Programa - Comunicação Oral Curta - COC8.2 - Entre desigualdades e resistências: cuidando de mulheres na perspectiva decolonial
02 DE DEZEMBRO | TERÇA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
A SAÚDE NA PERSPECTIVA DE MULHERES COM TRAJETÓRIA DE VIDA NAS RUAS
Comunicação Oral Curta
1 Instituto René Rachou - Fiocruz Minas
Apresentação/Introdução
A percepção sobre saúde varia entre os diferentes grupos populacionais considerando as intersecções de gênero, raça, classe, geração e outros marcadores sociais. Compreender a saúde na perspectiva das mulheres com a vivência nas ruas pode indicar caminhos para as políticas, serviços e práticas de saúde alinhados com a realidade das mulheres que, por vezes, são invisibilizadas nesse contexto.
Objetivos
Compreender o processo saúde-doença-cuidado, sob a perspectiva interseccional, de mulheres com trajetória de vida nas ruas do município de Belo Horizonte/MG. Entre os objetivos específicos está a análise da percepção de saúde das participantes.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com entrevistas de trajetória de vida. Utilizou-se a técnica de bola de neve para a seleção das participantes e, até o momento, foram entrevistadas cinco mulheres cis com trajetória de vida nas ruas. As entrevistas foram realizadas no período de maio a julho de 2024, tiveram duração média de uma hora e quarenta minutos, foram gravadas mediante assinatura do TCLE, em seguida foram transcritas na íntegra para posterior análise de conteúdo com auxílio do software Atlas.ti. Nesse trabalho, apresentamos e discutimos a percepção de saúde das mulheres a partir da pergunta “o que é saúde para você?”
Resultados
A análise revelou que a saúde é entendida de forma ampliada, associada não apenas à ausência de doenças, mas principalmente à possibilidade de estabilização das condições básicas de sobrevivência, como alimentação adequada, higiene, organização pessoal, cuidado com a saúde mental e acesso a serviços. As participantes destacam a saúde como essencial para a realização das atividades cotidianas e como um suporte vital para manter a dignidade e a autonomia. No entanto, também denunciam as dificuldades de acesso a serviços públicos, especialmente na área da saúde mental e bucal, e apontam a ausência de políticas públicas eficazes e contínuas.
Conclusões/Considerações
Os relatos reforçam a necessidade de políticas intersetoriais que garantam o direito à saúde integral, com ampliação do acesso, acolhimento qualificado e ações que considerem as suas especificidades. Para além do tratamento clínico, saúde é sinônimo de cuidado, estabilidade e reconhecimento dos direitos básicos, destacando a urgência de medidas que promovam equidade e justiça social.
ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL DE MULHERES NEGRAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA: UMA LEITURA INTERSECCIONAL
Comunicação Oral Curta
1 PUC MInas
2 PUC Minas/Instituto René Rachou - Fiocruz Minas
Período de Realização
O produto foi desenvolvido durante uma pesquisa-intervenção, em 2025, pelo prazo de sete meses
Objeto da produção
Vídeo educativo com foco no desenvolvimento de práticas interseccionais para aprimoramento do atendimento de mulheres negras em situação de violência
Objetivos
Contribuir na consolidação de processos de trabalho, no âmbito da política de assistência social, que utilizem a perspectiva interseccional como recurso para operacionalizar políticas públicas antirracistas e eficazes no enfrentamento da violência contra mulheres negras.
Descrição da produção
O vídeo foi produzido de forma cooperativa junto a um grupo de cinquenta trabalhadoras da política de assistência social. O processo envolveu etapas participativas: planejamento coletivo do roteiro com os trabalhadores, definição dos eixos temáticos relacionados à saúde mental de mulheres negras em situação de violência, gravação em contextos institucionais e edição colaborativa. A metodologia priorizou a escuta qualificada e o estudo sobre interseccionalidade como teoria social crítica.
Resultados
O vídeo informa sobre a sensibilidade dos trabalhadores quanto ao marcador raça/cor e sua incidência na produção da violência contra mulheres atendidas na políticas de assistência social. Apresenta iniciativas inovadoras que relacionam diferentes marcadores sociais da diferença a fim de produzir uma leitura complexa sobre a violência contra mulheres negras. O produto traduz a motivação dos trabalhadores para confrontar uma institucionalização ainda incipiente diante das demandas supracitadas.
Análise crítica e impactos da produção
A produção evidenciou o racismo estrutural existente nas políticas públicas e a ideologia da branquitude que ainda orienta as práticas profissionais. No entanto, o trabalho também aponta a abertura dos trabalhadores para a produção de novas tecnologias e saberes que contemplem conceitos inovadores para aperfeiçoamento do trabalho, alinhando-o aos fenômenos sociais urgentes como, por exemplo, o feminicídio de mulheres negras.
Considerações finais
As reflexões geradas evidenciam a urgência em incorporar a perspectiva interseccional nas práticas do SUAS, especialmente na atenção à saúde mental de mulheres negras em situação de violência. O vídeo, resultado de um processo participativo, demonstrou ser um importante instrumento para promover a sensibilização e transformação das práticas institucionais, contribuindo para o enfrentamento do racismo e a construção de atendimentos mais inclusivos.
IMPACTO DAS IMAGENS DE CONTROLE NA SAÚDE DA MULHER NEGRA: UMA ANÁLISE INTERSECCIONAL
Comunicação Oral Curta
1 Unicamp
Apresentação/Introdução
No Brasil, as pessoas negras enfrentam desproporcionalmente indicadores de saúde negativos, como mortalidade precoce, altas taxas de mortalidade materna e infantil, doenças crônicas, infecciosas e violência. As Imagens de controle, representações negativas, provocam percepções sobre mulheres negras que limitam o acesso e impedem que recebam serviços de saúde de qualidade, perpetuando desigualdades.
Objetivos
Identificar imagens de controle a partir das experiências de mulheres negras no acesso a serviços de saúde. Analisar desigualdades no processo saúde-doença-cuidado, usando a interseccionalidade para discutir estratégias contra iniquidades
Metodologia
Pesquisa qualitativa estratégica, com abordagem interseccional e uso de imagens de controle, analisou impactos do racismo na saúde de mulheres negras. Esta foi realizada no coletivo negro da cidade de Campinas e região, envolveu 6 mulheres (23-73 anos) selecionadas via bola de neve. Entrevistas semi-estruturadas (22-50 min) ocorreram em locais privativos. O método de análise dos dados utilizado foi o Discurso do Sujeito Coletivo. A análise do discurso identificou expressões-chave, ideias centrais e ancoragens, agrupando-as para construir discursos coletivos que expressam representações sociais. A pesquisa obteve a autorização do comitê de ética e do coordenador do coletivo.
Resultados
Foram identificadas quatro imagens de controle que estruturam violências contra mulheres negras: 1) Mammy: vista como empregada fiel, enfrenta exploração laboral, invisibilização e procedimentos médicos invasivos sem consentimento. 2) Black Lady: ascendeu socialmente mas é tida como antipática, sofre discriminação profissional e exclusão de liderança, com violências no atendimento médico. 3) Jezebel: hipersexualizada, enfrenta assédio, violência sexual e negligência na saúde reprodutiva. 4) Matriarca: culpada pela vulnerabilidade comunitária, lida com pobreza estrutural e questionamentos legais sobre sua capacidade parental.
Conclusões/Considerações
As imagens de controle, fruto do racismo estrutural, restringem o acesso de mulheres negras à saúde, intensificadas por múltiplos marcadores sociais, como racismo, sexismo e classismo. A interseccionalidade revelou iniquidades complexas. Propõe-se educação antirracista para profissionais do SUS e inclusão do quesito raça/cor em fichas de atendimento para políticas específicas, promovendo equidade em saúde e enfrentando o racismo institucional.
“ADOECIMENTO MENTAL E INIQUIDADES NO CÁRCERE FEMININO: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CONJUNTO PENAL LEMOS DE BRITO”
Comunicação Oral Curta
1 Instituição de vínculo – Instituto de Saúde Coletiva- Universidade Federal da Bahia
Período de Realização
Maio 2025
Objeto da experiência
Promover diálogo sobre trajetórias de vida, violências e adoecimento mental no setor feminino do Conjunto Penal Lemos de Brito (Salvador- BA).
Objetivos
Promover um espaço seguro para discussão sobre corpo e vivências no cárcere;
Identificar desafios estruturais no atendimento à saúde mental das encarceradas;
Documentar relatos que evidenciem as interseccionalidades ;
Contribuir para a reflexão sobre a efetividade da PNAMPE e LEP na prática.
Descrição da experiência
A atividade contou com três momentos: acolhimento com dinâmicas de relaxamento; debate indenitário a partir da “dinâmica dos corpos”; e encerramento com lanche coletivo e escuta das participantes. Participaram dez mulheres, incluindo duas transgênero. Durante a interação, emergiram relatos sobre violência institucional, precariedade no atendimento a saúde mental. A ação terminou com um lanche coletivo e avaliação das participantes, que destacaram a importância de espaços de fala.
Resultados
Os relatos confirmaram padrões já documentados, as participantes a maioria eram negras e pardas, presas por crimes relacionados à Lei de Drogas em funções subalternas. Com históricos de violência doméstica, pobreza e exclusão. Muitas relataram sintomas de Depressão e de Transtorno de Estresse Pós-traumático, não tratados adequadamente, falhas no cuidado em saúde mental e violências .Ciclos geracionais de encarceramento evidenciando a reprodução sistêmica da marginalização.
Aprendizado e análise crítica
A experiência reforçou que o cárcere agrava vulnerabilidades pré-existentes, a Política Nacional de Atenção às Mulheres Privadas de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (PNAMPE) não se materializou ainda de fato. Atividades pontuais são insuficientes, mas revelam demandas urgentes de saúde mental, educação e combate ao racismo institucional. A contradição entre a LEP (que prevê dignidade) e a realidade prisional ficou explícita nos relatos de revistas vexatórias e negligência médica.
Conclusões e/ou Recomendações
Priorizar saúde mental, capacitando agentes penitenciários para abordagem não violenta e ampliar o atendimento com psicólogos e psiquiatras; Fortalecer a PNAMPE e monitorar sua implementação com indicadores de saúde mental e reinserção social; Enfrentar o racismo institucional, com adoção da interseccionalidade como metodologia teórico-analítica, além da valorização das escutas como ferramenta de transformação.
TORNAR-SE MÃE NAS RUAS: O QUE DIZEM A CIÊNCIA, MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA E AGENTES DE ESTADO QUANDO AS FRONTEIRAS DO CUIDADO, DA LEI E DA CIDADANIA SE CONFRONTAM?
Comunicação Oral Curta
1 ENSP/FIOCRUZ
2 IFF/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
As experiências de maternidade de mulheres em situação de rua revelam linhas abissais de renda, classe, gênero, e poder, existentes na sociedade brasileira. “Morar" nas ruas é uma questão (não apenas, mas também) de saúde pública, que aponta sintomas de um mal-estar profundamente imbricado em nossa história de escravidão e tudo que ela produziu de estrutura social-política que persiste ainda hoje.
Objetivos
Neste trabalho, discutimos as maternidades de mulheres em situação de rua a partir dos discursos produzidos pela ciência, pelas próprias mulheres e agentes de Estado que operam políticas de Saúde, assistência e justiça.
Metodologia
Estudo qualitativo inspirado em diferentes perspectivas interseccionais e decoloniais. Foi realizado uma revisão integrativa sobre o tema, além de uma pesquisa de inspiração etnográfica que acompanhou “Carolina”, mulher negra e gestante em situação de rua - desde o seu sexto mês até pouco depois de seu parto, a fim de registrar sua fala, história de vida e memórias sobre suas experiências de maternidades. Por fim, a partir de um Fórum de “Maternidades, Drogas e Convivência Familiar”, pudemos acompanhar a agenda de debates da cidade e acessar narrativas de agentes de Estado sobre o tema por meio de conversas informais e entrevistas com uso de roteiro semi-estruturado.
Resultados
Essas maternidades se produzem em contexto de desproteção social. A sua criminalização é uma tendência global, em que os direitos fetais/criança significam retração dos direitos das mulheres. Contudo, a experiência de Carolina mostra que quando há não apenas desejo, mas também caminhos nas políticas públicas essas maternidades podem se tornar ponto de inflexão em suas vidas. Carolina nos fez perceber que “entregar” o filho não significa não amá-lo, mas acreditar que quem o “acolhe” terá condições de criá-lo. Para agentes de Estado, essas maternidades são dilemas éticos que os põem em encruzilhadas tendo que arbitrar de quem e quais direitos devem prevalecer: os dessas mulheres ou os de crianças.
Conclusões/Considerações
As análises realizadas neste trabalho mostram que as experiências de maternidades de mulheres em situação de rua não podem ser simplesmente reduzidas às ideias de negligência ou mesmo de incapacidade para responder as expectativas sociais da “boa-mãe”, mas antes, devem ser compreendidas a partir da nossa tradição escravocrata, associada à falta de políticas historicamente reparadoras.
CORPOS COBERTOS, DORES SILENCIADAS? A INVISIBILIDADE DAS EXPERIÊNCIAS DE MULHERES MUÇULMANAS NO CAMPO DA SAÚDE COLETIVA BRASILEIRA
Comunicação Oral Curta
1 USP
Apresentação/Introdução
A presença social do religioso é um fato que não pode ser ignorado, mas a autoafirmação de minorias a partir da cidadania e dos direitos humanos é recente. Embora a saúde seja direito de todos, parcelas significativas da população, sobretudo grupos minorizados como, por exemplo, muçulmanos-as, ainda estão um tanto quanto distantes dessa efetivação.
Objetivos
Parte-se da pesquisa de doutoramento da autora sobre saúde mental de mulheres muçulmanas para problematizar o distanciamento do campo da saúde coletiva em relação ao entendimento e ao atendimento das demandas de saúde desses religiosos.
Metodologia
A pesquisa participante priorizou o envolvimento das interlocutoras. Foram realizadas entrevistas abertas e em profundidade com mulheres muçulmanas de diferentes regiões do Brasil, buscando compreender suas experiências de saúde, cuidado e sofrimento, em seus próprios termos.
Resultados
Na pesquisa em questão, mulheres muçulmanas apontaram as falhas de profissionais no fornecimento de uma escuta culturalmente sensível aos temas que as norteiam, informando a predominância da perspectiva de que a religião constituiria um empecilho para a saúde. A interseccionalidade entre religião, raça, gênero e classe revela as múltiplas formas de discriminação que vulnerabilizam as pessoas muçulmanas, sendo particularmente afetadas aquelas que usam o hijab, o véu islâmico. A persistência da lógica colonial na saúde tende a excluir a religião como dimensão legítima do cuidado.
Conclusões/Considerações
A colonialidade reforça a marginalização desse grupo, que vivencia dificuldades no acesso a um cuidado em saúde que respeite as suas especificidades culturais-religiosas. Como consequência, a invisibilidade das suas experiências dificulta a formulação de políticas inclusivas e o exercício pleno de seus direitos. Dado o exposto, é feita a defesa da religião como um marcador da diferença relevante para a saúde coletiva.
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE ESCUTA E SUPORTE ÀS PESQUISADORAS EM UM CAMPO SENSÍVEL: MIGRAÇÃO, CUIDADO E VIOLÊNCIAS
Comunicação Oral Curta
1 ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
O trabalho relato de pesquisa de três psicólogas sobre a preparação e o suporte à pesquisadoras para o campo, com mulheres migrantes em três fronteiras brasileiras e cinco capitais. Diante das vulnerabilizações das migrantes. visando antecipar e acolher os desafios que o campo impõe, além de subsidiar ações para o encaminhamento às migrantes aos serviços de saúde.
Objetivos
O objetivo foi oferecer suporte psicossocial às entrevistadoras, buscando; construir coletivamente estratégias para os desafios do campo, como barreiras linguísticas, discussão de condutas face as suas emoções e zelar pelo bem-estar físico e mental da equipe.
Metodologia
A experiência foi realizada por meio de dois encontros virtuais, mediados por psicólogas, com a participação de pesquisadoras de campo. Utilizou-se uma abordagem dialógica, incentivando a troca de experiências para a construção conjunta de conhecimento. Os debates foram registrados em relatorias, que serviram como base para este relato, focando nas principais temáticas que emergiram do grupo.
Resultados
Os encontros revelaram as principais preocupações das pesquisadoras: a (in)segurança no campo; a barreira linguística; e o manejo de temas sensíveis e memórias traumáticas das migrantes durante as entrevistas. Foram discutidas estratégias como a importância do roteiro de entrevistas ser flexível e técnicas para um fechamento seguro do encontro, perguntando à migrante sobre as suas emoções após a entrevista. As entrevistadoras grupo expressaram grande satisfação com os encontros e o desejo de continuar com o suporte coletivo das psicólogas.
Conclusões/Considerações
A experiência demonstrou que a criação de espaços de escuta e suporte para a equipe é fundamental para a condução ética e segura de estudos em contextos de vulnerabilização. Essa preparação não apenas zela pela saúde mental das pesquisadoras, mas qualifica o trabalho de campo, permitindo uma abordagem mais sensível e respeitosa com as migrantes, constituindo-se como parte indissociável da própria pesquisa.
TRAJETÓRIA DE VIDA DE MULHERES QUE TIVERAM FILHO(A) COM SÍDROME CONGÊNITA DO ZICA VÍRUS E INTERSECCIONALIDADES: PAUSAS, CONTINUIDADES E RECOMEÇOS
Comunicação Oral Curta
1 ISC/UFBA
Apresentação/Introdução
A epidemia da Zika Vírus foi um importante problema de saúde pública. Na ocasião, foi decretado Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional pelo MS. As consequências da epidemia repercutem até hoje na vida cotidiana das mulheres afetadas pelo Zika Vírus que tiveram filhas/ filhos com SCZV e produzem formas diversas de cuidado, atravessado pelas desigualdades de gênero, raça e classe.
Objetivos
Compreender de que forma as experiências de cuidado repercutem na trajetória de vida de mulheres que se tornaram mães de uma criança com Síndrome Congênita do Zika Vírus
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, referenciado pelo o feminismo negro, tendo a interseccionalidade como ferramenta teórica e metodológica que transversaliza a construção desse trabalho. Utilizou a entrevista narrativa com mulheres para a produção dos dados empíricos. As entrevistas foram realizadas por uma plataforma digital através de um roteiro que contempla as características sociodemográficas e questões disparadoras para a construção da narrativa, respeitando os preceitos éticos e o conforto das participantes. Participaram desse estudo noves mulheres, com “características heterogêneas” no que se refere a raça/cor, classe social e arranjo familiar.
Resultados
A ruptura biográfica ocorre com a descoberta do diagnóstico. Foi unânime o impacto e a mobilização com a notícia, agravada pelo comportamento antiético de médicos no momento da informação do diagnóstico e no acompanhamento. As percepções de cuidado são atravessadas pela lógica patriarcal de que a mulher é a principal responsável pelas as atividades domésticas e pelo o cuidado, um lugar de cuidado invisibilizado pela cultura e sociedade, ancorado na premissa que a função da mulher é cuidar. Observa-se uma rotina exaustiva e sobrecarregada, acrescidas pelos cuidados específicos com uma criança com múltiplas deficiências, com uma frágil rede de apoio e uma contribuição inexpressiva dos homens.
Conclusões/Considerações
A solidão da maternidade atípica e negra escancara a fragilidade da rede de apoio. Nessa perspectiva, a ideia de autocuidado é construída a partir dos cuidados básicos e orientada por uma lógica de que o cuidado é um privilégio. Já a militância, além de oportunizar uma organização pelas lutas de direitos, vislumbra novas perspectivas de reinvenção, através da formação e fortalecimento da rede de apoio e cuidado entre essas mulheres e a criação de ONGs.
RACISMO COMO DETERMINANTE ESTRUTURAL DE SAÚDE MATERNA: UMA ANÁLISE DO DISTRITO FEDERAL, NO PERÍODO DE 2010 A 2022.
Comunicação Oral Curta
1 SESDF
Apresentação/Introdução
Os determinantes sociais de saúde causados por múltiplos mecanismos de opressão, incluindo racismo estrutural, são temas frequentes de discussão. E após décadas de luta anti-racista, evidências ainda mostram que a população negra, imersa em condições sociais desfavoráveis, ainda é a parcela da população com os piores indicadores de saúde relacionados à mortalidade e morbidade, inclusive materna.
Objetivos
Demonstrar a relação entre resultados de estudos sociodemográficos e razão acumulada mortalidade materna entre 2010 e 2022 no Distrito Federal, desagregados por raça-cor e região administrativa
Metodologia
Foi realizada revisão de literatura, análise documental e de dados publicados especificamente no relatório de evolução do Índice de Vulnerabilidade Social - IVS-DF (2021); dados de distribuição populacional por raça-cor no DF (IBGE, 2022), desagregados por Região Administrativa no DF, traçando um paralelo entre o indicador razão de mortalidade materna acumulada (RMMA) entre 2010 a 2022, também desagregado por região administrativa (DISTRITO FEDERAL, 2022).
Resultados
Demonstrou-se ao se cruzar e analisar dados sociodemográficos do estudo Distrital do IVS (IPEDF, 2021) e do Censo 2022 (IBGE, 2022), fazendo uma lupa sobre as regiões administrativas (RA) e raça-cor, com os resultados da RMMA entre 2010 e 2022, é possível visualizar que a população negra é mais desfavorecida e com piores desfechos maternos, sendo SIA/estrutural a RA com maior IVS, maior percentual de população negra, maior percentual de população sem plano de saúde do DF e maior percentual de RMMA da região Centro-Sul do DF. De outro lado, o Lago Sul foi a RA com maior percentual de pessoas brancas, com plano de saúde, menor IVS e ausência de registro de morte materna no período.
Conclusões/Considerações
Após o cruzamento de dados epidemiológicos e RMMA, foi possível demonstrar a íntima relação entre as desigualdades sociais e marcadores de saúde materna, sobretudo quando se desagrega os dados por raça-cor, demonstrando que a população negra no DF, sobretudo em regiões com piores Índices de Vulnerabilidade Social são as que performam os piores indicadores de mortalidade materna ao longo dos anos.
PERCEPÇÕES DE ENFERMEIRAS BRANCAS SOBRE OS IMPACTOS DA BRANQUITUDE E DOS PRIVILÉGIOS RACIAIS FRENTE AO CUIDADO DE MULHERES NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL
Comunicação Oral Curta
1 UFBA
2 UEFS
Apresentação/Introdução
Introdução: A branquitude é uma posição de poder, que advêm de um contexto histórico e social, que garante privilégios para pessoas brancas, enquanto gera desvantagens para os não brancos, contribuindo para o fortalecimento da supremacia racial, do racismo estrutural e do racismo institucional, e consequentemente, afetam mulheres que se encontram no ciclo gravídico-puerperal.
Objetivos
Objetivo: Compreender as percepções de enfermeiras brancas frente aos impactos da branquitude e os privilégios raciais frente ao cuidado de mulheres no ciclo gravídico-puerperal.
Metodologia
Metodologia: Trata-se de um estudo fenomenológico à luz da fenomenologia de Merleau-Ponty, realizado em hospital especializado em saúde da mulher, localizado numa cidade do interior da Bahia. Contou com a participação de dez enfermeiras que se autodeclararam brancas. A coleta de dados foi realizada em 2022, por meio da entrevista fenomenológica, audiogravadas, mediante assinatura do Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido, e para análise dos dados foi utilizado o método da Estrutura do Fenômeno Situado, proposta por Martins e Bicudo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana, parecer nº 2.277.332.
Resultados
Resultados: O estudo evidenciou que as enfermeiras brancas não percebem a branquitude e o privilégio branco de forma clara na sociedade, bem como, não reconhecem que mulheres brancas e não brancas que se encontram no ciclo gravídico-puerperal, recebem uma tratativa por parte dos profissionais de saúde, mesmo reconhecimento a presença do racismo estrutural e institucional na sociedade. Além disso, foram desveladas mecanismos como, a educação em saúde e o cuidado humanizado e com igualdade, para minimizar as desigualdades raciais.
Conclusões/Considerações
Considerações finais: O estudo traz contribuições para o estudo das relações raciais, ao propor uma reflexão sobre a branquitude e privilégio branco de enfermeiras brancas que cuidam de mulheres no ciclo gravídico-puerperal, de diferentes raças, contribuindo para o letramento racial e a redução das desigualdades raciais no cuidado de mulheres.
O IMPACTO DA INJUSTIÇA REPRODUTIVA SOBRE OS ALTOS ÍNDICES DE MORTES MATERNAS DE MULHERES NEGRAS
Comunicação Oral Curta
1 IFF-Fiocruz
Apresentação/Introdução
A mortalidade materna de mulheres negras é uma injustiça reprodutiva. No Brasil, a mortalidade materna de mulheres negras é um problema de saúde pública e de iniquidades na saúde. A justiça reprodutiva é uma ferramenta potente ao articular os direitos reprodutivos, o enfrentamento da mortalidade evitável e violências estruturais.
Objetivos
Nosso objetivo é refletir, de forma breve e inicial, sobre a mortalidade materna de mulheres negras, compreendendo a justiça reprodutiva como uma estratégia fundamental para a redução desses óbitos.
Metodologia
No que diz respeito aos aspectos metodológicos, se trata de um relato de pesquisa e partimos de uma abordagem feminista antirracista e propomos um diálogo crítico em torno da mortalidade materna e da justiça reprodutiva. Trata-se de resultados de pesquisas de dissertações de mestrado das autoras. Como resultado dessa análise, destacamos que a mortalidade materna é definida como o óbito de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o parto. Estima-se que cerca de 90% dessas mortes poderiam ser evitadas, o que as torna inaceitáveis sob a perspectiva dos direitos humanos.
Resultados
No Brasil, mulheres negras apresentam risco duas vezes maior de morrer por causas maternas em comparação às mulheres brancas, o que evidencia as desigualdades estruturais no sistema de saúde. O conceito de justiça reprodutiva propõe uma abordagem ampla da saúde reprodutiva. Trata-se de uma perspectiva que vai além do acesso aos serviços, ao incluir o direito ao corpo, à maternidade segura e à vida digna. Dessa forma, entendemos que reivindicar justiça reprodutiva é lutar por condições básicas de existência enquanto direitos humanos fundamentais. Para as mulheres negras, essa luta implica denunciar e enfrentar as violências históricas e cotidianas que impactam seus corpos e vidas.
Conclusões/Considerações
Como considerações finais, ressaltamos que a mortalidade materna de mulheres negras pode ser compreendida como resultado de um contexto marcado pela injustiça reprodutiva e pelo racismo estrutural. Reivindicar justiça reprodutiva, nesse sentido, é afirmar o direito de vivenciar a maternidade de forma segura, digna e livre de violências.
Realização: