
Programa - Comunicação Oral Curta - COC35.3 - Estratégias de Proteção e Cuidado para Mulheres em Situação de Vulnerabilidade
03 DE DEZEMBRO | QUARTA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
ANÁLISE DE RISCO COMO RECURSO TÉCNICO/METODOLÓGICO DE PROTEÇÃO A MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO DECORRER DE ATENDIMENTOS SÓCIO-INDIVIDUAIS
Comunicação Oral Curta
1 Associação Comunitária Monte Azul
Apresentação/Introdução
Os elevados índices de feminicídio e violência doméstica evidenciam a insuficiência dos recursos públicos em garantir a segurança das vítimas. Diante disso, é fundamental que os profissionais direcionem esforços à identificação de outros fatores protetivos, por meio de uma análise de risco que considere a autonomia das próprias mulheres sobre a possibilidade de uma violência fatal.
Objetivos
Apresentar a análise de risco como recurso técnico/metodológico de proteção a mulheres vítimas de violência doméstica, no contexto dos atendimentos sócio-individuais.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, baseada em fonte documental e de caráter descritivo-exploratório, que considerou as expressões da questão social durante o atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica, realizado por uma equipe multidisciplinar de saúde na zona sul da cidade de São Paulo. A coleta de dados ocorreu por meio da análise rigorosa de evoluções de prontuários e anotações dos profissionais ao longo do acompanhamento em saúde mental. Participou do estudo uma paciente negra, vítima de violência doméstica perpetrada por parceiro íntimo, que esteve em atendimentos sócio-individuais por mais de um ano.
Resultados
Destacam-se nos registros do prontuário de Wekesa (74 anos), mulher negra e aposentada, que complementava sua renda com a venda de recicláveis e vivia em situação de vulnerabilidade social e econômica, os relatos de violência doméstica em seu relacionamento conjugal de mais de 40 anos com um companheiro alcoolista. Apesar dos riscos, resistia em denunciá-lo. No seguimento de seu cuidado, passou a considerar, por meio de uma análise de risco, medidas para se proteger melhor diante da iminência de uma violência fatal. Após oito meses de atendimentos semanais, aceitou o encaminhamento para um serviço de apoio a mulheres vítimas de violência, à medida que as agressões se intensificaram.
Conclusões/Considerações
A pesquisa evidenciou a importância de respeitar a autonomia da mulher vítima de violência no processo de sensibilização. A análise de risco destacou-se como um recurso técnico/metodológico de caráter dinâmico, que, ao longo dos atendimentos sócio-individuais, buscou promover uma reflexão crítica sobre suas vivências e individualidade, mediada pela garantia de seus direitos sociais e pela preservação da própria vida.
EFEITO DA PANDEMIA DA COVID-19 NOS HOMICÍDIOS DE MULHERES NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE SÉRIE TEMPORAL INTERROMPIDA
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2 Instituto Nacional de Câncer
3 Secretaria do Estado da Saúde do Estado do Rio Grande do Norte
4 Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
5 Universidade Federal de Sâo Paulo
Apresentação/Introdução
Estudos indicam que restrições impostas pela Covid-19 intensificaram violência doméstica. Conforme teorias de tensão, confinamento, estresse e maior consumo de álcool elevam agressões. No Brasil, no início da pandemia houve aumento de denúncias de violência doméstica e redução nas hospitalizações por agressão. No entanto, o efeito da pandemia nos homicídios de mulheres ainda não está claro.
Objetivos
Analisar o efeito da pandemia da Covid-19 nas taxas mensais de homicídios de mulheres residentes no Brasil, no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2022, por meio de uma análise de série temporal interrompida
Metodologia
Realizou-se um estudo ecológico utilizando os registros de óbito do SIM/DATASUS, que analisou o efeito da pandemia nas taxas mensais de homicídios por meio de séries temporais interrompidas (ITS) utilizando uma regressão Quasi-Poisson para estimar as mudanças nos níveis e tendências de homicídios antes e durante a pandemia, ajustando para autocorrelação serial e sazonalidade. Os registros de óbito foram obtidos junto ao SIM/DATASUS. As taxas foram estratificadas por região, faixa etária, local de ocorrência (residencial/público) e método (arma de fogo/objeto contundente).
Resultados
Entre 2017 a 2022, a taxa ajustada de homicídios foi 4,28 homicídios por 100000 mulheres. As regiões Norte e Nordeste registraram as maiores taxas. Assassinatos no domicílio superaram os em espaços públicos (1,50 vs. 1,37/100 000), e armas de fogo predominaram. Durante a pandemia no Nordeste ocorreu aumento abrupto (RR = 1,236; p = 0,002) seguido de declínio (RR = 0,9923; p < 0,001) nas taxas ao longo da pandemia. Nas demais regiões não houve mudança de nível, mas houve redução taxas ao longo da pandemia (p < 0,05). Em comparação com o cenário contrafactual, o declínio observado foi menor do que o esperado, indicando uma desaceleração na redução dos homicídios de mulheres durante a pandemia.
Conclusões/Considerações
O Brasil apresentou disparidades regionais nas taxas mensais de homicídios de mulheres, com o Norte e o Nordeste apresentando maior carga de violência letal contra as mulheres. Embora o Brasil tenha registrado um modesto avanço na redução das taxas de homicídio de mulheres nos últimos seis anos, permanece entre os países mais perigosos para as mulheres na América Latina.
PERFIL DE NOTIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES QUE VIVEM EM CONTEXTOS RURAIS DE MINAS GERAIS ANTES E DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
Comunicação Oral Curta
1 Fiocruz
2 UENP
Apresentação/Introdução
A violência contra mulheres do campo, da floresta e das águas ainda é pouco estudada. Sendo um grupo que tem como característica o isolamento geográfico, pergunta-se pelo impacto da pandemia de COVID-19 na composição dos perfis de violência. A pandemia provocou mudanças estruturais, especialmente no que se refere ao convívio social, muitas vezes protetor de violência contra a mulher.
Objetivos
O objetivo deste estudo é encontrar perfis de violência contra mulheres que vivem em contextos rurais de Minas Gerais antes e durante a pandemia de COVID-19.
Metodologia
Estudo transversal com dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) de 2018 a 2021 de Minas Gerais de mulheres da zona rural. Agrupou-se 2018 e 2019 para compor o período pré-pandêmico e 2020 e 2021, o pandêmico. As variáveis foram agrupadas em com/sem parceiro, autor parceiro íntimo/outro, ocorrência dentro de casa/fora, escolaridade abaixo/acima de 8 anos, uso de álcool/não pelo autor, cor negra/branca, faixa etária 18-21, 22-30, 31-39 e 40 ou mais, violência de repetição sim/não, tipo de violência múltipla, física, psicológica e sexual. Análise de correspondência múltipla e análise de cluster identificou perfis antes e durante a pandemia nos casos com dados completos.
Resultados
Permaneceram 2791 casos antes e 1462 durante a pandemia. O método da silhueta indicou dois grupos antes da pandemia e três durante. Em ambos os períodos identificou-se o perfil de violência perpetrada pelo parceiro íntimo, alcoolizado, sendo a violência múltipla, de repetição, em casa, sem violência sexual, a vítima negra, de escolaridade abaixo de 8 anos, casada e acima de 30 anos de idade. O outro perfil é de violência perpetrada por outro autor, não alcoolizado, não de repetição, violência física e sexual, tanto dentro quanto fora de casa em mulheres jovens. Um terceiro perfil aparece na pandemia de mulheres solteiras, acima de 40 anos, vítimas de outro autor, em casa e sem repetição.
Conclusões/Considerações
Observa-se perfis de violência contra mulheres rurais, sendo vítimas de violência por parceiro íntimo uma constante independente de eventos contextuais. Por outro lado, durante a pandemia, um terceiro grupo de vítimas solteiras aparece. A partir da identificação do perfil, é possível direcionar encaminhamentos mais adequados e melhorar a articulação da vigilância para a prevenção de desdobramentos de desfechos agravados da violência.
AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA À MULHER: PERSPECTIVAS E DESAFIOS EM ÁREAS RURAIS
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Estadual da Paraíba
2 Universidade Federal de Campina Grande
Apresentação/Introdução
A violência contra a mulher é, de fato, um problema de saúde pública sendo vista como uma forma de desigualdade de gênero. As áreas rurais são os lugares onde existe maior dificuldade de cobertura, logo, as ações de saúde devem ser guiadas pelas especificidades do contexto territorial, a fim de poder planejar a melhor forma de atendimento à mulher vítima de violência.
Objetivos
Analisar perspectivas e desafios dos Agentes Comunitários de Saúde no enfrentamento da violência contra a mulher rural.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado em Campina Grande-Paraíba nos Distritos Sanitários rurais. Participaram da pesquisa 16 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), selecionados por amostragem por conveniência. Foram incluídos: profissionais que atuavam exclusivamente na zona rural e tinham mais de um ano de experiência na Estratégia de Saúde da Família. E excluídos, profissionais em licença, férias, ou não ser localizado no ambiente de trabalho após três tentativas consecutivas. A análise dos dados foi conduzida pela Análise de Conteúdo, conforme proposto por Bardin. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética sob o parecer nº 6.980.900/2024.
Resultados
Após análise das entrevistas foi possível elencar duas categorias: Categoria 1 - Desafios dos Agentes Comunitários de Saúde frente a violência contra a mulher: evidencia-se necessidades sentidas pelos ACS que geram angústia e sofrimento no trabalho, destacando-se: ausência de um espaço para realização de oficina, bem como oferta de ações voltadas para essa temática. Categoria 2 - violência contra a mulher: ações para promover uma atenção integral: destaca-se as principais estratégias consideradas relevantes para assistirem a vítima de violência, de forma qualificada, integra e singular frente às suas necessidades: Realização de capacitação e oficina a respeito da violência contra a mulher.
Conclusões/Considerações
Ao analisar os resultados deste estudo, nota-se uma fragilidade na assistência, o que compromete a qualidade do atendimento. Ressalta-se também, o desconhecimento dos agentes comunitários de saúde em relação aos caminhos a serem seguidos após identificação dos casos. Nessa direção, evidencia-se, também, a oferta de capacitações para as equipes de saúde rurais, visando uma melhor identificação e acolhimento dessas mulheres.
A FAMÍLIA COMO REDE PESSOAL SIGNIFICATIVA DE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
Comunicação Oral Curta
1 UFTM
Apresentação/Introdução
A violência de gênero é constantemente alimentada pela ideologia patriarcal e machista. O caráter sexista predomina na formação das estruturas sociais, midiáticas e trabalhistas, nas quais se incubem de alimentar a performance da definição de papéis de gêneros masculinos e femininos. Ao adicionarmos variáveis econômicas e raciais, as vivências e impactos dos maus-tratos tornam-se mais complexas e desiguais.
Objetivos
Compreender como o apoio social impacta as vivências de mulheres vítimas de violências
ao longo de sua trajetória de vida.
Metodologia
Estudo de Revisão Sistemática sobre violência contra as mulheres. Com a estratégia PICo
fez-se a pergunta: qual a qualidade e a eficácia da rede pessoal significativa de mulheres vítimas
de violência após o atendimento? Descritores: “violência contra a mulher”, “apoio social”, “centro
de referência” e “papel de gênero”. Incluiu-se: estudos de 2022 a 2024; em inglês e português;
acesso aberto; texto completo nas bases Psycarticles, Scielo, BVS, Pubmed, Pepsic, Scopus e a
Web of Science. Exclusos: período de publicação, outros idiomas, teses e dissertações. A
seleção e análise foi auxiliada com a plataforma Rayyan, seguido do exame e descarte, pelo
título, resumo e leitura completa.
Resultados
Dentre os 831 artigos inicialmente encontrados, 7 estudos atenderam todos os critérios de
inclusão necessários para esta pesquisa. 57% foram publicados em 2024, 43% utilizaram
métodos qualitativos, nenhum estudo brasileiro foi selecionado. Em relação às discussões, a
violência perpetuada por parceiros íntimos foi a mais abordada pelos autores. Seis abordaram a
família de dois modos: ora como rede de apoio eficiente ora como um sistema ineficiente.
Emergiu a categoria “a família como rede informal de suporte”, a qual se encarregou de investigar
as ações familiares frente às violências relatadas pelas mulheres.
Conclusões/Considerações
Ao procurarem apoio no agrupamento familiar as mulheres são responsabilizadas pelas violências sofridas e encorajadas a retomar o relacionamento com o agressor. As relações de poder desiguais sustentadas no imaginário coletivo são constantemente reproduzidas nas estruturas familiares. A ausência de estudos brasileiros demonstra a falta de monitoramento de mulheres brasileiras após a desvinculação de serviços de referência, como os de saúde.
SÍNTESES DE EVIDÊNCIAS PARA ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM EMPRESAS PRIVADAS
Comunicação Oral Curta
1 USP
Apresentação/Introdução
A violência doméstica contra mulher é uma grave violação dos Direitos Humanos, sendo promotora de iniquidades sociais, e impactando na vida profissional da mulher. O envolvimento de empresas do setor privado com a questão é necessário. A síntese de evidências promove articulação da produção acadêmica com ações práticas para subsidiar Políticas Públicas Informadas por evidências
Objetivos
O objetivo deste trabalho é realizar síntese de evidências para subsidiar políticas públicas voltadas ao enfrentamento da violência doméstica nas empresas privadas.
Metodologia
A metodologia escolhida é a Síntese de Evidências, ferramenta para construção de Políticas Informadas por evidências. A Síntese é um resumo focado em um problema com o intuito de esclarecê-lo, oferecer opções, possíveis impactos e barreiras, e estratégias para contornar estes últimos. É realizada em duas partes, a primeira é uma revisão sistemática em bases de dados. Dos estudos selecionados são elaboradas as opções de enfrentamento do problema em questão. A segunda parte é realizar um Diálogo Deliberativo com diferentes atores sociais envolvidos com a questão para analisar as opções dadas
Resultados
A revisão sistemática realizada entre novembro e dezembro de 2023, encontrou 360 estudos em 5 bases de dados. Após o processo de seleção foram incluídos 14 estudos, 2 deles por indicação de especialistas. 64% dos estudos são de países de alta e média renda. O tipo de estudo mais frequente foram os editoriais. As ações relatadas nos estudos foram reunidas de acordo com suas similaridades em 3 grupos, que formaram as opções apresentadas e analisadas no Diálogo Deliberativo em maio de 2025. Após este foram elencadas as seguintes opções: Treinamento e educação sobre violência doméstica; Prevenção e Proteção no ambiente de trabalho e Aconselhamento e Cuidado Emocional.
Conclusões/Considerações
A partir do estudo, considerou-se que o tema é pouco explorado academicamente, devido ao baixo número de estudos. A proteção dos Direitos Humanos para a promoção da equidade social deve envolver as empresas do setor privado, através de Políticas Públicas. Países com maior produção de estudos têm políticas públicas para empresas do setor privado relacionadas à proteção dos funcionários.
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: PESQUISA NASCER NO BRASIL II (NB II)
Comunicação Oral Curta
1 UERJ
2 FioCruz
3 FioCuz
Apresentação/Introdução
A violência obstétrica (VO) foi oficialmente reconhecida como um importante problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS)1 e pela Organização das Nações Unidas2 (ONU) apenas na década de 2010. A prevalência no Brasil pode variar entre 18 - 45% evidenciando um importante problema de saúde pública. No entanto, não conhecemos a sua magnitude dentro do estado do Rio de janeiro.
Objetivos
Estimar a prevalência e coocorrência de violência obstétrica em mulheres internadas por motivos de parto no estado do Rio de Janeiro, bem como sua distribuição de acordo com características demográficas, socioeconômicas e referentes à gestação atual.
Metodologia
Trata-se de uma coorte perinatal. Os dados utilizados foram obtidos no segundo seguimento telefônico da pesquisa “Nascer no Brasil II” referente ao estado do Rio de Janeiro. A violência obstétrica (abuso físico; abuso psicológico; negligência; estigma & discriminação; e toques vaginais inadequados) foi avaliada por meio de uma versão adaptada transculturalmente de um questionário endossado pela OMS Estimou-se as prevalências e perfil de coocorrência (Diagrama de Venn) dos tipos de violência obstétrica analisados.
Resultados
A prevalência de violência obstétrica foi de 65,3%, destacando-se toques vaginais inadequados (46,2%), negligência (31,5%) e abuso psicológico (21,7%). Foram mais afetadas mulheres com baixa escolaridade, sem emprego, beneficiárias de programas sociais e que tiveram parto financiado pelo SUS. Idade ≥35 anos, entrar em trabalho de parto e ser primípara também se associaram a maior ocorrência. A coocorrência dos quatro dos subtipos abuso psicológico, negligência, estigma/discriminação e toques inadequados foi de 3,0%.
Conclusões/Considerações
Os achados mostraram que a violência obstétrica é um problema de saúde pública relevante no estado do Rio de janeiro, entretanto sua ocorrência evidencia uma desigualdade no atendimento a certos subgrupos de puérperas.
PREVALÊNCIA E CARACTERÍSTICAS PREDITORAS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA PSICOLÓGICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: PESQUISA NASCER NO BRASIL II
Comunicação Oral Curta
1 IMS/UERJ
2 IFF/FIOCRUZ
3 ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A violência obstétrica (VO) é um problema de saúde pública que afeta as mulheres durante o período gravídico-puerperal. Desde 2010, organizações mundiais reconhecem essa violência, que pode ocorrer de várias formas, inclusive psicologicamente. No Brasil, mesmo com mais debates e canais de denúncia, são poucas as pesquisas que realmente representem a situação em todo o território.
Objetivos
Este estudo tem como objetivo identificar as características preditoras associadas à ocorrência da violência obstétrica psicológica em mulheres do estado do Rio de Janeiro.
Metodologia
Trata-se de uma coorte perinatal de base hospitalar e representatividade nacional e por macrorregião chamada “Nascer no Brasil II”, que ocorreu entre 2021 e 2025. Os dados foram coletados no segundo seguimento telefônico referente ao estado do Rio de Janeiro. A VO psicológica foi avaliada por meio de um questionário específico. As variáveis de interesse incluíram idade materna, escolaridade, paridade, ter entrado em trabalho de parto, duração do trabalho de parto, presença de acompanhante e internação financiada pelo setor público. Para a análise dos dados, foi realizada uma regressão logística para identificar as características preditoras associadas a ocorrência da violência psicológica.
Resultados
A prevalência de VO psicológica no estado do Rio de Janeiro foi estimada em 21,7%. As principais características preditoras desse tipo de violência foram: idade superior a 35 anos, escolaridade inferior ao ensino superior, nuliparidade, ter entrado em trabalho de parto, duração do trabalho de parto superior a 8 horas, ausência de acompanhante e internação financiada pelo setor público. A prevalência estimada de violência obstétrica psicológica foi de 1,0% entre mulheres sem nenhuma dessas características e de 59,9% entre aquelas que apresentaram todas elas.
Conclusões/Considerações
A VO é um problema de saúde pública no Rio de Janeiro, evidenciando disparidades no atendimento. A violência psicológica durante o parto é frequente na região, especialmente entre mulheres com dificuldades econômicas e sociais. Por isso, são necessárias ações educativas direcionadas aos profissionais de saúde e às mulheres, para conscientizar sobre a VO e mitigar essa violência.
CARACTERIZAÇÃO DAS VIOLÊNCIAS SOFRIDAS POR GRÁVIDAS MENORES DE 14 ANOS NO BRASIL NOTIFICADAS NO PERÍODO DE 2010 A 2017
Comunicação Oral Curta
1 UFU
Apresentação/Introdução
A Lei nº 12.015, de 2009, estabelece atos de cunho sexual com menores de 14 anos como estupro presumido. Apesar da lei, o crime ainda é recorrente, e culmina frequentemente em gestações. A Ficha de Notificação Compulsória ajuda a identificar diferentes violências registradas contra meninas mães no serviço de saúde, se há invisibilização da violência sexual inerente, além do perfil das vítimas.
Objetivos
A caracterização levanta informações sobre notificação da violência sexual no Brasil, perfil das vítimas, tipo de violência sofrida e encaminhamentos realizados até a entrada no serviço de saúde, visando elucidar aspectos referentes a essa violência.
Metodologia
Estudo descritivo, ecológico, com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN) referentes a notificações de violência contra gestantes menores de 14 anos entre 2010 e 2017. Para a análise dos dados, foi calculada a prevalência referente ao total de nascidos vivos dos anos em questão de mães na faixa etária analisada, presentes no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Foram analisadas variáveis presentes na Ficha de Notificação Compulsória, como: idade; raça/cor; escolaridade; gestante, situação conjugal, local de ocorrência da violência, ocorreu outras vezes, tipo de violência, se ocorreu violência sexual, procedimento realizado e encaminhamentos.
Resultados
Foram analisadas 10.864 notificações de violência contra gestantes menores de 14 anos entre 2010 e 2017, frente a 212.293 nascidos vivos, com prevalência de 5,12%. O perfil visto foi de meninas de 13 anos (37,49%), pardas (55,5%) e com escolaridade entre 5ª e 8ª série incompleta (50,47%). Os tipos de violência mais registrados foram sexual, física e psicológica/moral. A maioria declarou-se solteira (68,12%) e 67,91% dos casos ocorreram no domicílio, sendo 48,8% recorrentes. Campos como “encaminhamentos” e detalhamento da violência sexual foram amplamente ignorados. Profilaxias de ISTs não ocorreram em cerca de 60% dos casos. Disparidade no número de notificações por estado foi observada.
Conclusões/Considerações
Ainda que a violência mais notificada seja do tipo sexual, nota-se a baixa porcentagem de notificações referentes a todos os tipos de violências sofridas por meninas gestantes, o que evidencia a negligência no que tange a identificação da gestação em menores como uma violência sexual. O perfil traçado torna nítida a vulnerabilidade dessas meninas mães e a banalização da violência sofrida.
CICLOS DE VULNERABILIDADE: TRAUMAS NA INFÂNCIA, TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO E HOSPITALIZAÇÕES PSIQUIÁTRICAS NA GESTAÇÃO
Comunicação Oral Curta
1 UNISINOS
2 UFCSPA
3 HMIPV
Apresentação/Introdução
Mulheres com histórico de traumas na infância apresentam risco aumentado de descompensação psiquiátrica na gestação, com impactos no vínculo materno-fetal e nas relações familiares. Essa vulnerabilidade exige maior atenção dos serviços de saúde, especialmente no pré-natal e no âmbito psicossocial.
Objetivos
Objetivou-se analisar a associação entre traumas na infância e internação psiquiátrica durante a gestação, bem como sua relação com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e padrões de sofrimento psíquico em diferentes perfis de mulheres.
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional comparativo com três grupos: (1) gestantes internadas em unidade psiquiátrica, (2) mulheres não gestantes internadas por transtornos mentais e (3) puérperas sem histórico de internação psiquiátrica na gestação. A amostra foi composta por 149 mulheres: 42 gestantes internadas, 65 não gestantes internadas e 42 puérperas. Os dados foram coletados por meio de instrumentos validados, incluindo questionário sociodemográfico, SCID-5 e Questionário de Traumas na Infância. O estudo foi realizado em um hospital público, de referência em saúde materno-infantil. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética. Foram realizadas análises descritivas e inferenciais.
Resultados
Entre gestantes internadas, prevaleceram abuso emocional, físico, negligência emocional e física. Abuso sexual foi altamente prevalente em todos os grupos. Abuso emocional aumentou em mais de três vezes a chance de internação psiquiátrica durante a gestação (OR=3,23; IC95%: 1,24–8,4). Gestantes internadas relataram menos negligência emocional que não gestantes (OR=0,42; IC95%: 0,18–0,98). Observou-se associação entre traumas na infância e TEPT no ciclo gravídico-puerperal. Transtornos por uso de substâncias também foram mais frequentes entre gestantes internadas.
Conclusões/Considerações
Traumas na infância se associam a piores desfechos em saúde mental perinatal, incluindo maior risco de internação psiquiátrica e TEPT. Tais achados reforçam a importância de estratégias intersetoriais de prevenção, avaliação sistemática de traumas no pré-natal e ampliação do cuidado psicossocial a gestantes em situação de vulnerabilidade.

Realização: