Programa - Comunicação Oral Curta - COC3.6 - Eventos climáticos extremos, desastres e impactos nos territorios e na saúde
03 DE DEZEMBRO | QUARTA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
COMO AS ENCHENTES DE 2024 AFETARAM A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE PORTO ALEGRE/RS?
Comunicação Oral Curta
1 UFRGS
2 Pastoral do Povo da Rua
3 Joral Boca de Rua
Apresentação/Introdução
As enchentes de maio/2024 provocaram um estado de calamidade pública que afetou desigualmente populações vulnerabilizadas das regiões mais pobres, com maior predominância de pessoas negras e também a População em Situação de Rua (PSR). Esta já tem maiores riscos, acesso restrito a recursos assistenciais e de saúde, violências e iniquidades sociais, intensificados com os desastres.
Objetivos
Analisar o impacto das enchentes de maio/2024 em Porto Alegre para a PSR, considerando as ofertas do poder público antes, durante e após as enchentes de espaços protegidos de pernoite, alimentação, acesso a pias, sanitários e chuveiros.
Metodologia
Estudo quantitativo comparativo. Fontes secundárias: Cadastro Único, contratos, termos de colaboração, notícias oficiais de equipamentos e serviços de atendimento à PSR. Períodos selecionados: antes das enchentes (AE) - abril/2024; durante as enchentes (DE) - maio/2024; pós enchentes (PE) - setembro/2024. Variáveis coletadas: número da PSR (CadUnico); vagas em espaços protegidos para pernoite; alimentação; e acesso a pias, sanitários e chuveiros. Foram registradas as vagas ofertadas em: abrigos, albergues, casas de passagem, alojamentos temporários, moradia provisória. Restaurantes populares; Centrospop, bem como situação de alguns serviços de saúde (Consultórios na Rua - eCR e CAPS AD).
Resultados
Total da PSR: AE= 4592 pessoas; DE= 4705 pessoas; PE=5059 pessoas.
Cobertura de ofertas:
PSR/espaço protegido para pernoite: AE=31%; DE=27%; PE=23%.
PSR/oferta de alguma refeição diária: AE=35%; DE=22%; PE=30%.
PSR/acesso a pias e sanitários: AE=57%; DE=37%; PE= 42%.
PSR/acesso a chuveiro: AE=37%; DE=29%; PE=28%.
Serviços alagados ou inacessíveis: 1 abrigo (50 vagas); 1 albergue (75 vagas); 2 CentrosPop (160 vagas); 1 restaurante popular (200 almoços); 2 eCR; 1 CAPS AD III; 1 escola municipal que atende a PSR.
Foram criados 3 alojamentos provisórios específicos para a PSR com 190 vagas. Dos mais de 200 alojamentos para a população geral a maioria não aceitou a PSR.
Conclusões/Considerações
Durante as enchentes pioraram as ofertas já insuficientes de serviços à PSR, sem melhora em setembro/2024. A conexão entre maior vulnerabilidade e desastres se comprovou mais uma vez com as enchentes, que exacerbaram as adversidades de segmentos mais vulneráveis da população, como a PSR.
CUIDADO A TRABALHADORES DO SUAS NO ENFRENTAMENTO AO DESASTRE NO RIO GRANDE DO SUL: BOAS PRÁTICAS E RECOMENDAÇÕES
Comunicação Oral Curta
1 MDS/OIM
Período de Realização
Nov/2024 a jun/2025 – ações durante a reconstrução e prevenção de novos desastres no RS.
Objeto da experiência
Rodas de conversa com trabalhadores(as) do SUAS para identificar estratégias de cuidado e formação em emergências e reconstrução no RS.
Objetivos
Visibilizar práticas adotadas por trabalhadores(as) do SUAS em emergências; reconhecer experiências de cuidado e desafios nas condições de trabalho; e propor recomendações, com base nas vivências, para qualificar a atuação socioassistencial em contextos críticos.
Descrição da experiência
A Força de Proteção do SUAS (FORSUAS/MDS) em parceria com gestões locais, promoveu rodas de conversa com trabalhadores(as) do SUAS debatendo estratégias de cuidado em situações de emergências. As discussões foram sistematizadas em relatórios técnicos com boas práticas e recomendações, visando qualificar a resposta institucional e fortalecer a rede socioassistencial local.
Resultados
Destacaram-se como boas práticas o atendimento humanizado, a mobilização de recursos essenciais, o protagonismo de trabalhadores(as) do SUAS e sua valorização. Houve fortalecimento de vínculos com usuários e suporte emocional às equipes. Entre os desafios destacaram-se as condições de trabalho, a comunicação e a articulação com Saúde, Educação e Defesa Civil.
Aprendizado e análise crítica
As experiências revelam a força do trabalho coletivo e da escuta ativa, mesmo em contextos adversos. O protagonismo de trabalhadores(as), somado ao apoio comunitário e institucional, favoreceu respostas eficazes. Entretanto, a ausência de planejamento, a sobrecarga das equipes e falhas na comunicação evidenciam a urgência de investimentos em gestão, infraestrutura e cuidado contínuo com os profissionais.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se implementar planos de contingência intersetoriais, garantir condições dignas de trabalho, promover ações permanentes de cuidado emocional e físico aos trabalhadores e fortalecer a comunicação institucional. O reconhecimento formal das boas práticas, a articulação intersetorial e a inclusão dos trabalhadores na tomada de decisões são fundamentais para qualificar a resposta do SUAS em emergências futuras.
INOVAÇÃO COMUNITÁRIA PARA SAÚDE RESILIENTE AO CLIMA E GESTÃO FLORESTAL NA BACIA DO XINGU
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal do Pará, SAMA Health in Harmony
2 SAMA Health in Harmony
Período de Realização
2019 a 2025
Objeto da experiência
Modelo integrado de saúde e economia florestal sustentável em comunidades indígenas e ribeirinhas do Médio Xingu.
Objetivos
Implementar e avaliar um modelo de saúde e economia florestal sustentável para fortalecer o acesso a cuidados, autonomia econômica e conservação ambiental, promovendo saúde resiliente ao clima com inclusão comunitária e valorização de saberes tradicionais.
Metodologia
SAMA Health In Harmony atua com comunidades indígenas e ribeirinhas do Xingu, usando expedições móveis, telemedicina e clínicas solares para ampliar o acesso à saúde. O modelo integra fundo comunitário vinculado à economia florestal, apoiando emergências médicas e promovendo produção sustentável de castanha, óleo e borracha, fortalecendo autonomia econômica e conservação.
Resultados
Mais de 150 pacientes beneficiados pelo fundo comunitário de saúde. Cerca de 200 pessoas participam da economia florestal sustentável. Expedições e telemedicina ampliaram o atendimento em áreas remotas. O modelo fortalece governança local, inclusão de gênero e juventude, e está alinhado ao Plano de Saúde de Belém para adaptação climática e equidade.
Análise Crítica
A co-criação com comunidades aumenta a aceitação e eficácia das ações. A integração entre saúde e ambiente gera benefícios mútuos, reduzindo deslocamentos para atendimento e pressionando menos a floresta. O uso da telemedicina e saúde móvel é vital para áreas isoladas. Fundos vinculados à economia florestal fortalecem a responsabilidade local e a sustentabilidade financeira do sistema.
Conclusões e/ou Recomendações
Modelos integrados de saúde e economia florestal, construídos com participação comunitária, promovem saúde resiliente ao clima e conservação. Recomenda-se políticas públicas que ampliem financiamento e apoiem telemedicina, inclusão de saberes tradicionais, e fundos comunitários vinculados à economia sustentável para fortalecer autonomia e adaptação climática.
O IMPACTO DA CATÁSTROFE CLIMÁTICA NOS SERVIÇO DE HIV, AIDS E TUBERCULOSE NO RS: UMA ANÁLISE COMUNITÁRIA
Comunicação Oral Curta
1 GAPA RS
2 Forum ONG Aids RS
Apresentação/Introdução
O Rio Grande do Sul (RS) apresenta um contexto de epidemia de Aids generalizada, especialmente a região metropolitana de Porto Alegre, coeficiente de mortalidade de Aids 5X à média nacional e altas taxas de tuberculose (TB). Em maio de 2024, o RS foi assolado por inundações que desencadearam uma crise sanitária, política, social e econômica, sendo as populações vulnerabilizadas muito afetadas.
Objetivos
Compreender o impacto da catástrofe climática nas ações de prevenção, diagnóstico e tratamento da HIV e TB nos serviços de saúde e o acesso das pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA) e afetadas pela TB às políticas sociais e emergenciais no RS.
Metodologia
Estudo de métodos misto comtemplando a região metropolitana de Porto Alegre. Fase 1, qualitativo: diagnóstico situacional a partir do mapeamento de notas técnicas emitidas para mitigar os efeitos da catástrofe nos serviços e visitas a rede de abrigagem. Foram realizadas visitas em abrigos e entrevistas em profundidade, a partir de roteiro semi estruturado com PVHA e afetadas pela TB. Fase 2, quantitativo: instrumento contendo perguntas objetivas, autoaplicadas através de plataforma online e whatsAPP. As questões abordaram prevenção, diagnóstico, tratamento e acesso a políticas sociais. Para a etapa qualitativa foi realizada análise conteúdo e na quantitativa análise descritiva dos dados.
Resultados
Na qualitativa foi realizado mapeamento das condições sanitárias e dos recursos de saúde de abrigos, a partir da intervenção em 07 equipamentos e foram entrevistadas 11 pessoas, 09 PVHAs e 03 afetadas pela TB. A maioria relata a interrupção do tratamento (08), sendo os motivos apontados: extravio de medicação, constrangimento em visibilizar sorologia, falta de informação sobre retirada medicação e estigma. Na quantitativa tivemos 87 respondentes, 51% homens cis, 86% PVHA. 89% relatou interrupção do tratamento antirretroviral e/ou de TB. 93% enfrentou questões relacionadas a insegurança alimentar, 48% relatou situações de preconceito e 67% dificuldade em acessar políticas sociais.
Conclusões/Considerações
As estratégias desenvolvidas pelos serviços de saúde para garantir a continuidade dos tratamentos foram pouco efetivas e demonstram a necessidade da estruturação de um plano de contingência intersetorial robusto para mitigar os efeitos das emergências climáticas nos serviços de HIV/Aids e TB. Além disto, precisa conciliar ações que enfrentem as barreiras de acesso às políticas sociais e o estigma social que permeia o viver com HIV/Aids e/ou TB,
SINTOMAS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE APÓS AS ENCHENTES DE 2024 NO RIO GRANDE DO SUL: RESULTADOS DA COORTE PAMPA
Comunicação Oral Curta
1 Human and Evolutionary Biology Section Department of Biological Sciences University of Southern California Los Angeles, California, USA.
2 Programa de Pós Graduação em Epidemiologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil.
3 Center for Evidence Synthesis in Health, School of Public Health, Brown University, RI, USA.
4 Programa de Pós Graduação em Educação Física, Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
Apresentação/Introdução
Em abril de 2024, uma enchente sem precedentes atingiu o estado do Rio Grande do Sul, impactando cerca de 2,4 milhões de pessoas. Estima-se que a ocorrência de eventos climáticos extremos deva aumentar em frequência e intensidade devido às mudanças climáticas. Após esses eventos, observa-se piora da saúde mental da população, com um aumento dos sintomas de depressão e ansiedade.
Objetivos
Avaliar a associação entre sintomas de depressão e ansiedade e a ocorrência da enchente de 2024 entre residentes do Rio Grande do Sul.
Estimar a correlação entre o grau de impacto da enchente e a intensidade desses sintomas.
Metodologia
Realizamos um estudo observacional com dados da coorte PAMPA (Prospective Study on Mental and Physical Health in Adults), iniciada em 2020 no Rio Grande do Sul, e que realizou sua sexta coleta de dados em outubro de 2024. O impacto das enchentes foi avaliado por instrumento adaptado de Martin et al. (2016), com pontuação de 0 a 12, classificada em tercis. Sintomas de ansiedade e depressão foram mensurados pela escala HADS. Estimamos os coeficientes de correlação de Pearson para medir a relação linear entre a HADS e o escore de impacto da enchente. Utilizamos modelos multiníveis ajustados por fatores sociodemográficos para estimar a associação entre impacto da enchente e os sintomas. Análises foram realizadas no STATA 14.2.
Resultados
Analisamos dados de 2.494 adultos (média de 43,1 anos; 69,6% mulheres). No total, 83,8% dos participantes obtiveram pontuação acima de zero na escala de impacto das enchentes. Os mais impactados eram majoritariamente pardos, com baixa escolaridade e viviam sozinhos. Encontramos associação linear moderada entre impacto e sintomas de ansiedade (r = 0,29; IC 95%: 0,24–0,33) e depressão (r = 0,21; IC 95%: 0,16–0,25). Além disso, os mais afetados tiveram 1,72 (IC 95%: 1,49–1,97) e 1,52 (IC 95%: 1,25–1,86) vezes mais chance de apresentar sintomas moderados a graves de ansiedade e depressão, respectivamente, em comparação aos menos afetados.
Conclusões/Considerações
Mais de 80% dos participantes foram afetados pela enchente de 2024 no Rio Grande do Sul. Sintomas de ansiedade e depressão foram mais frequentes entre pessoas pardas, com baixa escolaridade e que viviam sozinhas. Observou-se que quanto maior o impacto, maior a intensidade de sintomas de ansiedade e depressão. É essencial que o governo implemente políticas públicas de apoio econômico e psicológico com foco nas populações vulneráveis.
SISTEMAS SOCIOECOLÓGICOS E EPIDEMIOLÓGICOS EM TRANSFORMAÇÃO E SEUS IMPACTOS NAS CONDIÇÕES DE VIDA E SAÚDE NA ZONA TRANSFRONTEIRIÇA ENTRE O BRASIL E A GUIANA FRANCESA.
Comunicação Oral Curta
1 FIOCRUZ
2 UFSC
3 PICTIS
Apresentação/Introdução
A fronteira Brasil–Guiana Francesa enfrenta rápidas transformações socioambientais e sanitárias, agravadas por mudanças climáticas. Em um território amazônico diverso e com oferta limitada de saúde, o projeto MOSAIC propõe ecossistemas de informação abertos para apoiar comunidades e fortalecer sua participação em políticas públicas.
Objetivos
Caracterizar e analisar os efeitos da implantação de empreendimentos de mineração e infraestrutura no município de Oiapoque, com ênfase nas consequências para os sistemas socioecológico e epidemiológico da região.
Metodologia
A pesquisa adota a abordagem da Saúde Única, articulando-se com os princípios da ecologia política da saúde e da vigilância participativa. Nos anos de 2024 e 2025 foram realizados levantamento documental, observação de campo, entrevistas abertas e oficinas com a sociedade civil e gestores públicos, visando captar percepções, estratégias e demandas locais.
Resultados
A instalação de empreendimentos como a PCH, a pavimentação da BR-156 e as atividades da Petrobras têm ampliado o fluxo migratório e atraído trabalhadores temporários, gerando crescimento urbano desordenado, alta no custo de vida e especulação imobiliária. Relatam-se realocações, mudanças nos fluxos terrestres e fluviais, aumento da circulação de veículos e pressão sobre territórios indígenas e quilombolas. Observa-se também maior risco de doenças vetoriais, sobretudo nas periferias urbanas e áreas rurais.
Conclusões/Considerações
As transformações atuais no município de Oiapoque na fronteira com a Guiana Francesa alteram a dinâmica demográfica e as condições de vida das populações que aí vivem. Faz-se necessário, um olhar atento e buscar as melhores informações possíveis para agir oportunamente e impedir a degradação ambiental e e seus efeitos negativos na saúde humana e animal.
SUBSIDÊNCIA, ÁGUA E CONFLITO: CONTROVÉRSIAS SOBRE OS IMPACTOS DA MINERAÇÃO NA LAGOA MUNDAÚ E SEUS EFEITOS NA SAÚDE COLETIVA E NA JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL
Comunicação Oral Curta
1 UFAL
Apresentação/Introdução
A subsidência do solo provocada pela extração de salgema na Lagoa Mundaú/AL gerou controvérsias sobre seus efeitos na qualidade da água, biodiversidade e saúde das comunidades. Em um território marcado por desigualdades socioambientais e racismo ambiental, o estudo analisa disputas entre saberes técnicos e populares diante da degradação hídrica e da crise ecológica em curso.
Objetivos
Analisar as controvérsias sobre os impactos da subsidência do solo na qualidade da água da Lagoa Mundaú, evidenciando disputas entre ciência e saberes locais sobre as causas da degradação e seus efeitos na saúde e nos territórios vulnerabilizados.
Metodologia
A pesquisa adota a Teoria Ator-Rede e a Cartografia de Controvérsias como abordagem metodológica. Foram analisados documentos técnicos, laudos ambientais, reportagens, audiências públicas e entrevistas com pescadores, marisqueiras e pesquisadores. O recorte espacial concentra-se na comunidade Dique-Estrada, em Maceió/AL, e o temporal abrange eventos pós-2018, marco da subsidência do solo na capital. A investigação combina análise documental e narrativas locais, com uso de ferramentas digitais. Busca-se compreender como os conflitos em torno da extração de salgema e da qualidade da água revelam desigualdades na produção do conhecimento e seus impactos na saúde coletiva.
Resultados
Identificaram-se controvérsias entre explicações científicas e saberes populares sobre a degradação da água na Lagoa Mundaú. Pesquisadores vinculados à universidade apontam fatores climáticos e ausência de vínculo direto com a mineração, enquanto movimentos sociais e ribeirinhos denunciam a ação da Braskem como causa principal. A não inclusão de análises de sal-gema nos laudos, o financiamento privado da pesquisa e a omissão estatal acirraram o conflito. A degradação hídrica comprometeu a pesca artesanal, ampliou a insegurança alimentar e intensificou as vulnerabilidades sociais. A crise evidenciou um território adoecido, atravessado por injustiças ambientais e violações do direito à água.
Conclusões/Considerações
A controvérsia em torno dos impactos da extração de sal-gema nas águas da Lagoa Mundaú explicita as disputas por verdade científica e os efeitos socioambientais do modelo de desenvolvimento excludente. A pesquisa aponta a necessidade de práticas científicas comprometidas com a justiça ambiental, revisão epistemológica da Saúde Coletiva e fortalecimento das vozes dos territórios vulnerabilizados na construção de políticas públicas sustentáveis
NA LINHA DE FRENTE DO CLIMA: CONDIÇÕES CLIMÁTICAS, TRABALHO DE AGENTES DE SAÚDE E AS FACES DA INJUSTIÇA CLIMÁTICA EM TERRITÓRIOS VULNERABILIZADOS
Comunicação Oral Curta
1 UFRGS
Apresentação/Introdução
Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE) atuam capilarmente nos territórios brasileiros, muitos dos quais marcados por vulnerabilidades socioambientais.Este resumo discute como as condições climáticas adversas afetam seu trabalho e saúde, evidenciando Injustiças Climáticas que sobrecarregam esses profissionais e impactam as comunidades.
Objetivos
Analisar, com base em relatos de ACS e ACE, os efeitos das condições climáticas sobre seu trabalho e saúde, relacionando essas vivências à Injustiça Climática e à urgência de reinventar a práxis da Saúde Coletiva no contexto de crise climática.
Metodologia
A discussão fundamenta-se na análise qualitativa de depoimentos de ACS e ACE sobre suas condições de trabalho e os desafios enfrentados em campo, com ênfase nas repercussões das variações e extremos climáticos em suas atividades diárias e saúde, extraídos de entrevistas durante os anos de 2022 e 2023 de agentes participantes do Programa Saúde com Agente.
Resultados
Os relatos apontam que o calor extremo, a exposição solar prolongada e as chuvas intensas são desafios que comprometem o trabalho dos ACS e ACE. Essas condições dificultam visitas domiciliares, ações de vigilância e promoção da saúde, além de provocarem efeitos diretos como insolação, desidratação e exaustão. A falta ou inadequação de EPIs — como protetor solar, roupas apropriadas e abrigos — agrava essa vulnerabilidade. Como moradores das mesmas áreas em que atuam, esses trabalhadores sofrem os efeitos da crise climática. A intensificação de doenças vetoriais e a atuação em ambientes contaminados e sem saneamento acentuam riscos, evidenciando iniquidades socioambientais.
Conclusões/Considerações
As condições climáticas adversas emergem como um significativo risco ocupacional e a manifestação da Injustiça Climática para ACS e ACE, impactando em sua saúde e na capacidade de resposta do sistema de saúde nos territórios. Reconhecer e mitigar esses impactos é essencial para proteger esses profissionais e garantir ações que promovam territórios saudáveis e resilientes.
CARTOGRAFANDO RESISTÊNCIAS EM TERRITÓRIOS PERIFÉRICOS NA CIDADE DE SALVADOR/BA NO ENFRENTAMENTO AO RACISMO AMBIENTAL
Comunicação Oral Curta
1 Faculdade de Saúde Pública - USP
2 Faculdade de Medicina - USP
Apresentação/Introdução
Sendo o Brasil marcado por profundas desigualdades étnicas e raciais, os debates em torno do racismo ambiental constitui e atravessa as experiências históricas e sociais das cidades. Em territórios vulnerabilizados, elucida a perpetuação de desigualdades e discriminações étnico-raciais nas diferenciações de tratamento dos grupos nas disputas pelo território e em torno dos direitos socioambientais.
Objetivos
Compartilhar parte das visibilidades produzidas por uma pesquisa de doutorado que acompanha movimentos de coletivos nas denúncias e construções de resistências no enfrentamento do racismo ambiental em territórios periféricos da cidade de Salvador/Ba.
Metodologia
Pesquisa de doutorado desenvolvida a partir da abordagem cartográfica e orientada pelo pressuposto de que o processo de produção do conhecimento é construído no encontro com diferentes saberes, práticas e modos de viver dos/das participantes da investigação. Desde 2023, temos mapeado modos coletivos de cuidado e produção de saúde por meio de aproximações e acompanhamentos de movimentos sociais, rezadeiras e benzedeiras, e pessoas envolvidas com práticas de cuidados comunitários/ecológicos em territórios da cidade de Salvador/Ba, com base na utilização de diários de campo, escrita de narrativas, registros de imagens e arranjos para a mediação de oficinas imersivas nestes territórios.
Resultados
Evidencia-se a intersecção entre a dimensão étnico-racial e vivência de direitos, no contexto das lutas pelo cuidado/defesa da natureza ante os interesses predatórios capitalistas, como ocorre no Parque São Bartolomeu, situado em um bairro preto e periférico. O espaço é alvo de políticas públicas (com participação privada) na lógica do desenvolvimento urbano-industrial, com projetos hostis à existência deste ecossistema: construção de um lixão e de via do Veículos Leves sobre Trilhos. Sob permanente tensão, coletivos constroem denúncias institucionais e incentivos à ocupação do espaço (trilhas ecológicas e oficinas imersivas) para o resgate-fortalecimento da memória-história do território.
Conclusões/Considerações
Os recolhimentos do campo de pesquisa dão pistas da perpetuação do racismo ambiental em territórios com populações racializadas, como no caso dos predatórios projetos no Parque São Bartolomeu, uma das últimas reservas de Mata Atlântica em área urbana. Diante disso, a resistência dos coletivos evidencia o sentido do reconhecimento destes territórios como lugar de memória e pertencimento, algo vital e inegociável.
EFEITOS DA TEMPERATURA AMBIENTE NA MORTALIDADE DE MENORES DE CINCO ANOS: UM ESTUDO CASE-CROSSOVER DE ABRANGÊNCIA NACIONAL NO BRASIL
Comunicação Oral Curta
1 UFBA
2 Fiocruz-BA
3 LSHTM
4 Fiocruz-PI
5 Fiocruz-BA e UFBA
6 IS GLOBAL e IR SANT PAU
Apresentação/Introdução
As mudanças climáticas representam uma ameaça crescente à saúde infantil, especialmente em países com profundas desigualdades sociais. Crianças menores de cinco anos são sensíveis aos efeitos do calor e do frio extremos, mas ainda há poucas evidências sobre como a temperatura ambiente afeta sua mortalidade em contextos como o Brasil.
Objetivos
Investigar os efeitos de curto prazo da exposição a temperatura ambiente (calor e frio) sobre a mortalidade de menores de cinco anos no Brasil, explorando disparidades regionais, efeitos específicos por faixa etária e causas de morte.
Metodologia
Foi realizado um estudo case-crossover estratificado no tempo e espaço, abrangendo todos os municípios brasileiros entre 2000 e 2019, com dados climáticos do BR-DWGD (Brazilian Daily Weather Gridded Data) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade. O desfecho foi a mortalidade em menores de 5 anos, total e estratificada por faixa etária, região e causas específicas. As associações foram estimadas com modelos de Poisson combinados com modelos não lineares de defasem distribuída (DLNM). Foram estimados riscos relativos (RR) e intervalos de confiança de 95% (IC) para frio extremo (1º percentil) e calor extremo (99º percentil), em comparação à temperatura de mortalidade mínima (TMM).
Resultados
As associações apresentaram padrão em U. O RR foi 1,86 (IC: 1,59–2,18) após frio extremo e 1,25 (IC: 1,13–1,38) após calor extremo. O risco relacionado ao frio foi maior na região Sul (RR: 2,03; IC: 1,52–2,73), e o relacionado ao calor, na região Nordeste (RR: 1,89; IC: 1,22–2,91). Observou-se maior risco associado ao frio no período pós-neonatal (RR: 3,04; IC: 2,22–4,17), enquanto o risco relacionado ao calor aumentou com a idade, sendo maior no grupo de 1 a 4 anos (RR: 1,61; IC: 1,24–2,09). O frio foi associado a maior risco de mortalidade por doenças infecciosas e respiratórias, enquanto o calor se associou a maior risco de morte por doenças infecciosas, diarreicas e respiratórias.
Conclusões/Considerações
Observou-se aumento do risco de mortalidade em menores de cinco anos no Brasil associado tanto ao frio quanto ao calor, com variações segundo região, grupo etário e causa do óbito. Os resultados reforçam a necessidade urgente de intervenções específicas para adaptação e mitigação dos impactos das temperaturas extremas, com foco na proteção da saúde infantil em um contexto de mudanças climáticas.
ATUAÇÃO INTERSETORIAL NA PREVENÇÃO, PREPARAÇÃO E RESPOSTA A EMERGÊNCIAS EM SAÚDE PÚBLICA POR DESASTRES NATURAIS EM MUNICÍPIOS DO SUDOESTE DA BAHIA
Comunicação Oral Curta
1 SESAB
Apresentação/Introdução
Os desastres naturais têm se intensificado, exigindo respostas coordenadas em saúde pública. Na região sudoeste da Bahia, municípios como Itapetinga enfrentam desafios crescentes com enchentes. Para fortalecer a capacidade local de prevenção, preparação e resposta a emergências, as ações intersetoriais são essenciais para a construção do plano de contingências, alinhado às diretrizes do SUS.
Objetivos
Desenvolver estratégias intersetoriais voltada ao fortalecimento da capacidade de prevenção, preparação e resposta a desastres naturais (enchentes) no município de Itapetinga, Bahia, com foco na elaboração do plano de contingências para desastres.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa-intervenção educacional estruturada como capacitação dos profissionais de saúde, meio ambiente, assistência social, defesa civil e corpo de bombeiros de Itapetinga. Foi realizada a revisão de
literatura em bases científicas e documentos oficiais para embasar a construção de um documento orientador. O curso foi organizado em módulos, com conteúdo sobre risco, vulnerabilidade, gestão de desastres e elaboração de planos de contingências. A metodologia incluiu aulas presenciais, atividades práticas, exercícios de simulação e elaboração de um plano piloto. A gestão do curso foi realizada pelo Núcleo Regional de Saúde Sudoeste em articulação com os parceiros municipais.
Resultados
O principal produto da capacitação dos profissionais consiste na formulação de planos de contingências para enfrentamento de desastres naturais (enchentes), considerando mapeamento de áreas de risco, definição de fluxos de resposta e estratégias de mitigação. O curso possibilita maior integração entre os setores envolvidos, estimulando a governança intersetorial e o fortalecimento da vigilância em saúde. A elaboração de um plano piloto específico para Itapetinga constitui o marco inicial para futuras ações locais de prevenção e resposta a desastres, ampliando a resiliência comunitária e a capacidade de resposta do município.
Conclusões/Considerações
A proposta de capacitação intersetorial representa um avanço na qualificação da gestão municipal frente aos desastres naturais. O envolvimento de múltiplos setores amplia a capacidade de resposta e prepara Itapetinga para futuras emergências. É uma ação que aproveita recursos locais e articula atores estratégicos. Recomenda-se a replicação da iniciativa em outros municípios, visando fortalecer a preparação para emergências em saúde pública.
Realização: