Programa - Comunicação Oral Curta - COC3.2 - Populações tradicionais e territórios vulneráveis
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
08:30 - 10:00
A CONSTRUÇÃO DE UM GRUPO DE PESQUISA-AÇÃO COM AS MARISQUEIRAS DE ACAÚ-PITIMBU-PB- RELATO DE EXPERIÊNCIA
Comunicação Oral Curta
Campos, D.S1, Cardoso, J.R.A1, Nunes, L.C1, Furtado, A.S1, Oliveira, S.R.S1, Nascimento, J.A1, Costa, D.F1, Soares, G.B1, Neto, Justino Pedro da Silva1, Almeida, B.B1
1 UFPB
Período de Realização
A experiência foi realizada entre maio de 2023 e outubro de 2024.
Objeto da experiência
Pesquisa-ação junto à associação de Marisqueiras de Acaú-Pitimbu, a partir da problematização da temática do trabalho, ambiente e saúde.
Objetivos
Constituir um grupo de pesquisadores em conjunto com a comunidade, realizar o reconhecimento do território e desenvolver o debate, planejamento, acompanhamento e avaliação de ações, em torno dos problemas envolvidos no território da pesca artesanal de Acaú.
Metodologia
Foram realizados seis encontros na sede da associação de marisqueiras de Acaú, reunindo as marisqueiras, os estudantes e docentes da UFPB. Os encontros eram definidos em conjunto com as lideranças da comunidade e as demais marisqueiras eram convidadas via rede social. As temáticas abordadas eram definidas de acordo com o que foi abordado na roda de conversa anterior. Dessa forma, os debates levantavam e problematizam as principais ameaças ao território e à saúde das pescadoras.
Resultados
Um grupo de pesquisa surgiu da união entre universidade-comunidade, com comunicação pelo whatsapp e pessoalmente durante as oficinas mensais. Esse grupo procedeu uma investigação sobre seu território, definindo como problema central a dificuldade no acesso a direitos fundamentais no enfrentamento ao adoecimento relacionado ao trabalho. Durante as oficinas de cartografia social e tenda do conto, as pescadoras puderam reconhecer sua relação com o território e construir um mapa social de Acaú.
Análise Crítica
A pesquisa-ação, para além de envolver a comunidade, é construída e protagonizada por ela. Assim, o conhecimento foi estruturado por meio da confluência do saber popular e científico. A problematização coletiva permitiu identificar questões pungentes, mas negligenciadas, como a precarização e o adoecimento relacionado ao trabalho, a dificuldade de acesso à saúde e seguridade social, ameaças ambientais, especialmente relacionadas a grandes empreendimentos, e a vulnerabilidade social.
Conclusões e/ou Recomendações
A pesquisa-ação subverte os papéis tradicionais no fazer em pesquisa, deslocando o território e a comunidade do lugar de meros objetos de análise. Tal abordagem mostrou-se capaz não só de produzir conhecimento, como também vínculos, emancipação e um espaço de escuta e valorização de vozes silenciadas. Faz-se necessário fortalecer esse elo longitudinalmente, a fim de aprofundar a compreensão dos problemas e planejar ações para mitigá-los.
A PERCEPÇÃO DAS MARISQUEIRAS DA BARRA DE SANTO ANTÔNIO (AL) SOBRE OS EFEITOS DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA EM SUA SAÚDE.
Comunicação Oral Curta
DANTAS, I. F. V.1
1 UFAL
Apresentação/Introdução
Alagoas é marcado pela forte presença da agroindústria canavieira, cujos empreendimentos frequentemente despejam tiborna nos rios. Esse resíduo compromete a qualidade da água e causa mortandade de peixes e mariscos, impactando a pesca no geral e, especialmente, as marisqueiras, que trabalham com os corpos imersos na água e ficam mais vulneráveis à poluição e aos riscos ambientais envolvidos.
Objetivos
O objetivo desta pesquisa é compreender se e como as marisqueiras percebem os riscos ambientais e seus efeitos sobre sua saúde e em que medida elas associam esses riscos às atividades da agroindústria canavieira.
Metodologia
A pesquisa foi realizada no município de Barra de Santo Antônio, no litoral norte de Alagoas. Os dados foram coletados a partir de entrevistas em profundidade guiadas por um roteiro contendo perguntas norteadoras, mas flexível a mudanças. Ao todo, foram entrevistadas 10 marisqueiras, para isso, utilizamos a técnica bola de neve, onde cada entrevistada indicava outra para participar da pesquisa. A busca ativa também foi utilizada quando as indicações não estavam disponíveis no momento. As informações obtidas através das entrevistas foram complementadas pela análise de documentos como a ata da audiência pública Pacto pelas águas do Rio Santo Antônio e relatórios de sustentabilidade da usina.
Resultados
Para as marisqueiras, a presença da usina canavieira reflete uma ameaça, sobretudo pelo despejo da tiborna, resíduo da produção de etanol com alto potencial poluidor. Segundo elas, esse problema é antigo, mas de difícil solução: “quem vai brigar com usineiro?”. A fala expõe um cenário de injustiça ambiental, em que a população mais pobre sofre os maiores danos. Elas relatam problemas de saúde que vão do físico ao mental. Em audiência pública, uma marisqueira, liderança local, declarou: “as mulheres pegam bactérias, têm vários problemas de saúde e de pele, e a gente não consegue saber, finalmente, o porquê de tudo isso”, evidenciando a negligência e o silenciamento dos danos enfrentados.
Conclusões/Considerações
Os efeitos da tiborna são centrais na região. O poder dos usineiros, presente há mais de 60 anos, mantém o problema até hoje sem mudanças efetivas. Além dos danos ao ambiente, à saúde e às relações sociais, a perda de emprego devido à mortandade do pescado agrava o adoecimento. A falta de estudos e ações específicas para a saúde das marisqueiras reforça sua invisibilidade. O saneamento precário também intensifica o cenário de injustiça ambiental.
AGÊNCIA TERRITÓRIOS VIVOS: JUVENTUDES DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS EXPERIÊNCIAS DE CUIDADO E COMUNICAÇÃO PARA JUSTIÇA CLIMÁTICA
Comunicação Oral Curta
LATGÉ. Paula1, ARAUJO. Daniela2, DANTAS BERGER, Sônia Maria3
1 Associação Experimental de Mídia Comunitária – BEMTV – Prefeitura Municipal de Niterói
2 Associação Experimental de Mídia Comunitária – BEMTV – Universidade Federal do Rio de Janeiro
3 Universidade Federal Fluminense
Período de Realização
Janeiro de 2023 a dezembro de 2025 (experiência em curso, em fase de desenvolvimento e sistematização)
Objeto da experiência
Lideranças jovens de povos e comunidades tradicionais como comunicadores em justiça climática, saúde e direito ao território, com base em saberes ancestrais.
Objetivos
Fortalecer o protagonismo de jovens de PCTs por meio da comunicação e do cuidado nos territórios, promovendo justiça climática, saúde e direitos. Valorizar saberes tradicionais e práticas comunitárias como estratégias de resistência e transformação sociopolítica.
Descrição da experiência
A experiência reúne a OSC Bem TV e a Saúde Coletiva -UFF com jovens de povos e comunidades tradicionais do Brasil (PCTs). Por meio de oficinas, mentorias e práticas de campo, os jovens são formados para desenvolver campanhas e ações de comunicação crítica sobre justiça climática, meio ambiente e saúde. A proposta articula saberes ancestrais, metodologias participativas e educação. Em maio de 2025, aconteceu o primeiro encontro presencial da experiência, reunindo 20 jovens de 16 segmentos PCTs.
Resultados
A experiência gerou engajamento de jovens de comunidades tradicionais na criação de campanhas e materiais sobre justiça climática. Os participantes estão em fase de produção de um plano de comunicação com base em suas vivências territoriais, tendo como produtos uma campanha, cartilha e vídeo. Houve fortalecimento de vínculos entre universidade, sociedade civil e territórios, com visibilidade ampliada das juventudes tradicionais.
Aprendizado e análise crítica
A experiência revelou o apagamento histórico das juventudes tradicionais nas agendas ambientais e evidenciou o potencial da comunicação como ferramenta de cuidado, mobilização e resistência. A escuta sensível e a articulação entre saberes acadêmicos e ancestrais mostraram-se essenciais para práticas mais justas e sustentáveis. A proposta desafiou paradigmas coloniais ao reconhecer os territórios e os corpos como fontes legítimas de conhecimento, expressão e saúde coletiva.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se a ampliação de experiências que integrem juventudes, saberes tradicionais e justiça climática na Saúde Coletiva. É necessário fortalecer políticas públicas que reconheçam a diversidade das juventudes, sua relação com o ambiente e seus modos próprios de cuidado. Territórios vivos devem ser reconhecidos como espaços de produção de saúde, resistência frente às iniquidades socioambientais.
A ESCOLA DOS VENTOS COMO FORMADORA DE LIDERANÇAS FEMININAS NO CONTEXTO DOS EMPREENDIMENTOS EÓLICOS NO AGRESTE DE PERNAMBUCO.
Comunicação Oral Curta
Cunha, F. S. C. C.1, Gomes, W. S.1, Costa, A. M.1, Parente, R. M. O.1, Lima, A. F. S.1, Barros, L. S. S.1, Rocha, L. C. L.1, Silva, A. L.1, Brandão, M. M. N.2
1 IAM/FIOCRUZ
2 Escola dos Ventos
Período de Realização
Os encontros da Escola dos Ventos acontecem mensalmente desde fevereiro de 2024 até os dias atuais.
Objeto da experiência
Formação de lideranças femininas rurais frente aos processos de vulnerabilização socioambientais dos empreendimentos eólicos no Agreste Pernambucano.
Objetivos
Relatar como a Escola dos Ventos colabora com o fortalecimento do protagonismo feminino na defesa dos territórios e modos de vida tradicionais, promovendo a formação política e a articulação comunitária frente aos processos de vulnerabilização desencadeados pelos empreendimentos eólicos na região.
Descrição da experiência
A Escola dos Ventos é uma ação de educação popular que forma e integra camponeses atingidos por eólicas no Agreste de Pernambuco. Promove reflexão coletiva, defesa do território e luta por direitos. Com oficinas, vivências e rodas de diálogo, fomenta a consciência crítica sobre os impactos desses empreendimentos, fortalecendo a auto-organização, as identidades camponesas e o protagonismo feminino nas lutas socioambientais.
Resultados
Com a Escola dos Ventos, surgiram lideranças femininas camponesas que articulam encontros, denunciam violações e protagonizam atos em defesa do território, como a ocupação de um edifício público em Pernambuco. A ação buscou chamar a atenção das autoridades e exigir soluções. Essas mulheres tornaram-se referência em suas comunidades, ocupando espaços de decisão, atuando em redes de resistência e dialogando com instituições pela justiça ambiental
Aprendizado e análise crítica
A experiência mostrou que o empoderamento feminino é essencial nas lutas territoriais e por justiça socioambiental. Mulheres antes silenciadas tornam-se vozes fortes contra empreendimentos que ameaçam modos de vida. A formação contínua e redes de apoio são fundamentais frente aos desafios. No entanto, ainda é necessário ampliar o alcance da iniciativa e garantir suporte institucional às lideranças emergentes.
Conclusões e/ou Recomendações
As lideranças femininas são fundamentais para repensar modelos energéticos baseados na justiça social e ecológica. É necessário ampliar redes de solidariedade, garantir apoio de universidades e movimentos sociais e pressionar o Estado por políticas que respeitem a autonomia dos povos do campo e que reconheçam e apoiem o papel das mulheres na defesa dos territórios e na promoção de modelos de desenvolvimento sustentáveis e inclusivos.
ALTERAÇÃO NAS ÁGUA DAS CISTERNAS DE PLACAS PRÓXIMAS ÀS TORRES EÓLICAS EM CAETÉS/PE
Comunicação Oral Curta
ROCHA, L. C. L.1, GOMES, W. S.2, COSTA, A. M.1, SILVA, A. L.1, LIMA, A. F. S.1, CUNHA, F. S. C. C.1, BARROS, L. S. S.1, BRANDÃO, M. M. N.3, PARENTE, R. M. O.1
1 IAM/FIOCRUZ
2 IAM/FIOCRUZ; UPE
3 ESCOLA DOS VENTOS
Apresentação/Introdução
A transição energética é um processo de destaque no contexto das alterações climáticas. Empreendimentos de energia eólica têm crescido no nordeste brasileiro. A implantação e operação desses empreendimentos ocorrem, principalmente, em territórios de populações tradicionais. Esse processo provoca alterações na ocupação e uso da terra, nas relações sociais, e na saúde humana, animal e ambiental.
Objetivos
Relatar os impactos da operação de empreendimentos eólicos na qualidade da água para consumo de famílias camponesas na zona rural do agreste de Pernambuco a partir da percepção dos camponeses vulnerabilizados.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa guarda-chuva desenvolvida em comunidades rurais do Agreste Meridional de Pernambuco, que convivem com empreendimentos de energia eólica. Os dados foram coletados por meio de questionário estruturado aplicado à chefe da família, além de registros em diário de campo. As perguntas que baseiam este relato abordam as dimensões de fonte de água para consumo humano e animal, bem como a percepção de mudanças na qualidade e quantidade da água. Foram entrevistadas 21 pessoas e os dados analisados a partir da frequência das respostas.
Resultados
Dentre as principais fontes de água para consumo humano estão o carro pipa (95,2%) e água da chuva em cisternas (87,7%). Percepção de alteração na água para consumo humano foi relatada por 51,7% dos entrevistados, sendo cor (91,7%), sabor (58,3%) e odor (33,3%) e 42,9% percebem redução da disponibilidade de água desde a chegada do empreendimento no território. A demanda por carros pipa cresceu após a percepção de alterações da água. Moradores relatam presença de um pó branco que se acumula nas calhas e chega às cisternas arrastado pela chuva. O uso desta água tem sido associado ao ressecamento de pele e alergias. Hipotetiza-se que o pó se origina do desgaste das estruturas dos aerogeradores.
Conclusões/Considerações
A operação das torres eólicas no território pode ter causado alterações na disponibilidade e qualidade da água para consumo humano. Tais alterações podem se desdobrar em problemas de saúde e impactos negativos na renda devido a necessidade de compra de água potável. Esses impactos revelam o processo de vulnerabilização de comunidades tradicionais via comprometimento ao acesso à direitos básicos como à água de qualidade e em quantidade suficiente.
EFEITOS DOS AEROGERADORES NA SAÚDE E NAS CONDIÇÕES DE VIDA SEGUNDO A PERCEPÇÃO DOS CAMPONESES QUE RESIDEM NAS PROXIMIDADES DO EMPREENDIMENTO: UM RELATO EXPERIÊNCIA
Comunicação Oral Curta
Parente, R.M.O.1, Costa, A.M.1, Gomes, W. S.1, Barros, L.S.S.1, Silva, A.L.1, Rocha, L.C.L.1, Cunha, F.S. C. C.1, Lima, A. F.S.1, Brandão, M.M.N.2, Leite, R.M.B.3
1 IAM – Fiocruz
2 Escola dos Ventos
3 UPE
Período de Realização
Estudo realizado entre março e abril de 2025 na comunidade de Sobradinho, caetés (PE).
Objeto da experiência
Analisar as percepções dos camponeses acerca das mudanças ocorridas na saúde e nas condições de vida decorrentes da presença dos aerogeradores.
Objetivos
Registrar e refletir as percepções de camponeses que vivem próximos aos aerogeradores, analisando os efeitos relacionado a saúde causados pela instalação e funcionamento das usinas eólicas, bem como os efeitos sobre suas moradias e modos de vida.
Metodologia
A experiência consistiu em visitas domiciliares na comunidade de Sobradinho, munícipio de Caetés (PE) impactadas por empreendimentos eólicos. As conversas ocorreram em clima de acolhimento, com escuta sensível e respeito ao modo de vida local. Os relatos evidenciaram incômodos com os ruídos dos aerogeradores, distúrbios do sono, uso de medicamentos, sofrimento e adoecimento mental, rachaduras em casas e cisternas, além da perda do sossego e da tranquilidade característicos do campo.
Resultados
Foram evidenciados efeitos físicos, emocionais e sociais vivenciados pelos camponeses: insônia, ansiedade, dores de cabeça e início do uso de medicamentos, associados às vibrações acústicas das torres, inclusive durante a noite. Também foram relatadas rachaduras em casas e cisternas, atribuídas aos aerogeradores. A perda da tranquilidade e a desestruturação do modo de vida tradicional indicam um adoecimento coletivo, agravado pela ausência de escuta, diálogo e ações reparadoras.
Análise Crítica
Com a experiência podemos observar que os empreendimentos eólicos, causam profundos efeitos nocivos à saúde quando desconsideram os modos de vida locais. A escuta direta revelou que os danos ultrapassam os bens físicos, afetando o corpo, o território e o cotidiano dos camponeses. A ausência de políticas públicas adequadas e a invisibilização dessas comunidades agravam vulnerabilidades e adoecimentos, negligenciados nos processos de licenciamento e gestão dos empreendimentos.
Conclusões e/ou Recomendações
Conclui-se que a participação dos camponeses nas decisões, o monitoramento permanente dos efeitos e a adoção de medidas mitigadoras eficazes são essenciais para assegurar justiça ambiental e preservar a saúde coletiva. Escutar, respeitar e cuidar dos territórios são passos indispensáveis para um desenvolvimento sustentável, tornando urgente a inclusão dos saberes e vivências das populações afetadas nos processos de instalação de usinas eólicas.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA E FINANCEIRIZAÇÃO DOS VENTOS EM TERRITÓRIOS VULNERABILIZADOS: O CASO DE PERNAMBUCO
Comunicação Oral Curta
Lima, A. F. S.1, Lins, D. O. A.1, Silva, A. L.1, Barros, L. S. S.1, Parente, R. M. O.1, Rocha, L. C. L.1, Cunha, F. S. C. C.1, Costa, A. M.1, Gomes, W. S.1
1 Fiocruz Pernambuco
Apresentação/Introdução
A transição energética, inicialmente motivada pela crise climática, tem levado à instalação de complexos eólicos em áreas historicamente vulnerabilizadas, ignorando ecossistemas, culturas, cosmovisões e saberes tradicionais. Esse processo, marcado pela financeirização dos ventos, reflete lógicas do colonialismo extrativista ambiental, gerando injustiça cognitiva e violência epistêmica.
Objetivos
Relacionar o perfil comunitário e territorial desejado para instalação de empreendimentos eólicos no estado de Pernambuco com a lógica colonial para financeirização dos ventos.
Metodologia
A metodologia envolve um levantamento bibliográfico sobre os conceitos de colonialismo, justiça cognitiva, racismo ambiental e violência epistêmica, considerando obras acadêmicas, dissertações e artigos científicos sobre o tema. Em paralelo, para caracterização do território do caso, foram utilizados dados primários, enquanto resultado parcial de pesquisa de campo em andamento acerca das repercussões da implantação de empreendimentos eólicos no município de Caetés, agreste de Pernambuco. O território é caracterizado como rural, com predominância da agricultura como fonte de renda. Foram realizadas entrevistas com 32 famílias para caracterização do perfil comunitário e territorial.
Resultados
As famílias são formadas, em média, por 4 pessoas, todas vivendo entre 10 e 56 anos no local. 81% recebem algum benefício assistencial (destes, 80% com Bolsa Família e 25,8% aposentados) e 43% com fonte de renda agrícola, onde 50% apontam que suas produções são para consumo próprio e 50% para venda do excedente. 62,5% informam terem notado diminuição da produção agrícola após implantação. Nenhuma das residências passou por reforma de isolamento acústico. 9,7% apontam que foi necessário sair da residência por conta do empreendimento e 87,5% relataram algum tipo de acidente causado pela estrutura do parque eólico.
Conclusões/Considerações
Destarte, observa-se a lógica da colonização extrativista aplicada por grupos dominantes, para controlar física ou simbolicamente essas áreas. A injustiça cognitiva, caracterizada pela invisibilização das cosmovisões locais e modos de vida peculiares, contribui, associado à violência epistêmica evidenciada pela imposição de projetos “verdes” sem considerar esses modos de vida, para a interferência direta na reprodução social da vida.
VIGILÂNCIA POPULAR EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA POTENCIALIZADORA DAS AÇÕES DOS SISTEMAS DE SAÚDE FRENTE ÀS EMERGÊNCIAS DE SAÚDE PÚBLICA ASSOCIADAS ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Comunicação Oral Curta
Carneiro, F.F1, Almeida, G.S.2, Silva, T. P.3, Tupinambá, S.V1, Pessoa, V. M1, Teixeia, A.C. A1, Dantas, V. L. A1, Silva, M.R. F4, Barbosa, A.C.M1, Fonseca, T.M.P5
1 Fiocruz Ceará
2 MST - Assentamento Nova Santa Rita de Cássia II, Rio Grande do Sul
3 Liderança Indígena do Movimento Potyguatapuia - Aldeia Mundo Novo, Ceará
4 Ministério da Saúde/DGIP e UECE
5 Fiocruz
Apresentação/Introdução
Temos denominado vigilância popular em saúde como práticas de vigilância com protagonismo popular na defesa da vida a partir de uma perspectiva emancipatória. Além da produção de dados com controle de todo processo, ou seja, desde a geração até a análise e implementação de ações, essa vigilância utiliza tecnologias acessíveis de levantamento de dados e de comunicação popular
Objetivos
A principal pergunta desse estudo é “como a Vigilância Popular em Saúde pode potencializar as ações dos sistemas de saúde diante das emergências de saúde pública associadas às mudanças climáticas?”
Metodologia
Esse estudo de caso é uma pesquisa-ação-emancipatória integrada por representantes da academia, movimentos sociais, entidades, organizações comunitárias e sistemas de saúde. Foram selecionadas duas experiências: um assentamento do MST do Rio Grande do Sul atingido por enchente em abril de 2024 e outra no Ceará, a Aldeia indígena Mundo Novo, atingida por seca e estiagem. Por meio de oficinas nacionais e territoriais realizadas até maio de 2025 foram discutidos os conceitos e práticas da Vigilância Popular diante das emergências climáticas sob a ótica dos atores envolvidos. Estratégias como círculos de cultura e mapeamento participativo contribuíram para a elaboração de planos de ação.
Resultados
Reflexões teóricas e metodológicas realizadas em quatro oficinas resultaram no aprimoramento do projeto e na análise dos resultados. Foram produzidas reflexões e identificados o que ameaça e promove a vida nos territórios a partir de cenários de extremos climáticos nas oficinas locais. Isso foi traduzido em mapas participativos que subsidiaram a elaboração de planos de ação para enfrentamento das emergências climáticas no território em diálogo com representantes do SUS (nível municipal, estadual e federal), lideranças comunitárias e representantes da academia. Esses achados estão servindo como base para a elaboração de um Guia de Vigilância Popular em Saúde e Emergências Climáticas.
Conclusões/Considerações
O conhecimento das ervas que promovem a saúde, a produção de alimento saudável, as tecnologias de convivência com a seca, as saídas encontradas diante das enchentes, a identificação de indicadores locais de saúde e outras práticas de cuidado são aprendizados e conhecimentos com potencial de contribuir, a partir do protagonismo popular, para o fortalecimento das comunidades e do sistema de saúde frente ao desafio da emergência climática.
PLANO COMUNITÁRIO DE ENFRENTAMENTO DE RISCOS DE DESASTRES DE MONSUABA, ANGRA DOS REIS, RJ: UM MODELO PARTICIPATIVO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
Comunicação Oral Curta
Freitas, L. E1, Nunes, F. S. B1, Coutinho, N.1
1 Fundação Oswaldo Cruz
Período de Realização
Abril de 2023 a agosto de 2025
Objeto da experiência
Construção Participativa do Plano Comunitário de Enfrentamento de Riscos de Desastres de Monsuaba com a inserção das diretrizes de adaptação climática
Objetivos
Mapear ameaças socioambientais
Mapear a exposição de pessoas às ameaças
Mapear vulnerabilidades que potencializam riscos
Mapear capacidades de resposta institucionais e comunitárias
Elaborar o Plano
Disponibilizar base de dados para as comunidades
Descrição da experiência
O trabalho consistiu em: mobilização comunitária a partir de oficinas e trabalhos de campo; levantamento de informações sobre Monsuaba; realização de oficinas com lideranças comunitárias para mapeamentos participativos; realização de trabalhos de campo para levantamento e consolidação de informações; elaboração da versão preliminar do Plano; realização de oficina para a validação do Plano; elaboração do Plano final, lançamento do Plano como uma diretriz tecno-política.
Resultados
A construção do Plano possibilitou a discussão sobre gestão de riscos e adaptação às mudanças climáticas, a formação de lideranças nessa temática, o fortalecimento da inserção dessas lideranças no FCT, movimento social que representa comunidades tradicionais na região, a articulação com o Plano Municipal de RRD, a articulação com um grupo de pesquisa da UFRJ e a construção de um Plano que coloca a gestão de riscos como uma problemática central para a comunidade
Aprendizado e análise crítica
Realizar um trabalho em diálogo com a comunidade e a partir de um processo de mobilização que inclua as instituições comunitárias, movimentos sociais e instituições parceiras. Dificuldades de mobilização são comuns em trabalhos de gestão de risco, sendo maiores quanto mais o tempo passa em relação ao desastre. Envolver instituições públicas reduz esse problema, com destaque para escolas e Unidades de Saúde, envolvendo professores e ACS, o que não foi realizado de forma incipiente nesse trabalho
Conclusões e/ou Recomendações
Os processos articulados com movimentos sociais que atuam no território aprofundam a construção do Plano e possibilitam uma discussão politizada do trabalho. Atuar em parceria com a Prefeitura, a partir do Plano Municipal de RRD, permite uma articulação fundamental para fortalecer o trabalho. Recomenda-se fortalecer a atuação junto às escolas pública e às US para fortalecer a construção de uma cultura de gestão de riscos no território.
PERCEPÇÃO INDÍGENA SOBRE OS IMPACTOS À SAÚDE DAS MUDAÇAS CLIMÁTICAS NO XINGU
Comunicação Oral Curta
Schramm, A.1, Waura, A.2, Waura, P.2, Périssé, A. R. S.1, Hacon, S. S.1
1 Escola Nacional de Saúde Pública - Fiocruz
2 Território Indígena do Xingu - Aldeia Topepeweke
Apresentação/Introdução
Os povos indígenas, por manterem seus territórios preservados, estão na linha de frente do enfrentamento às mudanças climáticas, embora sofram desproporcionalmente seus efeitos. No Território Indígena do Xingu (Mato Grosso), a perda de 40% dos recursos hídricos e a degradação de sua qualidade resultam das mudanças climáticas, do desmatamento e dos incêndios florestais
Objetivos
Analisar a percepção indígena sobre os impactos das mudanças climáticas, visando compreender seus efeitos na saúde e as estratégias de adaptação adotadas.
Metodologia
Estudo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado por meio de entrevistas com lideranças, rodas de conversa e etnografia audiovisual. Os dados foram coletados em 2023, junto à população indígena das aldeias Ulupuene, Topepeweke e Yawalapiti, no Território Indígena do Xingu (MT), e analisados por meio da análise de conteúdo.
Resultados
Foram realizadas 16 entrevistas e 7 rodas de conversa, com a participação de 128 indígenas xinguanos, de ambos os gêneros e idades entre 11 e 85 anos. Os principais temas relatados incluíram: excesso de calor, aumento da radiação solar e da seca, perda e degradação da biodiversidade, mudanças nos sinais da natureza e alterações na dinâmica dos rios e das chuvas. Esses fenômenos foram associados a efeitos na saúde e à adoção de estratégias de adaptação. Eventos climáticos extremos e imprevisíveis já impactam o cotidiano nas aldeias, afetando sistemas alimentares, acesso à água, saúde, segurança e identidade cultural.
Conclusões/Considerações
Povos indígenas são intensamente afetados pelas mudanças climáticas, devido à dependência dos recursos naturais, saberes tradicionais, vulnerabilidades socioespaciais e cosmovisões. Sua acurada percepção e resiliência evidenciam a importância do reconhecimento e da valorização de seus conhecimentos na formulação de políticas de enfrentamento à crise climática.