
Programa - Comunicação Oral Curta - COC30.3 - Territórios, gênero e antirracismo
03 DE DEZEMBRO | QUARTA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
A FORMAÇÃO EM SAÚDE SOB AS BASES DO FEMINISMO NEGRO E AFRODIASPÓRICO: EXPERIÊNCIAS UERJIANAS DE DESCOLONIZAÇÃO DOS CURRÍCULOS
Comunicação Oral Curta
1 UERJ
Apresentação/Introdução
A invisibilidade das questões étnico-raciais nos currículos acadêmicos tem sido evidenciada, entretanto, é preciso aprofundar o fosso abissal entre saber que não há e o porquê ainda não temos. A formação em saúde tem sua base na construção da ciência eurocêntrica, universal e colonial, em detrimento de referenciais afrodiaspóricos e decoloniais, que permitem repensar criticamente a formação.
Objetivos
Analisar diretrizes curriculares das graduações em saúde (Nutrição,Enfermagem, Medicina,Odontologia e Psicologia) da UERJ, buscando identificar bases epistemológicas e a presença/ausência de referências afrodiaspóricas e do feminismo negro.
Metodologia
A pesquisa é parte do projeto de doutorado que está em finalização. Desenvolvida com abordagem qualitativa, realizou-se análise documental das diretrizes dos cursos em análise. Posteriormente realização de entrevistas para escutar as experiências dos discentes, docentes, coletivos e núcleos da universidade. As entrevistas foram transcritas e analisadas categorizando-se em núcleos temáticos que emergiram das falas e dos documentos, por meio de organização da associação livre e rápida. Os núcleos temáticos foram interpretados à luz das concepções teóricas que norteiam a pesquisa, possibilitando fazer inferências e correlações da realidade empírica encontrada com o referencial teórico do estudo
Resultados
Das 5 DCNs analisadas, 3 apresentam relações étnico raciais, a saber: medicina, odontologia e psicologia. No entanto, não refletem o projeto pedagógico e a matriz curricular vigentes, que foram analisadas e não há referência de disciplina/conteúdo em ementas referente às relações étnico raciais. O que foi referendado pelos discentes e entrevistados, ao relatarem que não possuem aulas/disciplinas racializadas e não há referência de autoras/es negras(os) no currículo. Em contrapartida, estes cursos possuem coletivos negros de estudantes, que vem desenvolvendo estratégias de aquilombamento e mobilização na exigência de mudanças curriculares, e cobrança de mais representatividade
Conclusões/Considerações
Forma-se profissionais de saúde que atuam no território e tomam decisões de gestão em saúde sem (re)conhecer que o racismo e o sexismo, nos determinantes sociais em saúde são fatores estruturais produtores da hierarquização social associada à vulnerabilidades em saúde.Urge contrapor a história colonial patriarcal racista que constrói a base da ciência e recentralizar o conhecimento a partir da produção histórica de origem africana e indígena
ACESSO À SAÚDE PELOS HOMENS QUILOMBOLAS DE MESQUITA-GO: INTERSECCIONALIDADE DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE SOCIAL
Comunicação Oral Curta
1 UnB
Apresentação/Introdução
O acesso aos serviços de saúde pelos homens é um desafio no Sistema Único de Saúde. As representações simbólicas, além de diferenciar homens e mulheres, impactam nos comportamentos masculinos e predispõem os homens a não buscarem os serviços, pois em sua socialização, o cuidado em saúde não é uma questão posta. A reprodução da masculinidade hegemônica leva os homens a enfrentarem vulnerabilidades.
Objetivos
Analisar de que forma raça, gênero e classe social influenciam no acesso ao direito à saúde pelos homens quilombolas de Mesquita-Goiás e mapear como ocorre o acesso aos serviços de saúde pelos homens quilombolas desta comunidade.
Metodologia
A pesquisa adotou metodologia qualitativa e foi realizada na comunidade quilombola de Mesquita-Goiás, a partir de uma perspectiva decolonial. Realizou-se revisão bibliográfica e após aprovação por um Comitê de Ética em Pesquisa, Parecer nº 6491590, foram entrevistados 10 homens quilombolas da comunidade, identificados a partir de visitas a Unidade Básica de Saúde. Os dados coletados foram analisados a partir da técnica de análise de conteúdo.
Resultados
Os entrevistados revelam um padrão de comportamento, caracterizado pela busca de assistência somente quando apresentam problemas de saúde mais sérios e que não podem ser solucionados com automedicação. Os homens tendem a acessar os serviços de saúde pela atenção especializada, por julgarem que são serviços mais rápidos e curativista. Em relação à classe social e raça, os entrevistados compartilharam experiências de tratamento diferenciado durante os atendimentos pelos profissionais de saúde, influenciados por condições socioeconômicas e cor da pele. Além disso, reconhecem a existência das desigualdades de gênero e destacam que os homens buscam menos os serviços de saúde.
Conclusões/Considerações
A pesquisa apontou que os homens quilombolas enfrentam múltiplos desafios no acesso à saúde. A interseccionalidade de raça, classe social e gênero produzem e reproduzem estereótipos e expectativas nos níveis institucionais, acarretando a invisibilidade das necessidades de saúde masculina. Trata-se de marcadores estruturais que determinam como ocorre o acesso e utilização dos serviços de saúde por essa população.
MULHERES NA CIÊNCIA: A SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA EM QUESTÃO
Comunicação Oral Curta
1 ENSP/Fiocruz
Período de Realização
O webinário foi realizado na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, em novembro de 2024.
Objeto da experiência
Evento realizado por pesquisadoras negras, formadas pela ENSP, com vistas à compartilhar suas pesquisas racializadas e com métodos não-hegemônicos.
Objetivos
O webinário foi oferecido tendo por objetivo apontar as possibilidades de epistemologias negras na Academia, através da exposição de mestras e doutoras negras da ENSP/FIOCRUZ e suas respectivas pesquisas.
Metodologia
Quatro pesquisadoras, formadas pelo Stricto Sensu da ENSP/FIOCRUZ, apresentaram uma síntese de suas pesquisas, sob a perspectiva racializada e considerando o racismo na determinação do processo saúde-doença. A atividade aconteceu, presencialmente, na ENSP e foi ofertada, também, na modalidade on-line.
Resultados
a) Fomento de um espaço de persistência e reconstrução, onde o conhecimento produzido por mulheres negras emerge com força, em uma linguagem acessível, afetuosa e franca; b) Compartilhamento dos conhecimentos produzidos a partir dos processos de pesquisa-escrevivência das pesquisadoras; c) Endosso de um fazer ciência comprometido com a inclusão e o respeito às narrativas ancestrais, subvertendo o status quo e celebrando o protagonismo das mulheres negras no campo acadêmico.
Análise Crítica
Buscou-se compreender a sociedade brasileira(NASCIMENTO,2016)a partir da base estruturante e interseccional(AKOTIRENE,2019).As negritudes brasileiras foram historicamente apagadas e silenciadas no processo civilizatório europeu(MOURA, 2019)calcado na tríade racismo-colonialismo-patriarcado.A isso chamamos Epistemicídio(CARNEIRO,2011).É sob a égide deste conceito nasce a proposta, entendendo a pluralidade do pensamento e experiências cognitivas negras que foram desperdiçadas nos últimos séculos(RAMOS,1995)
Conclusões e/ou Recomendações
Por meio de itinerários narrativos e abordagens metodológicas inovadoras, as participantes compartilharam suas pesquisas dedicadas à equidade no âmbito da saúde coletiva e ancoradas no feminismo negro decolonial. A experiência buscou demonstrar que instituições de ensino podem se tornar locais de emancipação, reconhecimento e fortalecimento das subjetividades e dos saberes dos grupos étnicos historicamente subalternizados.
MULHERES QUILOMBOLAS E SABERES ANCESTRAIS DE CUIDADO EM SAÚDE E O SUS
Comunicação Oral Curta
1 UFRN
2 UFPE/UFRN
Apresentação/Introdução
Os saberes ancestrais de cura e cuidado em saúde constitui-se um legado do patrimônio imaterial brasileiro. Nas comunidades quilombolas são as mulheres que evocam a resistência ancestral, apresentando um modelo societário por meio da relação da confluência entre os viventes. A noção de resistência ancestral quilombola feminina vincula-se à concepção do cuidado coletivo no território.
Objetivos
a) Mapear as principais práticas de cuidados ancestrais realizados pelas mulheres quilombolas da Gameleira no RN; b) Traçar as trajetórias de vidas das mulheres quilombolas da Gameleira e suas práticas de cuidar de si e do cuidado comunitário.
Metodologia
Para tanto, lançamos mão de entrevistas narrativas com 09 mulheres quilombolas, nos moldes da técnica da história de vida, para mapear as principais práticas de cuidados utilizadas na Comunidade Quilombola da Gameleira, situada no município de São Tomé, na IV Unidade Regional de Saúde Pública do estado do Rio Grande do Norte. A escolha das mulheres deu-se a partir da indicação de rede afetiva. As análises das narrativas que emergiram das entrevistas foram realizadas a partir da técnica da análise temática, que seguem quatro etapas; 1) leitura exaustiva das narrativas; 2) Agrupamento dos núcleos de sentido e significados; 3) criação de categoria analítica, posteriormente a temática.
Resultados
Não há diálogo entre os sistemas culturais de saúde na Comunidade Quilombola da Gameleira. Embora que na comunidade exista uma Unidade Básica de Saúde, com uma Equipe de Estratégica de Saúde da Família, o diálogo entre as práticas ancestrais de cuidado e o saber biomédico não se integram e não se complementam. Ao que se percebe, o não reconhecimento dos saberes ancestrais de cuidado acaba tende a invisibilizar e contribuir com o epistemicídio desses saberes, estando no direcionamento contrário as políticas de equidade e promoção de saúde do Sistema Único de Saúde. Contudo, as mulheres quilombolas da Gameleira desempenham um papel fundamental no cuidado em saúde de sua comunidade.
Conclusões/Considerações
Espera-se que o resultado contribua para a visibilização dos saberes ancestrais praticados pelas mulheres quilombolas do estado do Rio Grande do Norte e assim, possa promover o diálogo entre os sistemas culturais de saúde, considerando tais práticas como integrativa e complementar em saúde e em consonância com os princípios de equidade e integralidade do SUS.
PNSIPN EM DIÁLOGO COM TERRITÓRIOS: SABERES E DEMANDAS DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA E MARISQUEIRA EM GOIANA-PE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO À SAÚDE
Comunicação Oral Curta
1 UFPB
2 ESPPE
3 XII GERES
Período de Realização
março de 2025, durante atividade formativa da residência em saúde coletiva.
Objeto da experiência
Promover atenção à saúde da população negra, com foco em comunidades tradicionais quilombolas e marisqueiras
Objetivos
Refletir sobre a atenção à saúde da população negra em comunidades tradicionais; Valorizar os saberes locais e práticas de cuidado; Identificar desafios para a efetivação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) nos serviços de saúde.
Metodologia
No módulo "Gestão e Integração das Redes de Atenção Integral", da residência em saúde coletiva da Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco, foi realizada uma vivência em uma comunidade tradicional quilombola. Em rodas de conversa com lideranças locais e trabalhadores da saúde, emergiram percepções sobre cuidado, racismo institucional, práticas tradicionais, alimentação e acesso, em diálogo com a PNSIPN.
Resultados
A atividade possibilitou reconhecer saberes tradicionais como formas legítimas de cuidado, além de revelar a desarticulação entre políticas públicas e os modos de vida locais. A ausência de ações voltadas à saúde da população negra foi percebida como uma expressão do racismo institucional. Também emergiram questões sobre a invisibilidade dos territórios nas agendas de saúde e sobre a desconexão entre práticas alimentares locais e políticas como a alimentação escolar
Análise Crítica
A experiência mostrou a importância de valorizar os saberes e práticas das comunidades tradicionais como fundamento para ações em saúde. Evidenciou a persistência do racismo institucional no cotidiano dos serviços e a necessidade de incorporar estratégias de cuidado que considerem identidade, território e ancestralidade. Destaca-se o papel formativo das vivências no território para residentes e profissionais comprometidos com a equidade.
Conclusões e/ou Recomendações
É fundamental fortalecer a implementação da PNSIPN a partir do diálogo com os territórios e com os saberes das populações negras. Recomenda-se a valorização das práticas comunitárias de cuidado, a inclusão de ações educativas antirracistas na formação dos trabalhadores da saúde e o reconhecimento das especificidades culturais na formulação das políticas públicas.
O PROCESSO DE FORMULAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO QUILOMBOLA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Comunicação Oral Curta
1 Ministério da Saúde e ISC/UFBA
2 Ministério da Saúde e UnB
3 Ministério da Saúde
4 Coordenação Nacional de Quilombos (CONAQ)
5 Ministério da Saúde e PUC-SP
Período de Realização
A formulação da PNASQ/SUS se iniciou em maio de 2024 e foi concluído em maio de 2025.
Objeto da produção
O processo de formulação da primeira Política Nacional de Saúde Integral da População Quilombola no Sistema Único de Saúde (PNASQ/SUS).
Objetivos
Relatar as etapas construídas ao longo da formulação da PNASQ/SUS no âmbito do Ministério da Saúde (MS).
Descrição da produção
A formulação teve 5 etapas a luz do ciclo de políticas (Kingdon, 2003), sendo elas: 1) reivindicações da Coordenação Nacional de Quilombos quanto a ausência de políticas específicas; 2) inserção na agenda a partir da 17° Conferência Nacional de Saúde; 3) busca por soluções com estudos da situação de saúde e oficinas com gestores, pesquisadores e sociedade civil; 4) elaboração da minuta, instrumento de monitoramento, avaliação e implementação; 5) consulta pública na Plataforma Participa + Brasil.
Resultados
A PNASQ/SUS objetiva os 1 milhão e 300 mil quilombolas, de 8 mil comunidades em 1,700 municípios (IBGE, 2022), contando com sete eixos estratégicos: vigilância, atenção integral, saúde mental, trabalho e educação, pesquisa e desenvolvimento, participação popular, saberes tradicionais. O monitoramento e avaliação será pelo GT de Saúde Quilombola – Graça Epifânio (Portaria GM/MS n° 5794/2024) e a implementação pelo Plano Operativo AquilombaSUS (2025-2029), com investimento previsto de 180 milhões.
Análise crítica e impactos da produção
A PNASQ propõe inovações ao SUS, ao passo que toma como princípios o antirracismo, a reparação histórica, a equidade étnico-racial e o aquilombamento. As bases para a sua formulação preveem o reconhecimento das especificidades territoriais, culturais, étnico-raciais e de trajetória ancestral dos quilombos, provocando o SUS a buscar estratégias para a garantia do direito à saúde em territórios rurais e remotos dos campos, florestas e águas.
Considerações finais
A agilidade da formulação pode ter relação com o grau de prioridade da pauta na gestão do MS, amadurecimento do debate, alta participação popular e pelo fato do processo ser conduzido por gestores-pesquisadores-ativistas que são quilombolas. A etapa de decisão, no entanto, depende da pactuação na Comissão Intergestores-Tripartite, com perspectiva de lançamento da política em 2025, no âmbito da agenda climática governamental da COP30.
“EU ME SINTO PÉSSIMA, ATÉ PORQUE EU SOU UMA MULHER NEGRA”: PERCEPÇÕES PROFISSIONAIS SOBRE RAÇA, GÊNERO E SAÚDE MENTAL
Comunicação Oral Curta
1 UFC
Apresentação/Introdução
O binômio racismo-sexismo, enquanto fenômeno de repercussão na vida das mulheres negras, afeta o trabalho, as relações interpessoais, e as mais diversas dimensões das suas vidas como a saúde mental, resultando em um alto índice de sobrecarga física/emocional e, consequente, adoecimento psíquico entre elas.
Objetivos
Foi objetivo deste trabalho apresentar um recorte de uma pesquisa, que teve enquanto um dos seus objetivos descrever a percepção de profissionais sobre a relação das categorias gênero e raça com a saúde mental.
Metodologia
Tratou-se de uma pesquisa-intervenção, resultado do mestrado profissional em Psicologia e Políticas Públicas da autora principal, com aprovação ética sob o parecer número 6.313.188. Foi realizada com 16 trabalhadores(as) de dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do interior do Ceará. As entrevistas foram realizadas, individualmente, durante os meses de outubro e novembro de 2023. Os dados foram analisados a partir do referencial teórico-metodológico das práticas discursivas e produção de sentidos, elencando-se as seguintes categorias de análise: sobre raça, cor e identidade; dicotomia raça-classe; e saúde mental e mulheres negras.
Resultados
Nas falas trazidas, percebeu-se maior tendência para aproximar os marcadores classe e gênero aos processos de adoecimento mental, não sendo difícil observar que o discurso sobre as desigualdades sociais pode ser usado enquanto elemento silenciador do racismo. Por outro lado, também há a percepção, em um número menor de profissionais, que a raça é usada enquanto um elemento de controle social que, associada às questões de gênero, traz impactos negativos para a saúde mental das usuárias dos serviços que são, majoritariamente, mulheres negras e pobres. Evidenciou-se significativa lacuna na formação dos(as) participantes acerca das relações raciais e de gênero.
Conclusões/Considerações
A realidade, percebida nos equipamentos de saúde foi vista como reflexo de uma estrutura social ampla. Um dos produtos desta pesquisa foi uma formação profissional, denominada Aquilomba SUS, com a finalidade de contribuir para a criação de espaços de discussão e sensibilização sobre a temática, esperando-se corroborar com a qualificação das práticas de cuidado em saúde mental às mulheres negras.
EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE E A PRODUÇÃO DE ESTRATÉGIAS ANTIRRACISTAS NO SUS
Comunicação Oral Curta
1 Secretaria Estadual de Saúde
2 Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade de Pernambuco
3 Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Secretaria de Saúde do Recife
Período de Realização
A produção do curso autoinstrucional ocorreu entre fevereiro e maio de 2024.
Objeto da produção
Curso EAD autoinstrucional, aberto ao público. À época, era o único curso sobre a temática antirracista no SUS.
Objetivos
Produzido pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, o curso teve como objetivo fomentar, via Educação Permanente em Saúde, a formação de trabalhadores para o diagnóstico e enfrentamento das desigualdades em saúde provocadas pelo racismo no Brasil.
Descrição da produção
O curso foi concebido pela Coordenação Estadual de Atenção à Saúde da População Negra de Pernambuco e pela Coordenação de Educação Permanente em Saúde da Escola de Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE). Disponível no Ambiente de Aprendizagem Virtual da ESPPE, a formação foi estruturada a partir da elaboração do plano de curso, do livro didático e de aulas virtuais em formato de entrevistas com trabalhadores e lideranças de movimentos sociais negros sobre o conteúdo teórico e prático.
Resultados
O curso “Desigualdades Raciais e seus Efeitos na Saúde” tem alcançado ampla abrangência em número e perfil de inscritos. Até o momento, são 1.571 pessoas inscritas, sendo 91,1% trabalhadores da saúde, com representação de todos os estados brasileiros. Esses dados indicam que a estratégia da Educação Permanente em Saúde, por meio da construção do curso, tem mobilizado profissionais de todo o país, contribuindo para a mudança de práticas e o enfrentamento ao racismo no SUS.
Análise crítica e impactos da produção
A criação e oferta de um curso autoinstrucional mostrou-se uma estratégia acertada, pois sua produção teve custo financeiro e operacional relativamente baixo, e seu alcance segue em expansão. Destaca-se também a articulação e participação de gestores e lideranças dos movimentos negros na construção e execução da proposta. A relevância do curso é evidenciada pelo alto número de inscrições de usuários e estudantes, além dos trabalhadores do SUS.
Considerações finais
A realização de estratégias de Educação Permanente em Saúde, aliada à participação social e ao uso de tecnologias, mostra-se uma importante ferramenta na luta antirracista. A produção de cursos EAD autoinstrucionais contribui para a formação de trabalhadores e usuários do SUS, essencial para evidenciar desigualdades raciais, seus efeitos e promover a melhoria do acesso e do cuidado.
DISCRIMINAÇÃO RACIAL E SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA: FORMAÇÃO NO PET-SAÚDE: EQUIDADE
Comunicação Oral Curta
1 UVA
2 UFC
Período de Realização
Atividade formativa do PET-Saúde: Equidade da UVA realizada e analisada em novembro de 2024
Objeto da experiência
Formação no PET-SAÚDE: EQUIDADE sobre Discriminação Racial e Saúde da População Negra: Interfaces com os Marcadores Sociais de Diferença.
Objetivos
Relatar a experiência da atividade formativa do PET-Saúde: Equidade, destacando a organização, realização e impactos de um evento sobre discriminação racial e saúde da população negra, com ênfase na promoção da equidade e no letramento racial.
Descrição da experiência
Em novembro de 2024, no processo formativo do PET-Saúde: Equidade, foi realizada uma roda de conversa sobre “Discriminação Racial e Saúde da População Negra: Interfaces com os Marcadores Sociais de Diferença”. Foram abordados temas como saúde mental de estudantes negras, população de terreiros, mulheres negras e LGBTQIAPN+. A atividade promoveu escuta sensível, reflexão crítica e letramento racial.
Resultados
A roda de conversa reuniu 121 participantes e promoveu troca de saberes sobre os efeitos do racismo na saúde da população negra. Houve consenso sobre seu caráter estrutural. Avaliada por 69 participantes, 91,3% deram 5 estrelas e 8,7% deram 4, indicando alto impacto, organização e relevância. O evento foi reconhecido como espaço potente de reflexão crítica no contexto universitário.
Aprendizado e análise crítica
A atividade formativa demonstrou o potencial da roda de conversa para fomentar letramento racial, escuta sensível e reflexão crítica sobre os impactos do racismo na saúde. Destacou-se o papel da universidade na formação cidadã e na promoção da equidade. O debate sobre interseccionalidades ampliou a compreensão das múltiplas opressões. Houve fortalecimento do pertencimento e da responsabilidade coletiva no enfrentamento ao racismo.
Conclusões e/ou Recomendações
O PET-Saúde: Equidade foi fundamental ao viabilizar um espaço formativo comprometido com a justiça social, promovendo debates sobre racismo e saúde da população negra. A roda de conversa fortaleceu o letramento racial e o pertencimento. Recomenda-se ampliar ações intersetoriais e inserir permanentemente essas temáticas na formação em saúde e nas políticas públicas.
ENTRE SABERES E LACUNAS: A PRODUÇÃO CIENTÍFICA GLOBAL SOBRE O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA DE PESSOAS QUILOMBOLAS
Comunicação Oral Curta
1 PPgMDS/UFPB
2 PPgSF/Renasf/UFPB
3 PPgSC/UFPB
4 PPgNeC/UFPB
Apresentação/Introdução
As comunidades quilombolas, reconhecidas por sua identidade étnico-racial e pelo vínculo territorial, seguem enfrentando profundas desigualdades socioeconômicas, que impactam diretamente sua saúde. Apesar dos recentes avanços legais, fatores como o racismo estrutural, a pobreza e o acesso precário a serviços básicos contribuem para a persistência de doenças evitáveis e a baixa qualidade de vida.
Objetivos
Diante da escassez de estudos voltados a essa população, esta pesquisa teve como objetivo realizar uma análise bibliométrica da produção científica global sobre o processo saúde-doença em comunidades quilombolas, destacando tendências de publicação.
Metodologia
A metodologia baseou-se em técnicas de análise bibliométrica aplicadas à literatura sobre a saúde de quilombolas. A coleta foi realizada entre outubro e novembro de 2024 nas bases Web of Science, Scopus, PubMed, SciELO e LILACS/Medline, abrangendo publicações de 2004 a 2024. Utilizaram-se termos DeCS/MeSH combinados por operadores booleanos e filtros específicos. Os dados foram organizados em planilhas com variáveis como autoria, periódico, país e palavras-chave. A análise foi realizada com os softwares R (Bibliometrix) e VOSviewer, permitindo identificar redes de coautoria, termos recorrentes e tendências, além da criação de mapas para a identificação de clusters ou aglomerados temáticos.
Resultados
Foram analisadas 648 publicações sobre a temática, extraídas de bases internacionais e latino-americanas, com predominância de artigos científicos e autoria brasileira (62,1%). A média foi de 6,3 coautores por documento e 4,7 citações por artigo. As análises revelaram redes de co-ocorrência que resultaram em nove clusters temáticos, com destaque para saúde comunitária, saberes tradicionais, determinantes sociais e dados epidemiológicos. A análise temporal apontou um crescimento de publicações com foco em saúde mental, COVID-19 e qualidade de vida. Os dados confirmam uma produção recente, colaborativa e concentrada no Brasil, com potencial de orientar políticas públicas mais equitativas.
Conclusões/Considerações
A análise bibliométrica evidenciou a importância de fortalecer parcerias científicas a fim de suprir lacunas em pesquisas sobre a saúde de comunidades quilombolas, além de ressaltar a necessidade de um maior alcance desses estudos ao incorporar perspectivas socioculturais. Tais resultados são fundamentais para apoiar o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes e inclusivas, alinhadas às reais particularidades de populações tradicionais.

Realização: