Programa - Comunicação Oral Curta - COC3.3 - Eventos Climáticos e impactos à saúde
03 DE DEZEMBRO | QUARTA-FEIRA
08:30 - 10:00
FATORES ASSOCIADOS À PIORA NA SAÚDE APÓS DESASTRE CLIMÁTICO NO SUL DO BRASIL: RESULTADOS DA COORTE PAMPA
Comunicação Oral Curta
Vieira, Y.P.1, Caputo, E.L.2, Rombaldi, A.3, Feter, N.4
1 Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
2 Center for Evidence Syntheis in Health, School of Public Health, Brown University, RI, USA.
3 Programa de Pós-graduação em Educação Física, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.
4 Human and Evolutionary Biology Section, Department of Biological Sciences, University of Southern California, CA, USA
Apresentação/Introdução
Os eventos climáticos extremos que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 evidenciaram de forma marcante os impactos das mudanças climáticas na saúde física e mental da população. No entanto, são escassos no Brasil os estudos que identificaram, na população de adultos, os grupos mais afetados por tais eventos.
Objetivos
Identificar os determinantes sociais da piora percebida na saúde física e mental de adultos residentes no RS durante as enchentes de 2024.
Metodologia
Estudo transversal com dados da coorte PAMPA (Estudo Prospectivo sobre a Saúde Física e Mental de Adultos). A piora do estado de saúde foi identificada através de questão autorreferida, com o participante comparando a saúde física e mental atual com o período anterior às enchentes. Participantes também responderam questões sobre informações sociodemográficas, presença de comorbidades, e o impacto das enchentes na vida do participante (e.g., necessidade de sair de casa, perdas materiais) e no acesso ao serviço de saúde (e.g., abstenção na procura por serviços de saúde mesmo necessitando). Foram realizadas análises ajustadas utilizando regressão de Poisson com ajuste de variância robusto.
Resultados
Um em cada quatro participantes relatou piora na saúde após as enchentes (25,1%; IC95%: 23,4–26,8). Essa piora foi mais comum entre mulheres (RP=1,64; IC95%: 1,38–1,95), idosos (RP=1,43; IC95%: 1,17–1,76) e pessoas com comorbidades (RP=1,18; IC95%: 1,13–1,24). Também foi maior entre quem precisou sair de casa (RP=1,24; IC95%: 1,03–1,49), teve perdas materiais (RP=1,48; IC95%: 1,23–1,79), falta de água (RP=1,53; IC95%: 1,27–1,87) ou suprimentos (RP=1,22; IC95%: 1,04–1,42). Doenças relacionadas às enchentes (RP=1,33; IC95%: 1,05–1,69) e não buscar atendimento mesmo necessitando (RP=1,66; IC95%: 1,45–1,91) também se associaram à piora autorrelatada na saúde.
Conclusões/Considerações
Os resultados evidenciam que os efeitos dos eventos climáticos sobre a saúde estão associados tanto às desigualdades sociais quanto à intensidade da exposição. Os achados reforçam a importância de políticas públicas e estratégias de resposta a desastres que considerem a vulnerabilidade social e fortaleçam o acesso aos cuidados de saúde e a serviços essenciais diante de emergências climáticas.
IMPACTO DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: AGRAVOS/DANOS À SAÚDE E ATUAÇÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Comunicação Oral Curta
Albuquerque, F. D. A.1, Freitas, J. S.1, Alonzo, H. G. A.1
1 Unicamp
Apresentação/Introdução
A exposição e vulnerabilidade às mudanças climáticas são determinados por fatores sociais e políticos. As emergências climáticas interagem com determinantes sociais e influenciam amplamente na saúde das populações. Portanto, é de extrema relevância discutir os impactos das alterações climáticas e dos eventos extremos sobre a população e sobre o funcionamento dos sistemas de saúde.
Objetivos
Estudar por meio de uma revisão de literatura qual o papel da atenção primária à saúde (APS) diante dos agravos em saúde relacionados à emergência climática e quais os impactos da atenção básica na adaptação e combate às alterações climáticas.
Metodologia
Foi realizada uma revisão de literatura orientada pela pergunta norteadora: “Qual o papel da APS frente aos agravos em saúde relacionados à emergência climática?”. O levantamento bibliográfico foi feito nas plataformas Pubmed, BVS e Scielo. O rastreio inicial foi feito por análise dos títulos e resumos pela plataforma RAYYAN . Os estudos selecionados que cumpriam os critérios de elegibilidade foram lidos na íntegra para extrair informações relevantes e avaliar a inclusão definitiva no estudo a partir de consenso entre os autores da revisão. Após inclusão, a análise dos estudos foi orientada pelos atributos essenciais da APS como eixos da discussão.
Resultados
Foram encontrados 4428 estudos e, após leitura de títulos, resumos e textos completos, 12 foram incluídos na revisão, sendo 10 produzidos a partir de 2020, a maioria em África. A análise evidenciou que emergências climáticas interagem com os atributos essenciais da APS (primeiro acesso, coordenação do cuidado, longitudinalidade e integralidade). Observou-se sobrecarga dos serviços, fragilidade dos dados epidemiológicos, ausência de diretrizes e escassez de recursos, mas também o potencial da APS como educadora e agente de mudança social. Apesar dos desafios, a APS mostrou-se estratégica na resposta às crises, exigindo fortalecimento, planejamento prévio e capacitação das equipes.
Conclusões/Considerações
A emergência climática é reconhecida como ameaça à saúde e a maioria dos estudos tem propostas para a APS, mas poucas são aplicadas, faltando dados de impacto e eficácia. É urgente preparar o sistema de saúde, promover educação comunitária, desenvolver novos modelos de cuidado e integrar determinantes socioambientais no planejamento e gestão da saúde. A crise climática e a APS são indissociáveis e a real solução exige mudanças estruturais.
IMPACTO DAS ONDAS DE CALOR NOS ATENDIMENTOS DO SAMU NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ENTRE 2023 E 2025
Comunicação Oral Curta
Velasque, L1, Medina, D1, Peixoto, E1, Oliveira, D1, Freire, C1, ALcantera, B2, Carvalho, S1, Meneguete, Patricia1, Ribeiro, MS1, Mello, CMB1
1 SES-RJ
2 SAMU/SES-RJ
Apresentação/Introdução
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é essencial na resposta rápida a emergências médicas na cidade do Rio de Janeiro. Com o aumento das temperaturas e a intensificação das ondas de calor, torna-se crucial compreender o impacto desses eventos climáticos extremos na demanda por serviços de urgência, visando aprimorar o planejamento e a capacidade de resposta dos sistemas de saúde.
Objetivos
Avaliar o impacto das ondas de calor (definidas pelo Excesso de Calor - EHF) nos atendimentos do SAMU no Rio de Janeiro entre 2022 e 2025.
Metodologia
Foram analisados atendimentos do SAMU registrados entre 01/01/2022 e 12/04/2025, categorizados por tipo de agravo. Utilizou-se regressão quase-Poisson para associar dias com EHF extremo (variável independente) ao aumento de atendimentos (variável dependente), ajustando para sazonalidade. A significância estatística foi avaliada por intervalos de confiança de 95% e valor-p.
Resultados
Quatro ondas de calor extremo, com picos em 16/11/2023, 15/01/2024, 20/01/2025 e 17/02/2025, resultaram em um aumento de 53% nos atendimentos do SAMU (IRR=1,53; IC95%: 1,15-1,99; p=0,002).
Por categoria, os aumentos foram:
- Cardiovasculares: +74% (IRR=1,74; p=0,002)
- Neurológicos: +55% (IRR=1,55; p=0,014)
- Psiquiátricos: +43% (IRR=1,43; p=0,001)
- Abortamentos: tendência de +65% (IRR=1,65; p=0,068)
Atendimentos respiratórios (IRR=1,30; p=0,135) e constatação de óbitos (IRR=1,29; p=0,145) não apresentaram significância estatística. A heterogeneidade dos efeitos pode refletir diferentes vulnerabilidades aos extremos térmicos.
Conclusões/Considerações
As ondas de calor elevaram significativamente os atendimentos por causas cardiovasculares, neurológicas e psiquiátricas, evidenciando o estresse provocado pelo calor extremo. É essencial capacitar as equipes de urgência, integrar sistemas de alerta precoce à vigilância e adotar ações intersetoriais para proteger os grupos mais vulneráveis.
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O SURGIMENTO DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES VULNERÁVEIS NA AMAZÔNIA
Comunicação Oral Curta
Silva, P.M.1, Costa, J.B.da.1, Souza, M.P. de.1, Marques, N.C.1, Costa Junior, A.G. da.1, Nascimento, C.F.P. do.1, Monteiro, A.X.1, Miguez, S.F.1, Salino, A.V.1
1 UEA
Apresentação/Introdução
A crise climática tem intensificado desequilíbrios ambientais na Amazônia, com o aumento de queimadas, calor extremo e eventos climáticos irregulares. Esses fenômenos afetam especialmente comunidades vulneráveis que lidam com secas, enchentes e degradação dos ecossistemas, agravando os riscos à saúde e à qualidade de vida, evidenciando a ausência de políticas públicas eficazes.
Objetivos
Este trabalho analisou os impactos das mudanças climáticas e o aumento de doenças em populações vulneráveis na Amazônia e integra uma revisão integrativa da literatura que tem como escopo o Brasil
Metodologia
Este estudo constitui um recorte de uma revisão integrativa da literatura, onde as buscas foram conduzidas nas bases de dados: BVS, SciELO, Scopus e PubMed. Foram utilizados descritores do DeCS/MeSH: “mudanças climáticas”, “doenças”, “vigilância em saúde” e “processo saúde-doença”, associados ao termo “Brasil” para delimitação geográfica, combinados por meio dos operadores booleanos AND e OR. Incluíram-se artigos originais completos, publicados entre 2019 e 2024, nos idiomas português, inglês ou espanhol. Excluíram-se revisões, dissertações e estudos duplicados. Dos 559 estudos identificados, 15 referiam-se ao Brasil, e, como recorte, 6 artigos abordaram especificamente a Amazônia.
Resultados
As mudanças climáticas têm causado impactos significativos na saúde das populações vulneráveis da Amazônia. O aumento das temperaturas e das queimadas durante o verão amazônico eleva os casos de doenças respiratórias, como asma e pneumonia. Em Manaus, o calor excessivo e a umidade favoreceram a disseminação da Covid-19 e de arboviroses como Dengue e Zika. Chuvas intensas, agravadas pelo El Niño, aumentaram os casos de Leishmaniose Tegumentar Americana. Esses fatores ampliam os riscos sanitários dos ribeirinhos, dos moradores das periferias dos centros urbanos amazônicos e das populações indígenas, exigindo ações específicas direcionadas aos eventos extremos adaptadas à realidade da Amazônia.
Conclusões/Considerações
Os impactos causados na saúde pelas mudanças climáticas na região da Amazônia são intensos e previsíveis, especialmente o aumento de doenças respiratórias e infecciosas. Para reduzir a vulnerabilidade instalada na região, esforços de investimentos na infraestrutura dos serviços de saúde, saneamento, vigilância epidemiológica e estratégias locais de adaptação devem ser programados sobretudo diante dos desafios ambientais crescentes.
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS E NA SAÚDE PROVOCADOS POR ENCHENTES E ONDAS DE CALOR NO BRASIL: UMA REVISÃO DE ESCOPO
Comunicação Oral Curta
Santos, R. C.1, Gurgel, A. M.1, Santos, M. O. S.1, Silva, E. N.1, Gurgel, I. G. D.1, Junior, G. D. G.1, Silveira, I. H.2
1 IAM- Fiocruz Pernambuco
2 ISC -UFBA
Apresentação/Introdução
O Brasil tem enfrentado eventos climáticos com consequências catastróficas para as populações, tendo como exemplo as enchentes enfrentadas pelo estado do Rio Grande do Sul, ou das ondas de calor em Minas Gerais. Esses eventos têm pressionado a produção científica no país, diante da necessidade de gerar evidências que possam subsidiar a formulação de políticas para a mitigação dos seus impactos.
Objetivos
Sistematizar as evidências científicas sobre os impactos socioambientais e na saúde provocados por enchentes e ondas de calor no Brasil
Metodologia
Trata-se de uma revisão de escopo segundo as diretrizes do Joanna Briggs Institute. Os artigos obedeceram a critérios de inclusão e exclusão, cuja busca aconteceu por dois revisores independentes nas seguintes bases: Medline, Lilacs, SciELO, Embase e Scopus. A estratégia de busca foi criada a partir da combinação de descritores controlados sobre o tema (ondas de calor, enchentes, Brasil), utilizando operadores booleanos OR e AND. Após as fases de identificação inicial (nº2950), seleção (nº233), elegibilidade (nº91) e busca manual nas referências (nº8) foram incluídos no Corpus final desta revisão 53 artigos categorizados segundo as variáveis pré-definidas e analisados tematicamente.
Resultados
Os resultados apresentam 37 estudos abordando enchentes e 16 ondas de calor, com relatos para todas as regiões do Brasil. Apontam-se efeitos negativos na organização dos territórios, condições de vida e no processo de adoecimento e morte, seja para doenças infectocontagiosas, crônicas ou outros agravos; prejuízos na economia, estrutura e oferta de serviços; além de danos ao ambiente como queimadas, deslizamentos de terra, assoreamento de rios e perda da vegetação. Os impactos variam segundo classe social, gênero, faixa etária, e um padrão de exposição mais caracterizado pelos estudos para as enchentes do que para as ondas de calor.
Conclusões/Considerações
Os dados apontam para a urgência de se construir uma resiliência climática do sistema nacional de saúde a fim de melhor responder aos desafios que emergem de um evento extremo como enchente ou onda de calor e agravados em um contexto de profundas desigualdades sociais a partir de impactos negativos na economia, sociedade, agricultura, ambiente e saúde.
INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA INCIDÊNCIA DE DENGUE, CHIKUNGUNYA E ZIKA: UMA OVERVIEW RÁPIDA DE REVISÕES SISTEMÁTICAS
Comunicação Oral Curta
Teixeira, F.C1, Aguiar, B.R.L1, Siqueira, C.G1, Normando, A.G.C1, Coelho, M.R.S1, Cunha, F.M.L.B1, Oliveira, F.H.C1
1 Ministério da Saúde
Apresentação/Introdução
As arboviroses como dengue, chikungunya e zika representam sérios desafios à saúde pública, especialmente em regiões tropicais e subtropicais. Fatores climáticos têm se mostrado cada vez mais relevantes na dinâmica de transmissão dessas doenças, afetando diretamente a reprodução, sobrevivência e dispersão dos vetores, como o mosquito Aedes aegypti.
Objetivos
Apresentar as evidências sobre as hipóteses causais da influência das mudanças climáticas no número de casos de dengue, chikungunya e zika
Metodologia
Foi conduzida uma overview rápida com metodologia adaptada, buscando revisões sistemáticas publicadas em português, inglês e espanhol nas bases PubMed, Web of Science, BVS e literatura cinzenta. Foram incluídas revisões que investigaram a associação entre mudanças climáticas e incidência de arboviroses, com apresentação explícita de hipóteses causais. A análise seguiu as diretrizes PRISMA, com avaliação metodológica baseada na ferramenta AMSTAR-2.
Resultados
Foram incluídas 14 revisões sistemáticas, totalizando 425 estudos primários. As variações climáticas mais frequentemente associadas a aumento nos casos foram: temperatura, precipitação, umidade e velocidade do vento. Temperaturas entre 22 °C e 29 °C favoreceram o ciclo de vida do vetor e a transmissão viral. Chuvas moderadas criaram habitats ideais para a proliferação do mosquito, enquanto chuvas intensas tiveram efeito oposto. A umidade relativa entre 82% e 89% aumentaram o risco de transmissão. A velocidade do vento elevada foi associada à redução da atividade do vetor. A maioria dos estudos incluídos apresentou baixa qualidade metodológica, com ausência de protocolo e avaliação de viés.
Conclusões/Considerações
Mudanças climáticas influenciam de forma significativa a incidência de arboviroses, reforçando a necessidade de integrar dados ambientais aos sistemas de vigilância epidemiológica. Apesar das limitações metodológicas, os achados sustentam a adoção de estratégias de controle vetorial e políticas públicas que considerem a sazonalidade climática e os determinantes socioecológicos locais.
MAPEAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE SETORES CENSITÁRIOS DE ALTAS PREVALÊNCIAS E SOPREPOSIÇÕES DE CONDIÇÕES DE SAÚDE DESFAVORÁVEIS: RESULTADOS DO PROJETO SAÚDE BRUMADINHO
Comunicação Oral Curta
Simões, T. C.1, Peixoto, S. W. V.1
1 Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento (NESPE) – FIOCRUZ MINAS
Apresentação/Introdução
O rompimento da barragem de mineração em Brumadinho em 2019 causou óbitos e impactos ambientais, econômicos, sociais e na saúde da população. A extensão do desastre mostra a relevância em avaliar desfechos desfavoráveis sobre a saúde física e mental, além de outros aspectos. A identificação de subregiões mais prevalentes é importante para o direcionamento de ações específicas, em tempo oportuno.
Objetivos
Mapear, identificar padrões espaciais e apontar subregiões com sobreposição de altas prevalências de condições de saúde desfavoráveis, segundo estimativas na linha de base do estudo conduzido pelo Projeto Saúde Brumadinho em 2021.
Metodologia
Estudo ecológico em setores censitários de recorte da coorte do Projeto Saúde Brumadinho em 2021. Foram estimadas as razões de prevalência (RP) e prevalências preditas via Modelos Lineares Generalizados com distribuição de probabilidade Poisson e variância robusta para as condições de saúde autorrelatadas: asma/bronquite, DPOC, gastrite/úlcera, câncer, pneumonia, hepatite, problema na tireoide e diabetes, ajustadas por idade e sexo. Os pesos amostrais e efeitos de desenho foram considerados. Cada agravo e a soma desses foram mapeados e heterogeneidade espacial analisada por Índice de Moran Local. Correlações espaciais bivariadas foram mapeadas, identificando regiões de sobrecarga de doenças.
Resultados
Dentre 3079 indivíduos, 50,1% foram mulheres, e idade mediana de 44 anos. As prevalências (IC95%) médias foram de asma/bronquite: 7,3% (6,1-8,9), DPOC: 3,3% (2,3-4,7), gastrite/úlcera: 13,7% (11,7-15,9), câncer: 2,8 (2,1-3,8), pneumonia: 9,6% (8,1-11,3), hepatite: 3,2% (2,4-4,3), tireoide: 7,2 (5,8-8,8), diabetes: 8,0% (6,7-9,5), com diferenças segundo sexo e idade. A sobrecarga de 2 e 3 agravos foi de 9,5% e 2,7%, respectivamente Prevalências ajustadas máximas entre os setores foram de (%) 41,6; 26,5; 58,5; 28,6; 42,3; 26,3; 33,8; 39,6; 19,4 e 15,2, respectivamente. Houve setor com até 8,5% de sobrecarga de 5 agravos. As distribuições espaciais foram distintas, com setores persistentes.
Conclusões/Considerações
As condições de saúde se distribuem de forma desigual no município, e alguns setores apresentam alta sobrecarga de doenças. A identificação dessas subregiões podem dar base para ações diferenciadas e direcionadas da Estratégia da Saúde da Família, que tem alta cobertura no município. As mudanças temporais e espaciais das distribuições dessas prevalências, bem como de sobrecarga de agravos serão monitoradas nas próximas ondas da coorte.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E MORTALIDADE DAS MULHERES SUDESTINAS: UMA ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS NO PERÍODO DE 2010 A 2019
Comunicação Oral Curta
Nogueira, M. C.1, Batista, L. C.1, Villas Bôas, J. V.1, Claro, B. F. P.1, Ramos, M. S.1, Ferreira, C. C. M.1, Ferreira, L. C. M.1
1 UFJF
Apresentação/Introdução
As mudanças climáticas estão se tornando um relevante fator de risco para a morbimortalidade mundial. Na região Sudeste do Brasil, onde estão alguns dos grandes centros urbanos, eventos climáticos extremos podem agravar condições de saúde, principalmente entre populações mais vulneráveis, como as mulheres, que por fatores sociais e biológicos, podem ser suscetíveis a esses impactos.
Objetivos
Este estudo objetiva avaliar, por meio de um estudo de séries temporais, a associação entre um índice de conforto térmico e a mortalidade de mulheres nas capitais dos quatro estados da região Sudeste do Brasil, de 2010 a 2019.
Metodologia
Foi realizado um estudo de séries temporais, tendo como desfecho os óbitos totais diários em mulheres e como exposição o Índice de Clima Térmico Universal (UTCI), no período entre 2010 a 2019, nas quatro capitais da região Sudeste. Os dados de mortalidade foram baixados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS) e os dados climáticos do estudo BR-DWGD com uso do pacote do R brclimr. O UTCI foi calculado com uso do pacote do R comf. Para estimar os riscos relativos (RR) associados a valores extremos de UTCI (percentis 2,5 e 97,5), foram ajustados modelos defasados não lineares distribuídos (DLNM) para cada capital, com defasagem de 21 dias, com uso do pacote dlnm.
Resultados
Ocorreram 713.042 óbitos de mulheres nas 4 capitais entre 2010 e 2019, com uma média de óbitos diários de 3 em Vitória até 97 em São Paulo. O UTCI teve valor mínimo de 5,9ºC em São Paulo e valor máximo de 46,4ºC no Rio de Janeiro. Com exceção de Vitória, valores extremos de UTCI foram associados ao maior risco de morrer em mulheres, com valores mais elevados de RR no frio extremo em São Paulo (RR=1,21; IC95%: 1,13-1,30) e no calor extremo no Rio de Janeiro (RR=1,25; IC95%: 1,17-1,33).
Conclusões/Considerações
Com as mudanças climáticas, vêm ocorrendo com maior frequência dias com temperaturas extremas, que se refletem em índices térmicos também extremos, acarretando maior risco de morte em mulheres nos grandes centros urbanos. Isto deve ser levado em conta no planejamento urbano destas cidades, através de medidas que possam melhorar o conforto térmico, como a implementação de áreas verdes e maior arborização das vias públicas.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O COMPORTAMENTO DA DENGUE EM UBERLÂNDIA – MG: UMA CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS DE CLIMATOLOGIA MÉDICA
Comunicação Oral Curta
SILVA, V. C. T.1, FERREIRA, T. G.1, COSTA, R. A.1
1 UFU
Apresentação/Introdução
As arboviroses são de grande interesse no campo da saúde pública e coletiva a nível mundial, e têm apresentado expansão significativa em termos de morbidade e mortalidade em diferentes porções do ecúmeno. Essas doenças são de grande interesse científico pelas características do Aedes aegypti, adaptado ao contexto ambiental e desigual da urbanização.
Objetivos
Compreender como as arboviroses se comportam em diferentes características climáticas em Uberlândia - MG
Metodologia
Analisou-se os dados do INMET (temperatura, umidade relativa e pluviosidade) do período de 1981 a 2024; e do DATASUS (incidência de dengue no município de Uberlândia) de 2001 a 2024. Ademais, montou-se um banco de dados, organizado em planilhas e gráficos (valores mínimos, médios e máximos) de forma que permitam comparações têmporo-espaciais. A partir disso, aplicou-se métodos geoestatísticos de projeção (o teste do sinal e a regressão linear) permitindo visualizar se há tendência de variação conjunta das variáveis, ou seja, se com o passar do tempo, há aumento (relação direta) ou redução da variável de interesse (relação inversa).
Resultados
Só no ano de 2024 foram notificados 27.030 casos de dengue no município de Uberlândia. Em relação aos dados climáticos considerando anos de 1981 a 2024 a pluviosidade média anual de 1498,7 mm, média da umidade relativa do ar é de 63,7%. Vale ressaltar que em Uberlândia no ano de 2024 teve sua maior temperatura média anual de 24,3 ºC (mín. de 22,7 e máx. de 24,3). Os resultados da correlação de Pearson evidenciou que: dengue e umidade relativa do ar têm correlação moderada (0,486); dengue e precipitação têm correlação fraca (0,165); e dengue e temperatura média têm correlação forte (0,763).
Conclusões/Considerações
Portanto, foi possível compreender que o comportamento das arboviroses, na cidade de Uberlândia - MG, obedece não somente a frequência e quantidade de precipitação, mas principalmente o aumento das temperaturas. Com isso infere-se que, através do aquecimento global e as mudanças climáticas em curso, a cidade vem aumentando sua temperatura média, principalmente nos meses mais secos, fazendo aumentar a quantidade de casos de dengue na cidade.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA PERCEPÇÃO DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE EM SÃO PAULO
Comunicação Oral Curta
Terra, M.F.1, Lachtim, S. A. F.1, Travassos, L. R. F. C2, Araújo, H. M. S3, Abdalla, F. T. M4, Pereira, N. C. O.1, Santos, M. A. R.1, Ribeiro, D. C.1
1 Escola de Enfermagem da USP
2 Universidade Federal do ABC
3 Universidade Federal da Bahia
4 Centro Universitário São Camilo
Apresentação/Introdução
No campo da Saúde Coletiva, as mudanças climáticas intensificam desigualdades sociais e iniquidades em saúde ao afetarem territórios e grupos de forma desigual. Para as mulheres, esses impactos agravam a violência de gênero e ampliam demandas por saúde, sobretudo de violações de direitos e injustiça social.
Objetivos
Investigar os efeitos das mudanças climáticas na vida de mulheres em situação de vulnerabilidade social, com foco na ocorrência e formas de violência de gênero.
Metodologia
O estudo acontece em uma ocupação do MTST em Santo André/SP, com cerca de 2000 integrantes, entre eles, mulheres em luta por habitação. De fevereiro a julho de 2025, adota-se a pesquisa-ação como método, com oficinas emancipatórias que promovem a apropriação coletiva do problema e reflexão sobre respostas. A análise será orientada pela Análise Crítica de Discurso. Já foram realizadas quatro oficinas, com média de 14 mulheres. Os temas incluem: mudanças climáticas; seus impactos no acesso à alimentação e moradia; desigualdades de gênero e a violência contra as mulheres como expressão dessas desigualdades.
Resultados
As oficinas revelaram como as mudanças climáticas agravam desigualdades de gênero já presentes no cotidiano das mulheres da ocupação. Surgiram falas sobre a sobrecarga do cuidado, a insegurança hídrica e alimentar e a ausência de políticas públicas, percebidas como formas de violência. A relação entre gênero e clima foi sendo construída coletivamente, a partir de experiências como a dupla jornada, a dificuldade no acesso à água e o impacto desigual da inflação nos alimentos. As participantes também expressaram que ser mulher é resistir diariamente, mesmo diante da invisibilidade e das desigualdades estruturais.
Conclusões/Considerações
As oficinas evidenciaram que as mudanças climáticas agravam desigualdades já vividas pelas mulheres da ocupação, como o acesso precário à água, o custo dos alimentos e a sobrecarga do cuidado. A partir de experiências concretas, a relação entre gênero e clima foi elaborada coletivamente, articulando desigualdades ambientais e violências estruturais.