Programa - Comunicação Oral Curta - COC32.1 - Vulnerabilidades em Rede: Governança Global, Crises Sanitárias e Experiências Vivas na Saúde Coletiva
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
AÇÕES DE SAÚDE DIGITAL PARA POPULAÇÕES EM SITUAÇÃO DE RUA E VULNERABILIZADAS NA LITERATURA CIENTÍFICA
Comunicação Oral Curta
RAMOS, Beatriz Monteiro1
1 Universidade de Brasília (UnB), Faculdade de Ciências da Saúde, Departamento de Saúde Coletiva.
Apresentação/Introdução
A pandemia de COVID-19 impulsionou o uso da saúde digital, evidenciando disparidades no acesso às tecnologias por populações vulneráveis, como pessoas em situação de rua. Este estudo analisa como ações digitais têm sido ofertadas a essas populações, frente à exclusão digital agravada por desigualdades sociais e à necessidade de políticas públicas inclusivas.
Objetivos
Analisar as ações de saúde digital ofertadas à população em situação de rua e populações socialmente vulnerabilizadas. Identificar benefícios, desafios, barreiras, percepções dos envolvidos e aspectos éticos relacionados ao uso dessas tecnologias.
Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura organizada conforme a Diretriz Metodológica do Ministério da Saúde. A busca foi realizada nas bases SciELO, BVS, Science Direct e Web of Science, utilizando a estratégia PCC, A questão de pesquisa foi: Como a produção científica tem abordado as ações de saúde digital para populações socialmente vulnerabilizadas e população em situação de rua nos últimos 5 anos? Foram incluídos artigos completos e de acesso aberto, que respondiam a questão de pesquisa, publicados entre 2020 e 2024, nos idiomas português, inglês e espanhol. Excluíram-se artigos de revisão de literatura e voltados apenas a sistemas de informação. Sete artigos compuseram a amostra.
Resultados
Os estudos analisaram telessaúde, aplicativos móveis, IA e monitoramento remoto, focando em populações de baixa renda, minorias raciais, refugiados e pessoas com doenças crônicas. Não foram encontrados estudos específicos com pessoas em situação de rua. A maioria evidenciou benefícios na ampliação do acesso, mas também destacou riscos de aprofundar desigualdades devido à exclusão digital. Ações bem-sucedidas envolveram educação digital, fornecimento de dispositivos, suporte técnico e políticas públicas colaborativas. Ressaltou-se a importância da adaptação tecnológica e da inclusão social para efetiva equidade em saúde digital.
Conclusões/Considerações
Apesar do potencial transformador da saúde digital, ainda há lacunas importantes na oferta equitativa para populações vulneráveis, sobretudo para pessoas em situação de rua. A superação das barreiras exige políticas públicas intersetoriais, investimento em inclusão digital e participação social. Tecnologias devem ser adaptadas à realidade dos usuários, promovendo acessibilidade, autonomia e respeito aos direitos humanos.
AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA EM BELO HORIZONTE
Comunicação Oral Curta
Miranda, W. D.1, Souza, A. A.2, Bomfim, W. C.3, Corrêa, D.3, Fernandes, L. M. M.3, Paes-Sousa, R.3
1 Fiocruz Minas/UFMG
2 Fiocruz Minas/UFOP
3 Fiocruz Minas
Apresentação/Introdução
Apesar da importância estratégica do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) e dos Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centros Pop) para esse público, há poucos estudos paliativo sobre esses serviços, especialmente sobre processos e implementação em escopos mais robustos, além de análises descritivas e de casos.
Objetivos
Avaliar a implantação do SEAS e Centros Pop em Belo Horizonte, Minas Gerais, apontando potenciais fortalezas e barreiras.
Metodologia
Trata-se de um estudo avaliativo, que buscou estabelecer o Grau de Implantação (GI) dos objetos de estudo. Foram estudadas as dimensões de estrutura e processos dos serviços. Os questionários para o GI foram elaborados com base no modelo lógico e validados por meio da técnica Delphi, em estudo de avaliabilidade prévio. Foi realizada análise descritiva das variáveis, identificando-se as médias e desvio padrão. Para a avaliação do GI do SEAS e Centros Pop foram construídas matrizes de análise e julgamento, uma para cada serviço. O GI foi classificado em quatro níveis: implantação mínima (1% a <25%), inadequada (25% a <50%), parcialmente adequada (50% a <75%) e adequada (75% a 100%).
Resultados
Os resultados do GI indicaram que ambos os serviços estavam parcialmente implantados. O GI do SEAS foi de 74,2%, e o dos Centros Pop, de 62,2%. A dimensão 'processo' teve as melhores avaliações, sendo considerada adequada no SEAS e parcialmente adequada nos Centros Pop. Entre as principais barreiras, destacaram-se a falta de veículos no SEAS e a insegurança no entorno das unidades dos Centros Pop. Como pontos positivos, o SEAS contou com capacitações no último ano e ações de mobilização social, enquanto nos Centros Pop destacaram-se sistema de informação compatível com a demanda e orientação para obtenção de documentos.
Conclusões/Considerações
O estudo oferece subsídios à gestão local, ao apontar o grau de implantação dos serviços, destacando conquistas que devem ser mantidas e barreiras que exigem intervenção. Espera-se que a metodologia abordada e os resultados descritos, inspirem pesquisadores a continuarem avançando na construção de conhecimento para investimento em mecanismos que possam melhor a vida das pessoas em situação de rua bem como promover a superação das ruas.
DA MEDICINA SOCIAL À SAÚDE GLOBAL: DESAFIOS PARA A SAÚDE COLETIVA
Comunicação Oral Curta
Matta, G.C.1, Silva, L.N.2
1 FIOCRUZ
2 ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A trajetória da medicina social foi marcada pelo pensamento colonial e estratégias de controle populacional fundadas na supremacia científica e política sobre os Estados-Colônias.
A Saúde Global representa uma arena político-cientifica onde atores disputam recursos, poder e estratégias de governamentalidade. O trabalho é resultado parcial da pesquisa sobre Saúde Global e Emergências.
Objetivos
Identificar e analisar as bases históricas, epistemológicas e políticas da transição do modelo da medicina social para a saúde global.
Metodologia
Revisão da literatura sobre a história da medicina social e da saúde global em perspectiva crítica, tendo em vista as bases da saúde coletiva e das teorias pós-coloniais.
Foram identificados os períodos e marcos epistemológicos e políticos, ressaltando características, continuidades e descontinuades dos campos da medicina social e da saúde global. Alguns analisadores foram utilizados como referência analítica: Biopolítica ; Risco e Vigilância Epidemiológica; securitização; medicalização e iniquidades em saúde.
Resultados
A Saúde Coletiva busca a compreensão interdisciplinar da saúde, considerando a determinação social e as complexas interações entre os indivíduos e a sociedade. A lógica da Saúde Global influencia a produção de conhecimento informada pela Saúde Coletiva, deslocando recursos e atenção de abordagens mais equitativas. O imperativo transnacional das necessidades de saúde, torna a cooperação global inegável. Essa cooperação não pode ser refém de uma agenda que reproduz relações de poder neocoloniais.
Implica reconhecer os conhecimentos e as práticas locais, fortalecer os sistemas de saúde, a soberania dos países na definição de suas prioridades e promover a governança global democrática e equitativa.
Conclusões/Considerações
Descolonizar significa ir além da assistência e reconhecer a capacidade dos países do Sul Global serem protagonistas na construção de soluções para seus próprios problemas de saúde, e também de contribuir com conhecimentos e experiências para o cenário global. Significa questionar a hegemonia de certas epistemologias e modelos de intervenção, dando espaço para a diversidade de abordagens e o diálogo horizontal entre diferentes realidades.
DOAÇÕES INTERNACIONAIS PARA A SAÚDE GLOBAL: O IMPACTO DA USAID NA MORTALIDADE GERAL ENTRE 2001 A 2021 E PROJEÇÕES DOS CORTES ANUNCIADOS ATÉ 2030
Comunicação Oral Curta
Cavalcanti, D. M.1, SALES, L. O. F.1, DA SILVA, A. F.1, BASTERRA, E. L.2, PENA, D.2, MONTI, C.2, BARREIX, G.2, SILVA, N. J.2, MACINKO, J.3, RASELLA, D.1
1 ISC-UFBA
2 ISGlobal, Barcelona, Spain
3 University of California (UCLA), Los Angeles, United States of America
Apresentação/Introdução
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), principal financiadora de ajuda humanitária global, apoia países desde 1961 em áreas como saúde, educação e segurança alimentar. Em 2025, cortes de 83% ameaçam desestruturar instituições e reverter avanços na mortalidade ligada à pobreza. Torna-se primordial entender esses efeitos, especialmente em países de média e baixa renda.
Objetivos
Avaliar os impactos do financiamento da USAID na mortalidade adulta e infantil nos últimos 20 anos em países de baixa, média-baixa e média-alta renda, e projetar os efeitos dos cortes atuais até 2030.
Metodologia
Estudo quase-experimental em dois estágios, conduzido em 133 países de baixa e média renda com diferentes níveis de apoio da USAID entre 2001 e 2030. No primeiro estágio (2001–2021), utilizamos modelos de Poisson com efeitos fixos e erros robustos, ajustados por diversos fatores, para estimar o impacto nas taxas de mortalidade padronizadas por idade, incluindo análises por faixa etária, sexo e causas específicas (HIV/AIDS, malária, tuberculose, entre outras). Realizamos análises de sensibilidade, triangulação e modelos de diferenças em diferenças com pareamento por escore de propensão. No segundo estágio, integramos os achados a modelos de microssimulação para projeções de 2022 a 2030.
Resultados
Maiores níveis de financiamento per capita da USAID—concentrados no Sul Global—associaram-se à redução de 15% na mortalidade geral (razão de risco [RR]: 0,85; intervalo de confiança [IC] 95%: 0,78–0,93). Também houve queda de 32% na mortalidade infantil (i.e., menores de 5 anos, RR:0,68; IC 95%:0,57–0,80), prevenindo cerca de 91,8 milhões de mortes entre 2001 e 2021, incluindo 30,4 milhões de mortes infantis. Reduções expressivas foram observadas em HIV/AIDS (65%, RR:0,35; IC 95%:0,29–0,42) e malária (51%, RR:0,49; IC 95%:0,39–0,61), afetando sobretudo mulheres em idade reprodutiva e crianças. Projeções indicam que os cortes atuais podem resultar em mais de 14 milhões de mortes adicionais até 2030.
Conclusões/Considerações
O financiamento da USAID foi decisivo para reduzir milhões de mortes evitáveis em países de baixa e média renda. Seus impactos ultrapassam a saúde, atuando sobre determinantes sociais. Cortes recentes ameaçam reverter décadas de avanços, comprometendo o alcance dos ODS até 2030, especialmente em populações vulneráveis.
FILANTROCOLONIALISMO: CRÍTICA À HEGEMONIA CIENTÍFICA E EPISTÊMICA DO NORTE NA SAÚDE MENTAL DO SUL GLOBAL
Comunicação Oral Curta
Oliveira, R. A.1
1 USP
Apresentação/Introdução
O texto analisa como projetos filantrópicos globais, sob o discurso de promoção da saúde mental, reproduzem lógicas coloniais, epistêmicas e neoliberais. Através do conceito de "filantrocolonialismo", o autor propõe uma crítica à centralização do saber científico no Norte Global e à exclusão das vozes locais nas intervenções dirigidas ao Sul.
Objetivos
Discutir criticamente a atuação de fundações filantrópicas internacionais na saúde mental no Sul Global, evidenciando práticas de dominação epistêmica, racialização da ciência e exclusão de saberes locais.
Metodologia
A análise baseia-se no mapeamento de projetos financiados por fundações filantrópicas globais entre 2016 e 2021, com foco na promoção da saúde mental no Sul Global. O estudo examina documentos, declarações e sites institucionais, destacando padrões de financiamento, discursos e abordagens metodológicas. Foi dado ênfase à crítica foucaultiana da biopolítica, aos marcos do neoliberalismo, tecnocientificidade e colonialidade, além da ausência de abordagens etnográficas e participativas nos projetos analisados.
Resultados
Verificou-se a predominância de projetos centrados em abordagens biomédicas e genéticas financiadas por instituições do Norte, como o DepGenAfrica. Mesmo iniciativas voltadas ao Sul Global permanecem ancoradas em epistemologias hegemônicas. A ausência de consulta às populações locais, o apagamento do racismo e das consequências coloniais, e a desconsideração das ciências sociais críticas foram recorrentes. Poucos projetos abordaram o racismo ou incluíram instituições do Sul como protagonistas, e tais iniciativas foram pontuais e pouco financiadas.
Conclusões/Considerações
O estudo propõe o conceito de “filantrocolonialismo”, uma provocação para a qualificação crítica das práticas filantrópicas que reproduzem desigualdades globais de tipo colonial. Destaca a urgência de descolonizar o campo da saúde mental, incorporando saberes locais e reconhecendo as marcas do colonialismo. A filantropia, tal como praticada, legitima o status quo e contribui para a patologização e silenciamento das populações periféricas.
RELAÇÃO ENTRE O ACESSO À SAÚDE COMO DIREITO SOCIAL E A MORTALIDADE POR DOENÇAS CARDIOVASCULARES: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA INTERNACIONAL
Comunicação Oral Curta
Santos, LPR1, Graever, L2, Gondinho, BVC3
1 Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - FIOCRUZ
2 Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro
3 Universidade Estadual do Piauí – UESP
Apresentação/Introdução
As doenças cardiovasculares (DCV) lideram as causas de morte, mas afetam os países de forma desigual. Apesar de estarem na listas de condições sensíveis à atenção primária à saúde e dos avanços para tratamento, faltam estudos que relacionem o direito social de acesso à saúde com a mortalidade por DCV.
Objetivos
Analisar a relação entre o acesso à saúde como direito social e a mortalidade por doenças cardiovasculares, com base em evidências disponíveis na literatura científica internacional.
Metodologia
Foi realizada uma revisão integrativa com a questão: "Qual a relação entre a mortalidade cardiovascular e o direito de acesso à saúde?". Utilizou-se a base PubMed e a estratégia PECO para identificar estudos que relacionassem mortalidade cardiovascular com sistemas de saúde e acesso. Foram incluídos estudos com dados de mortalidade em países diversos e análise de acesso à saúde. A triagem foi conduzida com a ferramenta Covidence, respeitando critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos e utilizando o fluxograma PRISMA. Ao todo, foram identificados 317 estudos, dos quais 21 foram incluídos na análise final.
Resultados
Os achados evidenciam como a limitação de acesso à saúde afeta a mortalidade, também influenciada pela pobreza, cultura, classe social, entre outros fatores. No oeste africano, predominam doenças infecciosas e a mortalidade por DCV é baixa. Os altos fatores de risco entre mulheres na Arábia Saudita e entre castas médias na Índia demonstram a influência de fatores socioculturais. Em países de alta renda também existe desigualdade. Apesar da cobertura universal, a Áustria tem alta mortalidade cardiovascular e 17,9% de gasto direto. Com acesso privado, a mortalidade por DCV nos EUA é até oito vezes maior entre não segurados. No Japão, ações primárias reduziram em mais da metade a mortalidade por DCV.
Conclusões/Considerações
Os estudos mostram que o contexto socioeconômico, histórico e cultural determina o perfil de mortalidade. A mortalidade por DCV é muito sensível à APS e o acesso a este serviços e outros tratamentos impactam diretamente na mortalidade, a ausência desse direito amplia desigualdades. Os achados reforçam a importância de políticas de proteção social, que exigem decisões integradas entre setores e equidade no acesso à saúde.
RODAS DE CONVERSA, COMUNIDADE RURAL E AMBIENTE: RELATO EXPERIÊNCIA DE UM ESTÁGIO NO SEMIÁRIDO BAIANO
Comunicação Oral Curta
Batista, P. L. S.1, Damaceno, S. P.2, Nascimento, J. N.2
1 Centro Universitário Pio Décimo
2 Espaço Terapêutico Conatus
Período de Realização
Dezembro de 2024 a maio de 2025.
Objeto da experiência
O estágio realizado a partir de rodas de conversas em uma comunidade rural do semiárido baiano que passa por vulnerabilidades políticas e ambientais.
Objetivos
Relatar como o fenômeno geográfico da voçoroca afeta a dinâmica das relações presentes em uma comunidade rural do semiárido baiano. Junto a experiência de estagiar no local com rodas de conversa as quais eram debatidas as temáticas apresentadas na vida dos moradores.
Descrição da experiência
As rodas de conversa que acompanharam o estágio contavam com participantes de uma comunidade rural, os quais escolhiam um tema para ser debatido. Nas discussões foi apontada a existência de uma voçoroca, que está devastando o local, estes debates denunciaram sobre de qual modo esses sujeitos representam a saúde e os aspectos ambientais presentes, assim durante o período de estágio este ponto foi explorado através de sucessivos encontros.
Resultados
No decorrer das rodas de conversa os relatos colhidos apresentavam que o fenômeno da voçoroca põe em risco a existência da comunidade, afetando as relações presentes dos moradores, como perda da identidade coletiva e dano material. Outro aspecto está relacionado com a pouca atenção dada pelas autoridades governamentais para o local, com isso invisibiliza o problema a medida de que o fenômeno continua assolar as dinâmicas presentes na vida local.
Aprendizado e análise crítica
O Ministério do Meio Ambiente que deve garantir melhoria e recuperação ambiental ainda não se manifestou em relação a esta comunidade, qual está vulnerável a ser apagada por definitivo, assim, invisibilizado histórias as quais foram construídas durante décadas. Sendo assim, a situação da voçoroca exige compromisso político baseados em uma justiça ambiental, a qual vise a segurança coletiva. O estágio neste cenário permitiu a reflexão de como desafios podem ser encontrados em campo.
Conclusões e/ou Recomendações
Pela experiência do estágio percebeu-se vulnerabilidades presentes no local, principalmente sobre adversidades ambientais, que remetem que a comunidade resiste aos desafios encontrados, demostrando como questões individuais e coletivas se entrelaçam, dessa forma, se constrói um lugar onde as relações existentes se direcionam a sobrevivência, que inclui a vida em comunidade rural.
SISTEMA DE SAÚDE NA ÁFRICA DO SUL: DESAFIOS HISTÓRICOS, INFLUÊNCIA DO PASSADO SEGREGACIONISTA E AVANÇOS NA INCLUSÃO SOCIAL DESVELADOS NOS BRICS
Comunicação Oral Curta
Andrade, S.K.A.V.1, Martins, T.C.F.2, Degrave, A.M.L.2, Silva, Adriano2, Pereira, A.M.M.2
1 UEL e ENSP/Fiocruz
2 ENSP/Fiocruz
Apresentação/Introdução
A África do Sul possui um sistema de saúde marcado por heranças do apartheid, que segregaram o acesso aos cuidados básicos. Desde a transição democrática, o país busca implementar políticas de inclusão e universalidade, enfrentando desafios referentes às disparidades sociais, à vigilância em saúde e à garantia de direitos humanos, essenciais para a saúde global.
Objetivos
Analisar a evolução do sistema de saúde sul-africano, suas estratégias de vigilância, desafios à inclusão social e impactos do passado segregacionista na garantia de direitos à saúde, contribuindo para compreender as desigualdades na saúde global.
Metodologia
Este estudo utilizou revisão documental de fontes oficiais, incluindo relatórios do governo sul-africano e literatura acadêmica. A análise qualitativa abordou aspectos históricos, legais e estruturais do sistema de saúde, enfatizando os dispositivos de vigilância epidemiológica e políticas de inclusão social. Foram considerados dados de registros nacionais, legislações, e estudos de caso referentes à implementação do Seguro Nacional de Saúde (NHI) e às disparidades raciais, econômicas e territoriais, buscando compreender a interface entre saúde, direitos humanos e vulnerabilidades no contexto sul-africano.
Resultados
Os resultados mostram que o sistema de saúde sul-africano apresenta avanços na implementação do NHI e na vigilância epidemiológica, destacando estratégias de monitoramento e resposta às doenças transmissíveis. No entanto, heranças do apartheid persistem, criando desigualdades no acesso a cuidados e dificultando a plena garantia de direitos humanos. A participação social é limitada por desafios institucionais, enquanto a vigilância epidemiológica evolui, porém enfrenta dificuldades de integração em níveis diferentes de atenção. O país enfrenta vulnerabilidades relacionadas às doenças crônicas e crises de acesso a medicamentos, especialmente em populações mais vulneráveis.
Conclusões/Considerações
Com isso, o país mostra sinais de avanço na sua trajetória de inclusão na saúde, impulsionados por políticas de universalidade. Contudo, as disparidades raciais, econômicas e territoriais continuam dificultando o acesso universal aos serviços de saúde na África do Sul. Deste modo, para avançar em estratégias de saúde global, direitos humanos e redução de vulnerabilidades são necessárias abordagens sensíveis às suas questões sociais e históricas.
VOZES DA COMUNIDADE CARCERÁRIA: IMPLEMENTAÇÃO DE UM COMITÊ COMUNITÁRIO (CAB) PARA O ENFRENTAMENTO DA TUBERCULOSE NAS PRISÕES DE MATO GROSSO DO SUL
Comunicação Oral Curta
Lemos, E.F1, Silva, A.M2, Croda, M3, Liu, Y4, Chaves, A.O5, Urdiles, C.D6, Gonçalves, C,M7, Alves, M.L.D8, Andrews, J9, Croda, J10
1 UEMS, Fiocruz-MS
2 Fiocruz-MS
3 UFMS
4 Yale - EUA
5 SEJUSP-MS
6 Defensoria Pública - MS
7 SES-MS
8 Agepen-MS
9 Stanford - EUA
10 Fiocruz/MS - UFMS
Período de Realização
Novembro de 2023 a maio de 2025, com encontros regulares realizados nas unidades prisionais do estado.
Objeto da experiência
Criação e institucionalização de um CAB para fomentar a participação popular nas discussões sobre as estratégias de controle da TB em prisões.
Objetivos
Relatar a experiência da implementação de um Comitê Comunitário (CAB) como estratégia participativa para monitorar e fortalecer as ações de enfrentamento da tuberculose nas unidades prisionais de Mato Grosso do Sul, promovendo o engajamento da população privada de liberdade (PPL).
Descrição da experiência
A proposta surgiu da necessidade de integrar a comunidade carcerária à pesquisa em TB em andamento em duas prisões masculinas de Campo Grande-MS Com apoio da secretaria de justiça, o CAB foi formalizado em 2023, reunindo defensores públicos, servidores penitenciários, profissionais de saúde, pesquisadores e os PPL. A atuação se dá por meio de encontros dentro das prisões, em rodas de conversa, promovendo diálogo, escuta qualificada e corresponsabilidade nas ações de saúde.
Resultados
Foram realizados nove encontros presenciais com discussões sobre conhecimento sobre TB, adesão ao tratamento, exames sistemáticos, alimentação e participação familiar. A partir das reuniões foi proposto a realização de um programa de formação de agentes promotores de saúde (APSp) que encontra-se em fase inicial de estruturação. O CAB foi reconhecido institucionalmente como instância participativa, demonstrando impacto direto na percepção e aceitação das ações de pesquisa e cuidado em saúde.
Aprendizado e análise crítica
A institucionalização do CAB fortaleceu o vínculo entre pesquisa, serviços e PPL. A experiência demonstrou que escutar os sujeitos envolvidos, garantir sua fala ativa e corresponsabilizá-los na construção das estratégias amplia a legitimidade e a efetividade das ações, mesmo em contextos restritivos e vulneráveis como o sistema prisional. Ao engajar as PPL na discussão e implementação de ações de saúde, o CAB fomenta o empoderamento, a corresponsabilidade e o respeito aos direitos humanos.
Conclusões e/ou Recomendações
O CAB constitui uma boa prática replicável em outras unidades prisionais, pois amplia a participação social, fortalece o controle social em saúde e potencializa o enfrentamento da TB. Recomenda-se que instâncias gestoras estaduais e federais incorporem formalmente comitês participativos como parte das ações estruturantes da PNAISP.
ENTRE O DIREITO E O PRIVILÉGIO: A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E OS LIMITES DO ACESSO AO PODER JUDICIÁRIO EM TERRITÓRIOS SOCIALMENTE VULNERABILIZADOS
Comunicação Oral Curta
Silva, L.B.1, Gonçalves, T.S.1
1 UERJ
Apresentação/Introdução
Desde que o direito à saúde foi constitucionalmente positivado a judicialização se tornou um dos principais caminhos de sua efetivação. Contudo, o acesso ao Poder Judiciário traz em seu bojo profundas desigualdades, especialmente em territórios vulnerabilizados. Este trabalho visa discutir como a capacidade de litigar interfere na equidade do cuidado, impactando diretamente a efetivação do direito à saúde.
Objetivos
Analisar criticamente a judicialização da saúde como reflexo das desigualdades estruturais e compreender como a capacidade de litigar afeta o direito à saúde em territórios vulnerabilizados.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, com revisão bibliográfica interdisciplinar e análise documental com base nos relatórios Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A metodologia buscou identificar o perfil das demandas judiciais em saúde, associando-o às barreiras enfrentadas por populações em situação de vulnerabilidade para acessar o Poder Judiciário. A análise realizada permitiu refletir sobre as consequências práticas dessa desigualdade no acesso ao Judiciário na busca pela efetivação do direito à saúde e suas implicações para a equidade no cuidado.
Resultados
A judicialização da saúde tende a favorecer quem possui maior escolaridade, informação e apoio jurídico. Os moradores de territórios vulnerabilizados enfrentam obstáculos que vão além da renda: desconhecem seus direitos, não reconhecem os problemas como jurídicos, hesitam em buscar o Judiciário, dificuldades de acesso aos profissionais do Direito e instituições jurídicas, como a Defensoria Pública e a distância física entre suas residências e os Tribunais de Justiça. Essas barreiras impactam diretamente na efetivação do direito à saúde e reforçam desigualdades no acesso ao cuidado.
Conclusões/Considerações
A judicialização, embora seja via legítima de exigibilidade, ainda opera com marcante desigualdade no acesso e caráter excludente. Repensar esse cenário exige maior diálogo institucional e medidas estruturantes que levem em conta as realidades de cada coletividade. Apenas com a articulação entre políticas sociais e sistema de justiça será possível garantir o direito à saúde de modo mais equânime.