Programa - Comunicação Oral Curta - COC18.4 - Sexualidade, Gênero e Direitos das Juventudes
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
ACOLHIMENTO E ESCUTA QUALIFICADA NO SOCIOEDUCATIVO: ESTRATÉGIA PARA O CUIDADO INTEGRAL À ADOLESCÊNCIA SEGUNDO A PNAISARI
Comunicação Oral Curta
1 UEFS; FUNDAC
2 FUNDAC
3 FUNDAC, UNEX
Período de Realização
PRIMEIRO QUADRIMESTRE DE 2025
Objeto da experiência
Promoção do cuidado em saúde por meio do acolhimento e da escuta qualificada junto a adolescentes privados de liberdade.
Objetivos
Relatar a experiência interprofissional na aplicação da PANAISARI por meio de estratégias de acolhimento e escuta qualificada, visando à responsabilização pessoal, ao fortalecimento de habilidades sociais e à redução do uso de psicotrópicos em adolescentes em medida socioeducativa.
Descrição da experiência
A experiência foi desenvolvida por profissionais de enfermagem, psicologia e serviço social entre janeiro e abril de 2025, em uma unidade socioeducativa no interior da Bahia. As ações incluíram rodas de conversa, escuta individualizada e oficinas temáticas, promovendo vínculo, responsabilização e adesão ao cuidado. A proposta foi baseada na PNAISARI, articulando atenção integral, promoção da saúde e redução de danos, com apoio da rede SUS e da equipe pedagógica da unidade.
Resultados
Foi possível observar maior abertura dos adolescentes ao diálogo, fortalecimento do vínculo com os profissionais de saúde e engajamento nas atividades. Além disso, houve redução do uso contínuo de psicotrópicos em casos em que a escuta e o vínculo se mostraram suficientes para manejo das demandas emocionais. A experiência contribuiu para ampliar o olhar da equipe sobre o cuidado integral e os determinantes sociais da saúde em contextos de privação de liberdade.
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidencia que o acolhimento e a escuta qualificada são estratégias potentes para promover cuidado humanizado e corresponsabilização dos adolescentes no socioeducativo. Embora esse espaço se constitua como território de cuidado e reconstrução de vínculos, desafios como a fragilidade da rede e a violência estrutural nos territórios revelam os limites institucionais e a urgência de ações que transcendam os muros e alcancem a coletividade.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se a consolidação das diretrizes da PNAISARI como política pública essencial para o cuidado em saúde de adolescentes em privação de liberdade. O fortalecimento das ações de escuta e acolhimento, integradas à rede SUS e articuladas com o sistema socioeducativo, é fundamental para a promoção da equidade e da justiça social na saúde coletiva.
ATENÇÃO À SAÚDE DE ADOLESCENTES EM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA: VIVÊNCIA INTERSETORIAL DE RESIDENTES NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.
Comunicação Oral Curta
1 UFF
2 ESNP/FIOCRUZ
Período de Realização
Março de 2024 a Fevereiro de 2025, com turno de atendimento de quatro horas semanais.
Objeto da experiência
Vivência de residentes no cuidado à saúde de adolescentes em medida de semiliberdade no Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente.
Objetivos
Relatar a vivência de residentes em Enfermagem em Saúde Coletiva no cuidado a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, conforme a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei, durante estágio em Unidade Básica de Saúde no Rio de Janeiro
Descrição da experiência
Residentes em Saúde Coletiva da UFF, em estágio na ESF do Centro de Saúde Escola da Fiocruz, atuaram por um ano na Atenção Básica com o CRIAAD de Bonsucesso, realizando atualização vacinal, testes rápidos, consultas e rodas de conversa sobre saúde sexual, reprodutiva e bucal. Enfrentaram dificuldade na adesão dos adolescentes, devido a rotatividade dos mesmos e fragmentação do cuidado. Estratégias para 2025 foram definidas em reunião intersetorial, visando a continuidade e qualificação do cuidado
Resultados
Houve maior participação dos adolescentes nas ações, segundo profissionais do CRIAAD. A escuta qualificada e o acolhimento fortaleceram vínculos, apesar da rotatividade. A reunião intersetorial gerou acordos para reorganizar atendimentos, ampliar a equipe e intensificar ações educativas. A experiência das residentes reafirmou, conforme diretrizes do SUS, o valor da articulação intersetorial para o cuidado integral a adolescentes em medidas socioeducativas.
Aprendizado e análise crítica
A vivência das residentes evidenciou que o cuidado em saúde à população em medida socioeducativa exige abordagem sensível e articulação intersetorial constante. A resistência inicial dos adolescentes foi superada por meio de escuta ativa. A sobrecarga do profissional e a fragmentação do cuidado revelam a necessidade de fortalecer a rede. O apoio do preceptor e da equipe foi essencial para o amadurecimento e desenvolvimento das práticas profissionais das residentes.
Conclusões e/ou Recomendações
Atenção integral a adolescentes em semiliberdade requer planejamento, continuidade e equipe preparada. A institucionalização de ações intersetoriais é essencial para superar fragilidades e consolidar práticas resolutivas. Recomenda-se ampliar o número de profissionais na linha de frente e manter a articulação ativa entre o setor saúde, CRIAAD e demais instituições do sistema socioeducativo.
DESAFIOS NA VINCULAÇÃO E RETENÇÃO DE ADOLESCENTES EM PESQUISAS SOBRE PROFILAXIA PRÉ EXPOSIÇÃO AO HIV: EXPERIÊNCIAS DOS EDUCADORES PARES
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal da Bahia - UFBA
2 Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia - UFBA
3 Instituto Gonçalo Muniz, Fundação Oswaldo Cruz; Departamento de Ciências da Vida, Universidade do Estado da Bahia- UNEB; Instituto de saúde coletiva, Universidade Federal da Bahia - UFBA
4 Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Período de Realização
novembro de 2023 a junho de 2025.
Objeto da experiência
Vinculação de adolescentes da diversidade sexual e de gênero (ADSG) em uso da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) por educadores pares (EP).
Objetivos
Descrever os desafios relacionados à vinculação e à retenção dos ADSG em uso de PrEP oral e injetável no estudo PrEP 15-19 Escolhas.
Metodologia
O EP atua na vinculação de ADSG em uso de PrEP oral e injetável no Estudo PrEP15-19 Escolhas, em Salvador-BA. Essa vinculação ocorre por mídias sociais e ações presenciais, utilizando linguagem informal e jargões da comunidade. Os contatos são realizados nos primeiros dias após início da PrEP e antes de cada consulta, variando conforme demanda da equipe clínica e do participante. Nessas interações, são identificadas exposições de risco, adesão à PrEP, eventos adversos e outras demandas.
Resultados
Dos 230 adolescentes inscritos no estudo, 216 (93,9%) estão vinculados e comparecem regularmente; 9 (3,9%) desistiram formalmente e 5 (2,2%) abandonaram sem justificativa. Desafios como estigma, baixa percepção de risco, conflitos familiares e rotinas instáveis impactaram a permanência no uso de PrEP. Estratégias como Projeto Terapêutico Singular, mediação familiar, envio de conteúdos educativos e contato por redes sociais foram fundamentais para promover vínculo e adesão à PrEP.
Análise Crítica
O processo de vinculação e retenção evidenciou a complexidade das trajetórias juvenis na prevenção do HIV, marcadas por desafios sociais e subjetivos. A atuação dos EP, como apoio à equipe clínica, permitiu identificar esses desafios, mas também produzir oportunidades de cuidado. Através da escuta ativa e da construção de vínculos baseados na autonomia e no respeito às singularidades, foi possível promover relações mais horizontais, acolhedoras e adequadas às realidades dos adolescentes.
Conclusões e/ou Recomendações
A atuação dos EP mostrou-se estratégica e importante na vinculação e retenção de ADSG à PrEP. A adoção de práticas equitativas, como escuta qualificada, linguagem acessível, incentivos financeiros e ampliação do acesso, pode reduzir barreiras estruturais. A criação de espaços direcionados ao cuidado da saúde do público e a inclusão em políticas sociais fortalecem a adesão e a resposta a epidemia do HIV entre adolescentes.
NEGOCIAÇÕES SOBRE A PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ, HIV E OUTRAS ISTS ENTRE ADOLESCENTES E JOVENS CISGÊNEROS E HETEROSSEXUAIS DE UM BAIRRO POPULAR DE MANAUS
Comunicação Oral Curta
1 UEA
Apresentação/Introdução
O estudo investiga as experiências de jovens em Manaus sobre saúde sexual e reprodutiva, explorando gravidez, HIV e outras ISTs em um bairro popular. Sob uma perspectiva socioantropológica, analisa práticas preventivas influenciadas por desigualdades, normas e poder, buscando compreender saberes e negociações desses jovens em contextos de vulnerabilidade.
Objetivos
Compreender como adolescentes e jovens de um bairro popular de Manaus negociam práticas de prevenção à gravidez, ao HIV e a outras ISTs, à luz de suas experiências, relações e contextos territoriais
Metodologia
Este estudo, parte do projeto "Espaços Jovens", foi realizado no bairro Educandos, em Manaus (AM), região marcada por desigualdades sociais que afetam o acesso à saúde. A pesquisa qualitativa incluiu entrevistas semiestruturadas e observação participante para explorar percepções sobre sexualidade e prevenção. A análise temática agrupou falas em categorias ligadas a juventude, sexualidade e vulnerabilidade, evidenciando desafios e negociações em contextos de vulnerabilidade social.
Resultados
A gravidez, embora muitas vezes considerada um “problema de saúde pública”, apareceu nas narrativas como uma experiência ambivalente. Para alguns jovens, ela foi vivida como um evento inesperado e desafiador; para outras, como uma possibilidade de reorganização da vida, acesso à condição adulta ou reconstrução de vínculos. As ISTs, por sua vez, foram associadas a sentimentos de medo, vergonha e estigma, mas também a uma percepção limitada de risco muitas vezes mediada por desigualdades de gênero, dificuldades de negociação com parceiros e barreiras no acesso a informações e serviços.
Conclusões/Considerações
O estudo mostrou que a prevenção em saúde sexual e reprodutiva entre jovens de um bairro popular de Manaus é dinâmica e multifacetada. Suas práticas refletem vivências individuais e contextos de vulnerabilidade social marcados por desigualdades de gênero, raça e território, além de negociações que vão além de normas biomédicas.
POLICRISES SOB O OLHAR DOS JOVENS: APRENDIZADOS DE COMUNIDADES VULNERÁVEIS BRASILEIRAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
Comunicação Oral Curta
1 USP
2 Observatório De Olho Na Quebrada
3 UNAS Heliópolis e Região
Apresentação/Introdução
A pandemia de Covid-19 intensificou desigualdades estruturais, afetando especialmente jovens das periferias urbanas. O conceito de policrise, que descreve crises simultâneas e interconectadas, mostra como vulnerabilidades preexistentes convergiram no seu cotidiano. Faltam estudos que adotem uma perspectiva interseccional para compreender as repercussões das policrises em grupos específicos.
Objetivos
Examinar, a partir de pesquisa participativa com jovens periféricos, como a convergência de crises (policrise) durante a pandemia de Covid-19 afetou suas vidas e identificar estratégias comunitárias adotadas de adaptação e resiliência.
Metodologia
O relato de pesquisa apresenta dados brasileiros do projeto internacional PANEX-Youth, coletados entre dez/2022 e dez/2023. Seguindo protocolo ético, participaram jovens residentes em Paraisópolis e Heliópolis, em São Paulo (SP) e estudantes de programas de ações afirmativas da USP. O campo se organizou em três fases, nas quais foram feitas 32 entrevistas com organizações sediadas em São Paulo (SP); 14 oficinas com 44 jovens (9–29 anos) usando metodologia de world café e visual web para orientados a partir dos eixos (educação, alimentação e lazer); e duas mesas-redondas intergeracionais (nacional e internacional). Os dados foram transcritos, codificados e analisados em NVivo.
Resultados
O estudo revela como jovens de Heliópolis e Paraisópolis viveram a Covid-19 como policrise. Ao descrever o desequilíbrio temporal provocado pelo isolamento e ensino remoto, evidencia a ambivalência entre a aceleração social e tédio. Expõe os riscos provocados pela desinformação, a precariedade habitacional e a insegurança alimentar, e mostra a importância da formação de redes de solidariedade para a promoção de cuidados comunitários. Adota perspectiva interseccional para revelar impactos diferenciados segundo raça, gênero e território, destacando o protagonismo jovem na construção de estratégias coletivas de adaptação.
Conclusões/Considerações
Estudos que escutam vozes marginalizadas orientam políticas de recuperação e preparo frente a policrises, pois jovens ignorados sofrem riscos acelerados por crises simultâneas. Embora crises estruturais persistem, a pandemia intensificou inseguranças e exigiu adaptações inéditas, destacando ligações entre aceleração social, riscos e desigualdades. O silêncio agrava os transtornos mentais; a recuperação é essencial para novas emergências.
PROJETO “FALANDO DISSO - CAMINHOS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO”: EXPERIÊNCIA EM UMA ESCOLA DO DISTRITO FEDERAL
Comunicação Oral Curta
1 SEEDF
2 UnB
Período de Realização
Fevereiro a Maio de 2025
Objeto da experiência
A presente experiência foi realizada em uma escola pública do Distrito Federal, onde foi desenvolvido um projeto de prevenção à violência de gênero.
Objetivos
Desenvolver ações de educação em saúde para prevenir a violência de gênero no contexto escolar; conscientizar acerca dos padrões de comportamento violentos e estereótipos de gênero e estimular relações saudáveis e respeitosas entre adolescentes.
Descrição da experiência
A experiência ocorreu em 3 etapas: apresentação do projeto e introdução da temática para os profissionais da escola; palestras com todos os alunos do Ensino Médio, discutindo sobre gênero e prevenção à violência nos relacionamentos; e oficinas temáticas com alunos inscritos voluntariamente. Os temas foram: “Nem tudo é o que parece” (estereótipos e papeis de gênero); “Como fugir das red flags? (violência nos relacionamentos); “Falando de Diversidade”; e “Falando de Futuro” (conclusão do projeto).
Resultados
Foram realizadas 06 palestras para alcançar todos os estudantes do Ensino Médio e 04 oficinas com os estudantes que se inscreveram. Houve a participação de 27 profissionais de educação na primeira etapa, 680 estudantes nas palestras e 167 estudantes nas oficinas. Como finalização e culminância do projeto, foi produzido pelos estudantes um mural que ficou exposto na escola, com cartazes acerca dos temas discutidos.
Aprendizado e análise crítica
O modelo de inscrições voluntárias nas oficinas foi positivo, sendo incentivada a autonomia e proatividade dos estudantes. Foi observada a resistência de alguns alunos em relação ao tema, o que reforça a necessidade de tratar dessa temática no ambiente escolar de forma transversal, atingindo os estudantes que vivenciam e reproduzem violências. Nesse sentido, os alunos avaliaram a experiência como enriquecedora e expressaram a demanda de poder falar sobre o assunto dentro da escola.
Conclusões e/ou Recomendações
O projeto alinha-se com as ações do Programa Saúde na Escola e considera os impactos da violência na saúde das populações. Nesse sentido, reforçamos que em muitos casos, a escola é o único espaço no qual os estudantes podem entrar em contato com discussões acerca da violência estrutural baseada na raça e no gênero, o que pode ser uma potente ferramenta de emancipação, demonstrando a importância de ações que abordem essa temática nas escolas.
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA, INFÂNCIAS E ADOLESCÊNCIAS PERIFÉRICAS: A EXPERIÊNCIA NO INSTITUTO GERAÇÕES DA CHICO NA COMUNIDADE CHICO MENDES (FLORIANÓPOLIS/SC)
Comunicação Oral Curta
1 UFSC
Período de Realização
Estágio básico realizado entre março e julho de 2025 na comunidade Chico Mendes em Florianópolis
Objeto da experiência
A atuação da psicologia comunitária com crianças de um projeto do terceiro setor situado em território periférico e vulnerabilizado de Florianópolis.
Objetivos
Refletir sobre a presença da psicologia comunitária no Instituto Gerações da Chico, problematizando os discursos hegemônicos sobre infância e adolescência; analisar práticas territoriais voltadas a crianças da periferia; articular escuta, afeto e cuidado com perspectivas críticas em saúde coletiva.
Descrição da experiência
A experiência ocorreu no contexto de estágio básico com base em observação participante. O Instituto atua como contraturno escolar com oficinas e acolhimentos a crianças e adolescentes. A psicologia opera por meio de práticas grupais, desde rodas de conversa até jogos de futebol, promovendo escuta e expressão de afetos. A intervenção rompe com a clínica tradicional, colocando no centro as infâncias periféricas e experiências territorializadas, comunitárias e coletivas.
Resultados
A atuação possibilitou observar como a psicologia pode promover saúde e cidadania a partir de práticas que se propõe emancipatórias. Intervenções que as crianças e adolescentes são protagonistas e podem encontrar espaços de expressão. Aposta na criação e promove contato com desenhos, músicas, capoeira, pintura, o que provoca o sensível, instiga a imaginação e permite vislumbrar novos modos de existência. É uma prática que visa a desnaturalização do sujeito e da infância tomada como a norma.
Aprendizado e análise crítica
A experiência revelou o potencial da psicologia comunitária em romper com modelos universalizantes e adultocentrados de infância e adolescência. O contato direto com o território e a partir da escuta das crianças ressalta a necessidade de práticas desnaturalizantes e coletivas. A atuação reafirmou a importância de intervenções que valorizem os modos singulares de ser criança em contextos periféricos, articulando afeto, resistência e cuidado em saúde.
Conclusões e/ou Recomendações
A psicologia, bem como outras áreas do conhecimento, ao atuarem em contextos periféricos, devem incorporar perspectivas críticas sobre infâncias e adolescências. Também há que valorizar as experiências territoriais existentes e fortalecer as políticas públicas. O trabalho no terceiro setor, mesmo com diversos desafios e entraves, deve ser articulado com políticas e ter práticas visando a emancipação social e promoção de saúde.
QUANDO O CONTEXTO IMPORTA: ASSOCIAÇÃO ENTRE EXPERIÊNCIAS ESCOLARES E COMPORTAMENTOS DE RISCO EM ADOLESCENTES DE ZURIQUE, MONTEVIDÉU E SÃO PAULO
Comunicação Oral Curta
1 Faculdade de Medicina FMUSP, Universidade de São Paulo
2 Department of Criminology, University of Manchester
3 Institute of Criminology, University of Cambridge
4 Jacobs Center for Productive Youth Development, University of Zurich
Apresentação/Introdução
Durante a adolescência, experiências escolares influenciam comportamentos que, por sua vez, impactam a saúde. Dessa forma, desigualdades entre contextos socioeconômicos distintos podem perpetuar iniquidades em saúde, justificando comparações transculturais para compreender como diferentes ambientes escolares determinam trajetórias de risco relacionadas à saúde na adolescência.
Objetivos
Examinar a associação entre experiências escolares (vínculo com professores/turma, dificuldades acadêmicas, orientação para o futuro) e comportamentos de risco à saúde em adolescentes de três contextos urbanos social e culturalmente distintos.
Metodologia
Estudo transversal com 6.331 adolescentes do 9º ano (51% meninos; média 15,1 anos) de escolas representativas de Zurique, Montevidéu e São Paulo (z-proso, m-proso, sp-proso). Após confirmar a invariância escalar da medida de experiências escolares (ΔCFI≤0,01), utilizamos modelagem de equações estruturais multigrupo com estimador WLSMV para dados categóricos (modelo final: CFI=0,956, RMSEA=0,049, SRMR=0,054). Testamos se a experiência escolar prediz os desfechos binários: uso de tabaco, álcool, maconha, bullying e transgressões, controlando por idade e sexo. Associações foram estimadas separadamente para cada cidade, permitindo identificar padrões universais e específicos por contexto.
Resultados
Experiências escolares positivas se associaram à redução de todos os comportamentos de risco (coeficiente β padronizado=-0,105 a -0,323, p<0,001), com variações entre cidades. São Paulo apresentou associações mais fracas para perpetração de bullying (β=-0,105) comparado a Zurique (β=-0,272) e Montevidéu (β=-0,210). Para transgressões, os efeitos da experiência escolar foram mais pronunciados em Zurique (β=-0,323) e São Paulo (β=-0,272) do que em Montevidéu (β=-0,179). O uso de substâncias apresentou associações consistentes em todas as cidades: tabaco (β=-0,239 a -0,269), álcool (β=-0,175 a -0,274) e maconha (β=-0,265 a -0,300).
Conclusões/Considerações
Experiências escolares positivas protegem contra comportamentos de risco, mas com eficácia variável entre contextos, indicando que intervenções escolares requerem adaptação cultural. A menor proteção observada em São Paulo evidencia como desigualdades educacionais perpetuam iniquidades em saúde. Portanto, promover experiências mais positivas constitui estratégia fundamental para reduzir disparidades e garantir equidade em saúde na adolescência.
A VIVÊNCIA INFANTO-JUVENIL NEGRA NA FAVELA E DETERMINAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE EM QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE UMA FAVELADA, OBRA DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Comunicação Oral Curta
1 IFGO
Período de Realização
A experiência teve início em fevereiro de 2025 e ocorre nos dias atuais.
Objeto da experiência
Projeto de ensino que se apoia na literatura e na escrevivência negra, em prol da formação antirracista nos diferentes níveis de ensino.
Objetivos
O trabalho tem como objetivo apresentar a experiência de um grupo de estudos, no qual discutiu-se as intersecções entre infância, adolescência e saúde, na perspectiva do livro Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus, e os determinantes e determinações sociais de saúde nessa fase da vida.
Metodologia
A experiência relatada é um recorte do projeto Mulungu Formação antirracista, do curso de Nutrição do Instituto Federal Goiano Campus Urutaí. Durante o projeto são realizados encontros quinzenais presenciais, para discussões sobre obras literárias de autores negros e autoras negras, com o intuito de discutir racialidade e intersecções com a saúde. Portanto, este relato aborda discussões elaboradas durante os encontros do Mulungu, referente a obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus.
Resultados
As discussões evidenciaram a infância, adolescência e saúde na favela, destacando-se os trechos: “Eu pretendia conversar com o meu filho as coisas serias da vida só quando ele atingisse a maioridade. Mas quem reside na favela não tem quadra de vida. Não tem infância, juventude ou maturidade”; “Já percebi que minha filha é revoltada. Ela tem pavor de morar na favela”, “Segui pensando na desventura das crianças que desde pequeno lamenta sua condição no mundo”, “Ontem comemos mal. E hoje pior.”
Análise Crítica
Em relação aos trechos destacados discutiu-se a vivencia infanto-juvenil, seus marcadores sociais e desfechos na saúde. Na narrativa da obra, a ausência da infância e juventude, sentimento de revolta e lamentação pela condição de pobreza, além da fome, evidenciam determinantes interseccionados pela raça. Dessa forma, tem-se que o racismo vivenciado por crianças e adolescentes negros da favela, reflete em violações do direito a saúde e a outros direitos básicos.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência relatada evidenciou que a realidade enfrentada por crianças e adolescentes negros nas favelas, é atravessada pelo fator racial. Contexto que demanda uma formação crítica e antirracista. O livro mostra um cotidiano de privações e amadurecimento precoce da população infanto-juvenil, decorrentes da luta pela sobrevivência. Portanto “Já que o meu filho já sabe como é o mundo, a linguagem infantil entre nós acabou-se”.
DESACELERAÇÃO NA REDUÇÃO DA MORTALIDADE EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS: EVIDÊNCIAS DE ESTAGNAÇÃO EM REGIÕES DESENVOLVIDAS DO BRASIL
Comunicação Oral Curta
1 PUCRS
Apresentação/Introdução
A mortalidade infantil até cinco anos é indicador-chave de saúde pública. No Brasil, sua queda foi desigual entre regiões e grupos sociais. Fatores como APS, saneamento e o Bolsa Família influenciam esse desfecho. Em contextos de alto IDHM, padrões distintos podem emergir, exigindo análise temporal dos determinantes.
Objetivos
Descrever o efeito temporal dos fatores determinantes da mortalidade infantil abaixo de cinco anos em municípios brasileiros com alto IDHM, considerando a influência da APS, saneamento básico, PBF e desigualdade social.
Metodologia
Estudo ecológico de base populacional, com dados de 2000 a 2022 provenientes de bases abertas (SIM, SINASC, IBGE, Cadastro Único, e-Gestor e SNIS). Foram analisadas três faixas etárias (<28 dias, 28 dias a 1 ano e 1 a 4 anos), incluindo a mortalidade infantil em municípios com presença de favelas. Modelos de regressão binomial negativa com Splines foram utilizados para capturar padrões temporais não lineares nos determinantes da mortalidade infantil.
Resultados
Foram analisados 1.113 municípios com IDHM > 0,727, entre 2000 e 2022. A mortalidade infantil até cinco anos caiu de 20,98‰ (2000) para 11,58‰ (2020), mas voltou a crescer, alcançando 13,54‰ em 2022. Coberturas do Bolsa Família e da APS associaram-se à redução dos óbitos, sobretudo em áreas com alta cobertura. Saneamento também teve efeito protetor, mais evidente no fim da série. Já a proporção de moradores em favelas associou-se ao aumento da mortalidade. Os efeitos variaram ao longo do tempo, indicando mudanças na influência dos determinantes.
Conclusões/Considerações
Apesar dos avanços, a mortalidade infantil segue elevada mesmo em municípios com alto IDHM. A recente reversão da tendência de queda indica desafios na sustentabilidade das políticas públicas. Os efeitos do PBF e da APS foram mais fortes em contextos menos vulneráveis, apontando a necessidade de estratégias complementares para alcançar populações de maior risco.
ANÁLISE DA MORTALIDADE NA POPULAÇÃO BRASILEIRA DE 0 A 19 ANOS POR CAPÍTULOS DA CID-10 (2010–2023)
Comunicação Oral Curta
1 CH- UFRJ/ EBSERH
Apresentação/Introdução
O Estatuto da Criança e do Adolescente garante o direito à vida e à saúde. A Agenda 2030, por meio do ODS 3, visa reduzir a mortalidade infantil e ampliar o acesso à saúde. Este artigo analisa as principais causas de mortalidade infantil e juvenil no Brasil, segundo o CID-10, no período de 2010 a 2023.
Objetivos
Analisar o perfil da mortalidade de brasileiros de 0 a 19 anos, entre 2010 e 2023, segundo causas classificadas pela CID-10, considerando variáveis socioeconômicas, regionais e demográficas.
Metodologia
Estudo descritivo, com dados secundários obtidos do IBGE, do Censo Demográfico 2022 e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS). Foram analisadas causas de óbito por faixa etária, sexo, raça/cor e região. Os dados foram tratados no Microsoft Excel, com cálculo de frequências absolutas e relativas.
Resultados
Houve redução do total de óbitos de 75.708 (2010) para 58.788 (2023). As principais causas de morte foram afecções perinatais (293.437 óbitos), seguidas por causas externas em adolescentes de 15 a 19 anos (181.031 óbitos), com destaque para agressões e acidentes, majoritariamente entre meninos. Crianças negras e pardas representaram 54,76% das mortes, evidenciando desigualdade racial. A Bahia apresentou taxa de mortalidade infantil de 15,35 por mil nascidos vivos, superior à média nacional (12,59) que pode estar relacionado a um o menor índice de alfabetização (85,8%) da região Nordeste, em contraste com a região Sul (96,6%).
Conclusões/Considerações
A mortalidade na infância e adolescência reflete as disparidades estruturais do país. As políticas públicas devem priorizar a ampliação do acesso a cuidados de saúde, a educação básica de qualidade e a proteção contra a violência, especialmente para populações em maior vulnerabilidade social e territorial
COMO ESCOLAS DETERMINAM PADRÕES DE CO-OCORRÊNCIA DE COMPORTAMENTOS DE RISCO À SAÚDE ENTRE ADOLESCENTES: ANÁLISE DE CLASSES LATENTES MULTINÍVEL EM SÃO PAULO
Comunicação Oral Curta
1 Faculdade de Medicina FMUSP, Universidade de São Paulo
2 Faculdade de Medicina FMUSP, Universidade de São PauloFMUSP
Apresentação/Introdução
Diversos comportamentos de risco à saúde (CRS) emergem durante a adolescência e podem se estabelecer. Os complexos padrões de ocorrência – isolada ou conjunta – destes CRS é determinada por fatores individuais e contextuais. Dentre eles, a escola se constitui como ambiente privilegiado para a compreensão sobre o surgimento e manutenção de CRS entre adolescentes.
Objetivos
Caracterizar padrões latentes de CRS em adolescentes e examinar sua variação entre escolas segundo sexo, raça/cor, idade, nível socioeconômico e tipo de escola.
Metodologia
Estudo transversal aninhado com 2.680 estudantes do 9º ano (52% meninos; média 14,9 anos) de 119 escolas públicas e privadas de São Paulo (estudo sp-proso). Utilizamos análise de classes latentes padrão e multinível para identificar padrões comportamentais com base em nove CRS: violência, bullying, comportamentos transgressores, uso de álcool, maconha, tabaco, sedentarismo, baixa atividade física e alto consumo de ultraprocessados. Incluímos as covariáveis sociodemográficas e contextuais para aperfeiçoar a estimação das classes. Modelos de 2 a 5 classes foram comparados com base em critérios de informação (BIC/AIC), bootstrap e plausibilidade teórica.
Resultados
A análise multinível demonstrou ajuste superior ao modelo padrão, revelando quatro perfis comportamentais: “alto risco” (44,8%), “substâncias e estilo de vida” (17,6%), “violência e substâncias” (23,7%) e “baixo risco” (13,8%). Observamos variação significativa entre escolas nas proporções das classes (p<0,001). Escolas privadas apresentaram maior prevalência de estudantes na classe de alto risco (49,4% vs 43,9% municipais vs 42,1% estaduais). Meninas concentraram-se mais na classe “substâncias e estilo de vida”, enquanto masculinos na “violência e substâncias”. Maior nível socioeconômico associou-se à probabilidade de pertencer à classe de baixo risco.
Conclusões/Considerações
A heterogeneidade de padrões comportamentais entre escolas evidencia a importância do contexto na determinação dos CRS, destacando a necessidade de considerar fatores contextuais na sua compreensão e prevenção durante a adolescência. Estes achados apontam para a necessidade de abordagens diferenciadas que considerem as particularidades do ambiente escolar.
Realização: