Programa - Comunicação Oral Curta - COC33.2 - Vivências e panorama das questões relacionadas ao álcool e outras drogas
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
CONSUMO EPISÓDICO PESADO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS NO BRASIL: AUMENTO DAS DESIGUALDADES ENTRE MULHERES
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia.
2 Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem, Departamento de Nutrição
3 Ministério da Saúde, Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis
4 Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição. Departamento de Nutrição Social
5 Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem. Departamento de Nutrição
Apresentação/Introdução
O consumo de bebidas alcoólicas resulta em danos sociais, econômicos e à saúde do indivíduo. Estudos no Brasil mostram o crescimento do consumo episódico pesado, sobretudo entre mulheres, mas há lacunas sobre sua evolução em diferentes contextos socioeconômicos. Analisar essas desigualdades é essencial para orientar políticas eficazes, sem deixar nenhum grupo à margem.
Objetivos
Analisar as tendências de desigualdades por escolaridade na prevalência do consumo episódico pesado de álcool, entre adultos (18 anos ou mais de idade), residentes nas 26 capitais dos estados brasileiros e no Distrito Federal, entre 2006 e 2023.
Metodologia
Utilizando dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), foi calculada a prevalência anual de consumo episódico pesado de bebidas alcoólicas (cinco ou mais doses para homens ou quatro ou mais doses para mulheres em uma única ocasião). Modelos de regressão Prais-Winsten identificaram variações temporais entre 2006 e 2023 para o total, sexo (masculino e feminino) e escolaridade (0-3, 4-8, 9-11, 12 anos ou mais de estudo). Para avaliar as desigualdades por escolaridade, foi calculado o Slope Index of Inequality (SII).
Resultados
A prevalência total aumentou de 15,7% em 2006 para 20,8% em 2023 (0,21 pp/ano). Houve aumento entre mulheres (7,8% para 15,2%) e entre adultos com 9-11 anos (17,0% para 22,1%) e 12 anos ou mais de estudo (18,1% para 24,0%). Em relação aos subgrupos por escolaridade, o aumento foi mais acentuado entre mulheres com 12 anos ou mais de estudo (9,1% para 18,9%), enquanto entre homens, observou-se redução naqueles com até 8 anos de estudo. A desigualdade por escolaridade aumentou. Em 2023, a prevalência entre adultos com 12 anos ou mais de estudo foi 13 pp superior à dos com 0–3 anos. Entre as mulheres, essa desigualdade cresceu de forma mais intensa: 0,39pp/ano (SII 2006: 5,9pp; 12,4pp em 2023).
Conclusões/Considerações
Os resultados evidenciam um aumento geral na prevalência do consumo episódico pesado de álcool, com destaque para o crescimento entre mulheres e indivíduos com maior escolaridade. Ao mesmo tempo, observou-se um agravamento das desigualdades por escolaridade, especialmente entre as mulheres, reforçando a necessidade de políticas públicas que considerem as especificidades dos diferentes grupos socioeconômicos.
ENTRE A DOR E O ESTIGMA: MULHERES EM USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NO PROCESSO DE GESTAR, PARIR E CUIDAR
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal de Goiás - UFG
2 Pontifíca Universidade Católica de Goiás
3 Universidade Estácio de Sá
4 Centro Universitário Fametro
Período de Realização
Ocorreu entre setembro de 2023 a fevereiro de 2025 em um hospital da mulher e maternidade pública de Goiás.
Objeto da experiência
Atuação da psicologia com mulheres que utilizavam substâncias psicoativas durante a gestação, parto e cuidado neonatal.
Objetivos
Compreender os impactos físicos, emocionais e sociais do uso de substâncias por mulheres durante o ciclo gravídico-puerperal, analisando como o estigma interfere no acesso aos serviços de saúde e no exercício da maternidade em contextos de vulnerabilidade social.
Metodologia
Os atendimentos ocorreram na emergência, Centro de Parto Normal - CPN, Alojamento Conjunto - ALCON e Unidade de Terapia Intensiva - UTI adulta. O foco foi identificar vivências relacionadas ao gestar, parir e cuidar, em meio à dor, ao preconceito e à exclusão social. As narrativas evidenciam o conflito entre o desejo de maternar e as barreiras institucionais e sociais impostas pelo estigma do uso de drogas durante a maternidade.
Resultados
Verificou-se que o estigma direcionado a essas mulheres dificulta o acesso humanizado aos serviços de saúde, prejudica vínculos familiares e contribui para o afastamento mãe-bebê. Foi avaliado na maioria dos casos o desejo de exercerem a maternidade, o suporte psicológico foi fundamental para mediação da comunicação com a equipe e construção de estratégias para desospitalização em diálogo com a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS.
Análise Crítica
A experiência revelou a urgência de romper com discursos moralizantes que culpabilizam essas mulheres, impedindo a construção de estratégias de cuidado eficazes. A escuta sensível e o respeito à subjetividade são fundamentais para promover autonomia e protagonismo. A interseccionalidade entre gênero, pobreza e uso de substâncias psicoativas precisa ser considerada para a alta hospitalar responsável.
Conclusões e/ou Recomendações
É necessário ampliar políticas intersetoriais de cuidado, com enfoque na redução de danos, assistência social e saúde mental. Recomenda-se a formação de profissionais para atuação ética, livre de preconceitos, e o fortalecimento de redes de apoio que valorizem a mulher em seu contexto. Garantir o direito de maternar é também uma forma de cuidado integral.
IMPLEMENTAÇÃO INICIAL DE UMA INTERVENÇÃO MULTICOMPONENTE PARA PREVENÇÃO DO USO DE ÁLCOOL ENTRE ADOLESCENTES: RELATO DO PROJETO PREVACTION
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal do Ceará
Apresentação/Introdução
Intervenções multicomponentes são promissoras na prevenção ao uso de álcool por adolescentes, ao integrarem a comunidade e fatores externos e ambientais. No Brasil, desafios como descontinuidade e baixa articulação intersetorial dificultam a implementação sustentável dessas estratégias. O Projeto PrevAction busca superar essas barreiras, considerando a participação ativa de stakeholders.
Objetivos
Descrever as etapas iniciais de implementação do Projeto PrevAction, abordando a mobilização intersetorial, a formação do comitê gestor, a participação de adolescentes e famílias e os desafios enfrentados para a adaptação ao contexto local.
Metodologia
Estudo híbrido de eficácia-implementação do tipo 2, composto por um ensaio controlado e um teste de implementação utilizando a estrutura RE-AIM (Alcance, Eficácia, Adoção, Implementação e Manutenção), com abordagem de métodos mistos. As etapas desenvolvidas são orientadas pelo ciclo de implementação da Organização Mundial de Saúde, a saber: Fase 1- Identificação de uma intervenção adequada; Fase 2- Adaptação e piloto da intervenção; Fase 3- implementação e avaliação da intervenção e Fase 4- Ampliação e disseminação. O estudo ocorre também em São Paulo e Maputo, Moçambique.
Resultados
Na Fase 1, foram selecionadas as intervenções #Tamojunto2.0 e Famílias Fortes. Nesse momento, realizou-se o mapeamento de stakeholders e formação de comitê gestor intersetorial. Foi realizada a análise situacional por meio de grupos focais com adolescentes, familiares e gestores. Na Fase 2, iniciou-se a adaptação e implementação piloto em Chorozinho (intervenção) no Ceará, e as escolas iniciaram a implementação do #Tamojunto2.0, demonstrando alta receptividade e colaboração ao integrarem as atividades ao calendário letivo. A coleta de linha de base foi concluída pela equipe de pesquisa por meio de um instrumento EU-DAP adaptado. A definição das estratégias ambientais segue em co-construção.
Conclusões/Considerações
A experiência inicial do Projeto PrevAction evidencia que a articulação intersetorial, a escuta qualificada de adolescentes e famílias e a adaptação às realidades locais são fundamentais para o sucesso de estratégias de prevenção ao uso de álcool. Os achados preliminares apontam caminhos para o fortalecimento de políticas públicas sustentáveis no campo da Promoção da Saúde.
O CONSUMO DE ÁLCOOL E TABACO, E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE MENTAL DE JOVENS UNIVERSITÁRIAS.
Comunicação Oral Curta
1 UEMG
2 UFF
3 SLMANDIC
Apresentação/Introdução
O consumo de álcool e tabaco é um problema de saúde pública mundial. Estudantes universitários apresentam índices elevados em relação à população geral. Sendo mulheres a maior parte do público universitário (57,1%), mostra-se necessário entender de que forma fatores como pressões específicas e o gênero podem influenciar seus padrões de consumo e sua relação com a saúde mental dessas mulheres.
Objetivos
O presente trabalho buscou avaliar o uso de álcool e tabaco, além de alguns indicadores de saúde mental em jovens universitárias brasileiras.
Metodologia
Participaram do estudo 201 universitárias que faziam uso regular de álcool e/ou tabaco. Foram aplicados de forma on-line entre abril/2024 e agosto/2024, um questionário sociodemográfico, e instrumentos para avaliar padrões de consumo e fatores psicológicos. Utilizou-se a Escala de Razões para Fumar Modificada que investiga elementos motivacionais ligados ao tabagismo, e o teste de Fargeström que visa medir o grau de dependência. Ao álcool temos a Escala AUDIT que avalia a quantidade, frequência, sintomas e problemas relacionados. A saúde mental temos a DASS-21, que avalia sintomas de depressão, ansiedade e estresse, e a Mini-RTM, que avalia sentimentos, uso de álcool, uso de drogas e psicose.
Resultados
A amostra foi composta majoritariamente por mulheres brancas (61,6%) e estudantes de universidades públicas (79,6%). Apenas 31,8% fazem acompanhamento psicológico e 21,4% psiquiátrico. Cerca de 6,97% fazem uso nocivo de álcool e 8,4% apresentam possível dependência. Em relação ao tabaco, 94,5% têm dependência muito baixa. Após o início do consumo, 26,8% relatam impactos diversos no cotidiano. A vida universitária apresenta influência na saúde mental de 68,6% das mulheres, 25,4% usam medicações e 9,9% receberam diagnóstico psiquiátrico após o início do consumo. Cerca de 88% apresentam possibilidade de transtornos, com 21,8% tendo sintomas moderados de depressão e 30,8% ansiedade muito severa.
Conclusões/Considerações
Pode-se entender que o consumo de álcool e tabaco está associado a prejuízos físicos e a sintomas de transtornos psiquiátricos. No contexto universitário, essas substâncias podem funcionar como estratégias de enfrentamento ao estresse e à ansiedade às demandas. Assim, investigar os padrões de consumo contribui para compreender os fatores que impactam a vida acadêmica e social, destacando a importância de ações preventivas e educativas.
PERFIL DE PACIENTES ATENDIDOS EM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – ÁLCOOL E DROGAS NA REGIÃO AMAZÔNICA
Comunicação Oral Curta
1 UFOPA
Apresentação/Introdução
O Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e outras Drogas (CAPS AD) tem papel essencial na rede de atenção psicossocial a ofertar serviços especializados no tratamento de pacientes que utilizam substâncias psicoativas. Nesse centro, a abordagem humanizada a esses pacientes promove a autonomia, apoio e reintegração na sociedade (Vieira et al., 2024).
Objetivos
Caracterizar o perfil sociodemográfico, clínico e laboratorial de pacientes atendidos em um CAPS AD da região oeste do estado do Pará, Amazônia, Brasil.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva e transversal, voltada a usuários de substâncias psicoativas (SPA) atendidos em um CAPS AD no município de Santarém – PA. Foram aplicados questionário para obter dados sociodemográficos e dados clínicos sobre situações de saúde, assim como coleta de material biológico para realização de exames laboratoriais: hematológicos e bioquímicos (glicemia, colesterol, triglicerídeos, ureia, creatinina, ácido úrico, TGP, TGO, bilirrubina direta, indireta e total) e toxicológicos imunocromatográficos para detecção de drogas lícitas e ilícitas. Salienta-se que esta pesquisa foi aprovada previamente em comitê de ética em pesquisa.
Resultados
42 participantes preencheram o questionário e fizeram a coleta de material biológico para a realização dos exames laboratoriais. Os dados sociodemográficos, observou-se o predomínio de homens, 21 e 60 anos, baixa escolaridade e autônomos. Comorbidades: hipertensão, diabetes e doenças psiquiátricas. Quanto aos resultados dos exames laboratoriais: glicemia, colesterol, triglicerídeos e bilirrubinas mostraram-se níveis discretamente elevados e os resultados dos testes toxicológicos de triagem imunocromatográficos foi detectada a cocaína (28,3%) e maconha (18,4%) nas amostras de urina dos pacientes acompanhados pelo CAPS AD, demostrando o uso de SPA durante o tratamento.
Conclusões/Considerações
Nesta pesquisa, notou-se carência de acompanhamento relacionado aos exames laboratoriais dos participantes da pesquisa e necessidade de acompanhamento integral desses pacientes vulnerabilizados atendidos no CAPS AD. Importante destacar a testagem rápida de drogas de abuso, como a cocaína e maconha, visto ser um passo importante e fácil detecção, contribuindo na efetividade do tratamento nos centros de reabilitação.
PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS AO USO PESADO DE DROGAS ENTRE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: ESTUDO TRANSVERSAL COM DADOS SECUNDÁRIOS DE PESQUISA CENSITÁRIA
Comunicação Oral Curta
1 CREPEIA/UFJF
Apresentação/Introdução
A alta prevalência do uso de drogas entre pessoas em situação de rua é um achado repetidamente reportado na literatura. No entanto, persiste a escassez de estudos que busquem compreender a severidade desse comportamento à luz do contexto social e das determinações sociais da vida nas ruas, através da análise dos fatores associados aos diferentes padrões de consumo de substâncias nas ruas.
Objetivos
Analisar os fatores associados ao uso pesado de álcool, cigarros e drogas ilícitas entre pessoas em situação de rua em Juiz de Fora (MG), a partir do uso de dados secundários de uma pesquisa censitária dessa população.
Metodologia
Trata-se de um estudo quantitativo transversal e exploratório, realizado com o uso de dados secundários do Censo e Diagnóstico da População Adulta em Situação de Rua de Juiz de Fora de 2022. As variáveis independentes do estudo foram do tipo sociodemográfica, trajetória, vínculos, motivos para a situação de rua, uso de serviços, trabalho e renda, saúde e violência. Os desfechos foram o uso pesado (todos os dias nos últimos 7 dias) de álcool, cigarros e drogas ilícitas. Foram realizadas análises multivariadas por regressão de Poisson de variância robusta, inserindo inicialmente nos modelos as variáveis significativas nas análises bivariadas e os ajustando pelo método stepwise backward.
Resultados
O uso pesado de cigarro (52,1%) foi o mais prevalente na amostra, seguido pelo uso pesado de álcool (33,8%) e de drogas ilícitas (33,1%). Nos modelos finais de regressão, as variáveis associadas a maior prevalência dos desfechos foram: faixa etária <50 anos; ter crianças ou adolescentes sob responsabilidade nas ruas; saída do sistema prisional como motivo para a situação de rua; trabalhar com reciclagem; pedir dinheiro; e ter sofrido remoção forçada de pertences. Por outro lado, foram associados a uma menor prevalência dos desfechos: ter ido para as ruas depois da pandemia da COVID-19; dormir em abrigo ou unidade de acolhimento; e ter asma, bronquite ou pneumonia.
Conclusões/Considerações
A maior severidade da frequência do uso de drogas entre pessoas em situação de rua foi associada à fatores relacionados à suas trajetórias de vulnerabilização e às condições de vida e trabalho precárias enfrentadas cotidianamente. O estudo contribui para a compreensão da determinação social dos riscos e danos do uso de drogas nas ruas, cujos resultados devem ser contextualizados aos efeitos de iniquidades estruturalmente produzidas.
SENTIDOS ATRIBUÍDOS AO CONSUMO DE ÁLCOOL POR INDÍGENAS E QUILOMBOLAS DE UM MUNICÍPIO DE MINAS GERAIS
Comunicação Oral Curta
1 UnB
2 UFJF
3 UFRN
Apresentação/Introdução
O uso de drogas tem se configurado como um problema social e de saúde pública, sendo as substâncias lícitas as mais consumidas e associadas à maior número de problemas. Muitos estudos investigam o padrão de consumo de diferentes grupos para compreender esse fenômeno. Porém, há escassez de dados sobre populações rurais, grupo diverso que deve ter seus modos de vida considerado nos estudos.
Objetivos
Assim, o objetivo desta pesquisa é identificar e analisar os sentidos atribuídos ao uso de álcool entre quilombolas e indígenas de um município de Minas Gerais, já que essas populações vivem, majoritariamente, em contexto rural.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo realizado na zona rural de Barbacena, Minas Gerais, onde vive indígenas remanescentes da etnia Puri e quilombolas pertencentes ao Quilombo dos Candendês. Foram realizadas observação participantes e entrevistas semiestruturadas com sujeitos de ambos os grupos. Os critérios de inclusão foram: maiores de 18 anos, ambos os sexos e ter um padrão de consumo nocivo ou de provável dependência de acordo com o resultado de um instrumento aplicado inicialmente. Para a análise dos resultados utilizou-se o Núcleo de Significações. Ao todo 93 pessoas participaram da triagem e destas, quatro homens foram selecionados para compor a amostra.
Resultados
Identificou-se que o consumo de álcool é visto como importante para a formação e manutenção de vínculos. O trabalho regula o uso e o tempo de descanso é preenchido com o consumo como forma de alívio e relaxamento. As bebidas também possibilitam amenizar o sofrimento advindo das condições de vida em contexto rural e das situações de discriminação racial enfrentadas pelos participantes. O uso problemático para eles não está atrelado a quantidade consumida, mas sim a quando se perde o controle sobre o consumo e com isso há a exclusão social. Ademais, para eles a diferença de gênero está atrelada a quantidade e local de uso, mas tanto homens quando mulheres consomem bebidas alcoólicas.
Conclusões/Considerações
Conclui-se que o consumo e os sentidos construídos pelos participantes são atravessados pelas formas de produção e reprodução da vida. O uso, problemático ou não, é resultado das desigualdades de classe, de raça/etnia e de gênero. Ademais, o álcool está presente nos processos de sociabilidade, existindo diferentes expressões para esse uso que não apenas a problemática, o que deve ser considerado ao se pensar em ações voltadas para essa temática.
“QUE HORAS ELA VOLTA?" AS TRAJETÓRIAS DE MULHERES PERIFÉRICAS QUE USAM DROGAS NA BUSCA POR ACOLHIMENTO NOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE.
Comunicação Oral Curta
1 UFJF
Apresentação/Introdução
A política de drogas brasileira é marcada por descontinuidades, como as lacunas de políticas públicas que visibilizem o cuidado com a saúde das mulheres usuárias de álcool e outras drogas. Os destinos dados a essa população ainda são tratados pela via da Guerra às Drogas, sustentada no proibicionismo, na medicalização e no modelo jurídico-repressivo, que dão continuidade ao projeto colonial.
Objetivos
Escutou-se sobre as vivências dessas mulheres e a partir disso fez-se a investigação dos efeitos que questões estruturais, como o racismo, o sexismo e o machismo podem gerar ao acolhimento ofertado a esta população nos serviços públicos de saúde.
Metodologia
Para isso, adotou-se como processo metodológico a Genealogia da Experiência, a fim de (re)fazer os caminhos junto a essas mulheres pela Rede de Atenção Psicossocial e a outros lugares da cidade, que foram sendo apresentados por elas ao longo da pesquisa, casas e abrigos, serviços de assistência social, pontos de ônibus e semáforos, localizados tanto na região central quanto nas periferias da cidade. Junto às mulheres, foi construído um grupo de bordado em um dos serviços, que foi marcado por trocas e vivências sobre os atravessamentos do uso de drogas na vida de cada uma delas.
Resultados
Constatou-se que há uma constante negação dos direitos e da humanidade dessas mulheres, expressos, por exemplo, em barreiras de acesso à moradia, à educação, ao cuidado em saúde. Ademais, as violências de gênero, o racismo estrutural, as desigualdades sociais atravessam o processo de acolhimento e os corpos dessas mulheres, ao serem reproduzidos, nos serviços de saúde, as opressões sofridas por elas em outros territórios. O que faz com que o uso de drogas seja recorrido para amenizar as dores causadas por essas e outras feridas, como o abandono dos filhos, a rejeição da família, a situação como moradoras de rua e as violências sofridas nos seus relacionamentos amorosos.
Conclusões/Considerações
Conclui-se que, existem lacunas no processo de acolhimento dessas mulheres nos serviços públicos de saúde, que denunciam a forma como essas vidas têm sido tratadas pelo Estado. Constatou-se que esta população é atravessada por um não lugar, não só nas políticas de drogas, mas nas suas famílias, no âmbito amoroso, no contexto de rua, são corpos atravessados por violências anteriores ao uso de drogas, por se tratarem de mulheres, negras e pobres.
LEVANTAMENTO DE CENAS DE USO EM CAPITAIS: RESULTADOS PRELIMINARES DA 6ª ONDA DE 2024 EM SÃO PAULO E SÉRIE HISTÓRICA
Comunicação Oral Curta
1 USP
2 UNIFESP
3 SPDM
Apresentação/Introdução
O Levantamento de Cenas de Uso em Capitais (LECUCA) é um inquérito populacional sobre Cenas Abertas de Uso (CAU) em capitais brasileiras. As CAUs são definidas pelo agregado de indivíduos utilizando e vendendo substâncias ilícitas em áreas livres. São fenômenos existentes em grandes centros urbanos e exigem cuidados em saúde específicos para os frequentadores dessas cenas.
Objetivos
Investigar indicadores dos frequentadores da CAU de São Paulo.
Guiar a construção de políticas públicas adequadas a população da CAU.
Metodologia
O LECUCA realizou 6 ondas de levantamentos (2016, 2017.1, 2017.2, 2019, 2021 e 2024) na CAU de São Paulo; área popularmente conhecida como “Cracolândia”. Definiu-se como CAU o aglomerado de, no mínimo, 15 indivíduos utilizando substâncias em uma localidade por pelo menos três dias consecutivos. Utilizou-se o método Tempo-Localização para uma amostra probabilística. Foram incluídos todos os frequentadores maiores de idade, sendo excluídos aqueles com sinais de intoxicação grave, com agitação comportamental intensa ou sonolentos. As entrevistas estruturadas, com duração média de 15 minutos, utilizaram um questionário de múltipla escolha adaptado à população.
Resultados
A 6ª onda contou com 144 participantes, predominando homens cis (71,6%), com notável aumento de pessoas transgênero (5,7%) em relação a 2021 (3,73%). A idade média foi de 37,9 anos. Identificou-se o predomínio de baixa escolaridade e um crescimento significativo de frequentadores sem atividade remunerada (72% em 2016 para 84% em 2024). A maioria (71,4%) estava em situação de rua, com acentuada queda no uso de centros de acolhimento (29,2% em 2017 para 2,1% em 2024). Houve um salto no uso de implantes contraceptivos (5,9% em 2019 para 22,9% em 2024). Prevaleceu uso de crack (90,8%) e álcool (80,1%) em 2024, com o inesperado surgimento do consumo de canabinoides sintéticos (17%) no mesmo ano.
Conclusões/Considerações
O LECUCA é um inquérito importante para analisar as populações que frequentam as CAUs em grandes cidades. Trata-se de populações com elevada vulnerabilidade social, alta prevalência de uso de substâncias e exposição à emergência de novas substâncias, como os canabinoides sintéticos. A adequada compreensão das características específicas dessa população é importante para a formulação de políticas públicas cientificamente embasadas.
USO DE SUBSTÂNCIAS E ADESÃO À PREP ORAL ENTRE HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS, TRAVESTIS E MULHERES TRANS NA AMÉRICA LATINA: RESULTADOS DO ESTUDO IMPREP
Comunicação Oral Curta
1 INI/Fiocruz
2 National Institute of Psychiatry Ramon de la Fuente Muñiz
3 .
Apresentação/Introdução
A América Latina registra aumento das infecções por HIV entre populações-chave, inclusive no Brasil, apesar da disponibilidade da PrEP oral no SUS. O uso de álcool e outras substâncias é prevalente entre jovens, podendo afetar a adesão à profilaxia pré-exposição (PrEP) e sua efetividade, sobretudo entre minorias sexuais e de gênero.
Objetivos
Descrever o uso de substâncias e sua associação com a adesão à PrEP oral entre homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres trans (TMT) que buscavam serviços de prevenção ao HIV na América Latina.
Metodologia
Estudo ImPrEP, coorte multicêntrica realizada no Brasil, México e Peru (2018–2021) para avaliar a implementação da PrEP oral. Incluiu HSH cis, travestis e mulheres trans com ≥18 anos e teste negativo para HIV. Adesão inadequada foi definida por proporção de posse de medicamentos <60%. Uso de álcool e substâncias foi autorreferido a cada visita. Modelos de equações de estimativas generalizadas (GEE) estimaram associações entre adesão inadequada e uso de substâncias. Também foram reportadas prevalências de uso. As análises foram realizadas no R.
Resultados
Entre 9.509 incluídos (94,8% HSH; 5,2% TMT; 62,0% pardo/mestiço), o uso de substâncias foi mais frequente no México. No baseline, binge drinking foi reportado por 65,4%. Marijuana (31,9%), poppers (21,0%), cocaína (11,0%) e club drugs (ecstasy, LSD, GHB, quetamina) (12,6%) também foram relatados. Crack (1,2%), outros solventes (0,9%) e substancias injetáveis (0,8%) foram menos frequentes. Cocaína foi associada à adesão inadequada à PrEP (OR:1,13;IC95%:1,00–1,29); binge drinking (OR:0,82;IC95%:0,77–0,87) e poppers (OR:0,71;IC95%:0,64–0,78) à menor adesão inadequada. Adesão inadequada foi maior no México e Peru, entre travestis/mulheres trans, jovens (18-24 anos) e com menor escolaridade.
Conclusões/Considerações
A prevalência e associação entre uso de substâncias e adesão à PrEP oral entre HSH e mulheres trans varia conforme o tipo de substância e o contexto local, considerando legislação e disponibilidade. O uso de poppers, comumente relacionado ao chemsex, foi associado a maior adesão, sugerindo percepção de risco e valorização da PrEP entre usuários. Achados reforçam a importância de integrar saúde mental e redução de danos às estratégias de prevenção ao HIV.
CARGA DE LESÕES POR CAUSAS EXTERNAS ATRIBUÍVEIS AO USO DE ÁLCOOL NO BRASIL EM 2021
Comunicação Oral Curta
1 UFOP
Apresentação/Introdução
O uso de álcool é um fator de risco globalmente reconhecido para lesões por causas externas, especialmente acidentes de transporte, violências interpessoais e afogamentos, impactando não apenas o indivíduo que bebe, mas também, de forma significativa, terceiros. Os custos sociais e de saúde decorrentes dessas lesões são imensos, manifestando-se em hospitalizações, incapacidades e perda de vidas.
Objetivos
Analisar a mortalidade e os anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALYs) causadas por lesões por causas externas atribuíveis ao álcool, por sexo e localidade, no Brasil, com base em dados do GBD 2021.
Metodologia
Estudo ecológico observacional, baseado nas estimativas do estudo GBD de 2021, conduzido pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington. Foram analisadas taxas de mortalidade e de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) atribuíveis ao consumo de álcool para o Brasil e unidades federativas, com estratificação por sexo e tipo de lesão externa. A fração atribuível populacional foi utilizada para estimar o impacto do álcool nas mortes e incapacidades. As causas analisadas incluíram violência interpessoal, acidentes de transporte, lesão autoprovocada e lesões não intencionais. Os dados foram extraídos da GBD Results Tool entre maio e junho de 2025.
Resultados
Em 2021, 7,2% das mortes por causas externas foram atribuíveis ao álcool (11.266 óbitos; 5,11/100.000hab). Homens apresentaram taxas significativamente maiores (9,9/100.000), com destaque para a Bahia (13,45/100.000). Entre as mulheres, a maior taxa foi no Rio Grande do Sul (0,81/100.000). Dentre as causas, o uso de álcool apresentou maior fração atribuível para lesão autoprovocada (11,69%), violência interpessoal (10,37%) e acidentes de transporte (6,08%). Quanto aos DALYs por causas externas, 7,37% foram atribuíveis ao álcool, com taxa de 313,64/100.000hab. A Bahia registrou a maior taxa geral (418,37/100.000) e Rio Grande do Sul teve a maior taxa por lesão autoprovocada (72,94/100.000).
Conclusões/Considerações
O álcool permanece como um fator de risco relevante para mortes e incapacidades por causas externas no Brasil. A carga recai principalmente sobre os homens, e as regiões Nordeste e Sul apresentam as maiores taxas por violência e suicídio, respectivamente. É imprescindível e urgente a adoção de políticas públicas que visem a redução do consumo abusivo de álcool e vigilância contínua do padrão de consumo.
Realização: