Programa - Comunicação Oral Curta - COC35.6 - Suicídio e violência autoprovocada: tendências, fatores de risco e tecnologias para o cuidado
03 DE DEZEMBRO | QUARTA-FEIRA
08:30 - 10:00
SUICÍDIOS NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE: ANÁLISE DE TENDÊNCIA TEMPORAL E IMPACTO DA COVID-19 SEGUNDO VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS NOS ÚLTIMOS 25 ANOS
Comunicação Oral Curta
Menezes, G. A. P.1, Meira, K. C.2, Simões, T. C.1
1 NESPE - Instituto René Rachou/FIOCRUZ MINAS
2 UFRN
Apresentação/Introdução
Nos últimos 10 anos, 146.572 pessoas morreram no Brasil em decorrência do suicídio, de acordo com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Apesar dos dados sobre mortalidade no Brasil estarem facilmente disponíveis, a literatura científica no país carece de análises regionais detalhadas sobre o suicídio, e, quando se trata de Belo Horizonte, esse cenário se mostra ainda mais deserto.
Objetivos
Analisar tendências temporais dos óbitos por suicídio na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, nos anos de 1999 á 2023, estratificando por variáveis sociodemográficas, além de verificar o possível impacto da pandemia por COVID-19.
Metodologia
Este é um estudo ecológico de análise temporal, que utilizou dados do SIM, considerando óbitos anuais por suicídio a partir das categorias da CID-10 X60-84 e Y87, entre residentes do município de Belo Horizonte. Os dados de população foram obtidos a partir de estimativas do IBGE. Os óbitos foram segmentados segundo sexo, raça/cor, e outras variáveis. Foram descritos os óbitos, taxa de mortalidade por 100 mil habitantes, e a proporção de óbitos segundo as variáveis de interesse, através de medidas sumárias e análise gráfica. A trajetória anual do suícidio foi avaliada a partir de Modelos Aditivos Generalizados (GAM) e o impacto da pandemia analisado a partir de Séries Temporais Interrompidas.
Resultados
Foram observados 3.319 suicídios no período, correspondendo a uma taxa anual média de 5,5 suicídios por 100 mil habitantes. Destes, 72,7% foram cometidos por homens, correspondendo a uma taxa média de 8,5 suicídios por 100 mil homens, em comparação com uma taxa de 2,8 suicídios por 100 mil mulheres. No quesito raça/cor, 50,6% dos óbitos ocorreram entre pessoas da raça/cor negra (pretas e pardas) representando uma taxa média de 4,9 suicídios por 100 mil habitantes e 48,4% entre pessoas brancas, com uma taxa de 6,15 suicídios por 100 mil habitantes. Houve tendência ascendente com risco positivo a partir de 2012, com crescimento mais abrupto entre mulheres, além de um impacto da pandemia.
Conclusões/Considerações
Em Belo Horizonte, as taxas de suicídio são mais altas entre os homens, embora observe-se uma tendência ascendente para ambos os sexos. Os dados tornam evidente a importância de ações de controle desse agravo, e políticas públicas direcionadas aos subgrupos mais vulneráveis. Análises futuras permitirão uma melhor compreensão do papel da interseccionalidade e da determinação social do suicídio no município.
TENDÊNCIA TEMPORAL DA MORTALIDADE POR SUICÍDIO – BRASIL, MINAS GERAIS E MACRORREGIÃO LESTE MINEIRA, 2011 A 2022.
Comunicação Oral Curta
Santos, C.K.C.1, Souza, E.M.2, Santos, D.C.2, Santos, J.H.C.3, Aquino, A.N.2, Alves, W. A.2
1 Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais
2 Universidade Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares
3 Fundação João Pinheiro, campus Pampulha
Apresentação/Introdução
Introdução: Os óbitos por suicídio configuram-se como um grave problema de saúde pública no Brasil e no Mundo, com aumento de 19,5% dos óbitos no país, entre 2014 ea2019. Entender a tendência temporal e seu padrão é fundamental à compreensão da magnitude do agravo e planejamento das ações preventivas.
Objetivos
Objetivo: Analisar a tendência temporal dos óbitos por suicídio no Brasil, em Minas Gerais (MG) e na Macrorregião de Saúde Leste de Minas Gerais (Macro-Leste).
Metodologia
Métodos: Estudo ecológico, tipo série temporal, 2011 a 2022, com dados públicos do Sistema de Informação sobre Mortalidade (Datasus/MS), de registros de indivíduos residentes em municípios brasileiros, com 10 anos ou mais. Calculou-se a taxa de mortalidade específica e realizou-se a análise da tendência temporal do coeficiente por regressão linear no software Joinpoint (v. 4.1.0). A variação percentual anual (VPA) e o intervalo de confiança de 95% foram calculados. A tendência foi classificada como crescente (VPA positiva e p-valor < 0,05), decrescente (VPA negativa e p-valor < 0,05) e estacionária (p-valor > 0,05).
Resultados
Resultados: Os números de óbitos por suicídio no Brasil, MG e Macro-Leste foram, respectivamente, 148.462, 18.056 e 448. No período de estudo, houve incremento de 49,9% no Brasil, 48,9% em MG e 135,3% na Macro-Leste. A tendência temporal foi crescente nas três regiões: Brasil (VPA= 3,58; IC95%= 2,63-4,52; p<0,000001), Minas Gerais (VPA= 3,77; IC95%= 2,07-5,50; p<0,000001) e Macro Leste (VPA= 5,27; IC95%= 0,06-10,64; p= 0,049).
Conclusões/Considerações
Conclusão: Houve crescimento significativo e preocupante da mortalidade por suicídio, com tendência de aumento nas três regiões avaliadas. Políticas públicas ampliadas e intersetoriais e ações qualificadas específicas para a evitabilidade do agravo, com foco no comportamento de pessoas com tendência suicida são fundamentais e urgentes. Recomenda-se ainda estudos epidemiológicos associados com abordagem qualitativa para melhor compreensão desse fenômeno.
EFEITO DA PANDEMIA NOS SUICÍDIOS EM HOMENS NOS ESTADOS DA REGIÃO SUL DO BRASIL: UMA ANÁLISE DE SÉRIE TEMPORAL INTERROMPIDA
Comunicação Oral Curta
Meira KC1, Guimarães RM2, Nascimento KRF3, Vaz ECS3, Silva GWS4, Dantas ESO5, Simões TC6, da Silva CMPF2
1 Universidade Federal de São Paulo
2 Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz
3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte
4 Secretaria do Estado da Saúde do Estado do Rio Grande do Norte
5 Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
6 Instituto de Pesquisa Rene Rachou/ Fiocruz Minas Gerais
Apresentação/Introdução
Suicídio é uma questão social complexa e um desafio à saúde pública. A cada ano, cerca de 700 mil vidas são perdidas. aos efeitos diretos e indiretos da sindemia promovida pela COVID-19, previu-se aumento do suicídio. No Brasil, houve redução inicial na pandemia, seguida de elevação das taxas mensais de suicídio. Nesse período, as maiores taxas foram em homens na região Sul do Brasil.
Objetivos
Frente as altas taxas de suicídios de homens na região Sul o presente estudo teve como objetivo analisar o efeito da pandemia nas taxas mensais de suicídio nos estados da região Sul do Brasil, no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2022.
Metodologia
Realizou-se um estudo ecológico utilizando os registros de óbito do SIM/DATASUS, que analisou o efeito da pandemia nas taxas mensais de suicídios por meio de séries temporais interrompidas utilizando uma regressão Quasi-Poisson para estimar as mudanças nos níveis e tendências de homicídios antes e durante a pandemia, ajustando para autocorrelação serial e sazonalidade.Os registros de óbito foram obtidos junto ao SIM/DATASUS, todas as análises foram realizadas no programa R versão 4.3.2, com um nível de significância de 5%.
Resultados
No período de janeiro de 2017 a dezembro de 2022, foram registrados 15.442 suicídios de homens na região Sul (20.19 suicídios por 100 mil), com maior taxa no Rio Grande do Sul. Durante a pandemia, as taxas médias de suicídio foram maiores em comparação ao período anterior. No estado do Paraná não se detectou mudança de nível ou tendência durante a pandemia, no entanto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a pandemia promoveu mudança de tendência com elevação progressiva das taxas ao longo da pandemia. Resultado semelhante ao observado em adultos jovens e de meia idade.O aumento observado durante a pandemia foi maior que o esperado no cenário contrafactual.
Conclusões/Considerações
A pandemia foi associada à elevação progressiva das taxas de suicídio entre homens no RS e SC. Esse padrão corrobora achados prévios, que indicam queda inicial em contextos de crise devido à maior coesão social, seguida por aumento sustentado de suicídios diante do enfraquecimento dos laços sociais e do agravamento de transtornos mentais
TENDÊNCIAS DE SUICÍDIO EM HOMENS NO BRASIL: UM ESTUDO ECOLÓGICO DE MORTALIDADE ENTRE 2000 E 2023
Comunicação Oral Curta
BERNARDES, Lara Fonseca1, RODRIGUES, Pedro Henrique Naves1, AGNELLO, Renata Julio1, ROSARIO, Maria Clara Oliveira 1, CARLOS, Carolina Assis de1, CASTRO, Sybelle de Souza1, CARVALHO, Wellington Roberto Gomes de1
1 UFTM
Apresentação/Introdução
O suicídio é um grave problema de saúde pública, com impactos significativos na sociedade, especialmente entre homens, que apresentam taxas de mortalidade mais elevadas em comparação às mulheres. Estudos ecológicos permitem identificar padrões e disparidades, contribuindo para políticas públicas mais direcionadas.
Objetivos
Verificar a tendência temporal da mortalidade por suicídio em homens no Brasil, segundo raça/cor e idade, no período de 2000 a 2023.
Metodologia
Estudo ecológico com análise de tendência temporal dos óbitos por suicídio no Brasil, no período de 2000 a 2023. Foram analisados dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Os dados de óbitos foram estratificados por grupos etários decenais (20-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69 e 70 anos ou mais) e por raça/cor (branca, preta e parda). As variáveis raça/cor e faixa etária foram combinadas para definição dos grupos utilizados na análise de tendência. Utilizou-se a regressão de Joinpoint para identificar os anos em que ocorreram mudanças nas taxas de mortalidade para raça e faixa etária.
Resultados
Observaram-se aumentos significativos nas taxas de suicídio entre homens brancos em todas as faixas etárias, exceto entre 20-29 e 50-59 anos, que apresentaram tendência estável. Entre homens pardos, as taxas aumentaram significativamente em quase todas as faixas etárias, exceto entre aqueles com 70 anos ou mais. Entre homens pretos, a tendência foi estável na maioria das faixas etárias, com exceção do aumento significativo entre 60-69 anos. Esses padrões demonstram desigualdades raciais e etárias nas tendências observadas.
Conclusões/Considerações
Os achados destacam disparidades raciais e etárias nas tendências de suicídio entre homens no Brasil, exigindo políticas públicas direcionadas. Estratégias de prevenção devem considerar fatores socioeconômicos, acesso à saúde mental, especificidades culturais e estigmas sociais associados ao gênero, a fim de reduzir essas mortes evitáveis.
LESÕES AUTOPROVOCADAS EM ADOLESCENTES NO MARANHÃO
Comunicação Oral Curta
CAMPELO, C.L.1, MARTINS NETO,C.2, LIMA, A. B. S.3
1 Universidade do Estado do Amazonas
2 CEST
3 Universidade Federal do Maranhão
Apresentação/Introdução
Introdução: As lesões autoprovocadas são um problema crescente entre adolescentes, sendo consideradas um importante sinal de sofrimento psíquico, refletindo a dificuldade em lidar com o estresse e adversidade. O aumento dos casos revela aspectos individuais, mas também problemas socioeconômicos, considerando que as disparidades regionais no Brasil, influenciam diretamente na prevalência e no desfecho.
Objetivos
Objetivo: analisar as notificações dos casos de lesões autoprovocadas em adolescentes no Maranhão.
Metodologia
Metodologia: Trata-se de um estudo ecológico, descritivo, com dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN, referente as notificações de lesões autoprovocadas em adolescentes (10 a 19 anos), no período de 2018 a 2023. As variáveis sociodemográficas foram: sexo, faixa etária, raça/cor e Escolaridade e as variáveis do evento foram: ano da notificação, local de ocorrência e reincidência do evento. A análise descritiva foi realizada no programa Rstudio utilizando frequências absoluta e relativa. Por se tratar de dados secundários, de domínio público, houve dispensa da aprovação do comitê de ética.
Resultados
Resultados: Foram notificados 7.516 casos de lesão autoprovocada em residentes do Estado do Maranhão entre os anos de 2018 a 2023. Houve crescimento do número de notificações ao longo do período, 794 em 2018, 1.259 em 2019, tendo redução para 1.073 no ano de 2020, com aumento progressivo, em 2021 com 1.299; 2022 com 1.462 e o ano de 2023, com o maior número de casos, 1.629. Destaca-se a prevalência de notificações femininas (6.088), tendo 4,38 vezes mais notificações em mulheres, o predomínio da cor/raça parda (5.740), com escolaridade de ensino fundamental incompleto (2.595), na faixa etária de 15 a 19 anos (4.378), que aconteceram na residência (5.242), sendo lesões de repetição (3.323).
Conclusões/Considerações
Considerações finais: Os dados analisados evidenciam um significativo crescimento nas notificações de lesões autoprovocadas em adolescentes no Maranhão e reforçam a necessidade das estratégias regionais, que possam incluir ampliações de centros especializados em saúde mental e ações de educação em saúde para a prevenção no enfrentamento desse cenário.
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS NOTIFICADOS DE VIOLÊNCIA INTERPESSOAL E AUTOPROVOCADA NAS MACRORREGIÕES DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA ENTRE 2020 E 2024: UM ESTUDO ECOLÓGICO
Comunicação Oral Curta
LIMEIRA, R. M.1, NARDE, L. F. S.1, MEDEIROS, S. S. S.1, SANTOS, B. T. dos1, GONÇALVES, W. A.1, PESTANA, M. C. S.1, BRITO, L. G. de A.1
1 UESB
Apresentação/Introdução
A violência interpessoal e a autoprovocada são problemas sociais de saúde pública, de origem multifatorial, com impacto crescente na Bahia. Envolve o uso intencional de força física ou poder, real ou ameaçado, contra si, outro ou grupo, com risco de dano ou morte. Diante da gravidade, estudos epidemiológicos são essenciais na construção de políticas eficazes de prevenção e rastreio precoce.
Objetivos
Descrever o perfil epidemiológico dos casos notificados de violência interpessoal e autoprovocada nas macrorregiões de saúde do estado da Bahia entre 2020 e 2024.
Metodologia
Trata-se de um estudo ecológico, descritivo e de abordagem quantitativa, cujos dados foram extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponível no DATASUS, do Ministério da Saúde, em junho de 2025. A amostra incluiu todos os casos notificados de violência interpessoal e autoprovocada ocorridos na Bahia, segundo as macrorregiões de saúde, no período de 2020 a 2024. As variáveis analisadas foram: macrorregião de saúde, ano de notificação, sexo, faixa etária, cor/raça e local de ocorrência. A análise foi realizada por meio de estatística descritiva, empregando frequências absoluta e relativa.
Resultados
Entre 2020 a 2024, a Bahia registrou 81.072 notificações de violências interpessoal e autoprovocada, com maior concentração nas macrorregiões Leste (34,9%, n=28.273) e Centro-Leste (13,41%, n= 13.341). A maioria dos registros ocorreu em 2024 e 2023, correspondendo a 32,5% (n=26.320) e 25,2% (n=20.426), respectivamente. As mulheres (66,8%, n=54.197) e pessoas entre 20 e 29 anos (23,9%, n= 19.417) foram as mais afetadas. Observou-se predomínio dos autodeclarados pardos (57,5%, n=46.616); porém, houve uma significativa subnotificação, com 19,2% (n=15.564) dos dados sem informação. A residência foi registrada como o principal local de ocorrência das violências, com 54,1% (n=43.897) dos casos.
Conclusões/Considerações
Constatou-se um alto número de violências interpessoal e autoprovocada, com a maioria das ocorrências registradas na moradia das vítimas, afetando principalmente mulheres, indivíduos pardos e economicamente ativos. Houve subnotificações referentes à cor/raça, possivelmente decorrentes da escassez de atualizações ou do preenchimento incorreto. Urgem estudos para averiguar os fatores causais dos achados e capacitação nos processos de notificação.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA PREDIÇÃO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA DE REPETIÇÃO: REVISÃO SISTEMÁTICA DE ESTUDOS COM DADOS EM SAÚDE
Comunicação Oral Curta
Araujo-Moura, Keisyanne1, Souza, L.G1, Shirassu, Mirian Matsura2, Chiavegatto Filho, A.D.P.1
1 Faculdade de Saúde Pública da USP
2 Secretaria de Estado da Saúde. Centro de Vigilância Epidemiológica. Divisão de Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
Apresentação/Introdução
A violência interpessoal representa uma grave violação de direitos humanos e um desafio persistente à saúde pública global. Diante da crescente disponibilidade de dados e da complexidade dos fatores associados, a inteligência artificial tem emergido como ferramenta promissora para apoiar a predição e a prevenção de desfechos letais e recorrentes.
Objetivos
Revisar sistematicamente as evidências sobre o uso de modelos de IA e machine learning na previsão de violência de repetição, homicídio e suicídio, com foco em estudos baseados em dados de saúde ou administrativos.
Metodologia
Revisão sistemática conforme as diretrizes PRISMA-ScR. A busca foi realizada em seis bases (Scopus, Web of Science, BVS, PubMed, EMBASE, IEEE Xplore), sem restrição temporal, incluindo artigos em português, inglês e espanhol. Dois revisores atuaram de forma independente nas etapas de triagem de títulos, resumos e leitura completa. Foram inicialmente identificados 2.813 registros. Após exclusão de duplicatas e aplicação dos critérios de elegibilidade, 230 artigos foram avaliados na íntegra. Os critérios incluíram uso de IA para predição de feminicídio, homicídio, suicídio ou violência repetida com base em dados estruturados (saúde ou administrativos).
Resultados
Os estudos incluídos aplicaram algoritmos como XGBoost, Random Forest e LASSO para prever ideação suicida, tentativas de suicídio, violência por parceiro íntimo e violência sexual. As métricas mais utilizadas foram AUC (45,5%), sensibilidade (22,1%), especificidade (19,5%), F1-score (18,2%) e acurácia (18,2%), com desempenho variando entre moderado e elevado (AUC até 0,85). As populações mais estudadas foram adolescentes, mulheres e vítimas de violência recorrente, evidenciando o potencial da IA na identificação precoce de riscos e suporte à tomada de decisão em saúde pública.
Conclusões/Considerações
Modelos de inteligência artificial demonstraram desempenho promissor na predição de suicídio e violência, com potencial para qualificar a vigilância e orientar políticas públicas. Apesar da heterogeneidade metodológica e dos desafios de implementação, a incorporação dessas tecnologias pode fortalecer estratégias preventivas e a resposta integrada em saúde mental e violência interpessoal.
A VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA COMO PREDITORA DA AUTOLESÃO/IDEAÇÃO SUICIDA: ACHADOS DA PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE DO ESCOLAR
Comunicação Oral Curta
Oliveira, N. N.1, Pereira, N. D.2, Oliveira, G. N.2, Tavares, S. I. S.3, Silva, M. M.3, Dal Forno, L. F.4, Vissoci, J. R. N.5, Oliveira, R. R.2
1 UEM/UniCesumar
2 UEM
3 UniCesumar
4 UniCesumar/ICETI
5 Duke University
Apresentação/Introdução
É preciso reconhecer que o suicídio e os processos autolesivos são fenômenos complexos, devendo ser lidos como fruto da totalidade da sociedade e seus modos de produção de vida e morte. Neste sentido, o suicídio e autolesões de pessoas LGBT podem ser considerados a forma como a sociedade assassina as pessoas que repudiam a hegemonia dos corpos.
Objetivos
Esta pesquisa objetivou analisar a influência da violência relacionada à orientação sexual dentro das escolas no comportamento autolesivo e/ou ideação suicida de escolares participantes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE).
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, baseado em dados secundários da PeNSE 2019. Os dados foram processados e analisados no software R. Foi definido como desfecho a ideação suicida (pergunta de código B12008) ou o comportamento autolesivo (código B09014B), categorizada em “Sim” ou “Não”. Como variável de exposição, foi utilizada a motivação de violência (código B07008), sendo considerada como presente a violência percebida como homofóbica e como ausente a violência perpetrada por outros motivos. Utilizou-se o pacote epiR para calcular a prevalência e a Razão de Prevalência (RP), com Intervalo de Confiança (IC) de 95%. O estudo não necessitou de aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados
Foram analisadas 165.838 respostas, das quais 62.102 reportaram violência no mês anterior à aplicação do questionário e não apresentavam dados faltantes para as variáveis analisadas. Ainda, 1.487 respondentes sinalizaram violência relacionada à orientação sexual, sendo que destes 66,71% (64,25% a 69,11%) também apresentaram ideação ou autolesão. Da mesma forma, 60.615 alunos apresentaram violência por outros motivos, com 46,68% (46,29% a 47,08%) apresentando ideação ou autolesão. A RP indicou 43% mais prevalência de ideação ou autolesão em alunos que sofreram ataques homofóbicos, quando comparados àqueles que sofreram violência por outras motivações (RP = 1,43; IC=1,38-1,48; p < 0,001).
Conclusões/Considerações
A análise demonstrou que o preconceito tem influência direta no processo de adoecimento e sofrimento mental, vulnerabilizando e vitimizando pessoas LGBT em sua vivência dentro da escola. Intervenções diretas no ambiente escolar, em conjunto com os serviços de saúde e assistência social, são estratégias necessárias para garantir não apenas a diminuição da violência homofóbica, mas de todo o processo de controle dos corpos que existe por meio dela.
O CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE AO SOFRIMENTO PSÍQUICO PARA CASOS DE VIOLÊNCIA ARMADA E LUTO: CAMINHOS PARA A EMANCIPAÇÃO SOCIAL
Comunicação Oral Curta
Frossard, V. C.1
1 Ensp, Fiocruz
Período de Realização
Rodas de Terapia Comunitária Integrativa (TCI) a partir 2022 e consultório de psicologia desde 2016
Objeto da experiência
O cuidado na Atenção Primária a Saúde (APS) capaz de promover emancipação social (perceber situação de opressão) para casos de violência armada (VA)
Objetivos
Refletir sobre:
1) expressões do sofrimento psíquico em decorrência das violências, principalmente violência armada;
2) caminhos para o cuidado emancipatório à saúde;
3) como a APS pode potencializar o processo de emancipação social nos espaços de acolhimento, grupos e atendimentos individuais.
Metodologia
Espaços de cuidado para pessoas de Manguinhos: rodas de conversa semanas sobre inquietações e compartilhamentos de experiências, e atendimentos individuais para casos de sofrimento psíquico. O sofrimento em Manguinhos é sofrimento social definido por Kleiman e colegas como “[...] conjunto de problemas humanos cujas causas e consequências residem em lesões devastadoras que a força social pode infligir à experiência humana”. Busco refleti: Como a APS pode atuar no cuidado ao sofrimento social?
Resultados
As violências, especialmente VA, resultam em adoecimento físico e psíquico. O maior adoecimento se dá nos casos de luto pelo assassinato de parentes próximos. A VA é pouco mencionada, quase invisível como opressão, talvez por medo ou naturalização da violência. Comum é o sentimento de culpa por não ter conseguido proteger o parente. Esta é uma dupla violência. Problematizar a VA em espaços de cuidado ameniza a dor da culpa e favorece a emancipação social e participação em movimentos sociais.
Análise Crítica
As mortes por intervenção policial em 2025 aumentaram em 34,4% (Cesec). É o setor saúde que cuida das vítimas das violências e parentes enlutados. A APS costuma medicar o sofrimento social. Minha experiencia indica: Pontuar para a pessoa enlutada que ela também é vítima da VA tem a capacidade de diminuir o sofrimento ampliado pela culpa, comum em pessoas enlutadas, e amplia a possibilidade de promover emancipação para que se organizem em luta por justiça e contra formas de opressão.
Conclusões e/ou Recomendações
Espaços de cuidado às vítimas de VA devem estar na APS, como as Clínicas de Testemunho. Fassim, médico francês alerta: ações compassivas por um lado humanizam a relação com as pessoas, por outro escamoteiam opressões. É necessário politizar o adoecimento por violências para não cometermos a violência de medicar o sofrimento social. A frase: sua família é vítima de violência de Estado, tem potência de acolher a dor e promover emancipação social.