Programa - Comunicação Oral Curta - COC8.3 - Entre o Racismo Institucional e as Experiências Emancipatórias: Saúde e Interseccionalidade
03 DE DEZEMBRO | QUARTA-FEIRA
08:30 - 10:00
“EU SAÍ DA RUA, MAS A RUA NÃO SAIU DE MIM”: NARRATIVAS DE PESSOAS COM TRAJETÓRIAS DE RUA E A PRODUÇÃO SOCIAL DO BANZO CONTEMPORÂNEO
Comunicação Oral Curta
BORGES, S. A. C.1
1 UFRB
Apresentação/Introdução
Esta pesquisa decorre da tese de doutorado em Saúde Pública defendida junto ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia. Nos debruçamos sobre o processo de engajamento de pessoas em situação de rua no Movimento Nacional da População de Rua, entendido como força contra colonizadora que resiste às transformações responsáveis por lançar os sujeitos às zonas de vulnerabilidade.
Objetivos
Compreender os sentidos do engajamento e da experiência de pessoas em situação de rua no Movimento Nacional da População de Rua, identificando como os indivíduos performam narrativamente suas identidades e se tornam militantes.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo com enfoque biográfico que contou com dez participantes de diferentes regiões do Brasil, que apresentaram narrativas sobre suas trajetórias de rualização e sobre como se engajaram na ação coletiva. A perspectiva biográfica é uma forma de abordagem compreensiva dos estudos sociais que apresenta importante vocação política, na medida em que visibiliza o ponto de vista dos atores sociais, pois considera o narrador do relato de vida como o protagonista, autor e produtor de conhecimento. Realizamos entrevistas em profundidade como técnica de produção de dados. A análise de dados se apoiou na análise de narrativas de Catherine Riessman.
Resultados
Mesmo com a superação da situação de rua através do engajamento na luta social, os militantes costumam manter profundo vínculo com seus irmãos da rua. Através das narrativas pessoais que contam para si próprios e para outros, eles reconstroem suas identidades na relação com o grupo de referência, onde adquirem as regras necessárias para uma fórmula narrativa. Essas narrativas assumem o papel de transformar as vidas que sobreviveram ao regime necropolítico de obliteração das existências negras, possibilitando que essas trajetórias reconstruídas façam emergir existências-militantes, vidas que adquirem sentido por meio do engajamento na ação coletiva.
Conclusões/Considerações
Se a experiência do Brasil é a experiência colonial, devemos considerar que o racismo permeia a experiência de rualização. Imbuir-se de sua própria voz só é possível na medida as identidades militantes adquirem forma, forjadas a partir das experiências acumuladas de violências, abusos, negligências e abandonos, e pelas condutas reivindicativas que demandam o direito de existir sem que sejam relegados ao outro lado das linhas abissais.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO RACIAL EM PRONTUÁRIOS HOSPITALARES: SUBSÍDIOS PARA A EQUIDADE NO SUS.
Comunicação Oral Curta
Geraldo, R. M.1, Tanaka, C.1, Silva, D.F1, Silva, K.C.O1
1 HCFMUSP
Apresentação/Introdução
O Boletim da Saúde da População Negra (2023) evidencia que erros nos registros reforçam iniquidades. Diante disso e considerando o impacto do Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP) na saúde pública, avaliou-se a qualidade do dado racial nos prontuários da instituição, o que embasou a criação de um plano de ação voltado à qualificação desses dados, fundamentais para fortalecer a equidade no SUS.
Objetivos
Avaliar a concordância entre o dado de raça/cor registrado no prontuário eletrônico institucional e as autodeclarações fornecidas pelos pacientes em atendimento, identificando padrões de discordância para subsidiar ações qualificadoras desses dados.
Metodologia
Estudo transversal com 108 pacientes do ambulatório de Fisioterapia do Instituto Central do HCFMUSP. Comparou-se a autodeclaração racial (categorias do IBGE) coletado por 3 semanas, com os dados da matrícula, analisando: (1) concordância; (2) categorias de discordância (embranquecimento, enegrecimento, outros); (3) associação com gênero e autodeclaração. Utilizou-se R para análises estatísticas (testes de associação, p<0,05), com aprovação ética (CAAE: 83761924.3.0000.0068).
Resultados
O estudo revelou 62,0% (n=67) de concordância geral, com disparidades raciais: brancos tiveram alta concordância (97,9%; n=47; p<0,001), enquanto pardos (85,3%; n=29; p<0,001) e indígenas (100%; n=2; p<0,001) apresentaram maior não concordância. O embranquecimento predominou nos discordantes (80,5%; n=33), afetando principalmente pardos (75,5%; n=25; p<0,001), únicos com alteração em todas as categorias (embranquecimento, enegrecimento, outros). Mulheres indígenas e pardas tiveram 100% e 85,7% de discordância, respectivamente. Identificou-se a subnotificação de pardos (8 registros frente a 34 autodeclarações) e um excesso de registros de brancos (80 registrados contra 48 autodeclarados).
Conclusões/Considerações
Resultados evidenciam viés na coleta de raça/cor, com subnotificação de pardos e o embranquecimento dos registros. A baixa concordância sugere possíveis falhas na qualidade da informação, indicando possível não aplicação da autodeclaração. No plano de ação envolve; 1) Coleta da autodeclaração por recursos digitais; e 2) Auditoria periódica da concordância de raça/cor. Essencial para subsidiar políticas de equidade baseadas em evidências precisas.
A ALMA GUARDA O QUE A MENTE TENTA ESQUECER: EFEITOS DO RACISMO SOBRE A SUBJETIVIDADE DE TRABALHADORES NEGROS EM CARGOS DE GESTÃO
Comunicação Oral Curta
Barbosa, R. B. C.1, O`Dwyer, G.1, Pronko, M. A.2
1 ENSP
2 EPSJV
Período de Realização
Vivência e observação entre 2016 e 2024, com ênfase em experiências profissionais e subjetivas.
Objeto da experiência
A ascensão de uma pessoa negra a cargos de gestão e sua reflexão sobre a relação entre o racismo e a construção de sua identidade negra.
Objetivos
Analisar, a partir da autoetnografia, o processo de “Tornar-se Negro” (Souza, 1983), de uma pessoa negra que ocupa cargos gerencias e precisa lidar com o racismo institucional e o antirracismo de aparência em seu ambiente laboral. A negação de sua identidade pode produzir efeitos à sua saúde mental.
Metodologia
Ao ascender profissionalmente e ocupar posições anteriormente ocupadas por pessoas brancas, “o negro não tem mais de ser negro, mas sê-lo diante do branco” (Fanon, 2008, p. 104). Novas formas de racismo se revelam, sendo necessário adotar um conjunto de estratégias que passam por: ser o melhor no que faz; aceitar a mistificação e; não falar sobre o racismo. Esse processo, causa um massacre dramático de sua identidade, pois exige um afastamento de seus valores originais (Souza, 1983).
Resultados
Em instituições que adotam o antirracismo de aparência para ocultar o racismo, gestores negros vivenciam um constante estado ansiogênico de alerta, enfrentam infantilização e hipervigilância, têm suas decisões constantemente consideradas mais emocionais e menos racionais. Isso compromete sua espontaneidade e desempenho e gera sofrimento psíquico. Uma vez prejudicado o desempenho, ele é utilizado como argumento justificador da perseguição e desconfiança: “sabia que não dava para confiar”.
Análise Crítica
O sucesso profissional não neutraliza o racismo, mas o desloca para novas formas de opressão e a tomada de consciência sobre a condição negra é o ponto de partida para superação dos efeitos subjetivos. Assim, a priori, surgem dois caminhos: a permanência na busca pelo reconhecimento branco, que agrava ao adoecimento psíquico ou a afirmação da negritude como resistência e reconstrução identitária. De fato, a superação só acontece quando se reconhece sua particularidade humana e tende ao universal.
Conclusões e/ou Recomendações
Conclui-se que a ascensão social de pessoas negras, sem o reconhecimento de sua identidade, intensifica processos de alienação e adoecimento. A construção de identidades coletivas e estratégias de enfrentamento ao racismo fortalece indivíduos e comunidades. Recomenda-se o fortalecimento de políticas de equidade racial, acolhimento psíquico e reconhecimento das subjetividades negras como fundamentais à transformação das relações de trabalho.
SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA: ENTRE O RACISMO INSTITUCIONAL E EXPERIÊNCIAS EMANCIPATÓRIAS NO CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE COLETIVA DE 2022
Comunicação Oral Curta
Araújo, I. L. F.1, Ribeiro, L. P.1
1 UFMG
Apresentação/Introdução
A população negra no Brasil acumula os piores indicadores de condições de vida/doença/morte, comparando-se com o que é vivenciado pela população branca. Sendo assim, essas desigualdades aumentam as vulnerabilidades e um distanciamento no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde, o que fortalece as violências e contribui para perpetuar o racismo estrutural e institucional no SUS.
Objetivos
Identificar as produções do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva de 2022 sobre a saúde da população negra, que enfatizam rupturas, resistência e experiências opostas ao racismo institucional e estrutural, corroborando por ações emancipatórias.
Metodologia
O presente estudo foi efetivado por meio de uma revisão integrativa da literatura, método caracterizado pela síntese e reunião de resultados a partir de estudos em relação à temática escolhida, de forma sistemática e ordenada. A coleta de dados foi realizada a partir do delineamento do problema e, posteriormente, por meio da estratégia PICO com critérios de inclusão e exclusão, a partir da pergunta: Quais as evidências sobre experiências, rupturas e resistência na saúde da população negra no SUS? A escolha dos anais deste congresso se deu pela grande produção de materiais científicos e sua relevância na Saúde Coletiva.
Resultados
A partir dos dados analisados, nota-se que há variações e proporcionalidades de produções diferentes de experiências de acordo com cada eixo. Ficando evidente que ainda há temáticas na saúde coletiva e em outras áreas do conhecimento que não discutem e/ou refletem sobre a saúde da população negra, seja para demonstrar as iniquidades e/ou os processos emancipatórios, um outro resultado é que ao longo do tempo as produções de experiências direcionadas a saúde da população negra tem aumentado, além de experiências utilizarem mais de uma ferramenta metodológica para o enfrentamento do Racismo Estrutural e Institucional no SUS.
Conclusões/Considerações
Apesar da produção científica mostrar iniquidades raciais para a saúde da população negra, que é de extrema importância, percebeu-se que existem produções que trazem afetos, trocas e o esperançar para o povo negro. Ressalta-se a importância de uma discussão ampla das produções cientificas, para que se estabeleçam discussões críticas raciais e interseccionais para a efetivação de uma saúde democrática e antirracista no SUS.
PERCEPÇÕES E AÇÕES DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM RELAÇÃO AO RACISMO INSTITUCIONAL NA SAÚDE DE UNIVERSITÁRIOS(AS) NEGROS(AS)
Comunicação Oral Curta
CARVALHO, I.A.1, SILVA, M.P.L.M.2, FERNANDES, F.S.L.2
1 Residência Uniprofissional de Enfermagem em Atenção Primária à Saúde - Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
2 Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo
Apresentação/Introdução
O racismo institucional presente na universidade impacta de forma específica a saúde de estudantes negros e negras, agravando vulnerabilidades no contexto universitário. Compreender como profissionais de saúde que atuam no apoio estudantil percebem esse fenômeno é essencial para implementar políticas institucionais que se proponham a enfrentar iniquidades raciais e promover a equidade étnico-racial.
Objetivos
Compreender as percepções e ações de profissionais de saúde em relação ao racismo institucional na saúde de universitários(as) negros(as).
Metodologia
março de 2024 em uma universidade pública de São Paulo. Foram entrevistadas sete profissionais de saúde dos Núcleos de Apoio ao Estudante e do Serviço de Saúde do Corpo Discente da instituição, sendo duas negras, quatro brancas e uma amarela. Foi utilizado um roteiro semiestruturado sobre o racismo institucional no ambiente universitário, utilizando raça como categoria analítica, compreendida como uma construção social e política que desempenha papel central na estruturação das relações de poder e produção de desigualdades. As entrevistas foram transcritas e analisadas por meio da análise de conteúdo.
Resultados
Emergiram três categorias centrais: (1) Presença/ausência de letramento racial crítico; (2) Prática de cuidado racializada versus universal; e (3) Racismo institucional na vida universitária. As percepções dos profissionais a respeito do racismo institucional e da importância políticas institucionais de promoção da equidade racial na universidade variaram conforme seus níveis de consciência racial. O letramento racial crítico dos profissionais influencia diretamente o cuidado ofertado, podendo ser uma prática antirracista ou uma prática que não reconhece as desigualdades raciais na condição de saúde de universitários(as) negros(as).
Conclusões/Considerações
O racismo institucional pode ser combatido à medida que as pessoas nas instituições tenham a capacidade de reconhecê-lo. Já a ausência de letramento racial pode reproduzir o racismo vigente na sociedade. Os resultados contribuem para o debate sobre democracia, equidade e direitos humanos, ao apontar caminhos para políticas institucionais que enfrentem injustiças raciais e promovam ambientes universitários mais justos e inclusivos.
REPRESENTAÇÕES DO ATIVISMO NEGRO: UMA ANÁLISE DA LEITURA DO SER NEGRO E SUA RESISTÊNCIA A PARTIR DA MÚSICA
Comunicação Oral Curta
Silva, L.C.C.1, Dias, M.S.A.1, Tajra, F.S.2, Costa, P.H.N.1, Silveira, S.C.A1
1 UVA
2 UFPI
Apresentação/Introdução
Há mais de 500 anos, todo o saber negro foi, violentamente, sequestrado. Transformado em mercadoria, escravizado e invisibilizado. Enquanto retomada na luta pela reafirmação de sua identidade muitos artistas através da música têm desenvolvido trabalhos formadores como proposta de um projeto político-estético que possa refletir sobre o lugar da população negra dentro da estrutura sociocultural.
Objetivos
Analisar os sentidos atribuídos à existência da população negra e as formas de resistência por ela articuladas diante de estruturas de poder que historicamente promovem sua violência e marginalização.
Metodologia
Estudo documental, descritivo, realizado em junho de 2025 na plataforma de stream spotify. Buscou-se identificar composições musicais que trouxessem como tema a existência do negro e sua resistência. Assim, utilizou-se como estratégia de busca as palavras combinadas “racismo” e “identidade negra” com filtro para músicas, dado que uma das maiores lutas estruturais que a população negra passa é o enfrentamento do racismo. Na análise ancorou-se no materialismo cultural de Williams, que propõe uma leitura dos fatos culturais a partir de um conjunto de práticas e instituições, intimamente relacionadas com as classes sociais e seus agentes políticos.
Resultados
Foram identificadas 1000 produções brasileiras, algumas em interpretação a exemplo da música “A carne” da artista Elza Soares. O Gênero variou entre samba, soul, funk, rap, trap e african. As composições retratam a historicidade e identidade expressas em letras como: “Negra Luta” do Olodum e “A carne” de Elza Soares; racismo em “Racismo aqui não” de Danilo Kastiel; as lutas pela resistência nas mensagens de “Cota não é esmola” e “Diga não” de Bia Ferreira e “Negras na marcha” de Leci Brandão; Violência e criminalização em “Beco” de Negro Rudhy, e personalidades negras históricas como “Chica da Silva” de Jorge Benjor e “Marielle Franco” de Jorge Mautner.
Conclusões/Considerações
As composições que cantam sobre a população negra efervem de forma dialética como forma de expressão, ao passo que retificam a existência do ser negro a partir da sua história e identidade. Os versos revelam lutas e resistências em uma sociedade racista, que acompanham o percurso sociocultural e político.
UM OLHAR PARA O RACISMO INSTITUCIONAL: REVISÃO DE ESCOPO SOBRE O CONCEITO
Comunicação Oral Curta
Santa Rosa, P. L. F.1, Silva, R. S.2, Brito, G. S.3, Reis, I. H.1, Souza, L. F. D.4, Silva, V. P.5, Vieira, R. P.6, Souza, E. S.7, Santos, D. S.7, Silva, B. P.8
1 EERP-USP
2 UNIFESP - Baixada Santista
3 UNIFESP - Guarulhos
4 FFCLRP-USP
5 Coletivo União das Pretas Ribeirão Preto
6 FMUSP
7 Fenf-UNICAMP
8 AFAC
Apresentação/Introdução
O racismo institucional (RI) é um dispositivo de dominação racial presente em diferentes contextos sociais, por meio de normas e práticas institucionais aparentemente neutras, mas que mantêm e reforçam desigualdades raciais. Contudo, não foi encontrado na literatura um consenso sobre o conceito de RI.
Objetivos
Mapear as evidências disponíveis na literatura sobre o conceito de racismo institucional.
Metodologia
Será realizada uma revisão de escopo conforme a metodologia JBI e as diretrizes PRISMA-ScR. As buscas serão feitas em bases nacionais e internacionais (MEDLINE, Embase, CINAHL, PsycINFO, Scopus, BVS) e literatura cinzenta. Três revisores independentes conduzirão a seleção e extração dos dados. Serão incluídos estudos sobre o conceito de RI no contexto global. Registro na OSF: DOI 10.17605/OSF.IO/4N8ZT
Resultados
A revisão está sendo conduzida por um grupo de pesquisadores majoritariamente negros comprometidos com a equidade racial em saúde, promovendo um debate ético-político e metodológico sobre o conceito de RI. Um desafio considerável vem sendo enfrentado e trata-se da escassez de termos padronizados, dificultando o processo de trabalho. Porém, fortalece o engajamento coletivo com uma ciência crítica e antirracista. A partilha de vivências acadêmicas e pessoais está gerando vínculos afetivos e amadurecimento coletivo, ampliando a compreensão das barreiras estruturais na produção científica brasileira.
Conclusões/Considerações
Mapear as evidências disponíveis sobre o conceito de RI e propor uma definição para o campo da saúde, poderá ser um subsídio importante para fortalecer a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
A FEMINIZAÇÃO DA POBREZA: UM ESTUDO A PARTIR DOS DADOS DO INQSAN-SEMIÁRIDO
Comunicação Oral Curta
Brito, R. C. S.1, Gomes, S. M. B.2, Santos, A. B. M. V.3, Palmeira, P. A.4
1 Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSCOL/UFRN); Núcleo de Pesquisa e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva (Núcleo PENSO/UFCG)
2 Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição (PPGCN/UFPB); Núcleo de Pesquisa e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva (Núcleo PENSO/UFCG)
3 Núcleo de Pesquisa e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva (Núcleo PENSO/UFCG)
4 Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição (PPGCN/UFPB); Coordenação do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva (Núcleo PENSO/UFCG)
Apresentação/Introdução
A feminização da pobreza é um fenômeno multidimensional que transcende a mera insuficiência de renda, envolvendo também a sobrecarga do trabalho doméstico e de cuidado, a ausência de apoio social e a persistência de normas patriarcais que limitam as oportunidades e a autonomia das mulheres.
Objetivos
Analisar as relações entre desigualdade de gênero, raça/cor e as condições socioeconômica no desfecho de insegurança alimentar (IA).
Metodologia
Estudo transversal de base populacional, conduzido em zonas urbana e rural de dois municípios do semiárido nordestino (Cuité/PB e Santa Cruz/RN), utilizando amostragem estratificada e ponderação por expansão amostral. A coleta de dados incluiu 683 adultos (entre 18 e 59 anos), com aplicação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) para o desfecho da IA, e questionário socioeconômico para variáveis de exposição, como renda familiar per capita, escolaridade, ocupação, gênero, raça/cor. Foram realizadas análises descritivas e regressão de Poisson ajustada ao plano amostral.
Resultados
Os achados destacam a maior prevalência de IA moderada/grave entre mulheres (26,9%; p=0,010), especialmente mulheres negras (26,2%; p=0,048), indivíduos que não estudaram (57,5%; p<0,001), que trabalham informalmente (29,2%) ou não têm trabalho remunerado (27,0%; p=0,003), e que residem em áreas rurais (33,3% vs. 20,0% na urbana; p<0,001). A renda familiar per capita reafirma a associação entre pobreza e IA, onde indivíduos com renda > ½ salário mínimo apresentam 69,0% de segurança alimentar e a prevalência de IA moderada/grave mais que triplica entre os mais pobres (31,9%; p<0,001).
Conclusões/Considerações
Os resultados que evidenciaram vulnerabilidades sobrepostas entre gênero, raça/cor e pobreza. A experiência da fome revela o papel central das mulheres. Essa condição é agravada pela menor renda média das mulheres, vinculada à segregação no mercado de trabalho e à informalidade, que dificultam o acesso a direitos e proteção social.
DESIGUALDADES DE RENDA POR SEXO E COR OU RAÇA NO BRASIL: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS DADOS DO IBGE 2023
Comunicação Oral Curta
Pinto, J. N. B.1, Mesquita, M. J. M.1, Nascimento, L. O.1, Viana, F. S. T.2, Carioca, A. A. F.1, Abdon, A. P. V.1, Daniele, T. M. C.1
1 UNIFOR
2 FAMETRO
Apresentação/Introdução
As desigualdades socioeconômicas no Brasil refletem-se nas diferenças de rendimento entre grupos sociais, especialmente quando analisados sob a ótica do sexo e da raça. Essas disparidades revelam padrões históricos de exclusão e discriminação que ainda persistem, limitando o acesso equitativo a oportunidades. Este estudo busca analisar tais disparidades com base nos dados do Brasil como um todo.
Objetivos
Analisar os rendimentos per capita médios e medianos no Brasil em 2023 segundo sexo e cor ou raça.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem quantitativa referente aos rendimentos domiciliares per capita médio e mediano segundo sexo e cor ou raça da população brasileira em 2023. Foram utilizados como fonte de dados o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram selecionadas as informações agregadas do Brasil como unidade geográfica. A análise concentrou-se nos seguintes grupos: homens brancos, pretos ou pardos, mulheres brancas e pretas ou pardas. Os dados foram organizados em uma matriz comparativa para análise descritiva. Por se tratar de dados públicos não nominais, não foi necessária a aprovação do projeto do estudo por um Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados
Os dados revelam disparidades significativas nos rendimentos entre os diferentes grupos analisados. Homens brancos apresentam o maior rendimento médio (R$ 2.598) e mediano (R$ 1.517), seguidos por mulheres brancas (média de R$ 2.439 e mediana de R$ 1.473). Em contraste, homens pretos ou pardos registram rendimento médio de R$ 1.397 e mediano de R$ 979, enquanto mulheres pretas ou pardas apresentam os menores valores, com média de R$ 1.281 e mediana de R$ 890. O fato de a mediana ser sistematicamente inferior à média em todos os grupos indica uma distribuição desigual da renda, com concentração em faixas mais baixas, especialmente entre mulheres pretas ou pardas.
Conclusões/Considerações
Os achados confirmam a existência de desigualdades estruturais de renda no Brasil. A mulher preta ou parda é o grupo mais vulnerável economicamente. A comparação entre média e mediana também revela uma concentração de renda desigual dentro dos próprios grupos. Esses dados reforçam a urgência de políticas públicas que promovam a equidade racial e de gênero, com foco em geração de renda, acesso ao trabalho digno e à educação de qualidade.
PAPEL MODIFICADOR DE EFEITO DA INTERSECÇÃO ENTRE RAÇA/COR E SEXO NA RELAÇÃO ENTRE AMBIENTE ALIMENTAR ESCOLAR E CONSUMO DE ALIMENTOS ENTRE ADOLESCENTES BRASILEIROS
Comunicação Oral Curta
Carmo, A.S.1, Baltar, V.T.2, Azevedo, A.B.C.1, Albuquerque, F.M.1, Mendes, L.M.3, Bandoni, D.H.4, Canella, D.1
1 Universidade Estadual do Rio de Janeiro
2 Universidade Federal Fluminente
3 Universidade Federal de Minas Gerais
4 Universidade Federal de São Paulo
Apresentação/Introdução
A alimentação é influenciada por múltiplos fatores, como variáveis contextuais e individuais. Compreender o papel do ambiente alimentar escolar no consumo de alimentos, bem como o papel modificador de efeito da interseccionalidade de sexo e raça/cor da pele, pode contribuir para qualificar políticas de saúde, alimentação e nutrição por meio da identificação de demandas em distintos grupos sociais.
Objetivos
Avaliar a associação do consumo regular de alimentos com a disponibilidade de alimentos e bebidas no ambiente escolar, considerando o possível efeito modificador da interseccionalidade de gênero e raça/cor.
Metodologia
Estudo transversal com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019 (n=145.155 adolescentes). As variáveis desfechos foram consumo regular de frutas, hortaliças, refrigerantes e guloseimas (≥5 vezes na semana). A variável explicativa foi o escore de disponibilidade de alimentos e bebidas no ambiente alimentar escolar. A variável de subgrupos de intersecção entre raça/cor e sexo (homem branco, homem pardo/preto, mulher branca e mulher parda/preta) foi avaliada como modificadora de efeito da relação entre o ambiente alimentar e consumo de alimentos. Foram realizados Modelos de Regressão Logística Multinível estratificados pela dependência administrativa da escola.
Resultados
Entre estudantes de escolas públicas, observou-se que o aumento do escore ambiente está associado com 1) aumento do consumo de hortaliças entre os homens negros, 2) redução do consumo de refrigerantes entre mulheres brancas e negras e 3) redução do consumo de guloseimas entre homens e mulheres brancas e mulheres negras. Entre estudantes de escolas privadas, observou-se que o aumento do escore ambiente está associado com 1) aumento do consumo de frutas e de hortaliças entre os homens negros e mulheres negras, respectivamente, 2) redução do consumo de refrigerantes entre todos as categorias de intersecção e 3) redução do consumo de guloseimas entre mulheres brancas e mulheres negras.
Conclusões/Considerações
O presente estudo revelou que em escolas públicas e privadas, em geral, o ambiente alimentar escolar favoreceu uma alimentação saudável entre os estudantes, mas os subgrupos de intersecção de raça/cor e sexo experimentaram esse ambiente de forma diferente, em especial aqueles mais vulneráveis. Esses achados sugerem a importância de as políticas públicas considerarem a influência da interseccionalidade nas ações propostas.