04–0,89; p=0,035), comparado a pessoas em SA. IA leve associa-se a 54% menos chance de consumo semanal/diário de leguminosas (IC95%: 0,25–0,84; p=0,012), comparado a indivíduos em SA.
Conclusões/Considerações
Os resultados encontrados neste estudo são influenciados, principalmente, pela pandemia da COVID-19, que corroborou para a piora do estado de saúde e social da população, afetando o acesso à alimentos das famílias. Diante disso, programas de transferência de renda e políticas públicas de combate à fome e a pobreza são imprescindíveis para a melhoria e superação desse problema, garantindo e assegurando os direitos básicos desses cidadãos.